EmilyDepois do almoço, na sala com Letícia, eu já estou me sentindo bem melhor. Uma nova energia foi tomando conta de mim durante esse tempo em que estive com ela, como se uma transformação interna estivesse acontecendo. Meus olhos, agora, estão queimando de raiva.Decidi. Vou ter uma conversa séria com Okan. Agora, mais do que nunca, é o momento de mostrar a ele que tudo o que vivemos teve consequências profundas e irreversíveis. O que menos temos que pensar é em nós mesmos e sim no futuro dessa criança.Meu pai estava certo. Okan precisa saber! Ele não pode simplesmente seguir sua vida tranquilamente, enquanto meu filho cresce sem o sobrenome do pai em seu registro de nascimento.Com a armadura de mulher forte, eu me despeço de Letícia sem contar a ela o que planejo fazer. Tenho medo de que, no meio de sua preocupação, ela diga alguma palavra errada que quebre a energia positiva que estou sentindo agora. Não vou ser como uma ratinha medrosa, tentando evitar o gato.Eu sou forte e d
Ziguezagueando pelo tráfego, fazendo ultrapassagens ousadas pela esquerda e direita, faço de tudo para chegar rápido em casa. Cada segundo parece uma eternidade.Assim que entro no hall, o burburinho de vozes chega até meus ouvidos. A temeridade se instala em meu peito. Avanço com cautela e, ao ver Sila chorando nos ombros de Kayra e meu pai pálido, sentado no sofá, uma onda de desespero me toma. Mentalmente, solto um palavrão em turco. Imediatamente, todos percebem minha presença e me olham, como se esperassem o pior.— Ah, que bom que está aqui! Queremos ouvir sua versão de tudo o que Sila, sua noiva, nos contou. — Meu pai diz, com as mãos trêmulas e uma expressão abatida.Sinto meu rosto endurecer ao responder:— Ex-noiva. Terminamos.O choro de Sila ecoa alto pela sala, e meu pai estreita os olhos, tentando entender.— Então é verdade? — ele pergunta, com uma voz que mal sai.— Emily? — Kayra me encara, confusa e em choque. — Você se envolveu com ela?— Sim, ele me disse esse nome
—Eu não posso cumprir seu desejo. Por isso te peço, exime-me dessa promessa que te fiz, baba. Sou o teu sangue. Não posso aceitar que o senhor vire as costas para mim nesse momento.Meu pai passa a mão nos cabelos com raiva.— Você já falou com essa mulher?—Não, ainda não, mas independentemente de dar certo com Emily ou não, não quero estar preso a algo que não tenho certeza se realizarei futuramente.—O que eu posso responder? Se eu disser que não, adianta alguma coisa?—Sim, pai. Mas eu seria infeliz. Um casamento de olhos fechados para mim não dará certo. Acabaremos em divórcio.—Então me promete uma coisa. Caso não dê certo com Emily, você ao menos tentará gostar de uma mulher do nosso povo.Eu respiro fundo.—Sim, tentarei baba, se não der certo com Emily posso fazer isso. Mas desde que eu escolha a mulher com que irei me casar.—Tudo bem. Está desobrigado da promessa.Eu me agacho e beijo sua mão e colo minha testa nela.—Obrigado, baba.Fico um tempo assim de joelhos. Então me
Durante o trajeto ao hotel, um leve m@l-estar me consome pela falta de um almoço decente. Decido não subir para o meu escritório. Em vez disso, caminho em direção ao restaurante, onde peço uma farta salada com carne vermelha e um pouco de arroz. Minha fome é real, mas meu estômago se revira com a inquietação causada pelos próximos capítulos dessa história que insiste em não acabar. O pior é que eu desconheço o desfecho.Minha vida sempre foi regida pelo controle: controle dos negócios, da praticidade, do poder. Era isso que me fazia levantar todas as manhãs. A adrenalina do trabalho pulsava em mim como um rio caudaloso, preenchendo os vácuos do meu existir. Nunca me preocupei com quem dividiria minha vida. Casar, para mim, foi apenas um acordo vantajoso arquitetado por meu pai. Na época, eu era jovem demais para compreender o que aquilo realmente significava.Graças a Allah, tudo mudou. Algo em mim despertou. Sinto-me mais humano, mais emocional, como se o mundo tivesse ganhado novas
—Verdade? Pois quero que saiba que não sinto o mesmo. Esse é o último lugar que eu gostaria de estar.Suas narinas se alargam enquanto ele toma uma respiração profunda, como se buscasse paciência. Seus olhos negros estão fixos nos meus, me despindo de toda a minha defesa. Ele lambe o lábio inferior, um gesto pequeno, mas carregado de tensão. Parece lutar para encontrar as palavras certas.— Sei que está chateada...— Chateada? — corto-o, a voz carregada de sarcasmo.Não consigo ignorar o jeito como ele me olha, como se tentasse me prender ali, com a saudade crua estampada em seus olhos. A conexão que compartilhamos ainda existe, latejando como um fio de alta tensão entre nós, mas é só isso. Não temos nada em comum, e essa diferença é um abismo impossível de cruzar.— Emily. — Ele dá um passo em minha direção. Meu corpo reage automaticamente, e eu recuo. Ele para no mesmo instante.— Você não acha que estou aqui por causa da sua proposta, acha? — Minha voz sai afiada como uma lâmina.E
OkanEla ergue o queixo, um gesto simples, mas carregado de desprezo, e esse movimento me destroça de uma forma que eu não consigo controlar. Seu olhar é cortante, afiado como uma lâmina forjada em fogo quente, penetrando meu peito com a precisão de um golpe fatal. Senti tanta falta dela, de sua presença, da maneira como seu ser parecia preencher cada espaço vazio da minha vida... Mesmo nos momentos em que a arrogância e o orgulho me faziam acreditar que o tempo apagaria o que sinto por ela, a verdade nunca mudou, e nunca mudará. Agora, diante dela, tudo o que restam são as certezas. Vê-la hoje foi como abrir uma ferida antiga, mas também como redescobrir o ar que eu estava sufocando, o ar que tanto me fazia falta, o único que parecia ser capaz de preencher o vazio em meus pulmões.Allah, como a quero. Como preciso dela, mais do que a mim mesmo.Meus dedos se crisparam ao lado do corpo, a tensão me dominando, tentando inutilmente conter o impulso de atravessar a distância entre nós e
OkanOs dias passaram arrastados, cada um mais difícil que o outro. Joguei-me no trabalho como um náufrago se agarra a uma tábua, tentando silenciar a dor que grita dentro de mim. Em casa, mantenho um autocontrole meticuloso. Não quero que ninguém saiba o quão profundamente Emily me atingiu com seu desprezo. Não vejo o que aconteceu como um ponto final, mas como uma vírgula. Ela precisa de tempo. É isso, tempo para refletir e, talvez, punir-me pelos erros que cometi.Conversei com meu pai sobre trabalho e trivialidades, evitando mencionar Emily. Ele também parece evitar o assunto, como se ignorá-lo pudesse apagar meus sentimentos. No fundo, sei que ele ainda espera que eu desista dela, que volte à promessa feita: encontrar uma mulher adequada, que se alinhe às expectativas da nossa cultura.Já Kayra, minha irmã, virou a cara para mim. Sempre que nos cruzamos, ela se apressa a sair do ambiente, como se minha presença a incomodasse. Imagino que esteja fazendo o mesmo com Emily.Hoje, se
EmilyEsses três dias que se passaram têm sido um tormento. Cada noite, eu me vi rolando na cama, entre pensamentos confusos e lágrimas silenciosas. Quando finalmente consegui adormecer, os pesadelos me assolaram — Okan em sonhos perturbadores, imagens dele que pareciam tatuadas na minha mente. Quando abro os olhos, lá estou eu novamente, pensando nele. O senhor Riley, meu chefe, que é gerente do banco, já notou minha distração e tem reclamado da minha falta de foco. Com medo de ser demitida, acabei contando sobre a minha gravidez.Não estou indo à faculdade. Não consigo olhar para Kayra agora, acho que ela já sabe de tudo e deve estar com raiva de mim, se sentindo traída, pois não me procurou, não me ligou.Que idiota eu fui. Okan só queria me usar. Ele deixou isso claro com aquela proposta ridícula, querendo ficar comigo até perder o interesse.Agora que sua noiva terminou com ele, ele me quer de volta.Por que eu ficaria com um homem que não me valorizou?Passo as mãos pelo rosto,