O bastão plástico me mostrando lentamente o risco rosa surgindo e depois o outro me desesperam. O banheiro, com suas paredes frias e silenciosas, parece se fechar ao meu redor. Eu pisco quando as lágrimas embaçam meus olhos.Grávida!Em transe, fico olhando o bastão, sentindo meu coração afundar no peito. Então me dou conta de que estou, de algum modo, ligada a Okan para sempre. Agora, não só as lembranças dele me atormentarão, mas um filho dele será um lembrete constante da minha inconsequência.Passo a mão nos olhos, limpando a cascata de lágrimas que desce pelo meu rosto. Pelos meus cálculos, estou com dois meses de gravidez. Fiquei um mês tendo mal-estares, mas fechei os olhos para a realidade. Afastei os pensamentos de que eu pudesse estar grávida e insisti em achar que era apenas uma gastrite. Era mais fácil lidar com a turbulência dos meus sentimentos do que encarar uma gravidez. Meu ciclo sempre teve atrasos significativos, mas nunca de um mês inteiro. Isso foi o que me levou
—Não, ele achava que eu sabia. — Digo, tentando amenizar as coisas, minha voz vacilando enquanto conto para ele como funcionam os casamentos turcos. Tento manter a calma, mas sinto o peso da tempestade que se forma diante de mim.Meu pai se levanta do sofá com um movimento brusco, carregado de indignação. Seu olhar faiscante atravessa a sala, e o silêncio que se segue parece tão ensurdecedor quanto um trovão.—Sinto muito, Emily, mas isso não fica assim. Esse desgraçado vai assumir esse filho. Vou falar com ele. Ele não viverá sua vida perfeita enquanto você assume sozinha essa responsabilidade.Meu coração dispara, como se tentasse escapar da prisão do meu peito.—Pai... as coisas para o turco não funcionam assim. — Minha voz é um fio trêmulo, mas prossigo, agarrando-me à coragem que ainda resta. — Uma vez Kayra me disse que eles assumem a mulher e o filho caso as engravidem, é uma questão de honra. Ele não se satisfará em ver o filho de vez em quando, participar pouco da criação.—E
Foi ela que terminou com você?Os olhos de Sila se enchem de lágrimas, e eu vejo o choque em seu rosto. Ela parece quebrar por dentro, e a dor dela me atinge com força. Talvez ela já soubesse, mas não esperava que eu fosse tão direto.Ela abaixa a cabeça e limpa as lágrimas antes de tentar me olhar novamente.— Allah! Não pensei que doeria tanto ouvir isso de você. Bem que eu estava desconfiada, mas eu te amo, Okan, por isso tenho sido paciente.Ouço as palavras dela, e um nó se forma em minha garganta. Não pela dor que ela expressa, mas pela culpa que me consome. Eu não queria magoá-la, não queria alimentá-la com falsas esperanças. Por que continuei? Por que deixei ela chegar tão perto?Eu tento encontrar algo para dizer, mas minhas palavras falham. Só consigo segurar sua mão sobre a mesa, e ela a puxa bruscamente, com raiva. Eu não sei mais o que fazer.— Sinto muito — digo, sentindo o peso da verdade pesar sobre nós dois.Sim, eu errei e estou arrependido.Ainda preocupado com Emil
Eu vacilo com a pergunta de Sila, mas, ao perceber que já está tudo perdido, resolvo abrir o jogo. Já não há mais o que esconder.— Sim, depois que eu fiz uma proposta que ela achou absurda. Eu queria conhecê-la melhor antes de tomar uma decisão. Mantinha o nosso noivado e tentava te evitar. Sairia com ela para entender nossos sentimentos, mas ela não quis.Sila me olha incrédula, com os olhos faiscando raiva, tensa, na defensiva. De repente, ela se levanta num ímpeto, os músculos do corpo tensos, e, agarrando o copo de suco de uva com uma força quase descontrolada, despeja todo o conteúdo em meu rosto. O som do líquido contra a minha pele quebra o burburinho do restaurante, e o ambiente inteiro se silencia. Todos os olhares se voltam para nós, e os meus se fixam nela, desafiadores.Eu mereço isso, penso internamente, encarando-a sem desviar.— Seu cafajeste sem coração. Eu te odeio, está entendendo?— Registrado. — Respondo, limpando o rosto com o guardanapo, minha voz tranquila, mas
As lágrimas começam a escorrer sem que eu perceba, uma mistura de raiva e tristeza. Eu me sinto profundamente traída e, ao mesmo tempo, uma raiva cega toma conta de mim, fazendo minha cabeça doer como se fosse explodir.Eu sabia que ele ainda estava noivo, mas ele me disse que não havia sentimentos envolvidos entre eles. Mas, no momento em que entrei no restaurante, vi claramente o contrário: o gesto de Okan quando pousou a mão sobre a dela, o olhar de Sila, cheio de ódio na minha direção. Era óbvio que estavam falando de mim, de alguma forma, me colocando como a culpada.Sim, eu mereço isso!Burra! Burra!Eu devia ter sido mais prudente, não a idiota que fui.— Hum, quem é vivo sempre aparece. — Ouço a voz de Letícia ao meu lado, e uma onda de alívio percorre meu corpo, como se ela fosse uma tábua de salvação.Me levanto do sofá, sem conseguir esconder a dor que ainda me consome, e vou até ela. Quando a abraço, não consigo mais controlar as emoções. Soluço em seus ombros, deixando a
EmilyDepois do almoço, na sala com Letícia, eu já estou me sentindo bem melhor. Uma nova energia foi tomando conta de mim durante esse tempo em que estive com ela, como se uma transformação interna estivesse acontecendo. Meus olhos, agora, estão queimando de raiva.Decidi. Vou ter uma conversa séria com Okan. Agora, mais do que nunca, é o momento de mostrar a ele que tudo o que vivemos teve consequências profundas e irreversíveis. O que menos temos que pensar é em nós mesmos e sim no futuro dessa criança.Meu pai estava certo. Okan precisa saber! Ele não pode simplesmente seguir sua vida tranquilamente, enquanto meu filho cresce sem o sobrenome do pai em seu registro de nascimento.Com a armadura de mulher forte, eu me despeço de Letícia sem contar a ela o que planejo fazer. Tenho medo de que, no meio de sua preocupação, ela diga alguma palavra errada que quebre a energia positiva que estou sentindo agora. Não vou ser como uma ratinha medrosa, tentando evitar o gato.Eu sou forte e d
Ziguezagueando pelo tráfego, fazendo ultrapassagens ousadas pela esquerda e direita, faço de tudo para chegar rápido em casa. Cada segundo parece uma eternidade.Assim que entro no hall, o burburinho de vozes chega até meus ouvidos. A temeridade se instala em meu peito. Avanço com cautela e, ao ver Sila chorando nos ombros de Kayra e meu pai pálido, sentado no sofá, uma onda de desespero me toma. Mentalmente, solto um palavrão em turco. Imediatamente, todos percebem minha presença e me olham, como se esperassem o pior.— Ah, que bom que está aqui! Queremos ouvir sua versão de tudo o que Sila, sua noiva, nos contou. — Meu pai diz, com as mãos trêmulas e uma expressão abatida.Sinto meu rosto endurecer ao responder:— Ex-noiva. Terminamos.O choro de Sila ecoa alto pela sala, e meu pai estreita os olhos, tentando entender.— Então é verdade? — ele pergunta, com uma voz que mal sai.— Emily? — Kayra me encara, confusa e em choque. — Você se envolveu com ela?— Sim, ele me disse esse nome
—Eu não posso cumprir seu desejo. Por isso te peço, exime-me dessa promessa que te fiz, baba. Sou o teu sangue. Não posso aceitar que o senhor vire as costas para mim nesse momento.Meu pai passa a mão nos cabelos com raiva.— Você já falou com essa mulher?—Não, ainda não, mas independentemente de dar certo com Emily ou não, não quero estar preso a algo que não tenho certeza se realizarei futuramente.—O que eu posso responder? Se eu disser que não, adianta alguma coisa?—Sim, pai. Mas eu seria infeliz. Um casamento de olhos fechados para mim não dará certo. Acabaremos em divórcio.—Então me promete uma coisa. Caso não dê certo com Emily, você ao menos tentará gostar de uma mulher do nosso povo.Eu respiro fundo.—Sim, tentarei baba, se não der certo com Emily posso fazer isso. Mas desde que eu escolha a mulher com que irei me casar.—Tudo bem. Está desobrigado da promessa.Eu me agacho e beijo sua mão e colo minha testa nela.—Obrigado, baba.Fico um tempo assim de joelhos. Então me