Início / Romance / SOB A SUA LENTE / Capítulo 01 (Parte 05):
Capítulo 01 (Parte 05):

A península de carvalho da cozinha dos Tapper estava completamente bagunçada. Taças, garrafas de bebida, pratos sujos e embalagens de comida competiam por espaço sob a madeira retangular. Teddy parecia satisfeito com seu copo de uísque em mãos sentado bem à frente da filha e do jogador que ocupava a cadeira ao lado dela. 

O cheiro do nhoque de gorgonzola misturado com o aroma caramelizado do uísque vindos do hálito do pai incomodou minimamente Alexandria, um indício de que a noite seria longa.  

— Como foram as férias? — perguntou depois de um longo gole na bebida.

Christian levou uma das mãos à boca pedindo um segundo para terminar de mastigar com a outra. Os olhos azuis de Alex estavam sobre ele com um ar muito mais interessado do que segundos antes. 

— Foi bem agradável — falou sucinto. Sua memória de curto prazo se lembrava muito bem de palavras mal escolhidas algum tempo antes e por isso ele sentia a obrigação de pisar em ovos.

Teddy franziu o cenho, ser breve nas falas não era a maior virtude do rapaz. Providencialmente, Christian girou seu garfo, o mais rápido que pôde, contra o talharim com molho de vermelho, levando-o à boca para ocupá-la. Alexandria riu discreta. O anel de meio dedo tilintou na taça de cristal enquanto ela goleava o vinho branco. 

— Defina agradável, Peña — ela virou completamente a cabeça na direção de Christian acariciando sua perna gentilmente sob a mesa. — Eu, por exemplo, fiquei três dias sem ver os executivos do time, isso é agradável pra mim, mais do que agradável na verdade — Alexandria apontou para Teddy antes de continuar — Meu pai provavelmente define esse copo de uísque como agradável, mas eu tenho certeza que não é o que você quer dizer. 

— Então você quer um resumo das minhas férias, Alex? — ele suspirou sentindo a mão da fotógrafa se aproximando da sua virilha.

— Preferencialmente minucioso, Chris — ela rompeu o contato bruscamente para focar no próprio prato quase intocado.

— Os primeiros dias foram a típica celebração familiar quando um filho volta pra casa — ele deu ombros intercalando as frases com goles num copo de suco. Se Teddy Tapper estivesse o testando, colocando pelo menos três garrafas alcóolicas sobre a mesa, pelo dia de treino que viria na manhã seguinte, ele com certeza, havia passado — Minha mãe fez minhas comidas favoritas, eu escolhi os filmes de fim de tarde, meu irmão e eu tocamos na garagem, eu assisti muito volêi com meu pai, perdi a conta de quantas vezes fomos à El Murciélago… — ele fez uma pausa longa pra comer, o tipo de pausa de quem não pretende mais voltar ao tópico. 

Se falasse mais, chegaria ao assunto mulheres, e por mais que tivesse consciência que Alex não tinha ciúmes dele e que o acordo da relação entre eles não tinha nenhuma cláusula sobre exclusividade, o humor de Alexandria era imprevisível o suficiente para que ele preferisse não arriscar.

O telefone de Teddy tocou cortando o assunto quase como uma faca afiada e Christian agradeceu a Deus e a quem quer que tivesse ligado para o treinador, que pediu licença e se levantou da mesa. Alex aproveitou a deixa para checar as mensagens do próprio aparelho, deixando de lado logo depois de perceber que a maioria delas era de trabalho. Os dedos de Christian roçaram nos dela a fazendo sorrir minimamente para ele.

O equatoriano esticou o corpo em direção ao corredor, garantindo que Teddy ainda estava ocupado no telefone. Os olhos mel pareciam brilhar em expectativa enquanto um sorriso preenchia seus lábios. A adrenalina da sensação de perigo o consumiu quando seus dedos se infiltraram no cabelo de Alex puxando seu rosto para perto dele. Seus lábios se encontraram com força, quase como se não se conhecessem, ou não se tocassem há muito tempo. 

Christian gostava da ideia de um relacionamento secreto, mesmo que não fosse verdadeiramente um relacionamento, a sensação de esconder algo, do perigo de explorar a boca de Alex com sua língua enquanto Teddy estava a poucos metros de distância. O gosto suave de vinho branco invadia sua boca e ele se sentia quase embriagado, as unhas da fotógrafa contra sua nuca eram uma droga viciante. A excitação crescia dentro de si. Suas mãos se infiltraram sob a blusa de Alex que se afastou abruptamente.

— Tá ficando maluco? — o tom deveria soar ríspido, mas ecoou mais como um suspiro fazendo o rapaz rir minimamente.

— Eu estive pensando… — ele se inclinou mais uma vez. Teddy ainda estava na ligação — … você quer mesmo passar a noite sozinha? — Christian riu levando os dedos a boca, quase como se estivesse nervoso — É só pedir e eu fico, cariño.

— A proposta é tentadora, Peña — seus dedos acariciaram de leve a barba do rapaz. Parte de si, a maior parte, queria pedir para ele ficar, mas um resquício de bom senso conseguia identificar as borboletas no seu estômago como fora dos limites da relação imposta por eles. O equatoriano tinha um efeito estranho sobre si ultimamente. Talvez fosse solidão, o tempo longe dele deveria ter mexido com sua cordura. Alex não estava apaixonada por Christian, e ela repetia isso para si mesma sempre que podia. — Mas eu preciso dispensar. 

Ele abriu a boca para contrapor, mas o que quer que fosse falar, morreu na garganta quando Teddy voltou do corredor com um sorriso enorme no rosto. O ar feliz se desfez por um segundo, o treinador não pareceu satisfeito com a própria imagem na tela bloqueada do celular. Com uma das mãos ele ajeitou os, ralos e quase em falta, fios de cabelo escuros que o impediam de ser um careca declarado.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App