Sorrio e a abraço novamente. Assim que a solto, arrumo a cadeira que havia caído e saio correndo da confeitaria. Atravesso a rua e paro no portão de casa.
Meu coração está acelerado, e o desespero me toma. Tenho certeza de que o sorriso que estava em meu rosto desapareceu. Nunca contei a elas que queria fazer faculdade, nem que faria a prova online para ganhar a bolsa. Quando terminei a escola, comecei a trabalhar em tempo integral com a Sr.ᵃ Salinas para ajudar nas despesas da casa e não causar problemas para minha mãe com questões de gastos. Mas agora, ao pensar nisso, sinto que fui egoísta e fiz algo errado ao esconder delas algo tão importante para mim.
Me assusto quando sinto braços envolvendo meus ombros. Estava tão perdida em meus pensamentos que nem percebi a Sr.ᵃ Salinas se aproximando.
— O que você está esperando para entrar? — Ela olha para mim e, ao perceber minha expressão, o sorriso desaparece de seus lábios. — O que aconteceu?
— Não contei nada a elas. Fui egoísta, pensando só em mim, no meu futuro…
— Para! Você realmente precisa pensar em você, no seu futuro!
— Mas eu não quero deixá-las aqui.
— Prometo que vou cuidar delas para você! Não se preocupe, princesa — ela diz, enxugando uma lágrima que escorre pelo meu rosto. — Você não as terá para sempre, e sabe que tem que seguir seu próprio caminho. Pense que pode retribuir os cuidados delas indo para a faculdade, se formando, trabalhando e ajudando-as. Sei que você se preocupa com elas, e tenho certeza de que eu, sua mãe e sua avó vamos apoiá-la. Ficaremos felizes em vê-la crescer.
Eu apenas aceno.
— Agora vamos entrar, estarei aí com você!
Ela pega minha mão e eu sorrio para ela. Então, abro o portão e entro na casa.
Assim que abro a porta, vejo minha mãe descascando umas batatas e minha avó no fogão. Quando percebem nossa presença, elas sorriem. A Sr.ᵃ Salinas solta minha mão, vai até minha avó e a abraça, depois vai até minha mãe, fazendo o mesmo.
— Como vão vocês?
— Estamos bem, e você, minha querida?
— Estou muito bem, principalmente pelas notícias que Lunna tem para contar a vocês.
— Que novidades, filha? — minha mãe pergunta.
Ela continua descascando as batatas, mas, quando percebe que não falo nada, olha para mim.
— O que aconteceu? Está tudo bem? — Ela puxa sua cadeira de rodas para longe da mesa e vem em minha direção.
— Tudo bem, mãe, eu… — Mostro o papel para ela, e ela me encara sem entender.
Mamãe pega o papel, abre e, ao ler, seus olhos se arregalam. Ela olha para mim, depois para o papel e fica em silêncio por alguns minutos, que parecem uma eternidade. Observo uma lágrima escorrer por sua bochecha e meu coração dispara.
— Não acredito, isso é sério?
— O que aconteceu? — Vovó diz, chegando mais perto. Mamãe se vira para olhar para ela.
— Nossa garota foi aceita na faculdade!
— Sério? — Vovó sorri. Mamãe passa o papel para ela, que lê e me olha com lágrimas nos olhos. — Parabéns, minha pequena, estou tão orgulhosa de você.
Ela me abraça e sinto uma onda de alívio tomar conta de mim.
Logo depois, minha mãe se aproxima, e eu me ajoelho para ficar na altura dela.
— Parabéns, filha. Fico muito feliz e orgulhosa de ver que você está seguindo um belo caminho.
Me afasto um pouco e ela olha para mim, enxugando minhas lágrimas.
— A senhora não está com raiva de mim?
— E por que eu estaria?
— Eu não disse nada!
— Filha, se você queria me surpreender, conseguiu! Fico feliz em ver que você está crescendo e trilhando seu próprio caminho.
Sorrio e olho para a Sr.ᵃ Salinas, que levanta o polegar em aprovação.
Vou ajudar minha mãe a descascar as batatas, enquanto a vovó volta para as panelas e a Sr.ᵃ Salinas lava a louça na pia. A conversa da noite foi sobre mim, todas ficaram orgulhosas, e aquele sentimento de egoísmo que eu achava que mamãe e vovó pensariam desapareceu. Fiquei feliz e faria qualquer coisa para ajudar ambas e retribuir tudo o que fizeram por mim!
Alguns dias se passaram e faltava pouco para embarcar rumo ao desconhecido. Olho meu reflexo no espelho mais uma vez e me sinto diferente, não só porque estou completando dezoito anos, mas porque sei que finalmente sairei do meu casulo. Sorrio para minha imagem e saio do banheiro, indo em direção à porta do quarto. Desço as escadas e me assusto quando ouço gritos.— Surpresa! — sorrio ao ver a vovó, a mamãe, a senhora Salinas e seu marido, alguns vizinhos e até os clientes da confeitaria.Vovó e mamãe se aproximam, a abuela segurando um bolo com algumas velas acesas em cima.— Faça um pedido — mamãe diz, com os olhos brilhando.— Eu já tenho tudo que preciso, mãe, eu só… — fecho os olhos e sopro, vendo as chamas se apagarem. — Só tenho a agradecer.Sorrio e caminhamos até a mesa.Mamãe corta o bolo e distribui os pedaços. Ela sabe que não gosto dessa parte, porque não tenho uma “preferida” ou “pessoa especial”. Claro que amo minha mãe, mas todos me ajudaram tanto que seria egoísmo dar
— Te amo, abuela, e te amo, mamá — digo em nossa língua materna, fazendo com que ambas me olhem com espanto. Mas logo sorriem. Me afasto e caminho até o portão de embarque, respirando fundo, deixando para trás as pessoas mais importantes da minha vida e indo em busca de uma vida melhor para elas.Olho para trás uma última vez e ambas acenam em despedida. Ando até onde preciso fazer o check-in e começo os procedimentos para entrar no avião. Passo pela inspeção e segurança, me dirijo ao portão de embarque. Com o cartão de embarque em mãos e a mochila dentro das normas da companhia aérea, concluo a vistoria e já tenho acesso imediato à área de embarque. Verifico mais uma vez o horário e o portão de embarque nos monitores espalhados pelo aeroporto, pois sei que tanto o horário quanto o portão podem mudar a qualquer momento. Isso seria trágico, pois é a primeira vez que viajo sozinha.— Atenção, senhores passageiros! Esta é a última chamada para o voo para Boston. Caminhe até o portão de e
Depois de algumas horas de voo, olho pela janela e vejo o pôr do sol. A vista daqui de cima é ainda mais linda! Pego meu telefone, coloco os fones de ouvido e começo a ouvir minhas músicas favoritas. Estava esperando por outro grande sucesso, mas fico surpresa ao ouvir a voz de minha mãe. Olho para o celular e vejo ser um áudio dela.— Hola, mi amor! (Olá, meu amor) Me desculpe por te incomodar enquanto você ouve suas músicas, mas vim aqui para te agradecer. Obrigada por ser a melhor filha do mundo, por estar comigo todo esse tempo, por se preocupar comigo e por nos ajudar tanto! Obrigada, minha filha, por seguir seus sonhos e não desistir de si mesma! Me perdoe por não ser a melhor mãe do mundo, por não ter te protegido quando você precisou… — a ouço chorar e meu coração aperta. Como ela pode pensar isso? — Você é forte, guerreira! Quero que saiba que sempre estarei aqui para você. Te amo, minha filha, e sou muito grata por ser sua mãe. Agora, espero de todo o coração que você alcan
Chego a Boston e descubro que eu e Kim ficaríamos na mesma hospedagem. Foi maravilhoso! Embora em prédios diferentes, seremos vizinhas. Fomos até o prédio da diretoria para resolver o que era preciso. Kim me acompanhou até o local em que eu moraria no campus e, depois, seguiu para o dormitório dela, que ficava em outra área. Fico parada olhando para aquele prédio cinza espetacular, que é bem grande. Inalo profundamente, olhando para o papel nas minhas mãos que indica o andar e o quarto para onde vou. Sigo até as portas duplas, insiro a senha no teclado e as portas se abrem.Entro e, no saguão do prédio, há alguns sofás e mesas, que imagino serem para estudarmos. Ando até o elevador e aperto o botão. As portas se abrem e entro, seleciono o andar e o elevador sobe tocando uma música alegre. Quando paro no meu andar e saio, o corredor está bem silencioso, para o horário. Ainda não são nem 20h, e nunca havia visto um campus tão tranquilo como esse, embora só tivesse visto em filmes.Passo
— Vem, Lunna! — Kim grita, me chamando. Caminho até ela, e é quando ele me olha. Seus olhos vão da minha cabeça aos pés, me fazendo me sentir ainda mais deslocada. — Mano, essa é a minha amiga Lunna Rivera, nós nos conhecemos no avião.— Uau! Muito prazer, Lunna Rivera! — ele diz, estendendo a mão. Assim que a pego, ele dá um beijo na minha mão, e seus olhos nunca saem dos meus. Acho que vou ter um treco, meu coração está disparado.— O... o prazer é meu! — digo, gaguejando, e ele sorri.A conversa continua, com ele me apresentando algumas pessoas e Kim fazendo o mesmo. Mas, sempre que nos afastávamos, nossos olhares se cruzavam. Eu nunca havia bebido na vida e, naquela noite, também não seria diferente. Continuei tomando meu refrigerante, tentando manter a calma.De repente, ele se levanta e se aproxima, e cada passo dele parece fazer o meu coração acelerar ainda mais. O ar parece me faltar.— Vem, quero te mostrar uma coisa — ele diz, parando na minha frente e estendendo a mão. Olho
Estamos todos reunidos para auxiliar a instituição Viver Sempre, uma organização não governamental que ajuda crianças carentes, e a nossa faculdade estava arrecadando dinheiro, alimentos, produtos de higiene, entre outras coisas essenciais para que pudessem cuidar dos pequeninos. Claro que muitos estão indo apenas ganhar um ponto na matéria de que estão precisando, mas isso é tão legal e eu amo participar desde que cheguei à faculdade. Eu e as meninas nos voluntariamos para ajudar, então havia várias pessoas vestidas de palhaços, bailarinas, bonecas e alguns como personagens do Mágico de Oz.— Hey! Está no mundo da lua, é? — Kim me pergunta, e Keké e Jully me olham. Estamos sentadas na grama, debaixo de uma árvore enorme, esperando o orientador das nossas turmas.— Não! Estava me lembrando de algumas coisas, e já faz dois anos que nos conhecemos. O tempo voou!— Sim, é verdade! Vocês são as minhas best e não quero me esquecer de vocês nunca! — Kim fala, e sorrimos. Começo a sentir um
Perdi-me nos pensamentos até alguém tocar no meu ombro. Olhei e o rapaz estava me oferecendo uma toalha. Ele a colocou sobre a mesa diante de mim.— Obrigada! — falei, pegando a toalha para secar meu cabelo e braços. Ele se sentou na minha frente, olhando também pela janela. Eu realmente precisava ir ao banheiro conferir minha situação.— Já volto, com licença — falei, levantando. Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça e se levantou também, me deixando seguir em direção ao banheiro.Entrei e me olhei no espelho. Me assustei: minha maquiagem estava toda borrada, parecia o Coringa com gripe. Coloquei a toalha sobre a pia e liguei a torneira, lavando o rosto, tentando tirar o que ainda restava de maquiagem. Após limpar o rosto e secá-lo com papel, soltei o cabelo e comecei a secá-lo com a toalha. Olhei para o secador de mãos na parede e tive uma ideia. Caminhei até ele, me abaixei e coloquei a cabeça embaixo do secador.— Assim é bem melhor!Após secar o cabelo e tentar secar meu vesti
Já haviam se passado alguns dias, na verdade, meses. Eu e Romolo estamos nos divertindo muito, sempre nos encontramos para conversar e, na semana passada, rolou um beijo. Não foi o meu primeiro, mas me senti nas nuvens e acho que toda aquela paixonite boba pelo Adam está se esvaindo, esse que não vejo há um tempinho.Estou indo me encontrar com ele na nossa cafeteria. Claro, não é nossa, mas se tornou o nosso ponto de encontro. Vamos jantar com a sua família. Assim que chego, o vejo sentado na mesinha ao lado de fora do estabelecimento. Ele está com os cabelos bagunçados, uma calça jeans, camisa polo branca e um sapatênis, além de um buquê de flores em cima da mesa.Respiro fundo e volto a caminhar, já que parei para admirá-lo. Paro ao seu lado e toco em seu ombro.— Oi! — digo sorrindo, dou um passo para trás e ele vira, se levantando.— Está esperando há muito tempo? — ele me olha e faz um carinho em meu rosto. Fecho os olhos, apreciando este gesto, e, quando os abro, ele está me ol