Meses depois RafaelEstou com Beatriz no tatame, o olhar dela firme, focado, do jeito que sempre foi em cada treino. Ela é segundo dan em judô, uma competidora nata, e hoje será seu primeiro treino comigo. E, pra começar, quero colocar à prova tudo o que ela sabe. Olho para o outro lado e vejo Priscila se aproximando. A expressão dela também é determinada, mas com um brilho de provocação, aquele jeito de quem se diverte um pouco com o desafio.— Prontas? — pergunto, sinalizando para que se posicionem.Beatriz encara Priscila com respeito, mas também com a confiança de quem conhece sua própria força. Judô está no sangue dela, cada movimento, cada técnica. Mas Priscila... Priscila é uma força diferente. Ela carrega no corpo a mistura explosiva de estilos de luta diversos, o jiu-jitsu, krav maga, hapkido. Movimentos rápidos, imprevisíveis, que não seguem o padrão que Beatriz conhece.A luta começa. Beatriz parte para cima, tenta um seoi nage perfeito, mas Priscila lê o movimento no inst
BeatrizBeatriz sorri, tentando controlar a respiração, e vejo nela um brilho novo, uma confiança que antes talvez nem ela sabia que tinha. Hoje, ela se mostrou muito mais do que apenas uma judoca. Ela provou que é uma lutadora completa, capaz de se adaptar e aprender em meio à própria luta.Beatriz ainda está recuperando o fôlego, mas o sorriso de satisfação não sai do rosto. Ela olha para mim, quase que buscando aprovação, e eu aceno, orgulhoso. Ela mereceu cada segundo dessa vitória, e o respeito de Priscila foi ganho com mérito.— Vou te dizer uma coisa, Beatriz — comento, enquanto todos ao redor ainda assimilam o que acabaram de ver. — Hoje, você mostrou que é capaz de muito mais do que qualquer um esperava. Adaptar-se, improvisar... isso é o que separa os lutadores comuns dos grandes.Priscila, ainda com o sorriso no rosto, estende a mão para Beatriz, selando o reconhecimento.— Não foi fácil, sabia? — Priscila admite, rindo. — Poucos conseguem me fazer lutar de verdade assim.
BeatrizHoje é dia de treinamento de direção, acho que não é algo tão necessário, mas o Rafael me convenceu e disse que faz parte.Chego no autódromo com o Rafael, ele me apresenta ao instrutor que me cumprimenta a distância e me encaminha para o carro.Sento no banco do motorista e ajusto o cinto, sentindo o peso da responsabilidade nas mãos que seguram o volante. Estou nervosa, mas ao mesmo tempo tomada por uma estranha excitação. O instrutor, um homem sério de olhar afiado chamado César, se senta ao meu lado e dá as primeiras instruções. — Lembre-se, Beatriz, isso não é uma aula de direção comum. Hoje, você vai aprender a sair de situações em que segundos são uma questão de vida ou morte.Respiro fundo, tentando absorver as palavras enquanto ele começa a explicar as manobras. Primeiro, uma curva em alta velocidade.— Não desacelere. Apenas vire e confie no controle. Piso no acelerador, com o coração na garganta, e giro o volante. O carro responde rápido, muito mais do que estou ac
Cesare VassaloA máfia não é lugar para amadores. Eu sou a prova viva disso. Talvez seja por isso que me sinto exatamente onde sempre quis estar.Diante do mundo, sou o empresário Cesare Vassalo, dono de uma das maiores empreiteiras do Brasil. Mas entre as sombras, opero com mãos de ferro, manipulando rivais e situações para solidificar o império Vassalo.Por imposição da máfia, fui obrigado a me casar. Naquela época, via as mulheres como meras ferramentas, úteis para satisfazer nossas necessidades e perpetuar o nome da família. Eu, o arrogante e experiente Cesare, achei que seria fácil dobrar qualquer mulher que colocassem ao meu lado. Mas Giulia me provou que eu não sabia de nada.Giulia foi um "presente", parte de uma tradição que tínhamos que honrar. Nosso primeiro encontro foi no altar. Quando levantei seu véu, ela parecia um anjo, loira, olhos azuis intensos, um ar de fragilidade que escondia uma força inesperada. Naquele instante, senti como se tivesse levado um soco no estômago
RafaelEstou no laboratório, cercado pelo silêncio que só os equipamentos de análise interrompem, ajusto alguns parâmetros no espectrômetro, quando minha mente vaga por questões estratégicas. Contratar Beatriz foi uma decisão calculada. Jovem, recém-formada, cheia de ideias e sem vícios de mercado. Ela é como um vaso em branco, pronto para ser moldado dentro da metodologia que aplico aqui.As amostras estão separadas, e o cronômetro marca o tempo exato para a próxima etapa. Cada movimento aqui é meticuloso, quase automático. Meu foco está dividido entre os resultados que espero alcançar e uma ideia que martela na minha cabeça, a chegada da Beatriz.Ela é uma recém-formada, vinda do Rio de Janeiro, jovem e cheia de entusiasmo, segundo os currículos e a breve conversa que tivemos.Beatriz vai trabalhar aqui comigo, esse laboratório é a personificação de uma pesquisa legítima. Equipamentos de ponta, documentação rigorosa e publicações estratégicas fazem dele um centro científico respeit
BeatrizATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS ÚLTIMA CHAMADA PARA O VOO 1429 COM DESTINO A BRASÍLIA EMBARQUE NO PORTÃO SETE. É agora, um dos momentos mais importantes da minha vida, respiro fundo e caminho puxando a minha mala, repleta com os meus pertences, alguns sonhos não vividos, a frustração de um de amor frustrado, a maior ilusão de toda a minha vida. De cabeça erguida, sigo em direção ao portão de embarque rumo ao meu novo destino, foi por mérito ter conseguido esse emprego de auxiliar de biomédico em outra cidade logo após a minha formatura, essa colocação veio na hora exata! Mesmo diante de um dia lindo e ensolarado, sentindo a brisa fresca da manhã acariciando o meu rosto, sabia que a vida estava me presenteando com essa nova oportunidade, e mesmo assim, o meu pensamento vagava longe, muito próximo a minha dor.Não sou aquele tipo de pessoa que fica se martirizando, ou que se faz de coitada para ter a piedade alheia, mas a dor que sinto é tão profunda que as vezes me apego a ilus
Beatriz A pesquisa sobre a contaminação da água é muito necessária para proteção dos lençóis freáticos e para o consumo de água, tanto das cidades como das populações dos povos originários e quilombolas, isso me empolga, gerando grande ansiedade para começar o meu trabalho como profissional e aparentemente o doutor Rafael é uma pessoa de fácil convívio, o que vai facilitar muito a minha adaptação, bem como o meu trabalho. Lentamente os meus olhos se fecham e o sono toma conta de mim, como na última semana, imagens começam a invadir o seu subconsciente, aquele homem me tocando, beijando, aquecendo o meu corpo e depois se afastando, ficando cada vez mais e mais distante, e eu me sinto em desespero, as lágrimas rolam pelo meu rosto e o imploro que ele não se vá! — Não me deixe! – grito para ele. Mas é como se o mesmo não me ouvisse, ele continua se afastando até desaparecer completamente, logo ouço a risada diabólica daquele homem pavoroso que se diz ser o pai do Lipe. Eu acordo com
Beatriz—Tudo bem Rafael, obrigada por tudo, espero que você não tenha tido muito trabalho por ter organizado a minha chegada, estou encantada, muito obrigada por tudo! —Acredito que vamos trabalhar muito bem juntos. —Tchau, bom descanso Beatriz. —Bom descanso para você também Rafael. Eu fecho a porta e observo a minha nova casa, onde pretendo passar os meus próximos anos, aqui almejo me dedicar a pesquisa científica, bem como evoluir nos diversos aspectos de minha vida, nesse lugar vou curar todas as minhas feridas que estão abertas e ainda sangram. Eu estou consciente que terei um caminho longo a traçar, mas me vejo munida de determinação para seguir com os meus projetos e alcançar todos os meus objetivos. Com a saída de Rafael, me sinto mais à vontade para observar a minha volta, já que esse será o lugar ser´´a a minha nova residência. Quando ele abriu a porta, atravessamos um pequeno hall com um aparador e um espelho, alguns objetos de decoração, em seguida entramos na sala