MELISSA
* Eu nunca imaginei que um homem milionário e dono da metade dos estabelecimentos comerciais de São Paulo fosse cruzar a minha vida e virar ela de cabeça pra baixo. Ele era casado e eu era só uma garota com traumas e virgem, alguém que nunca soube o que era ter um homem dentro de si. Crescer naquela casa sempre foi como dançar em uma corda bamba, esperando a queda a qualquer momento. Minha relação com meus pais era mais uma partitura desafinada do que uma harmonia familiar. Minha mãe, com seu olhar crítico, sempre parecia encontrar falhas até nas minhas melhores conquistas. "Melissa, isso poderia ter sido feito de forma melhor"... Ela dizia, como se perfeição fosse uma obrigação e não uma escolha. Meu pai, por outro lado, estava sempre imerso em seu próprio mundo, distante e indiferente às batalhas diárias que eu enfrentava. Numa noite fria, ao jantar, tentei compartilhar um pouco do meu dia... "Consegui uma boa nota na prova de matemática hoje", eu disse com um sorriso frágil. Minha mãe levantou os olhos do prato por um momento e, sem expressão, respondeu: "Ainda pode melhorar". Respirei fundo, tentando ignorar o constante peso das expectativas sobre meus ombros. Meu pai, absorto em seu jornal, nem mesmo notou minha tentativa de compartilhar algo significativo. "Talvez eles nunca entenderão", pensei com tristeza, enquanto meu sorriso desaparecia na mesma velocidade que surgiu. À medida que os anos passavam, a lacuna entre nós só crescia. Cada tentativa de me aproximar era recebida com uma parede de indiferença ou críticas disfarçadas de conselhos, em vez de ligações afetivas, minha infância era povoada por silêncios pesados e palavras não ditas. Em meio a esse labirinto emocional, comecei a buscar conforto em amigos e em minhas próprias paixões. A primeira vez em que alguém partiu o meu coração eu não tive uma mãe e nem um pai pra me acalentar, eu mesma tive que me curar sozinha, mas prometi pra mim mesma que jamais deixaria outro homem me quebrar novamente daquela forma. Eu aprendi a construir minha própria validação e tentei encontrar beleza nas imperfeições que me tornavam única. No dia em que completei 18 anos, a atmosfera em casa mudou de forma irrevogável, o jantar que planejei para comemorar minha entrada na "idade adulta" se transformou em uma tempestade de palavras afiadas e ressentimento acumulado. —Melissa, agora que você é "oficialmente adulta", talvez seja hora de enfrentar o mundo por conta própria. Meu pai disse, lançando suas palavras como pedras. Minha mãe, com seus olhos que mais pareciam icebergs, ecoou: —Já é hora de você aprender a viver sem depender de nós. A notícia de que eu deveria ir embora foi como um soco no estômago, as palavras de apoio ou encorajamento eram tão ausentes quanto a compreensão mútua que sempre almejei, eu fui confrontada com uma decisão forçada e um coração repleto de mágoa. Eu pedi um prazo pra conseguir juntar dinheiro pra poder sair daquela casa que um dia eu chamei de lar, então eu arranjei um emprego de meio período e trabalhei nele por três meses, eu consegui pouco dinheiro, mas dava pra começar em algum canto, no meu último dia de trabalho, algo aconteceu comigo e eu acordei no hospital com um ferimento na cabeça, estranhamente eu não consegui explicar o que havia acontecido, pois eu não me lembrava, a minha chefe falou que havia saído pra almoçar e quando votou me encontrou caída no chão, eu fiquei três dias em coma, e por não haver câmeras na loja, concluíram que foi um acidente. Eu conseguia lembrar de tudo, menos do dia em questão, e o médico disse que foi um trauma causado pela queda que apagou aquele dia da minha memória, mas como eu lembrava de tudo da minha vida e de todos, não era algo sério. Mesmo internada, meus pais disseram que eu havia dado muitas despesas e eu me senti um lixo. Uma semana depois de eu voltar pra casa, eu empacotei minhas coisas em silêncio, enquanto as lembranças de uma infância tumultuada dançavam ao meu redor. — Você sempre foi uma carga para nós. Minha mãe murmurou, sem um traço de remorso. Com um nó na garganta, encarei o portal que marcava a entrada para um futuro incerto. Eu caminhei até a porta e deixei para trás não apenas um lar, mas uma narrativa de desconexão e desilusão, a rua à frente era meu novo horizonte, e cada passo era uma tentativa de encontrar um sentido para a realidade recém-adquirida. Ao olhar para trás, vi a casa que, de alguma forma, ainda representava o que um dia foi a busca por amor e aceitação. — Talvez, no processo de me perder, eu possa me encontrar. Murmurei para mim mesma, carregando a bagagem física e emocional de uma transição abrupta para a vida adulta. Eu vaguei sem rumo até encontrar uma comunidade, foi onde encontrei um local pra morar. Com uma mão trêmula, tranquei a porta da casa que eu passei a chamar de lar, sentindo o eco do silêncio que preenchia os cômodos vazios. Minha nova residência no subúrbio era uma mistura de esperança e resignação, um refúgio humilde que refletia minha condição financeira precária. Os vizinhos, curiosos e ao mesmo tempo discretos, observavam enquanto eu tentava me integrar a esse novo cenário. O som das crianças brincando na rua e o aroma familiar das refeições caseiras vindas das casas ao redor davam ao subúrbio uma sensação de comunidade que eu nunca experimentei antes, eu senti uma mistura de paz e medo do "novo". Mesmo com as limitações financeiras, eu tinha que aprender a apreciar a simplicidade da vida no subúrbio, o pequeno quintal tornou-se meu oásis, e as noites tranquilas substituíram os dramas familiares que uma vez dominaram meus dias. Cada móvel usado e cada utensílio doméstico desgastado contavam uma história de recomeço. Enquanto minha relação com meus pais permanecia distante, a casa no subúrbio tornou-se um capítulo novo e desafiador na minha jornada, eu me obriguei a entender que a verdadeira força residia na capacidade de se reinventar, mesmo com recursos escassos. E assim, sob o teto modesto do subúrbio, comecei a esboçar a versão adulta de mim mesma, moldada por desafios, mas também guiada pela esperança de um futuro que eu mesma construiria.Eu tinha o sonho de me tornar médica, mas eu sabia que aquela era uma realidade distante, e o que me restou foi um emprego em uma cafeteria, já que o emprego na loja ficava muito longe da minha mais nova morada.Enquanto as máquinas de café produziam uma melodia monótona na cafeteria, eu sorria para os clientes, escondendo o eco persistente desse sonho que ainda ressoava em meu coração. O aroma do café substituía o cheiro do formol dos laboratórios, e os pedidos de cappuccinos substituíam as consultas que eu sonhava em conduzir.Cada xícara servida era um lembrete silencioso das escolhas que a vida me ofereceu. No entanto, mesmo entre os grãos moídos e os clientes apressados, eu encontrava pequenos momentos de satisfação. Cada expresso era uma paleta de experiências únicas, e eu aprendia a saborear as histórias que os clientes compartilhavam enquanto aguardavam o café.Nos intervalos entre os turnos na cafeteria, as apostilas de biologia e anatomia se misturavam aos pacotes de café. À
No fim do expediente eu fui pra casa, tirei o número do bolso, peguei o celular e liguei pro número fornecido pelo Alex.— Eu estava esperando a sua ligação Melissa.— Como você sabe que sou eu?— Eu dei esse número apenas pra você.— Eu não entendi o motivo de você ter deixado o seu número, qual foi a sua intenção?— Eu tenho uma proposta para você. — Que proposta?— Te darei um apartamento, um milhão de reais e a faculdade de medicina dos seus sonhos, tudo isso em troca de ser minha amante pelos próximos seis meses.A proposta que ele fez era inesperada e, de certa forma, desconcertante, a oferta pairou no ar, uma mistura estranha de oportunidade e dilema. Por um lado, estavam os sonhos que eu guardava secretamente, agora tão perto de se realizarem. Por outro lado, a ideia de ser amante de alguém por um período definido deixava-me desconfortável.— Como você sabe que quero fazer medicina? Perguntei, perplexa.Ele respondeu com uma calma calculada...— Pra mim não é difícil ter ess
No dia seguinte, enquanto eu estava me arrumando pra ir ao trabalho, o meu celular tocou, era o Alex, sua voz firme ecoou no celular...— Melissa, a partir de agora, você deve pedir demissão do seu trabalho. Assumo integralmente os seus gastos.A instrução de Alex trouxe consigo uma nova realidade, um mergulho mais profundo no mundo que ele estava proporcionando. A promessa de segurança e o compromisso financeiro intensificavam o vínculo entre nós, trazendo à tona as implicações práticas daquela escolha.Com uma mistura de apreensão e curiosidade, eu me vi ponderando sobre as mudanças que aquela decisão acarretaria.— Você tem certeza que quer bancar todos os meus gastos? Perguntei com uma pontada de dúvida na minha voz, mas ele respondeu, com uma confiança aparente...— Melissa, isso é parte do acordo. Quero garantir que você tenha tudo o que precisa, sem se preocupar com as questões financeiras.Apesar da explicação, uma sensação persistente de desconforto permanecia. A ideia de de
Após a agitada manhã na cafeteria, voltei para casa, tomei um banho rápido e me preparei para cuidar do visual conforme as instruções de Alex. Decidi ir a um salão que nunca imaginei ter dinheiro para frequentar.Ao entrar no salão, porém, a atmosfera mudou. O tratamento que recebi foi frio e distante, uma clara indicação de que não era uma cliente típica. Os olhares e comentários sussurrados sugeriam que minha presença ali não era bem-vinda.Mesmo diante do tratamento desagradável, respirei fundo, decidida a não deixar que a hostilidade daqueles olhares me afetasse.A dona do salão apareceu com seus olhos críticos fixos em mim e com uma expressão de desdém falou comigo.— Certamente, você não tem dinheiro para frequentar este lugar. Por favor, retire-se.A humilhação pairava no ar enquanto os olhares curiosos se voltavam para a cena constrangedora. Ouvir aquilo foi doloroso, tornou-se um lembrete das barreiras sociais que o dinheiro muitas vezes costumava impor.— Não é justo você
Após o banho, vesti uma roupa confortável, escovei os cabelos e fui para a cozinha preparar algo para comer. Enquanto saboreava minha refeição, fui surpreendida por batidas na porta e ao abrir, vi Alex diante dos meus olhos.A presença inesperada dele trouxe uma mistura de surpresa e curiosidade. — Alex, o que faz aqui?— Posso entrar?Eu acenei com a cabeça concordando.Alex entrou com cuidado e seus olhos observaram os meus com atenção. Com gestos suaves, ele segurou carinhosamente meu queixo, notando os olhos vermelhos causados pelas lágrimas.— Melissa, não permitirei que ninguém a faça chorar novamente dessa forma. Isso não deveria ter acontecido.A lembrança dos eventos dolorosos ainda pesava no meu peito, e involuntariamente, lágrimas molharam novamente o meu rosto, a vulnerabilidade do momento era evidente, mesmo diante da presença reconfortante de Alex.Ele percebendo as lágrimas em meu rosto, agiu com gentileza, limpando-as suavemente. Em seguida, pediu que eu me arrumas
Quando voltamos pro carro, Alex me olhou com surpresa.— Eu achei que você iria querer ela fora dali.— Eu sempre vou escolher o bem independente da maldade das pessoas Alex.— Você é tão diferente de mim Melissa, essa sua bondade e pureza me deixa fascinado.— Mas você já não sabia quem eu era antes de entrar na minha vida?— Eu deixei passar esses detalhes que com certeza irão me modificar por dentro, eu sinto uma necessidade absurda de proteger você e eu não estava contando com isso.— Então me diz Alex, quais eram os planos iniciais? O que te motivou a me fazer a proposta que fez?— Ainda não é o momento pra falarmos sobre isso, agora vamos.— Pra casa?— Não, Melissa, ainda resta um lugar pra irmos.Mesmo sem Alex mencionar explicitamente o local, eu pressentia que ele estava me conduzindo ao shopping, a intenção dele era clara, ele desejava que a dona da loja que me destratou recebesse a mesma lição que a dona do salão. A surpresa tomou conta de mim quando chegamos ao shopping
Enquanto Alex e eu caminhávamos pelo shopping, como um casal, meus olhos se fixaram em um vestido deslumbrante na vitrine. Era um vestido longo, envolto em um tom suave de rosa pálido. A saia fluída proporcionava um movimento gracioso, e a parte superior delicadamente bordada com detalhes florais em tons mais escuros dava um toque romântico.As mangas curtas apresentavam um padrão sutil de renda o deixando elegante e o decote em V acentuavam a feminilidade, enquanto a cintura marcada realçava a silhueta, ele era perfeito.Ao perceber o brilho nos meus olhos diante do vestido, Alex me puxou para dentro da loja. A expectativa e a empolgação preenchiam o momento enquanto íamos em direção ao vestido que capturou minha atenção. — Sejam bem vindos, como posso ajudá-los?A vendedora perguntou com um sorriso no rosto, mas eu não sabia se aquele tratamento era sincero ou era pelo fato dela ter percebido o padrão do Alex.— Minha namorado gostaria de experimentar esse vestido.A simples mençã