Arlet Rivera.

Respiro fundo, fecho os olhos e confirmo com a cabeça.

— Quando chegou ao hospital, a senhora estava inconsciente. De acordo com o que nos foi relatado, caiu da escada. Consegue se lembrar de algo?

Balanço a cabeça em negação, incapaz de recordar qualquer coisa.

— É normal não lembrar agora, mas acredito que, com o tempo, as memórias possam voltar. Voltando ao início: a senhora chegou aqui inconsciente devido a uma queda, que causou um traumatismo craniano. Isso levou a um coma de três semanas. Uma das vértebras rompeu, resultando na perda de sensibilidade e movimentos abaixo do quadril.

Enquanto ele falava, sinto uma dor incomum no peito.

— Houve também um deslocamento da placenta, o que causou a morte do bebê que a senhora esperava. Ele ficou muito tempo sem oxigênio. Sinto muito pela sua perda.

Olho para ele, incrédula, e me viro para encarar minha sogra, que está tão devastada quanto eu. As lágrimas escorrem pelo rosto dela. Volto a atenção para o médico.

— A dor de perder um filho é, sem dúvida, uma das mais avassaladoras e terríveis. Um sofrimento inimaginável, porque, na perda de um filho, perde-se um pedaço de si mesmo — diz ele, com compaixão. — Sinto muito e gostaria de poder ter feito mais. Infelizmente, nada pôde ser feito. Quero que saiba que sua filha, ainda pequena, é mais uma estrelinha que agora brilha no céu.

As palavras dele me deixam com apenas um desejo: gritar e arrancar a dor do meu peito. Mas tudo o que consigo fazer é chorar. Tento me acalmar o suficiente para falar, lutando contra as lágrimas que ameaçam me sufocar.

— Meu… meu… — respiro fundo, buscando força. — Ma… rido — consigo dizer, embora a dor torne cada sílaba um desafio.

O médico troca um olhar significativo com minha sogra antes de suspirar. Ela pega minha mão, apertando-a com força. Seus olhos, cheios de lágrimas, encontram os meus.

— Houve um acidente, minha filha — diz ela, com a voz embargada. — No mesmo dia em que tudo aconteceu, meu filho perdeu o controle em uma curva, bateu o carro e… não resistiu.

Um soluço escapa dos meus lábios. Não consigo respirar. Meu peito dói… Tudo dói! Minha cabeça fica pesada e logo tudo escurece.

••••♥••••• 

Foi difícil ouvir que perdi minha bebê, que meu marido estava morto e que minha linda filhinha estava sofrendo.

Fico me perguntando por que toda essa dor? Ah, meu caro Ariano! Como posso dizer ao meu coração que você se foi? Eu não posso acreditar que você partiu. Eu me sinto triste e sozinha. Todo mundo me diz que preciso ser forte. Preciso libertá-lo para que você possa encontrar a paz. Sei que meu sofrimento não é bom para mim, mas ninguém entende o que estou sentindo. Recentemente, eu estava feliz e, de repente, meu mundo se partiu ao meio. Preciso conviver com essa dor e devo fazer do meu jeito!

Necessito ficar sozinha, chorar e pensar em você. Agora, posso sentir o seu amor apenas estando sozinha e em silêncio, ouvindo as batidas do meu coração. Quando penso em você, sei que sofrerei por não te ter aqui e que haverá dias difíceis, que sofrerei por muito tempo, e sempre que me lembrar de você, sentirei novamente meu coração chorar e sangrar por sua perda.

Mas sei que um dia essa dor passará, e não quero me agarrar a essa dor para sempre. Quando eu sentir que é hora de viver de novo, deixarei a dor e a tristeza irem embora, ficando apenas a saudade. Essa é minha forma de viver meu luto e reaprender a viver sem você aqui. E não importa o que os outros veem por fora; o que importa é o que sinto em meu peito… o meu amor por você.

A pior dor que alguém pode sentir é ver um ente querido partir. A impotência diante da morte é o que nos faz lembrar que somos humanos e perceber como a vida é frágil.

Apesar do sofrimento, é preciso enfrentar a morte com força e coragem. Devemos saber que, mesmo que aquela pessoa querida não esteja mais conosco, o amor nunca vai embora. Ele fica lá para sempre, em nossas lembranças felizes, que trazem às vezes um gosto amargo pela certeza da despedida.

Amor e boas lembranças sempre ficam após a morte.

Viver a dor, chorar e sofrer, mas saber que nunca estarei sozinha em minha dor, é um tanto reconfortante. Olho para o céu e tenho certeza de que tem uma estrela lá em cima brilhando e iluminando cada um dos meus passos. Quando essa dor passar e só ficar a saudade… ela sempre fará meu peito apertar, mas as lembranças ficarão vivas em meu coração e vão me dar forças para sorrir de novo.

Seguir em frente e viver a vida em paz, a felicidade pode ser difícil e dolorosa. Todos temos uma missão na vida, e precisamos seguir nosso próprio caminho para nos tornarmos uma estrela também na grandeza do céu e no infinito da eternidade.

Pelo menos, a justiça foi feita para a minha menina. Depois de todos os infortúnios que aconteceram em nossas vidas, uma boa notícia surgiu para nos trazer um pouco de alento.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo