BeatrizHoje é dia de treinamento de direção, acho que não é algo tão necessário, mas o Rafael me convenceu e disse que faz parte.Chego no autódromo com o Rafael, ele me apresenta ao instrutor que me cumprimenta a distância e me encaminha para o carro.Sento no banco do motorista e ajusto o cinto, sentindo o peso da responsabilidade nas mãos que seguram o volante. Estou nervosa, mas ao mesmo tempo tomada por uma estranha excitação. O instrutor, um homem sério de olhar afiado chamado César, se senta ao meu lado e dá as primeiras instruções. — Lembre-se, Beatriz, isso não é uma aula de direção comum. Hoje, você vai aprender a sair de situações em que segundos são uma questão de vida ou morte.Respiro fundo, tentando absorver as palavras enquanto ele começa a explicar as manobras. Primeiro, uma curva em alta velocidade.— Não desacelere. Apenas vire e confie no controle. Piso no acelerador, com o coração na garganta, e giro o volante. O carro responde rápido, muito mais do que estou ac
RafaelEstou na lateral do tatame, observando Beatriz e Priscila trocarem golpes. O suor já escorre pelo rosto de ambas, e as respirações estão pesadas. Estão no limite, mas não é suficiente para mim. Ainda não.— Mais rápido, Priscila! – grito, minha voz firme como uma lâmina. — Você acha que no campo vão te dar tempo para pensar? Mova-se!Ela estreita os olhos, irritada, mas obedece, girando para escapar do golpe de Beatriz. É exatamente isso que quero. Quero irritá-las, quero empurrá-las para o ponto onde cada fibra do corpo grita por descanso, onde a mente começa a se desesperar. É nesse lugar que a verdadeira força aparece.Beatriz, por outro lado, mantém a compostura. Está sempre tão controlada, tão confiante. Quero quebrar isso.— Beatriz, é só isso que você tem? Achei que estava em forma. — provoco, e vejo um lampejo de raiva em seus olhos. Perfeito!Elas continuam se movendo, o som das pancadas ecoando pelo espaço. Priscila se desequilibra por um segundo, mas se recupera rá
Rafael O som do corpo de Beatriz atingindo o tatame me faz franzir a testa. Ela caiu de lado, sem nem tentar amortecer o impacto com as mãos. Por um segundo, penso que é uma estratégia, que está fingindo, tentando pegar Priscila de surpresa. Mas a imobilidade dela logo denuncia que algo está errado.— Beatriz? — chamo, a minha voz dura, mas com uma ponta de dúvida. Ela não se mexe.Priscila se aproxima rapidamente, largando a postura de combate.— Bia? Ei, acorda! — diz ela, ajoelhando-se ao lado da amiga.Meu coração acelera. Uma sensação estranha, como se o ar tivesse sido arrancado da sala, toma conta de mim. Não é comum eu me desesperar, mas o silêncio dela é ensurdecedor.— Priscila, se afasta. — Minha voz sai mais firme do que me sinto. Ajoelho ao lado de Beatriz e encosto os dedos no pescoço dela, procurando o pulso. Ele está lá, mas é fraco. E sua pele... gelada.Priscila me olha, o rosto pálido.— Ela está... ela está bem? — pergunta, a voz tremendo.— Está, mas algo está er
Rafael— Ela me examinou, quase me revirou ao avesso, me fez inúmeras perguntas e me mandou para a sala de exames, coletaram meu sangue, ela diz que sairão junto com os exames de Beatriz.— Bia ainda está com a equipe médica — explico, tentando manter o tom firme, mesmo com o nó que aperta minha garganta. — Disseram que nos atualizariam assim que tivessem algo concreto.Lucas dá um pequeno sorriso, tentando aliviar o clima.— Mamãe provavelmente está dando um sermão em alguém lá dentro. Você sabe como ela fica quando acha que as coisas não estão no controle dela.O comentário arranca um meio sorriso de Priscila, mas a tensão não a deixa por completo.Finalmente, após o que parece uma eternidade, Mirna aparece no corredor. Sua expressão é profissional, mas seus olhos mostram um toque de alívio.— Beatriz está bem — ela informa, com um tom que nos permite respirar de novo. — Foi um episódio crítico, mas conseguimos estabilizá-la. Ela está acordada e consciente. Está no quarto 207.Pr
Rafael— Sempre. — respondo, com um tom mais suave do que o habitual.Os dois se beijam, meio que comemoram a notícia!Ele passa a mão na barriga da Priscila.Lucas e Priscila deixam o quarto, e Mirna me lança um último olhar antes de sair também.Agora me pergunto, o que faço e como faço? Eu não imaginei amar tanto alguém e agora descubro que vou ter um filho, meu, biologicamente meu. Eu não queria isso, ter filhos e deixa-los, não terei tempo de vê-los crescer!Agora, só restam Beatriz e eu. Sento ao lado da cama, segurando a sua mão. Ela me olha com um sorriso cansado.— Você está bem? — pergunto, minha voz mais baixa do que o normal.— Estou — ela responde, apertando minha mão. — E você?Eu suspiro, sentindo o peso do momento e a culpa pelo que aconteceu.— Eu não sabia... Não deveria ter te forçado tanto Bia.Beatriz balança a cabeça.— Rafael, eu não sabi e nem você, não temos culpa, e você esqueceu que eu sou forte. Mas agora, não é só sobre mim.Olho para ela, e pela pri
RafaelEstou sentado na varanda, olhando para o céu que lentamente ganha tons alaranjados com o pôr do sol. Beatriz está lá dentro, rindo de algo com Priscila, e a risada dela ecoa pela casa, tão leve e cheia de vida que quase me faz esquecer o peso que carrego no peito. Quase.Ela carrega o meu filho, e isso é ao mesmo tempo a maior felicidade e a maior angústia da minha vida. Um pensamento me assombra, o que acontecerá com ele ou ela quando eu não estiver mais aqui?Giulia... ela, de certa forma, já tem alguém, ela tem um pai vivo, um pilar em quem pode se apoiar quando tudo parecer desmoronar. Mas e o meu filho? Ele será tão pequeno, tão indefeso. Não consigo evitar essa sensação esmagadora de que, por mais que eu queira, nunca conseguirei estar presente o suficiente para ele.Pego o celular e, quase sem pensar, disco o número de Othon. Ele atende no segundo toque, a voz grave carregada de um tom de zombaria habitual.— Rafael, meu velho amigo, lembrou da minha existência? — Precis
Meses depoisBeatrizEstou tão ansiosa que mal consigo me concentrar no que está ao meu redor. O som de risadas e conversas preenche o salão de festas do condomínio, mas minha mente está fixada no momento que estamos prestes a viver. Priscila está ao meu lado, nervosa, mas radiante. Nossos parceiros, Lucas e Rafael, tentam disfarçar a ansiedade, mas é claro que estão tão inquietos quanto nós. E o motivo? Estamos prestes a descobrir o sexo dos bebês que estamos esperando.A decoração está impecável, com detalhes cuidadosamente preparados por Mirna e Mônica. Além de serem as responsáveis por nos acompanhar como médicas, assumiram o papel de organizadoras da festa, o que fez toda a diferença. Balões em tons de azul e rosa estão espalhados pelo espaço, e o suspense cresce à medida que todos se reúnem. Os moradores do condomínio vieram em peso para compartilhar esse momento tão especial, e até Ramiro, ainda um pouco hesitante, está aqui. Ele tem feito um esforço para se aproximar de Prisci
MarcosA noite é densa, abafada, e a adrenalina correndo nas veias faz tudo ao meu redor parecer mais nítido. Estou no centro de Brasília, em um prédio luxuoso, no 15º andar. O alvo é um deputado federal influente, um homem cuja fachada de político íntegro esconde horrores inimagináveis. Ele financiava uma das casas que abrigavam as meninas destinadas à venda no exterior. Foram diversas vítimas, e só isso já seria razão suficiente para ele pagar.Liam está conectado comigo via ponto eletrônico. Ele é o cérebro digital por trás disso, um gênio hacker que conseguiu acessar os sistemas do deputado, extraindo provas suficientes para destruir sua reputação. Essas evidências serão jogadas na mídia assim que eu concluir minha parte.— Marcos, câmera do corredor desativada por cinco minutos. Mova-se agora — Liam avisa. Sua voz é calma, como sempre.Avanço pelo corredor acarpetado, sentindo o peso do silenciador preso na pistola. Ouço o som abafado da televisão vindo do apartamento do deputado