Mamãe entra no meu quarto sem bater. Sua expressão é um misto de preocupação e determinação.— O que você tem, Emily? Se abra, vamos! — diz, a voz firme, mas embargada de afeto. — Cheguei te contando sobre minha viagem, mas você me olhou como um zumbi, o olhar perdido, está sempre tão longe. Ontem foi se deitar cedo e agora rejeitou o convite da Carol para sair. E tenho reparado que anda sem fome. Vamos! Desembucha! Você nunca foi de me esconder as coisas. Você sempre se abriu com sua mãe. Não é agora que começará a me esconder as coisas, não é?Sento-me melhor na cama, ajeitando o travesseiro atrás de mim. O desânimo pesa sobre meu peito como uma âncora, e um longo suspiro escapa antes que eu fale:— Eu conheci uma pessoa.Ela estreita os olhos, me estudando como quem busca decifrar um enigma.— Conheceu uma pessoa? Na casa de Kayra? Mas eles não são turcos? Não me diga que ficou ligada em algum turco?— Sim, no irmão dela.— No irmão dela? — questiona, os olhos arregalados, a incred
EmilyUm mês sem Okan. Tenho me esforçado para encarar tudo de forma melhor. Talvez eu simplesmente esteja exausta de sentir pena de mim mesma. Entendi que posso sobreviver sem ele, embora o vazio deixado por sua ausência pareça ter criado raízes profundas dentro de mim. Tornei-me forte o suficiente para suportá-lo, mas ele ainda está lá, constante, como uma sombra que me acompanha.Tenho preenchido meu tempo com o trabalho e a universidade, tentando sufocar as memórias que insistem em emergir. Durante os intervalos, converso com Kayra, mas ela, ultimamente, não tem me feito bem. Sua presença traz à tona lembranças de tudo, como o dia em que ela tocou no assunto: Okan.A animada Kayra comentou que seu irmão finalmente “tomou jeito”, que está mais presente em casa e vê Sila todo final de semana. Suas palavras foram como um golpe certeiro, desferido diretamente no meu coração. Saber que ele segue em frente, vivendo sua vida sem olhar para trás, enquanto eu atravesso um deserto árido, me
O bastão plástico me mostrando lentamente o risco rosa surgindo e depois o outro me desesperam. O banheiro, com suas paredes frias e silenciosas, parece se fechar ao meu redor. Eu pisco quando as lágrimas embaçam meus olhos.Grávida!Em transe, fico olhando o bastão, sentindo meu coração afundar no peito. Então me dou conta de que estou, de algum modo, ligada a Okan para sempre. Agora, não só as lembranças dele me atormentarão, mas um filho dele será um lembrete constante da minha inconsequência.Passo a mão nos olhos, limpando a cascata de lágrimas que desce pelo meu rosto. Pelos meus cálculos, estou com dois meses de gravidez. Fiquei um mês tendo mal-estares, mas fechei os olhos para a realidade. Afastei os pensamentos de que eu pudesse estar grávida e insisti em achar que era apenas uma gastrite. Era mais fácil lidar com a turbulência dos meus sentimentos do que encarar uma gravidez. Meu ciclo sempre teve atrasos significativos, mas nunca de um mês inteiro. Isso foi o que me levou
—Não, ele achava que eu sabia. — Digo, tentando amenizar as coisas, minha voz vacilando enquanto conto para ele como funcionam os casamentos turcos. Tento manter a calma, mas sinto o peso da tempestade que se forma diante de mim.Meu pai se levanta do sofá com um movimento brusco, carregado de indignação. Seu olhar faiscante atravessa a sala, e o silêncio que se segue parece tão ensurdecedor quanto um trovão.—Sinto muito, Emily, mas isso não fica assim. Esse desgraçado vai assumir esse filho. Vou falar com ele. Ele não viverá sua vida perfeita enquanto você assume sozinha essa responsabilidade.Meu coração dispara, como se tentasse escapar da prisão do meu peito.—Pai... as coisas para o turco não funcionam assim. — Minha voz é um fio trêmulo, mas prossigo, agarrando-me à coragem que ainda resta. — Uma vez Kayra me disse que eles assumem a mulher e o filho caso as engravidem, é uma questão de honra. Ele não se satisfará em ver o filho de vez em quando, participar pouco da criação.—E
Foi ela que terminou com você?Os olhos de Sila se enchem de lágrimas, e eu vejo o choque em seu rosto. Ela parece quebrar por dentro, e a dor dela me atinge com força. Talvez ela já soubesse, mas não esperava que eu fosse tão direto.Ela abaixa a cabeça e limpa as lágrimas antes de tentar me olhar novamente.— Allah! Não pensei que doeria tanto ouvir isso de você. Bem que eu estava desconfiada, mas eu te amo, Okan, por isso tenho sido paciente.Ouço as palavras dela, e um nó se forma em minha garganta. Não pela dor que ela expressa, mas pela culpa que me consome. Eu não queria magoá-la, não queria alimentá-la com falsas esperanças. Por que continuei? Por que deixei ela chegar tão perto?Eu tento encontrar algo para dizer, mas minhas palavras falham. Só consigo segurar sua mão sobre a mesa, e ela a puxa bruscamente, com raiva. Eu não sei mais o que fazer.— Sinto muito — digo, sentindo o peso da verdade pesar sobre nós dois.Sim, eu errei e estou arrependido.Ainda preocupado com Emil
Eu vacilo com a pergunta de Sila, mas, ao perceber que já está tudo perdido, resolvo abrir o jogo. Já não há mais o que esconder.— Sim, depois que eu fiz uma proposta que ela achou absurda. Eu queria conhecê-la melhor antes de tomar uma decisão. Mantinha o nosso noivado e tentava te evitar. Sairia com ela para entender nossos sentimentos, mas ela não quis.Sila me olha incrédula, com os olhos faiscando raiva, tensa, na defensiva. De repente, ela se levanta num ímpeto, os músculos do corpo tensos, e, agarrando o copo de suco de uva com uma força quase descontrolada, despeja todo o conteúdo em meu rosto. O som do líquido contra a minha pele quebra o burburinho do restaurante, e o ambiente inteiro se silencia. Todos os olhares se voltam para nós, e os meus se fixam nela, desafiadores.Eu mereço isso, penso internamente, encarando-a sem desviar.— Seu cafajeste sem coração. Eu te odeio, está entendendo?— Registrado. — Respondo, limpando o rosto com o guardanapo, minha voz tranquila, mas
As lágrimas começam a escorrer sem que eu perceba, uma mistura de raiva e tristeza. Eu me sinto profundamente traída e, ao mesmo tempo, uma raiva cega toma conta de mim, fazendo minha cabeça doer como se fosse explodir.Eu sabia que ele ainda estava noivo, mas ele me disse que não havia sentimentos envolvidos entre eles. Mas, no momento em que entrei no restaurante, vi claramente o contrário: o gesto de Okan quando pousou a mão sobre a dela, o olhar de Sila, cheio de ódio na minha direção. Era óbvio que estavam falando de mim, de alguma forma, me colocando como a culpada.Sim, eu mereço isso!Burra! Burra!Eu devia ter sido mais prudente, não a idiota que fui.— Hum, quem é vivo sempre aparece. — Ouço a voz de Letícia ao meu lado, e uma onda de alívio percorre meu corpo, como se ela fosse uma tábua de salvação.Me levanto do sofá, sem conseguir esconder a dor que ainda me consome, e vou até ela. Quando a abraço, não consigo mais controlar as emoções. Soluço em seus ombros, deixando a
EmilyDepois do almoço, na sala com Letícia, eu já estou me sentindo bem melhor. Uma nova energia foi tomando conta de mim durante esse tempo em que estive com ela, como se uma transformação interna estivesse acontecendo. Meus olhos, agora, estão queimando de raiva.Decidi. Vou ter uma conversa séria com Okan. Agora, mais do que nunca, é o momento de mostrar a ele que tudo o que vivemos teve consequências profundas e irreversíveis. O que menos temos que pensar é em nós mesmos e sim no futuro dessa criança.Meu pai estava certo. Okan precisa saber! Ele não pode simplesmente seguir sua vida tranquilamente, enquanto meu filho cresce sem o sobrenome do pai em seu registro de nascimento.Com a armadura de mulher forte, eu me despeço de Letícia sem contar a ela o que planejo fazer. Tenho medo de que, no meio de sua preocupação, ela diga alguma palavra errada que quebre a energia positiva que estou sentindo agora. Não vou ser como uma ratinha medrosa, tentando evitar o gato.Eu sou forte e d