— É… — se deu por vencido — Tinham algumas, mas não foi nada importante — a última parte soou como uma explicação para a fotógrafa sentada ao seu lado. Pelo que Christian conhecia de Alex, as expressões neutras em seu rosto não eram um sinal ruim, mas estava longe de ser bom — Na verdade, tem uma pessoa importante. Ela não é do Equador, é daqui de Londres, mas não é nada sério, a gente só… Você sabe…
As sobrancelhas do patriarca Tapper se moveram para cima e para baixo, com interesse. Teddy estava bêbado e isso era uma constatação óbvia.
— Vocês só transam — Alexandria ergueu o olhar entediado para ele voltando a atenção às pontas descascadas da unha sem muita importância. Teddy limpou a garganta, um pequeno traço de embaraço manchava os olhos azuis — O que? — Ela deu de ombros naturalmente — Não é como se alguém aqui ainda fosse virgem. Eu não consigo entender, por que sexo ainda é um tabu social? Não tem razão pra ter vergonha de algo que é instintivo e básico, se você existe é porque alguém transou pra você nascer.
A naturalidade com que ela falava constrangia os homens na sala, cada um por uma razão diferente. Teddy deu um longo gole no uísque, provavelmente para manter a boca ocupada por tempo o bastante para não responder à filha.
— Você precisa tomar cuidado — o homem falou depois de um momento, enfim deixando o copo sobre a mesa — As mulheres de hoje em dia são muito ligadas ao poder financeiro e social de um homem.
Os olhos de Alex estavam focados no celular em suas mãos. Novas mensagens de Lauren brilharam na tela, algo sobre sua criatividade e inspiração estarem em falta seguidos por gifs de um Minion arrancando os poucos fios de cabelo que tinha. Ela respondeu sucinta: o print da ficha técnica de um filme sobre moda, que ocupava a memória do seu aparelho há algum tempo, esperando o momento certo de ser usado.
— Poder financeiro e social? — Christian inclinou o rosto, sua confusão marcada em cada parte do rosto — Quer dizer dinheiro? Acha que as mulheres se interessam por mim por causa de dinheiro e fama?
— Não — o treinador balançou as mãos em frente ao corpo — Eu quero dizer que muitas mulheres se aproximariam de você visando um… — ele jogou o corpo sobre a mesa sussurrando as próximas palavras — golpe. Tem que ter cuidado pra não engravidar ninguém. Mas não quer dizer que você não seja simpático.
O silêncio pesou mais do que deveria.
— Se eu fosse transar com o Christian, por exemplo — Alex falou sem tirar as orbes do telefone fazendo o pai arregalar os olhos — Seria pela beleza dele, não pelo dinheiro — Ela finalmente levou os olhos frios aos do pai — Mulheres também transam por diversão, sabia? E o Chris é o que eu chamaria de… — ela mordeu o lábio inferior fingindo que o analisava, como se não conhecesse cada mínima parte do corpo dele mais intimamente do que qualquer outra pessoa —… um puta gostoso.
Christian arregalou os olhos, o rubor preenchendo suas bochechas enquanto ele tossia, aparentemente se engasgando com o gole de suco que tomara.
— Não foi o que eu quis dizer — o treinador ergueu as mãos no ar, como se estivesse se rendendo — É uma situação completamente diferente e você é minha filha, eu conheço a sua índole, além de que eu sei que vocês dois nunca se envolveriam — com certeza era o teor alcoólico falando, se estivesse sóbrio, Teddy nunca falaria tão abertamente sobre sexo. — Você é complicada emocionalmente, o Christian é despreparado pra isso. — ele deu ombros — Quer saber? Eu vou deitar, a minha cabeça tá rodando e provavelmente isso vai virar uma discussão que eu não vou lembrar amanhã de manhã, então, é melhor eu ir.
Teddy bufou rolando os olhos para o equatoriano como se a filha não pudesse ver. Trocou um pouco os pés com uma dificuldade palpável de andar em linha reta. Christian levantou prontamente. Suas mãos alcançaram as costas do treinador o impedindo de tombar quando pisou no primeiro degrau da escada. O belga sorriu agradecido. Ele gostava verdadeiramente do jogador, caso contrário não aceitaria sua ajuda, afinal, o ego de Teddy Tapper era seu maior defeito.
Alexandria ficou sozinha com seus pensamentos conflituosos por algum tempo. Os sentimentos estranhos que nutria por Christian, a relação conturbada com Teddy, a iminente reunião com os assessores de marketing do time, a falta de inspiração repentina de Lauren.
— Se desmayó — a voz do equatoriano tinha uma sonoridade muito mais sensual quando falava em espanhol — É sua última chance. — ele se aproximou da fotógrafa de pé em frente à pia marmorizada — Solo pide y me quedo.
— Peña — suspirou se afastando minimamente — Você acha que vai me convencer só mudando o idioma? — Se fosse um dia normal, sim, ele facilmente mudaria a opinião dela, mas não depois de passar tanto tempo na sua cabeça. — Eu tenho muita coisa pra fazer amanhã.
Ele sorriu amarelo dando alguns passos para trás antes de se virar em direção a saída da cozinha. Uma porta de vidro dava direto para a garagem dos fundos da casa, o mais perto possível da rua escondida que tinha deixado o próprio carro horas antes.
— Então acho que essa é minha deixa — Christian agarrou o casaco preto pendurado em um gancho de parede. Antes que seus dedos alcançassem a maçaneta ele virou brusco procurando o olhar de Alex — O que eu falei mais cedo, sobre só uma pessoa importar, era verdade. Eu não tô apaixonado, não se preocupa, mas eu gosto da gente, de como a gente funciona, como é fácil e sem complicação.
— Eu também — Alex virou de costas, voltando sua atenção para a pia cheia — Boa noite, Chris.
— Boa noite, Alex.
(03.01.2023)Alexandria se considerava uma fã da Lady Gaga, tinha ido para todos os shows possíveis da cantora, assistiu “Nasce uma estrela” na pré-estreia, tinha um DVD, mesmo que ninguém mais usasse DVD’s, de “Casa Gucci” em sua estante, apesar de que seu crush no Adam Driver era maior do que o apreço pela cantora, e contava os dias para “Joker: Folie à Deux”. Mas uma coisa era inegável: Alex odiava a sonoridade de “Americano”, e por isso, decidiu colocar a música como toque do seu despertador.A música era conceitual, cada mínimo verso escrito como uma crítica social a regimes xenofóbicos e homofóbicos, mas ainda assim, o tom melodramático incomodava os ouvidos da fotógrafa o suficiente para fazê-la levantar o mais rápido possível e se livrar da melodia.Não foi diferente naquela manhã. Quando o som de uma arma sendo carregada atingiu os ouvidos de Alex, seu corpo levantou instintivamente em direção ao celular, propositalmente deixado longe da cama, parando o alarme no exato segund
— Precisa de carona? — Teddy se sentiu confortável para se aproximar, beijando o topo da cabeça da filha, que se inclinou minimamente carinhosa. Eles estavam acostumados com isso, como se a falta de uma troca de farpas matinal fosse fora do normal.Alexandria digitou uma mensagem para Lauren no próprio telefone, confirmando um almoço marcado na noite anterior, antes de responder ao pai. — Vou passar na cafeteria antes de ir, mas obrigada. Teddy não teve chance de abrir a boca e a fotógrafa já estava no quarto degrau da escada de mármore branco. Alexandria bebia café demais e talvez por isso sua mente funcionasse tão rápido, deixando qualquer pessoa ao seu redor no mínimo confusa com a velocidade das suas mudanças de humor ou assunto. Ela gostava daquilo. Ter o cérebro funcionando de forma tão veloz quanto um carro de Fórmula 1 a deixava menos tempo perdida em memórias que queria esquecer. Alexandria se sentiu uma completa idiota quando a água quente batendo nos seus ombros a moveu
— O Christian voltou ontem do Equador — Isabela moveu as sobrancelhas, levemente pigmentadas de ruivo, para combinar com o cabelo chanel da mesma cor, com malícia. O sorriso crescendo cada vez mais nos lábios cheios. Isabela e Tadeu eram o tipo de casal modelo para todos ao seu redor. Começaram a namorar aos dezesseis anos, quando o rapaz ainda jogava nas divisões de base de um time do interior paulista, e desde então estavam juntos, casados e com quatro filhos. Bela tinha um tom maternal com Alex desde que ela se mudara para a capital inglesa. As bochechas redondas pareciam um pouco maiores à medida que a expectativa a alcançava — Então? Vocês se viram? — É… — falou baixinho, dando alguns passos junto com a fila diminuindo diante dela — Ele jantou na minha casa ontem — a frase soou mais como um murmúrio, um murmúrio do qual ela se arrependeria pouquíssimos momentos depois. — Na sua casa? Com Teddy Tapper? — Os olhos escuros de Tadeu brilharam. Se tinha algo que o casal tinha em com
— Você sumiu ontem — Drew virou de costas, abaixando a bermuda cinza de moletom que vestia, deixando a cueca preta que contornava suas nádegas bem na frente do rosto do equatoriano. O camisa 10 franziu o cenho, virando sua atenção para outro ponto.— Dá pra tirar a bunda da minha cara? — Ele espalmou a mão como se espantasse uma mosca. — Disse que ia passar na minha casa ontem, mas não apareceu — o norueguês acabou de vestir a calça de treino, voltando a se sentar. — Eu tive que passar a noite ouvindo o Jay falar quão próxima da perfeição é a Claire segundo a proporção áurea. Eu nem imaginava que o Jaden soubesse o que era proporção áurea. Christian suspirou. Considerou inventar alguma desculpa, mas conhecia bem o poder de argumentação do zagueiro, e pelo olhar afiado que ele recebia, não conseguiria mentir. Ele abriu a boca algumas vezes sem emitir nenhum som, gesto que o norueguês entendeu como uma tentativa de escolher as palavras certas e aproveitou a deixa para trocar a camisa,
Christian e Andrew o encararam. Gotas de suor marcavam a pele negra da sua testa e pescoço. Os dreads amarelos que usava até o dia anterior agora davam espaço para um black naturalmente preto e consideravelmente alto. Jaden sorriu para Teddy, o constrangimento palpável em cada feição.— Sinto muito pelo atraso — falou mais baixo que o de costume, o sotaque britânico presente no seu tom charmoso de voz. Jaden não levou mais do que dez segundos para recuperar o fôlego, logo empurrando Andrew gentilmente para o lado e se pondo entre ele e o equatoriano. — Perdi algo? — sussurrou, dessa vez para os amigos. — O bom senso — Andrew murmurou — Talvez tenha deixado na casa do "leite do seu chá" — abriu aspas no ar sem romper o contato visual com Teddy, que olhava para o lado oposto. Jaden ergueu a mão, mostrando o dedo do meio. Teddy balançou a cabeça em negação, ainda sorrindo. Ele estava de bom humor e parte dele com toda certeza se dava ao rapaz de vinte e três anos vindo junto com Matt D
Lukas Haus nunca acreditou no amor à primeira vista, achava brega, e muito utópica, a ideia de se apaixonar por alguém apenas olhando para ela. E apesar de a leitura ser um dos seus maiores hobbies, ele sempre abandonava livros “instalovers”. O máximo que o belga se permitia crer, quando o assunto era ver alguém pela primeira vez, era em atração. E foi essa atração que ele sentiu quando seu olhar cruzou com o da fotógrafa.O jogador sempre considerou vermelho como sua cor favorita, já tinha dito isso em algumas entrevistas para sites de fofoca e revistas teen em que seu rosto estampava a capa, mas se perguntassem novamente, ele diria que era azul. O azul frio dos olhos da mulher que encarava, especificamente. Tinha até uma justificativa para isso: “é a cor do meu novo time”, diria se fosse questionado o motivo da mudança.— Essa não é uma boa ideia — o tom de voz de Christian era diferente de minutos antes, quando se apresentou, um pouco mais grossa, quase forçada — Flertar com funci
Lukas riu, ainda com um resquício de hesitação no sorriso. Copiou o movimento dos outros dois, vestindo o colete chamativo antes de se virar e encarar o trio que enfrentariam. Christian mantinha o olhar fixo em si, desafiador, como se fosse um maldito goleiro tentando defender seu pênalti na final de uma Copa do Mundo. Andrew e Jaden, cada um de um lado do equatoriano, tinham as feições mais amigáveis. O camisa 10 do KRS não tinha gostado de si, ele tinha percebido, mas ainda não sabia a razão. ***************Alexandria já tinha mais fotos do que o suficiente para aquela manhã, mas ainda assim seus dedos não paravam de clicar no obturador, capturando desde o enorme sorriso no rosto do pai até a carranca estampada nas feições de Christian. Cole já tinha abandonado há muito a sua filmadora, sentado no chão, ele parecia entretido no seu celular. Os olhos do equatoriano caíram nela e ela pôde jurar que viu uma curvatura em seus
Christian levantou, virando de costas para Alexandria. Ela conseguia ver seus ombros subindo e descendo, tensos. Quando se virou, as mãos esfregaram o rosto, subindo para os cachos já desfeitos no cabelo. — Da mesma forma que você olhou pra mim naquela noite — ele não sustentou o olhar, desviando para o caminho que já devia ter percorrido até a academia.A primeira noite que passaram juntos. Era disso que ele estava falando e ela não precisava pensar muito para perceber isso. Seu cérebro foi preenchido por alguns flashes da noite: uma conversa estranha, duas doses de Margarita, flertes sem sentido, os lençóis bagunçados da cama do equatoriano na manhã seguinte e uma frase, uma frase que ela não fazia ideia que ressoaria em sua mente sempre que houvesse uma oportunidade. — Você não tem o direito de ter ciúmes de mim, sabe disso, não é? — Seu tom de voz calmo era meramente fingido, mas ela o manteve. — Eu não estou com ciúmes — rolou os olhos — Só não entendo por que tinha que f