OkanEla ergue o queixo, um gesto simples, mas carregado de desprezo, e esse movimento me destroça de uma forma que eu não consigo controlar. Seu olhar é cortante, afiado como uma lâmina forjada em fogo quente, penetrando meu peito com a precisão de um golpe fatal. Senti tanta falta dela, de sua presença, da maneira como seu ser parecia preencher cada espaço vazio da minha vida... Mesmo nos momentos em que a arrogância e o orgulho me faziam acreditar que o tempo apagaria o que sinto por ela, a verdade nunca mudou, e nunca mudará. Agora, diante dela, tudo o que restam são as certezas. Vê-la hoje foi como abrir uma ferida antiga, mas também como redescobrir o ar que eu estava sufocando, o ar que tanto me fazia falta, o único que parecia ser capaz de preencher o vazio em meus pulmões.Allah, como a quero. Como preciso dela, mais do que a mim mesmo.Meus dedos se crisparam ao lado do corpo, a tensão me dominando, tentando inutilmente conter o impulso de atravessar a distância entre nós e
OkanOs dias passaram arrastados, cada um mais difícil que o outro. Joguei-me no trabalho como um náufrago se agarra a uma tábua, tentando silenciar a dor que grita dentro de mim. Em casa, mantenho um autocontrole meticuloso. Não quero que ninguém saiba o quão profundamente Emily me atingiu com seu desprezo. Não vejo o que aconteceu como um ponto final, mas como uma vírgula. Ela precisa de tempo. É isso, tempo para refletir e, talvez, punir-me pelos erros que cometi.Conversei com meu pai sobre trabalho e trivialidades, evitando mencionar Emily. Ele também parece evitar o assunto, como se ignorá-lo pudesse apagar meus sentimentos. No fundo, sei que ele ainda espera que eu desista dela, que volte à promessa feita: encontrar uma mulher adequada, que se alinhe às expectativas da nossa cultura.Já Kayra, minha irmã, virou a cara para mim. Sempre que nos cruzamos, ela se apressa a sair do ambiente, como se minha presença a incomodasse. Imagino que esteja fazendo o mesmo com Emily.Hoje, se
EmilyEsses três dias que se passaram têm sido um tormento. Cada noite, eu me vi rolando na cama, entre pensamentos confusos e lágrimas silenciosas. Quando finalmente consegui adormecer, os pesadelos me assolaram — Okan em sonhos perturbadores, imagens dele que pareciam tatuadas na minha mente. Quando abro os olhos, lá estou eu novamente, pensando nele. O senhor Riley, meu chefe, que é gerente do banco, já notou minha distração e tem reclamado da minha falta de foco. Com medo de ser demitida, acabei contando sobre a minha gravidez.Não estou indo à faculdade. Não consigo olhar para Kayra agora, acho que ela já sabe de tudo e deve estar com raiva de mim, se sentindo traída, pois não me procurou, não me ligou.Que idiota eu fui. Okan só queria me usar. Ele deixou isso claro com aquela proposta ridícula, querendo ficar comigo até perder o interesse.Agora que sua noiva terminou com ele, ele me quer de volta.Por que eu ficaria com um homem que não me valorizou?Passo as mãos pelo rosto,
EmilyEle solta um suspiro pesado. Seu semblante permanece calmo, mas a tensão é visível. O maxilar tenso e a intensidade de seu olhar denunciam a luta interna.— Você se propôs a me ouvir. Eu ainda não terminei o que tenho a dizer.Eu solto o ar com angústia, o medo me corroendo. O cheiro dele ainda está no ar, o calor da sua presença me apertando o peito. Sinto saudade, uma saudade insuportável que quase me rasga por dentro. Só quero sair daquele escritório o mais rápido possível, mas, mesmo assim, respondo:— Tudo bem.Ele solta mais um suspiro.— Como deve saber, meu noivado com Sila acabou.O nome dela, associada ao seu egoísmo, me provoca uma risada amarga, quase debochada.— Quer que eu converse com ela? Talvez ajudá-lo a se reconciliar com sua noivinha?Okan me olha, a raiva evidente no seu olhar.— Emily, fica difícil assim. Quem disse que quero voltar com ela? Ela fez um escândalo aqui, no meu restaurante, fingindo que havia terminado comigo. Mas, no carro, quis voltar, e eu
O rosto dele exibe uma angústia que corta meu coração como uma lâmina invisível. Okan parece carregar o peso de uma batalha interna, cada músculo tenso, como se seu corpo inteiro lutasse contra o que é impossível de controlar.——pergunto, observando cada nuance de sua expressão, avaliando suas intenções.Ele faz que sim com a cabeça, um movimento lento, quase resignado. Seus olhos encontram os meus, refletindo uma mistura de cansaço e determinação. Há algo de sombrio em sua postura, como se estivesse à beira de um precipício.—Tudo bem. Mas faremos tudo do meu jeito.Seus ombros enrijecem, e a tensão em seu semblante se acentua. Seus olhos parecem ainda mais escuros, um mar de tempestades prestes a se romper. A força de suas emoções é palpável. Ele solta um sorriso, mas não há humor ali. É um sorriso amargo, desprovido de alegria.—Que condições são essas? O que você quer dizer com isso?Minha voz sai firme, mas por dentro meu coração pulsa descompassado.—Não vou mudar minhas roupas
Ele permanece de pé, os músculos do maxilar se contraindo enquanto absorve minhas palavras.—Pode parecer que minha motivação seja essa, mas não é. Eu realmente gosto de você. Nunca senti nada parecido com outra mulher, Emily.Suas palavras caem sobre mim como um bálsamo, acalmando as tempestades internas que me consumiam. Respiro fundo, tentando recuperar o equilíbrio.—O tempo dirá.Ele me encara, firme, com um brilho de decisão no olhar.—Vamos! Vou te levar para casa e já aproveito para falar com seus pais.Meu rosto aquece, pego de surpresa por essa nova faceta de Okan. Há algo nele agora, uma urgência em querer me conhecer melhor, em solidificar o que temos.—Não, melhor outro dia. Preciso preparar meu pai antes. Contar como foi tudo com sua noiva, a natureza do seu noivado, para ele te ver como uma vítima e te receber bem.Os lábios de Okan se apertam em uma linha fina. Ele claramente não gosta da ideia de adiar, mas cede.—Tudo bem. Mas não passe de hoje. Amanhã, nesse mesmo h
Alguns minutos depois, todos estamos sentados ao redor da mesa, comendo em um silêncio que para mim é desconfortável, mas que Okan parece não se importar. Talvez seus costumes o façam enxergar isso de outra maneira. Meu pai mantém uma postura distante, embora não hostil, enquanto minha mãe, mesmo querendo agradar, evita fazê-lo abertamente, provavelmente para não causar desavenças mais tarde.Quando o café chega ao fim, convido Okan para a sala novamente. Sentamos lado a lado no sofá, mas com um leve desconforto. Minha mãe, ainda terminando de arrumar a mesa, nos lança olhares frequentes. Quando meu pai finalmente pede licença e se retira, sinto um peso sair de meus ombros.Okan pega minha mão, seus dedos quentes contra os meus, e a beija suavemente. Seus olhos estão fixos no meu rosto, ternos e brilhantes.—Estou feliz. Finalmente, me sinto feliz.Não consigo responder; ainda é cedo para abrir meu coração.—E Kayra? Como ela reagiu ao saber de nós?Seu sorriso vacila por um instante,
Ele entorta o nariz, a expressão carregada de curiosidade e provocação.— Isso explica aquela bebedeira que presenciei na festa? Tem certeza que não gostava dele? Você não ficou magoada nem um pouquinho?— Sim, de certa forma fiquei. Mas, como disse, me embebedei com raiva de mim e pelas coisas que ouvi dele. Dei-me conta de que teria poupado tudo isso se não tivesse me acomodado na relação. Precisei ser traída e ouvir que eu era fria, um iceberg, para finalmente terminarmos.Okan, que me observa sério e carrancudo, suaviza a expressão ao assimilar minhas palavras. Como se o peso que eu carrego se transformasse em um alívio para ele. Ele gostou de ouvir isso, adorou saber que eu não gostava tanto assim do meu ex como ele temia.E então, ele exibe aquele sorriso arrogante.— Allah! Fria? Iceberg? Você?Assinto lentamente, vendo o brilho de satisfação no olhar dele, quase como se ele estivesse comemorando internamente. O homem turco à minha frente não consegue esconder a felicidade que