BeatrizA tela do notebook pisca na minha frente, iluminando o quarto com seu brilho frio. Enquanto as linhas de texto preenchem os meus olhos, sinto meu coração acelerar. Não é apenas mais um projeto; é o projeto que me dará a maior oportunidade da minha vida profissional. Algo que, se bem-sucedido, pode redefinir a forma como entendemos o mundo microscópico que nos cerca. A responsabilidade pesa nos meus ombros, mas também me enche de uma empolgação quase infantil.Passo os olhos pela avaliação já feita, cada detalhe meticulosamente anotado. Vejo as pesquisas de campo realizadas, as amostras coletadas, os pontos de análise e comparações que ainda precisam ser realizadas. Já imagino os próximos passos, as estratégias, as noites que passarei imersa nisso. É fascinante estar aqui, tão profundamente envolvida em algo tão promissor. Esse projeto, idealizado pelo Rafael, é muito mais do que ciência; é uma oportunidade de deixar uma marca duradoura no mundo.Apesar disso, uma sombra de cans
BeatrizAcordo com uma sensação de renovação que não sentia há tempos. O sol invade o quarto com um brilho dourado e suave, prometendo um dia cheio de descobertas. Ainda na cama, espreguiço-me, permitindo que a leveza do momento se instale. A rotina de autocuidado que adotei tem sido um refúgio para minha mente, um momento em que posso me reconectar comigo mesma.Levanto e caminho até o banheiro, onde me encaro no espelho. Olhos atentos observam cada detalhe. É estranho como o reflexo pode revelar mais do que apenas uma imagem. Tiro a roupa, lavo meus cabelos, e deixo que a água morna leve embora qualquer resquício de cansaço. Uma hidratação caprichada, esfoliações no rosto e no corpo, e um toque de óleo perfumado completam o ritual. Minha pele macia e levemente perfumada me faz sentir pronta para encarar qualquer desafio.Escolho com cuidado o vestido midi preto que realça minhas curvas com elegância. Calço minha sapatilha preferida, passo um batom sutil e um lápis de olho que realça
BeatrizO riso preenchia a sala de jantar como música, aquecendo o coração de todos. A mesa era um reflexo perfeito daquela conexão rara e genuína, pratos compartilhados, olhares de cumplicidade, e uma alegria simples que parecia carregar anos de estórias em comum. Sentada ali, eu observava cada interação com um misto de admiração e saudade, como se tivesse encontrado um pedaço de algo que nem sabia estar procurando.— E então, Rafael, como anda a pesquisa? — perguntou Stefany, com um brilho curioso no olhar.Rafael repousou o garfo no prato e respondeu com a calma de quem domina o que faz:— Estamos progredindo bem. Amanhã iremos a campo coletar mais amostras. A chegada da Beatriz é o impulso que precisávamos.Fabrícia, sempre espirituosa, brincou:— Finalmente! Alguém para dar conta do trabalho que você insiste em acumular, Rafael.O ambiente voltou a se encher de risadas enquanto Stefany e Fabrícia traziam à mesa travessas fumegantes de lasanha. Rafael, já com um sorriso brincalhão,
BeatrizAcordo como se estivesse sendo arrancada de um pesadelo que se recusa a terminar. Meus olhos se abrem e tudo ao meu redor parece opressor: estou suada, minha respiração ofegante e o coração dispara como se eu tivesse acabado de correr quilômetros. Mas é pior que cansaço físico. É aquela memória vertiginosa, cruel, que me invade sem permissão. A lembrança tem gosto de traição e dor, e, por mais que eu tente, não consigo apagá-la.Não consigo esquecer. Os nossos corpos se encaixavam como se fossem feitos um para o outro. O jeito que ele me olhava, como se o mundo desaparecesse ao redor. Mas foi tudo uma ilusão. Uma mentira.Flashback onAinda posso sentir o peso da chave na minha mão enquanto a girava na fechadura naquela noite. Eu estava ansiosa. A voz de Cesare Vassalo martelava em minha cabeça como um alerta que eu insistia em ignorar."Você deveria ser feliz, Beatriz. Viva seu amor com Filipe, mas cuidado: nem tudo é o que parece."Queria apenas afastar aquelas palavras. Eu t
Beatriz— Você tem sorte, Beatriz. Não é todo dia que a morte olha para você nos olhos e desiste!As palavras de Rafael ecoam em minha mente enquanto tento processar os últimos minutos. Estou no banco de trás do carro, as mãos tremendo levemente, e o coração ainda acelerado. Tudo aconteceu rápido demais, o som do chocalho, a pistola sendo apontada para mim, o disparo, e a percepção tardia de que minha vida poderia ter acabado ali, no meio daquela floresta isolada. Meu olhar encontra o de Rafael pelo retrovisor, e há algo na intensidade de seus olhos que me desconcerta. Ele diz que me salvou, mas a lembrança do cano daquela arma apontado para mim ainda me faz estremecer.— Tudo bem aí atrás? — pergunta Marlon, enquanto dirige pela estrada de terra.— Sim, estou bem. — Minha voz soa mais firme do que me sinto, e agradeço por isso.Pouco depois, chegamos à estrada principal. O ar condicionado do carro é um contraste brusco com o calor úmido do campo, mas não reclamo. Marlon e Rafael discu
BeatrizO sol da tarde reflete nas janelas do complexo enquanto atravessamos os corredores iluminados, um misto de ansiedade e cansaço me acompanha desde que retornamos com as amostras. Cada passo meu ecoa nos espaços silenciosos do local, como se o próprio lugar estivesse escutando nossa chegada. Rafael, sempre calmo e seguro, guia-me até o laboratório, onde acondicionaremos as amostras colhidas.Assim que entro, fico estupefata. As paredes de vidro e os equipamentos de última geração me fazem sentir como se estivesse em um cenário futurista. Tudo parece cuidadosamente planejado, vidrarias brilhando sob as luzes frias, bancadas impecáveis, sensores modernos piscando em sincronia. Este não é apenas um laboratório; é o sonho de qualquer biomédico dedicado à pesquisa.Rafael está ao meu lado, apontando os detalhes, mas é difícil não me perder na vastidão daquela estrutura. Ele me conduz por outras dependências, uma ampla sala de reuniões com uma mesa oval e um telão que parece flutuar na
"Todos os dias você se supera de alguma forma e isso já é o suficiente."BeatrizO dia mal começa, e sinto que estou prestes a mergulhar em algo novo. O céu ainda guarda tons suaves de um amanhecer preguiçoso, mas meu corpo está em alerta. Enquanto faço minha higiene matinal, olho para o espelho e vejo mais do que meu reflexo; vejo uma mulher que está determinada a escrever uma história marcante.Hoje, tenho a sensação de que algo vai mudar, embora não saiba exatamente o que.Na cozinha comunitária do complexo, sou recebida pelo aroma de café fresco e pão tostado. Marlon já está lá, envolto em um ritmo tranquilo, preparando um sanduíche caprichado.— Bom dia, Marlon! Parece delicioso. Posso me juntar a você? — pergunto, sorrindo.— Claro, Beatriz. E aí, como está a adaptação? — ele responde, me oferecendo um pedaço do sanduíche.— Estou amando Marlon. E como está a tua esposa, a Stephany?— Eu vi o Nicolas, como sempre ele é um amor de menino.— Ele é muito carinhoso, puxou a Stefany
Beatriz — Beatriz, você está grávida!Eu olho para ela em choque, não consigo acreditar no que ouço. Como se entendesse o meu dilema, ela me dá um sorriso reconfortante e me aguarda assimilar a novidade, até que o filtro do cérebro para a boca falha e as palavras fogem da minha boca.— Não é possível doutora, esse exame está errado!— É sim Beatriz!— Vamos fazer a ultrasson para ver se está tudo bem com o seu bebê! Ela me conduz até a sala ao lado, onde me aponta uma maca, eu respiro fundo e me deito resignada, ela se prepara para o exame de ultrassom, coloca o gel gelado na minha barriga começa a deslizar o aparelho e começa a investigar o visor, após um tempo ela exclama:— Olha Beatriz, o seu bebê, ele tem onze semanas!Meus olhos se enchem de lágrimas quando olho aquele pontinho escuro no monitor e sou inundada por um amor tão grande e me dou conta que o meu bebê cresce saudável no meu ventre. Eu só sinto a emoção e a confusão de pensar o que eu vou fazer, o coraçãozinho com