Beatriz
O silêncio parecia uma tela em branco, convidativa e misteriosa. Aqui pretendo passar os meus próximos anos, almejo me dedicar a pesquisa científica, bem como evoluir nos diversos aspectos de minha vida. Quando fechei a porta atrás de mim, senti o peso do mundo lá fora ficar para trás. Diante de mim estava o início de uma nova história, uma casa que seria o meu refúgio, meu laboratório de descobertas e, talvez, meu santuário para curar feridas que ainda ardiam.
Eu estou consciente que terei um caminho longo a traçar, mas me vejo munida de determinação para seguir com os meus projetos e alcançar todos os meus objetivos.
Com a saída de Rafael, me sinto mais à vontade para observar a minha volta, já que esse lugar será a minha nova residência.Respiro fundo e deixo os meus olhos percorrerem cada detalhe do lugar. As paredes em tons pastéis exalavam tranquilidade. O pequeno hall de entrada, com um espelho e alguns objetos de decoração, davam boas-vindas de uma forma inesperadamente acolhedora. Passei pela sala e percebi como aquele ambiente parecia contar uma história. Sofás macios, uma mesa de jantar com cadeiras robustas, uma TV de 50’ e uma arca cheia de pequenos detalhes que alguém, antes de mim, cuidadosamente escolheu. Tudo ali parecia dizer: "Este é o seu lugar agora, mas já me pertenceu."
Peguei minha bagagem e me dirigi ao quarto principal. O tom pêssego das paredes contrastava com o brilho suave da luz do abajur. A cama king size ocupava o centro da atenção, enquanto o quadro acima da cabeceira parecia sussurrar segredos de tranquilidade. Uma porta levava ao banheiro, outra ao closet. Ao entrar no closet, comecei a organizar minhas roupas. gosto de arrumar por peças, vestido com vestido, saias com saias, blusas, calças, camisetas e os meu queridos jalecos … Cada peça no lugar era como reorganizar as partes da minha vida.
Mas o que mais chamou minha atenção foi o banheiro. A banheira brilhava, convidativa, e não resisti. Enchi-a com água morna, espuma e sais de banho. Enquanto a banheira se enchia, parei diante do grande espelho e encarei meu reflexo.
Tenho 1,68 m, peso entre 65 a 68 kg, sempre nessa faixa. Me considero uma mulher bonita, estatura mediana, sei0s médios, tenho quadril avantajado e um bumbum bem arrebitado, o meu corpo não está nos padrões das mulheres da América do Norte, tenho um padrão mais latino com curvas acentuadas, meu cabelo é castanho na altura do ombro, meus olhos são esverdeados, meus traços são delicados, minha boca carnuda, rosada de um perfil normal nada de excepcional que chama atenção, mas sou satisfeita com o meu corpo.
A cicatriz no braço me prendia. Pequena, discreta, mas carregada de memórias que eu preferia enterrar. Foi o preço de uma fuga, em desespero, sai correndo, não olhei para os lados, ouvi o barulho de uma buzina e me vi no chão, atropelada, logo após descobrir a verdade cruel. O lugar onde eu acreditava que encontraria amor, mas só encontrei traição e ruína.
Balancei a cabeça, afastando as lembranças. Este era um novo começo. Não permitiria que os fantasmas do passado ocupassem espaço aqui.
Relaxo na banheira como se cada bolha que estoura levasse consigo um pedaço do peso que eu carregava. Quando a água esfriou, vesti uma camisa de malha folgada.
Quando acabo de organizar tudo ao meu jeito, vou para cozinha. Abro o armário que também encontra-se abastecido, tomo nota mentalmente para agradecer ao Rafael essa delicadeza, seria muito ruim ter que sair agora para o mercado.
Estou com muita sede, vou aproveitar aquele belo pedaço de melancia e vou fazer um suco já que está muito quente.A cozinha é aconchegante com uma bela ilha, tudo muito bem organizado, com os acessórios e eletrodomésticos, tudo bem prático.A antiga moradora era organizada, pois você vê que a residência está muito bem conservada, bem decorada e com tudo necessário para trazer conforto e praticidade.Depois de organizar a cozinha ao meu modo, resolvo preparar algo para comer, na geladeira encontro uma variedade de carne, frango e peixe. Prefiro um filé de frango, que separo e tempero, preparo uma salada e arroz, tudo pronto rapidamente, sento na ilha para fazer minha primeira refeição no novo lar.
Há uma TV no suporte em um canto da cozinha, procuro o controle, o encontro no suporte, ligo para saber as notícias locais, tenho que me ambientar o mais rápido possível, para o trabalho fluir bem e me sentir inserida ao meio do convívio com todos.Resolvo conhecer os outros cômodos do meu novo lar, fazer a minha inspeção, o segundo quarto é bem parecido com o principal, tendo também um banheiro, um closet, são duas suítes, a casa é perfeita, a única diferença é com a cor que é branca acredito para que seja decorado posteriormente já que também não há nenhum quadro ou objeto de decoração, somente os móveis.Esse banheiro também é muito aconchegante, tudo muito bem conservado. Estou muito satisfeita com a casa que irei morar, sinto que serei feliz aqui.
Realmente foi um verdadeiro milagre eu consegui esse trabalho após a formatura e em um momento decisivo da minha vida que eu precisava sair de onde eu estava, mudar de ares, realmente o meu anjo da guarda cuida de mim!Vou para o meu quarto e pego o meu notebook para revisar os detalhes da pesquisa. Rafael tem um projeto ambicioso, algo que poderia mudar o destino de comunidades inteiras e, quem sabe, do mundo. Mas, enquanto lia sobre o trabalho, um pensamento persistente se infiltrava como uma sombra.Havia algo estranho naquela casa. Talvez fosse a forma como ela parecia tão impecavelmente preparada para mim, ou talvez fosse só minha a mente pregando peças, ainda perturbada pelas memórias recentes.
No entanto, ao apagar as luzes e me deitar, senti algo diferente. Como se um par de olhos invisíveis me observasse no silêncio da noite.
E, pela primeira vez, comecei a me perguntar se eu realmente estava sozinha?
Felipe VassaloJá faz uma semana que minhas noites se arrastam sem fim, meu sono roubado pela ausência dela. Beatriz desapareceu como um sonho interrompido, sem deixar pistas, sem me dar a chance de entender. Parece que o chão se abriu e a engoliu, levando com ela minha paz e minhas respostas.Eu sabia que tinha errado. Perder a formatura dela foi imperdoável, ainda mais porque era o momento que ela mais esperava. Beatriz, órfã de pais, sonhou com aquele dia como a culminância de uma promessa feita à família que já não estava presente, nem eu sei como que eu fui perder aquela cerimônia, sabia a importância que aquela formatura tinha para ela.Não sei porque, eu me lembro que estava muito cansado, muito cansado mesmo! Tinha corrigido provas e muitos trabalhos de término do semestre, estava exausto mas não entendo como dormir por mais de trinta e seis horas seguidas, perdendo assim a formatura e também não consegui mais encontrá- la.Ninguém sabe me dizer o que aconteceu, procurei por in
Giulia VassaloSer uma mulher da máfia é navegar entre o poder e o perigo, uma linha tênue onde o amor e o medo coexistem. No entanto, se há algo que aprendi, é que o caos pode ser domado, e até mesmo moldado, por uma mulher que conhece sua força.Casei-me com um Vassalo, um nome que carrega mais rumores e temores do que o próprio inferno. Meu pai dizia que estava me enviando para a segurança, mas eu sabia a verdade: aquilo era um pacto de sobrevivência, e eu era a moeda de troca.Naquele dia, entrei na igreja sentindo-me como um cordeiro no altar do sacrifício. As luzes brilhantes não me cegavam o suficiente para apagar o peso das paredes opressoras. O ar carregava o perfume das flores e da submissão. Rezei para que a morte me libertasse antes que qualquer promessa fosse feita.Mas Cesare Vassalo, com sua postura elegante e olhos que podiam desarmar uma batalha, me surpreendeu. Quando levantou meu véu, esperava encontrar arrogância e frieza, mas encontrei um olhar que parecia dizer: E
BeatrizA tela do notebook pisca na minha frente, iluminando o quarto com seu brilho frio. Enquanto as linhas de texto preenchem os meus olhos, sinto meu coração acelerar. Não é apenas mais um projeto; é o projeto que me dará a maior oportunidade da minha vida profissional. Algo que, se bem-sucedido, pode redefinir a forma como entendemos o mundo microscópico que nos cerca. A responsabilidade pesa nos meus ombros, mas também me enche de uma empolgação quase infantil.Passo os olhos pela avaliação já feita, cada detalhe meticulosamente anotado. Vejo as pesquisas de campo realizadas, as amostras coletadas, os pontos de análise e comparações que ainda precisam ser realizadas. Já imagino os próximos passos, as estratégias, as noites que passarei imersa nisso. É fascinante estar aqui, tão profundamente envolvida em algo tão promissor. Esse projeto, idealizado pelo Rafael, é muito mais do que ciência; é uma oportunidade de deixar uma marca duradoura no mundo.Apesar disso, uma sombra de cans
BeatrizAcordo com uma sensação de renovação que não sentia há tempos. O sol invade o quarto com um brilho dourado e suave, prometendo um dia cheio de descobertas. Ainda na cama, espreguiço-me, permitindo que a leveza do momento se instale. A rotina de autocuidado que adotei tem sido um refúgio para minha mente, um momento em que posso me reconectar comigo mesma.Levanto e caminho até o banheiro, onde me encaro no espelho. Olhos atentos observam cada detalhe. É estranho como o reflexo pode revelar mais do que apenas uma imagem. Tiro a roupa, lavo meus cabelos, e deixo que a água morna leve embora qualquer resquício de cansaço. Uma hidratação caprichada, esfoliações no rosto e no corpo, e um toque de óleo perfumado completam o ritual. Minha pele macia e levemente perfumada me faz sentir pronta para encarar qualquer desafio.Escolho com cuidado o vestido midi preto que realça minhas curvas com elegância. Calço minha sapatilha preferida, passo um batom sutil e um lápis de olho que realça
BeatrizO riso preenchia a sala de jantar como música, aquecendo o coração de todos. A mesa era um reflexo perfeito daquela conexão rara e genuína, pratos compartilhados, olhares de cumplicidade, e uma alegria simples que parecia carregar anos de estórias em comum. Sentada ali, eu observava cada interação com um misto de admiração e saudade, como se tivesse encontrado um pedaço de algo que nem sabia estar procurando.— E então, Rafael, como anda a pesquisa? — perguntou Stefany, com um brilho curioso no olhar.Rafael repousou o garfo no prato e respondeu com a calma de quem domina o que faz:— Estamos progredindo bem. Amanhã iremos a campo coletar mais amostras. A chegada da Beatriz é o impulso que precisávamos.Fabrícia, sempre espirituosa, brincou:— Finalmente! Alguém para dar conta do trabalho que você insiste em acumular, Rafael.O ambiente voltou a se encher de risadas enquanto Stefany e Fabrícia traziam à mesa travessas fumegantes de lasanha. Rafael, já com um sorriso brincalhão,
BeatrizAcordo como se estivesse sendo arrancada de um pesadelo que se recusa a terminar. Meus olhos se abrem e tudo ao meu redor parece opressor: estou suada, minha respiração ofegante e o coração dispara como se eu tivesse acabado de correr quilômetros. Mas é pior que cansaço físico. É aquela memória vertiginosa, cruel, que me invade sem permissão. A lembrança tem gosto de traição e dor, e, por mais que eu tente, não consigo apagá-la.Não consigo esquecer. Os nossos corpos se encaixavam como se fossem feitos um para o outro. O jeito que ele me olhava, como se o mundo desaparecesse ao redor. Mas foi tudo uma ilusão. Uma mentira.Flashback onAinda posso sentir o peso da chave na minha mão enquanto a girava na fechadura naquela noite. Eu estava ansiosa. A voz de Cesare Vassalo martelava em minha cabeça como um alerta que eu insistia em ignorar."Você deveria ser feliz, Beatriz. Viva seu amor com Filipe, mas cuidado: nem tudo é o que parece."Queria apenas afastar aquelas palavras. Eu t
Beatriz— Você tem sorte, Beatriz. Não é todo dia que a morte olha para você nos olhos e desiste!As palavras de Rafael ecoam em minha mente enquanto tento processar os últimos minutos. Estou no banco de trás do carro, as mãos tremendo levemente, e o coração ainda acelerado. Tudo aconteceu rápido demais, o som do chocalho, a pistola sendo apontada para mim, o disparo, e a percepção tardia de que minha vida poderia ter acabado ali, no meio daquela floresta isolada. Meu olhar encontra o de Rafael pelo retrovisor, e há algo na intensidade de seus olhos que me desconcerta. Ele diz que me salvou, mas a lembrança do cano daquela arma apontado para mim ainda me faz estremecer.— Tudo bem aí atrás? — pergunta Marlon, enquanto dirige pela estrada de terra.— Sim, estou bem. — Minha voz soa mais firme do que me sinto, e agradeço por isso.Pouco depois, chegamos à estrada principal. O ar condicionado do carro é um contraste brusco com o calor úmido do campo, mas não reclamo. Marlon e Rafael discu
BeatrizO sol da tarde reflete nas janelas do complexo enquanto atravessamos os corredores iluminados, um misto de ansiedade e cansaço me acompanha desde que retornamos com as amostras. Cada passo meu ecoa nos espaços silenciosos do local, como se o próprio lugar estivesse escutando nossa chegada. Rafael, sempre calmo e seguro, guia-me até o laboratório, onde acondicionaremos as amostras colhidas.Assim que entro, fico estupefata. As paredes de vidro e os equipamentos de última geração me fazem sentir como se estivesse em um cenário futurista. Tudo parece cuidadosamente planejado, vidrarias brilhando sob as luzes frias, bancadas impecáveis, sensores modernos piscando em sincronia. Este não é apenas um laboratório; é o sonho de qualquer biomédico dedicado à pesquisa.Rafael está ao meu lado, apontando os detalhes, mas é difícil não me perder na vastidão daquela estrutura. Ele me conduz por outras dependências, uma ampla sala de reuniões com uma mesa oval e um telão que parece flutuar na