EmilyMais tarde, na sala com Kayra, consigo rir de um programa humorístico, mas sei que meu riso é mais nervoso do que genuíno. As cenas na tela parecem distantes, desconectadas do peso que carrego no peito. Minha mente está presa à ideia da conversa que preciso ter com Okan. O que ele ainda quer comigo? Por que se importa em esclarecer algo, sabendo que está comprometido? Agora que entendi a verdadeira natureza de seu noivado, minha apreensão é ainda maior. Cada minuto que passa torna o confronto inevitável.Quando o programa acaba, lanço um olhar discreto ao relógio. Dez horas.— Vou me deitar. — Digo, sentindo o coração martelar desordenado no peito.Kayra boceja e se alonga preguiçosamente.— Então vamos. A cama quentinha está me chamando também.Caminhamos juntas pelo corredor, e noto que a porta aberta que vira antes está agora fechada. Um desconforto cresce em mim, como se algo me alertasse. Respiro fundo, afastando o pensamento. Entro no meu quarto, acendo a luz e fecho a por
Eu o olho, em completo silêncio, enquanto meu coração pulsa com um misto de emoções. Okan me observa como se pudesse enxergar minha alma: o desapontamento esmagador, a dor lancinante, e o emaranhado de sentimentos que nutro por ele. Sinto como se cada escolha minha me puxasse para um abismo. O peso das minhas decisões recai sobre mim com uma intensidade quase insuportável. Como posso esperar que alguém confie em mim, se nem eu mesma consigo?Se ele realmente gostar de mim, vai desfazer o noivado. Ele precisa escolher. Essa decisão não é minha para tomar!— Não! A resposta é não. Quer me conhecer melhor, como diz? Termine com sua noiva e me procure.Ele balança a cabeça, desapontado, e seus olhos brilham com algo entre dor e cansaço.— Não posso fazer isso, Emily. O que me pede é impossível. Se eu te assumir agora, meu pai não entenderá. Nos conhecemos muito pouco. Eu estaria lutando por algo que nem sei se vai dar certo.— Tudo bem, concordo que não nos conhecemos muito. Mas você acha
No dia seguinte, o rosto abatido de Okan diz tudo: ele não teve uma boa noite de sono. E eu também não. Passei horas revirando na cama, revivendo os últimos acontecimentos desde o momento em que o conheci.— Seu carro está pronto. — Ele declara com o semblante frio, uma máscara perfeita que não deixa transparecer nada além de neutralidade.Kayra sorri, um sorriso caloroso que tenta, em vão, aliviar o ambiente.— Eu não disse que ele entendia de carros?Aceno de leve, incapaz de confiar na minha própria voz. Kayra se vira para mim, me abraça com força, e eu sinto sua preocupação em cada movimento.— Quando chegar em casa, me liga.Esforço-me para abrir um sorriso que parece mais falso do que gostaria.— Claro.Okan se aproxima, o olhar duro e desgostoso cravado em mim. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele pega minha mala e segue em direção ao carro. Meu coração pesa, mas meus pés se recusam a seguir de imediato. Corro as mãos no casaco, num gesto nervoso, e me viro para o senho
Mamãe entra no meu quarto sem bater. Sua expressão é um misto de preocupação e determinação.— O que você tem, Emily? Se abra, vamos! — diz, a voz firme, mas embargada de afeto. — Cheguei te contando sobre minha viagem, mas você me olhou como um zumbi, o olhar perdido, está sempre tão longe. Ontem foi se deitar cedo e agora rejeitou o convite da Carol para sair. E tenho reparado que anda sem fome. Vamos! Desembucha! Você nunca foi de me esconder as coisas. Você sempre se abriu com sua mãe. Não é agora que começará a me esconder as coisas, não é?Sento-me melhor na cama, ajeitando o travesseiro atrás de mim. O desânimo pesa sobre meu peito como uma âncora, e um longo suspiro escapa antes que eu fale:— Eu conheci uma pessoa.Ela estreita os olhos, me estudando como quem busca decifrar um enigma.— Conheceu uma pessoa? Na casa de Kayra? Mas eles não são turcos? Não me diga que ficou ligada em algum turco?— Sim, no irmão dela.— No irmão dela? — questiona, os olhos arregalados, a incred
EmilyUm mês sem Okan. Tenho me esforçado para encarar tudo de forma melhor. Talvez eu simplesmente esteja exausta de sentir pena de mim mesma. Entendi que posso sobreviver sem ele, embora o vazio deixado por sua ausência pareça ter criado raízes profundas dentro de mim. Tornei-me forte o suficiente para suportá-lo, mas ele ainda está lá, constante, como uma sombra que me acompanha.Tenho preenchido meu tempo com o trabalho e a universidade, tentando sufocar as memórias que insistem em emergir. Durante os intervalos, converso com Kayra, mas ela, ultimamente, não tem me feito bem. Sua presença traz à tona lembranças de tudo, como o dia em que ela tocou no assunto: Okan.A animada Kayra comentou que seu irmão finalmente “tomou jeito”, que está mais presente em casa e vê Sila todo final de semana. Suas palavras foram como um golpe certeiro, desferido diretamente no meu coração. Saber que ele segue em frente, vivendo sua vida sem olhar para trás, enquanto eu atravesso um deserto árido, me
O bastão plástico me mostrando lentamente o risco rosa surgindo e depois o outro me desesperam. O banheiro, com suas paredes frias e silenciosas, parece se fechar ao meu redor. Eu pisco quando as lágrimas embaçam meus olhos.Grávida!Em transe, fico olhando o bastão, sentindo meu coração afundar no peito. Então me dou conta de que estou, de algum modo, ligada a Okan para sempre. Agora, não só as lembranças dele me atormentarão, mas um filho dele será um lembrete constante da minha inconsequência.Passo a mão nos olhos, limpando a cascata de lágrimas que desce pelo meu rosto. Pelos meus cálculos, estou com dois meses de gravidez. Fiquei um mês tendo mal-estares, mas fechei os olhos para a realidade. Afastei os pensamentos de que eu pudesse estar grávida e insisti em achar que era apenas uma gastrite. Era mais fácil lidar com a turbulência dos meus sentimentos do que encarar uma gravidez. Meu ciclo sempre teve atrasos significativos, mas nunca de um mês inteiro. Isso foi o que me levou
—Não, ele achava que eu sabia. — Digo, tentando amenizar as coisas, minha voz vacilando enquanto conto para ele como funcionam os casamentos turcos. Tento manter a calma, mas sinto o peso da tempestade que se forma diante de mim.Meu pai se levanta do sofá com um movimento brusco, carregado de indignação. Seu olhar faiscante atravessa a sala, e o silêncio que se segue parece tão ensurdecedor quanto um trovão.—Sinto muito, Emily, mas isso não fica assim. Esse desgraçado vai assumir esse filho. Vou falar com ele. Ele não viverá sua vida perfeita enquanto você assume sozinha essa responsabilidade.Meu coração dispara, como se tentasse escapar da prisão do meu peito.—Pai... as coisas para o turco não funcionam assim. — Minha voz é um fio trêmulo, mas prossigo, agarrando-me à coragem que ainda resta. — Uma vez Kayra me disse que eles assumem a mulher e o filho caso as engravidem, é uma questão de honra. Ele não se satisfará em ver o filho de vez em quando, participar pouco da criação.—E
Foi ela que terminou com você?Os olhos de Sila se enchem de lágrimas, e eu vejo o choque em seu rosto. Ela parece quebrar por dentro, e a dor dela me atinge com força. Talvez ela já soubesse, mas não esperava que eu fosse tão direto.Ela abaixa a cabeça e limpa as lágrimas antes de tentar me olhar novamente.— Allah! Não pensei que doeria tanto ouvir isso de você. Bem que eu estava desconfiada, mas eu te amo, Okan, por isso tenho sido paciente.Ouço as palavras dela, e um nó se forma em minha garganta. Não pela dor que ela expressa, mas pela culpa que me consome. Eu não queria magoá-la, não queria alimentá-la com falsas esperanças. Por que continuei? Por que deixei ela chegar tão perto?Eu tento encontrar algo para dizer, mas minhas palavras falham. Só consigo segurar sua mão sobre a mesa, e ela a puxa bruscamente, com raiva. Eu não sei mais o que fazer.— Sinto muito — digo, sentindo o peso da verdade pesar sobre nós dois.Sim, eu errei e estou arrependido.Ainda preocupado com Emil