Beatriz— Rafael na escuta?— Prossiga Beatriz!— A equipe Beta, ao condomínio! — A equipe Alfa, direito à cela onde estão os presos!— Entendido Beatriz!Meus olhos grudados na tela enquanto a equipe Alfa segue pelos corredores do galpão até as celas. O silêncio na sala é palpável, interrompido apenas pelo som da respiração pesada de Teresa ao meu lado e os cliques de Liam ajustando os ângulos das câmeras.— Estão chegando — digo, a voz baixa, mas carregada de tensão.Nas imagens, Rafael lidera o grupo, com Marcos e Tobias logo atrás. Priscila e Lucas vêm mais atrás, os rostos sérios, prontos para o que está por vir. André fecha o grupo, os ombros rígidos, parecendo um gigante prestes a desabar sobre qualquer um que ousar cruzar seu caminho.Quando a porta da cela se abre, os prisioneiros levantam a cabeça, todos menos Letícia. Ela mantém o olhar fixo no chão, os lábios apertados. O senador Daniel Prado, no entanto, encara Rafael com uma expressão que mistura raiva e desespero.— Bo
BeatrizO silêncio na sala de conferências era inquietante. A cena que acabáramos de assistir nas telas de monitoramento permanecia em minha mente como uma marca. Rafael, André, Tobias e Marcos... Eu sabia que eram homens intensos, mas o que presenciei foi algo além.André, normalmente o mais controlado, estava irreconhecível. Ele agarrou um dos aliciadores pelo colarinho e o ergueu com uma força que parecia sobre humana antes de jogá-lo no chão como se fosse um boneco de pano.— Vocês pensaram que eram intocáveis, não é? Que podiam brincar com vidas? Vocês tocaram nas MINHAS meninas, lembram? Lua e Luana... nunca batemos ou maltratamos, mas vocês? Vocês bateram e tentaram... — sua voz falhou brevemente antes de explodir. — Tentaram ESTTUPRAR, seus mallditos!Cada palavra de André foi acompanhada por um golpe violento. O som ecoava pela cela, abafado apenas pelos gritos dos prisioneiros. Um deles tentou implorar por misericórdia, mas Tobias silenciou o mais jovem com um único golpe c
BeatrizA tensão é quase palpável na sala de conferências enquanto observo as telas que mostram a movimentação na Luxor. Cada detalhe é cuidadosamente analisado. Rafael está no bar, fingindo beber como se não houvesse amanhã, encenando a descontração de quem não tem um cuidado no mundo. Priscila e Lucas, depravados a um nível quase cômico, se agarram como se fossem adolescentes sem supervisão. Ramiro, que também está de olho na boate através das câmeras, resmunga baixinho, sua insatisfação evidente.— Essa encenação podia ser um pouco mais discreta. — ele diz, mal disfarçando o incômodo.— Relaxa, Ramiro. É parte do show. — respondo sem desviar os olhos das telas.No meio da pista, Lua e Luana estão cercadas por Rodrigo e Robert. Os dois interpretam com perfeição o papel de jovens tentando conquistar garotas novas. Mas algo nos meus monitores chama minha atenção, vejo dois homens bem vestidos, discretos, mas claramente focados nas meninas. Eles trocam olhares e apontam na direção dela
BeatrizO bar, a boate inteira, parece congelar. Todos estão vendo. Lua e Luana, que estavam prestes a retomar a interação com os aliciadores, param onde estão, claramente confusas. Robert e Rodrigo olham para o bar, sem saber como reagir. Lucas, pálido como um fantasma, fixa o olhar no casal enquanto Priscila deixa as lágrimas escorrerem pelo rosto.Mas Priscila não é mulher de apenas assistir. Ela se move com a rapidez de um raio, atravessa o salão e, antes que a mulher perceba, Priscila já a imobilizou. Com um controle impecável, praticamente invisível para os demais, ela a arrasta pelos fundos, sumindo das câmeras por alguns segundos.O som abafado de tapas ecoa no meu ponto eletrônico.— Ou você desaparece do planeta, Cássia, ou eu faço questão de arrancar o ar dos seus pulmões com as minhas próprias mãos sua desgraçada! — Priscila sibila, cheia de raiva.Cassia não responde, mas o som de soluços ao fundo me diz que ela entendeu o recado.Volto minha atenção para a sala de confer
BeatrizQuando Rafael entra em casa, o ar parece pesar toneladas. Eu estou na sala, de costas para ele, olhando fixamente para a parede. Meus pensamentos estão caóticos, mas meu corpo está imóvel, rígido. Sei que ele está ali, parado atrás de mim, mas não consigo me virar de imediato. Cada fibra do meu ser grita que essa conversa vai mudar tudo.— Bia, podemos conversar? — ele diz, com a voz baixa, hesitante.Eu me viro devagar, e nossos olhares se encontram. Sei que meu rosto está marcado, os meus olhos vermelhos de tanto chorar, mas não importa. Ele precisa ver. Ele precisa sentir.— Conversar? Agora você quer conversar? Depois de tudo o que aconteceu hoje? — minha voz sai baixa, mas cada palavra é uma lâmina.— Foi um mal entendido. Você viu o que aconteceu, eu não...— Não mente para mim, Rafael! — eu o corto, elevando o tom. Ele dá um passo para trás, como se minhas palavras fossem golpes físicos. — Eu vi. Todo mundo viu! Não foi só um beijo, não foi só um deslize! Você deixou e
RafaelAs meninas caminham em direção ao banheiro, os passos cambaleantes e as risadas exageradas compondo a cena com uma precisão que chega a ser desconcertante. Do meu ponto de observação, monitoro tudo com atenção. Assim que elas entram no banheiro, o som dos pontos eletrônicos se ativa.— Beatriz, eles morderam a isca. Autorização para continuar? — Lua pergunta, a voz tensa, mas controlada.Fecho os olhos por um breve instante, respirando fundo. Sei que o próximo passo é o mais arriscado, mas também o mais necessário.— Autorizadas. Sigam com eles, mas mantenham a simulação. A equipe está posicionada para acompanhar vocês.Beatriz nos monitora, os olhos grudados nas telas de monitoramento. Não ouso dizer nada, mas sinto a tensão irradiando dela. Cada movimento das meninas é calculado, e qualquer deslize pode comprometer tudo.Lua e Luana saem do banheiro, ainda fingindo embriaguez, e retomam o papel com perfeição. Tudo parece estar indo conforme planejado até que, nas câmeras, alg
BeatrizA noite parece interminável, como se o tempo tivesse decidido conspirar contra mim. Cada minuto estica-se em uma agonia lenta, e o peso das lembranças me sufoca. Estou sentada no chão do quarto das crianças, a cabeça encostada na lateral da cama de Giulia, enquanto Morgana, a minha gatinha, respira suavemente ao meu lado. Acaricio o pelo dela sem pensar, buscando uma distração, mas tudo o que consigo sentir é o vazio crescente que parece querer esmagar o peito.A dor não é apenas emocional, é quase física. O meu coração pulsa com uma força que me assusta, como se estivesse tentando escapar da pressão das emoções que o esmagam. As palavras dele ecoam na minha mente, misturando-se com as imagens do que aconteceu na boate. O toque daquela mulher, o beijo, as insinuações... No meu laboratório. Como ele pôde? O laboratório sempre foi o meu santuário, o lugar onde dediquei a minha vida, o nosso trabalho. Saber que ele o desrespeitou daquela maneira é uma ferida profunda. E ela... Ca
RafaelEstou parado no meio da sala, encarando o silêncio opressor ao meu redor. O relógio na parede marca as horas como um lembrete cruel de que o tempo continua, mesmo quando tudo dentro de mim parece ter parado. Não consigo me sentar. Não consigo descansar. Cada passo que dou pela casa parece um peso, como se meus pés estivessem presos ao chão por correntes invisíveis.Beatriz está no quarto das crianças, e eu sei que ela não quer me ver. Sei que meu lugar é longe dela agora. Mas isso não torna o peso da distância mais fácil de suportar. Fecho os olhos e vejo de novo o momento que me trouxe aqui. O beijo de Cassia.Ela foi tão firme, tão segura. Nem hesitou. Como se já tivesse decidido antes mesmo de eu abrir a boca. Isso me apavora. Não é só raiva; é convicção. Ela acredita que não há mais nada a salvar.Não foi só um beijo. Foi um golpe. Um desrespeito não só a ela, mas a tudo que construímos juntos. Minha esposa. Minha parceira. A mulher que amo mais do que qualquer coisa. E eu