MarcosA noite é densa, abafada, e a adrenalina correndo nas veias faz tudo ao meu redor parecer mais nítido. Estou no centro de Brasília, em um prédio luxuoso, no 15º andar. O alvo é um deputado federal influente, um homem cuja fachada de político íntegro esconde horrores inimagináveis. Ele financiava uma das casas que abrigavam as meninas destinadas à venda no exterior. Foram diversas vítimas, e só isso já seria razão suficiente para ele pagar.Liam está conectado comigo via ponto eletrônico. Ele é o cérebro digital por trás disso, um gênio hacker que conseguiu acessar os sistemas do deputado, extraindo provas suficientes para destruir sua reputação. Essas evidências serão jogadas na mídia assim que eu concluir minha parte.— Marcos, câmera do corredor desativada por cinco minutos. Mova-se agora — Liam avisa. Sua voz é calma, como sempre.Avanço pelo corredor acarpetado, sentindo o peso do silenciador preso na pistola. Ouço o som abafado da televisão vindo do apartamento do deputado
Dois dias depoisMarcosEstou no carro com minha filha, a Vívian, enquanto seguimos para a mansão de um homem que, se o mundo fosse justo, nunca teria alcançado o poder. Ele renunciou hoje cedo, chorando na televisão, alegando que precisava “proteger a família” e “repensar suas escolhas de vida”. Palhaçada. Sabemos exatamente o que ele é, mais um nojento que lucra com a dor de inocentes.— Está pronta? — pergunto, observando Vívian pelo retrovisor.Ela, sentada no banco de trás, verifica o pente da pistola antes de colocá-la no coldre. Seus olhos determinados me enchem de orgulho, mas também me lembram da linha tênue que atravessamos todos os dias.— Sempre, pai. — O tom dela é calmo, mas a tensão em sua postura diz tudo.— Lembre-se, sem erros, sem pressa. Precisamos resgatar a garota e deixar o restante para Liam.Ela apenas assente. É uma jovem de poucas palavras quando o momento exige seriedade.Quando chegamos à mansão, estaciono o carro a uma quadra de distância. A propriedade e
BeatrizEstou sentada na sala de espera, mexendo no celular para passar o tempo, mas mal consigo me concentrar. A cada minuto olho para o relógio. Rafael está atrasado. Sei que ele teve uma reunião importante, mas parte de mim queria que ele já estivesse aqui comigo nesse momento. Não é só uma consulta de rotina, é o nosso filho.Respiro fundo e coloco a mão na barriga. Sinto um chute leve e sorrio, mesmo com a ansiedade que toma conta de mim.— Beatriz, pode entrar — diz a enfermeira, me chamando para o consultório.Levanto e sigo para a sala da doutora Mônica. Ela está lá, sempre calma e profissional, mas com um sorriso acolhedor.— Como está, Beatriz? — ela pergunta, me convidando a sentar.— Estou bem, acho — respondo, tentando soar mais tranquila do que realmente estou.Ela revisa os resultados dos meus exames enquanto trocamos algumas palavras. A sala é iluminada e confortável, mas meus pensamentos estão longe, presos no medo que tem me assombrado há semanas.No meio da conversa
MirnaHoje é o grande dia. Desde que tivemos a ideia de fazer um chá de bebê surpresa para Beatriz e Priscila, o clima entre as mulheres tem sido de animação e planejamento. Tudo foi cuidadosamente organizado no jardim da casa de Teresa, que, como sempre, abriu as portas com aquele sorriso acolhedor que só ela tem. Cada uma de nós trouxe algo especial, pratos deliciosos, decorações e, claro, presentes para os dois meninos que estão a caminho.Stefany e Fabrícia se encarregaram da missão mais importante, trazer as futuras mamães até aqui sem levantar suspeitas. Criaram uma desculpa perfeita, e agora estamos todas à espera delas, escondidas entre os arranjos de flores e as mesas decoradas.O jardim está deslumbrante. Teresa cuidou pessoalmente dos detalhes, e o resultado é um espaço mágico, com luzes penduradas entre as árvores e uma longa mesa repleta de doces e salgados. Minha irmã, Mônica, trouxe seu toque especial como obstetra, escolhendo temas que celebram a maternidade de uma fo
Dois Anos depoisBeatrizSegurei o Rafinha nos braços pela primeira vez e senti o mundo parar. Meu coração se enche de uma alegria que mal consigo descrever, uma mistura de amor, gratidão e alívio. Ele nasceu forte e saudável, graças a Deus, numa cesariana programada. Dra. Mônica, como sempre, foi incrível, conduzindo tudo com uma calma que só ela tem. Rafael não conteve as lágrimas ao cortar o cordão umbilical. Acho que nunca vou esquecer o brilho nos olhos dele ao ver nosso pequeno pela primeira vez.No dia seguinte à minha alta, Priscila e Lucas vieram nos visitar para conhecer o Rafinha. Eles estavam radiantes, como sempre. Mas no meio da conversa, Priscila ficou tensa, segurou a barriga e disse que algo estava acontecendo. O trabalho de parto dela começou ali, no nosso condomínio. Foi uma correria só! Mirna e Mônica se mobilizaram rápido e levaram Priscila para o hospital. Lucas, coitado, estava mais nervoso do que nunca, mas no fim tudo correu perfeitamente. Algumas horas depoi
BeatrizSento-me no sofá da sala, com Giulia e Rafa dormindo serenamente ao meu lado, e deixo que a mente vagueie por tudo o que aconteceu desde que cheguei aqui. Parece uma vida inteira, embora tenha sido tão pouco tempo. Quando vim para o condomínio pela primeira vez, não imaginava o quanto a minha vida mudaria, quantas reviravoltas e segredos esperavam por mim.Cheguei para trabalhar ao lado do Rafael, um homem inteligente, dedicado, mas envolto em mistérios. De início, a nossa relação era puramente profissional, ou pelo menos foi assim que tentei manter. Mas os dias de pesquisa juntos, a nossa cumplicidade no trabalho, a troca de ideias, tudo isso foi criando um laço que eu não esperava, um laço que só cresceu quando descobri que estava grávida do Lipe. Contar a Rafael foi um dos momentos mais difíceis, e ao mesmo tempo, mais surpreendentes. Em vez de me afastar ou me julgar, ele me fez uma proposta que mudou tudo. Rafael me ofereceu segurança, apoio… e casamento. Uma chance de cr
BeatrizOlho para a tela do computador, determinada. Vou seguir essa trilha até o fim, conversar com qualquer pessoa que possa ter informações, tentar todo o tipo de contato, recurso, o que for preciso, não vou poupar tempo, esforços ou dinheiro. E se for necessário, usarei os contatos da máfia para isso, para garantir que ele tenha uma chance, por menor que seja.Uma última opção surge em minha mente, e a ideia me perturba, mas não a afasto de imediato. No mundo em que estamos, com as alianças e os recursos que Rafael controla, talvez exista algo fora dos limites tradicionais da medicina, uma solução que ainda não foi descoberta ou que está disponível apenas para quem possui os contatos certos. Faço uma lista mental das pessoas a quem posso recorrer, dos caminhos que estou disposta a explorar, e prometo a mim mesma: farei o impossível.Com um último olhar para os meus filhos, prometo em silêncio que encontrarei um jeito de mantê-lo ao nosso lado. Não estou pronta para viver sem ele,
BeatrizAnos depois…. A tarde está com uma leve brisa e um sol que aquece a pele sem queimar.Uma verdadeira tarde agradável de outono, Giulia brinca em volta da cadeira de balanço que Rafael está acomodado, infelizmente nestes últimos meses a doença tem avançado de forma muito rápida, e meu tempo tem sido dar atenção aos meus filhos, que fazem os seus dias menos dolorosos com a alegria infantil.A minha vida com o Rafael estava bem e a nossa rotina seguiu normal com ele fazendo as pesquisas e anotando todas as alterações encontradas e eu participava de todas as etapas das pesquisas coletas, armazenamento, desenvolvimento de colônias nas placas de petri e em tubos de ensaio, trabalhamos de forma conjunta e intensa, conseguindo assim um vasto material sobre solo e água, como também vários pesticidas e agrotóxicos encontrados de forma excessiva e toda a pesquisa foi feita com contra prova, em alguns casos várias vezes.Porém, com o passar do tempo, ele piorou, quase enlouqueci e me r