Quando o avião finalmente pousou, Lucia sentiu um alívio imenso, afinal, estava cansada de ficar sentada naquela poltrona desconfortável. O voo foi rápido não mais que uma hora e meia de viagem e agora que estava na capital, sabia que haveria um carro esperando-a para levá-la até a fazenda Santana. A loira caminhou arrastando sua mala em direção ao desembarque, andava de forma elegante e usava saltos agulha que deixavam suas pernas em evidência. Lucia tinha belos cabelos loiros longos que caiam por suas costas, seus olhos eram claros bem como sua pele, os traços de seu rosto eram finos e seu nariz arrebitado lhe dando ainda mais um ar de garota convencida. Ela sequer olhava para os lados, apenas seguia em direção ao lugar onde deveria estar, como se as demais pessoas por ali fossem irrelevantes. Não demorou muito para chegar ao portão de desembarque e, assim que se aproximou, viu um rapaz com um chapéu de vaqueiro e calças surradas levemente empoeiradas, ele estava olhando para os
Quando ele se foi, as mulheres entraram para a casa e Lúcia começou a falar animadamente. — A gente passou por uma vilazinha, lugarzinho humilde, né? — ela perguntou, torcendo o nariz levemente. — Vocês interagem com o pessoal de lá?— A maioria dos funcionários veio da vila, mas os ribeirinhos não ficam por aqui, aquele povinho não tem o que fazer na minha casa — Norma falou, puxando Lucia em direção as escadas. — Vamos, vou te mostrar seu quarto. As duas subiram as escadas e logo chegaram a um corredor com algumas portas Norma abriu uma delas e mostrou um quarto elegante e com uma grande cama de casal forrada com um lençol elegante e bonito, tudo cheirava a lavanda e as grandes cortinas estavam abertas. — Olha, minha filha, queria que a gente subisse logo pra conversar com você — Norma sentou na cama, chamando Lucia para fazer o mesmo. — Meu filho tem andado estressado, então eu vou te dar alguns conselhos, entendeu? A loira balançou a cabeça, prestando total atenção na mulher q
Semanas se passaram desde que Cida e Sandrinha conversaram sobre o casamento. Cidinha estava cada dia mais angustiada com a data se aproximando, a essa altura, faltava apenas uma semana pra que o casório acontecesse. Seu pai estava trabalhando dobrado para poder fazer uma bela festa, e ela só conseguia pensar em Beto. O rosto do rapaz não saíra de sua mente nem um dia, até durantes seus sonhos ela pensava nele e o via chegar para salvá-la de todo o mal que acontecia em sua vida, ou revivia o sexo que haviam feito. Geralmente, depois deste último sonho, Cida acordava extremamente excitada e sempre tomava um banho gelado para poder focar no trabalho e, nesse dia, não foi diferente. Ela se levantou e, após o banho, seguiu sua rotina, mas seu coração parecia estar ainda mais agoniado do que antes. Chovia bastante e ela se preocupava muito com seu pai, pois o rio nessa época subia muito de nível, o que ajudava na pesca dos peixes, mas também trazia outros animais para perto da comunidade.
A chuva agora caia mais forte e encharcava a todos. Pessoas que passavam pela rua, viam a cena e algumas, já sabendo o que tinha acontecido, apenas desejavam que Deus confortasse Cida, pois apesar de não simpatizarem com ela, gostavam muito de seu Antônio.A moça não esperou nem ao menos a chuva parar e correu para o postinho da cidade. Não era muito equipado, mas o pessoal que trabalhava lá se empenhava bastante em cuidar bem dos doentes da vila. Não demorou muito para que Cida chegasse, já que a vila era pequena. Empurrando a porta com força, ela entrou na recepção completamente molhada. A roupa agora estava suja de lama e seus cabelos estavam bagunçados. O que era antes uma chuva forte, se transformou em um temporal. Felipe, o médico do momento, conhecia Cidinha e seu pai, e sabia o porquê dela estar ali. Então, sem cerimônia, ele seguiu até ela e a abraçou.— Eu sinto muito, Cida. Muito mesmo! Não tinha mais o que fazer.— Fala que é mentira, doutô, fala que ele ta vivo. Eu quer
A chegada de Lucia apenas aumentou a irritação de Beto, vê-la esgueirando-se para esbarrar com ele a cada minuto o fazia se sentir sufocado, principalmente diante dos olhares inquisidores de sua mãe, dona Norma não facilitava e ele sabia que parte da insistência de Lucia era culpa dela, que certamente encheu a cabeça da loira com falsas esperanças.— Porra… — ele resmungou, tirando o chapéu de sua cabeça e o jogando no chão, eufurecido.Não tinha paz, diferente do que havia pensado, Cida não deixou seus pensamentos e agora ele mal podia respirar sem pensar nela. Mas, aparentemente, nenhum dos funcionários a conheciam, ou fingiam não conhecer. Sequer Amanda, que era uma das funcionárias que mais frequentavam a vila, sabia quem era a garota que ele buscava. Quanto mais os dias passavam, se arrastando como que para prolongar seu sofrimento, mais doido Beto ficava. Nenhuma mulher era boa o bastante bonita o bastante, gostosa o bastante, e ele havia tentado procurar. Lucia repugnava seu
Não demorou para que os dois homens chegassem até a vila e passassem pela praça. O local estava vazio bem limpo e arrumado, já que os festejos já haviam acabado e, como a única paróquia da região ficava ali, tudo precisava estar sempre bem apresentado, pelas exigências do padre. Bato uniu as sobrancelhas, era estranho que a praça estivesse tão vazia, afinal, normalmente as senhoras da vila adoravam ficar fofocando por ali enquanto suas crianças brincavam. Nos arredores da praça não havia ninguém também, algumas mulheres estavam nas janelas olhando para os fundos da vila, para as últimas casas, e alguns homens vinham de lá rindo e cochichando. — Bem feito pra ela, assim aprendi como muie tem que ser, num é? — falou um deles que passou pelos dois cavalos sem sequer perceber a presença dos dois estranhos. — Ele vai ser maridu dela, tem direito de homi, ninguém mete a cuie em briga de marido e muie — confirmou o outro, seguindo em direção a praça. Leo encarou Beto com dúvida enquant
Os gritos da amiga ainda assombram sua mente e a conivência das pessoas a deixou apavorada. Ainda sentia um medo que jamais havia sentido, e se fosse ela? Quando seus pais se forem, ela seria indefesa assim? Na mão de um homem para que ele fizesse dela o que bem quisesse? — Pufavo, salve minha amiga, eu faço qualquer coisa, qualquer coisa moço, é só pidi, mar salva minha amiga, num aguento mais ver a pobi Cida sofrer! — Sandrinha repetia isso enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto como nunca haviam rolado, ela jamais se sentiu tão frágil e desesperada. Beto encarou Leo e seus olhos pareciam puro fogo diante do ódio que sentia. Não pensou em muita coisa, simplesmente encarou o irmão com um olhar claro para que ele cuidasse da moça enquanto ele faria o que precisava fazer, só então ele se levantou, caminhando erm direção a pequena casa. “Cida… Porra, é a Cida lá dentro?”, a pergunta pairava em sua mente e fazia todo seu corpo parecer em chamas de tanta raiva. Alguém estava faz
— Irmão, calma, calma! Tu vai matar ele, vai matar! — Leo repetia, usando toda força para conter o peão, que resistia bravamente, ansioso para acabar com Zé de uma vez. — Pois é o que esse puto merece, ele merece morrer mermo! Ir pros quintos dos infernos, pro capeta fazer com ele a merma coisa que ele tava fazendo com ela! — ele gritava, lutando como um touro pra se livrar de Leo. Demorou alguns segundos para ele se acalmar, e as pessoas ainda estavam completamente estáticas, Zé ainda não se mexia, estava jogado no chão como um saco de peixes mortos. Quando Leo se sentiu seguro para soltar Beto, o peão olhou para os que estavam observando e deu um sorriso sem humor que fez os que estavam mais na frente recuar, assustado com a hostilidade dele. — E vocês merecem o mermo destino, ouviram bem? Vocês todos tem um lugarzinho guardado no colo do capeta, entenderam? Como pode uma porra dessa! Ninguém ajuda a menina! Bando de inúteis! Não quero ninguém procurando porra de trabalho na