A chuva agora caia mais forte e encharcava a todos. Pessoas que passavam pela rua, viam a cena e algumas, já sabendo o que tinha acontecido, apenas desejavam que Deus confortasse Cida, pois apesar de não simpatizarem com ela, gostavam muito de seu Antônio.A moça não esperou nem ao menos a chuva parar e correu para o postinho da cidade. Não era muito equipado, mas o pessoal que trabalhava lá se empenhava bastante em cuidar bem dos doentes da vila. Não demorou muito para que Cida chegasse, já que a vila era pequena. Empurrando a porta com força, ela entrou na recepção completamente molhada. A roupa agora estava suja de lama e seus cabelos estavam bagunçados. O que era antes uma chuva forte, se transformou em um temporal. Felipe, o médico do momento, conhecia Cidinha e seu pai, e sabia o porquê dela estar ali. Então, sem cerimônia, ele seguiu até ela e a abraçou.— Eu sinto muito, Cida. Muito mesmo! Não tinha mais o que fazer.— Fala que é mentira, doutô, fala que ele ta vivo. Eu quer
A chegada de Lucia apenas aumentou a irritação de Beto, vê-la esgueirando-se para esbarrar com ele a cada minuto o fazia se sentir sufocado, principalmente diante dos olhares inquisidores de sua mãe, dona Norma não facilitava e ele sabia que parte da insistência de Lucia era culpa dela, que certamente encheu a cabeça da loira com falsas esperanças.— Porra… — ele resmungou, tirando o chapéu de sua cabeça e o jogando no chão, eufurecido.Não tinha paz, diferente do que havia pensado, Cida não deixou seus pensamentos e agora ele mal podia respirar sem pensar nela. Mas, aparentemente, nenhum dos funcionários a conheciam, ou fingiam não conhecer. Sequer Amanda, que era uma das funcionárias que mais frequentavam a vila, sabia quem era a garota que ele buscava. Quanto mais os dias passavam, se arrastando como que para prolongar seu sofrimento, mais doido Beto ficava. Nenhuma mulher era boa o bastante bonita o bastante, gostosa o bastante, e ele havia tentado procurar. Lucia repugnava seu
Não demorou para que os dois homens chegassem até a vila e passassem pela praça. O local estava vazio bem limpo e arrumado, já que os festejos já haviam acabado e, como a única paróquia da região ficava ali, tudo precisava estar sempre bem apresentado, pelas exigências do padre. Bato uniu as sobrancelhas, era estranho que a praça estivesse tão vazia, afinal, normalmente as senhoras da vila adoravam ficar fofocando por ali enquanto suas crianças brincavam. Nos arredores da praça não havia ninguém também, algumas mulheres estavam nas janelas olhando para os fundos da vila, para as últimas casas, e alguns homens vinham de lá rindo e cochichando. — Bem feito pra ela, assim aprendi como muie tem que ser, num é? — falou um deles que passou pelos dois cavalos sem sequer perceber a presença dos dois estranhos. — Ele vai ser maridu dela, tem direito de homi, ninguém mete a cuie em briga de marido e muie — confirmou o outro, seguindo em direção a praça. Leo encarou Beto com dúvida enquant
Os gritos da amiga ainda assombram sua mente e a conivência das pessoas a deixou apavorada. Ainda sentia um medo que jamais havia sentido, e se fosse ela? Quando seus pais se forem, ela seria indefesa assim? Na mão de um homem para que ele fizesse dela o que bem quisesse? — Pufavo, salve minha amiga, eu faço qualquer coisa, qualquer coisa moço, é só pidi, mar salva minha amiga, num aguento mais ver a pobi Cida sofrer! — Sandrinha repetia isso enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto como nunca haviam rolado, ela jamais se sentiu tão frágil e desesperada. Beto encarou Leo e seus olhos pareciam puro fogo diante do ódio que sentia. Não pensou em muita coisa, simplesmente encarou o irmão com um olhar claro para que ele cuidasse da moça enquanto ele faria o que precisava fazer, só então ele se levantou, caminhando erm direção a pequena casa. “Cida… Porra, é a Cida lá dentro?”, a pergunta pairava em sua mente e fazia todo seu corpo parecer em chamas de tanta raiva. Alguém estava faz
— Irmão, calma, calma! Tu vai matar ele, vai matar! — Leo repetia, usando toda força para conter o peão, que resistia bravamente, ansioso para acabar com Zé de uma vez. — Pois é o que esse puto merece, ele merece morrer mermo! Ir pros quintos dos infernos, pro capeta fazer com ele a merma coisa que ele tava fazendo com ela! — ele gritava, lutando como um touro pra se livrar de Leo. Demorou alguns segundos para ele se acalmar, e as pessoas ainda estavam completamente estáticas, Zé ainda não se mexia, estava jogado no chão como um saco de peixes mortos. Quando Leo se sentiu seguro para soltar Beto, o peão olhou para os que estavam observando e deu um sorriso sem humor que fez os que estavam mais na frente recuar, assustado com a hostilidade dele. — E vocês merecem o mermo destino, ouviram bem? Vocês todos tem um lugarzinho guardado no colo do capeta, entenderam? Como pode uma porra dessa! Ninguém ajuda a menina! Bando de inúteis! Não quero ninguém procurando porra de trabalho na
— Sigura direito, moça. Sigura que eu vou dar linha — Léo falava enquanto via Sandra se soltando da cintura dele. Não sabia o porquê, gostou bastante do abraço e do toque da moça em seu corpo.Os quatro jovens seguiam em direção a grande fazenda Santana. Cida reconheceu o caminho que antes tinha feito para vir embora no dia de São João, quando a moça a guiou logo cedo. Ela segurava em Beto com toda a força que podia, mas seu pensamento ia e voltava no momento em que passou a poucos minutos. Não conseguia esquecer o modo como foi jogada na cama, como se fosse apenas um objeto. O jeito como Zé a tocava, como a chupou, tudo nele lhe gerava apenas nojo e repulsa. A vontade de chorar ainda estava em sua garganta e o nó parecia aumentar cada vez mais. Beto não estava muito diferente dela, ver a moça em que tanto pensara nesses últimos dias indefesa e frágil, enquanto um qualquer a tocava, o deixou em fúria. Se não fosse por Leo, ele teria o matado ali na frente de todos sem nem ao menos se
Sandra e Léo seguiram caminho até a vila para buscar as coisas de Cida e da moça, o primeiro local foi justamente a casa da amiga. A porta ainda estava aberta e as pessoas que passavam pelo local observavam, tentando descobrir o que aconteceu.Sandra, sem esperar por Léo, entrou na casa e foi direto ao quarto de Cida. O local estava revirado, a camisa de Zé ainda estava ali, jogada no chão e, mais acima, a camisola de Cidinha estava ainda entre as madeiras da cabeceira da cama. Sandra sentiu o estômago revirar ao reviver a cena em sua mente.Léo entrou em seguida, dando pressa a moça. — Vamo, moça, adianta que nois num tempo o tempo todo do mundo não e Beto com a menina tão tudo precisando da gente — enquanto falava, ele analisava a situação do quarto.— Meu nomi é Sandra, viu? Mais respeito pufavô. E era pra ocê esperar la fora, que eu sou moça e o povo pode achar coisa errada dum homi entrar assim atrás de eu. — Pelo amor de nossa sinhora, muié, a última coisa que esse povo vai le
Lucia tremia de ódio! Enquanto descia as escadas, atrás de Amanda, só conseguia imaginar quem seria a vagabunda que estaria se envolvendo com seu noivo. “Estou há dias esperando por Beto. Como ele pode ser tão vagabundo, tão escroto? Não posso acreditar ainda, então, preciso ver com meus próprios olhos se isso é realmente verdade.”Amanda, que descia as escadas com pressa, sentindo o ódio de Lucia crescendo a cada segundo, estava orgulhosa de si mesma. Em seus pensamentos, descobrir os segredos de Beto e contar para Lucia a faziam a melhor amiga da garota e poderia se beneficiar muito com isso. Ela atravessou a sala onde a mãe de Beto estava sentada tomando algo que parecia ser uma xícara de café, ao se aproximarem, a senhora levantou.— Pra onde cêis vão tão apressada assim, meninas? Alguma coisa de especial? — Dona Norma então coloca a xícara de café na mesa da sala e levanta para cumprimentar Lucia, que está vermelha.— Ainda não, dona Norma, ainda não tem nada de especial! Mas p