BeatrizChegamos do Rio de Janeiro no meio da tarde e apesar de todo o cansaço Giulia e o Rafa quiseram ir brincar com os seus amigos. Eu compreendo a saudade que eles devem ter sentido deles, nunca ficaram longe do Arthur da Clara e do Nicolas durante muito tempo.Hoje eles ficaram na casa da Fabrícia, ela me pediu que deixasse eles com gêmeos, que estavam sentindo muita falta deles.Para mim foi uma benção, pois estou cansada, não só física mas também emocionalmente.Coloco as malas no canto e sinto um carinho que gosto muito, me abaixo e carrego a minha gatinha no colo, dou alguns cheirinhos nela e acaricio a sua cabeça, coloco-a no chão, pego uma camisa de malha e me dirijo ao banheiro, tomo uma bela chuveirada, aproveito para lavar os cabelos hidratá-los e termino com um bom óleo corporal. Saio do banheiro, pego a toalha me enxugo coloco uma camisa e vou em direção a cozinha Será que encontrarei algo na geladeira para comer, pois não tem a menor disposição para enfrentar o fo
RafaelO ronco constante dos motores do jato é um som familiar, quase reconfortante, mas minha cabeça está a mil. Ramiro está em silêncio ao meu lado, folheando alguns documentos, enquanto Tobias, sempre atento, mantém o controle impecável do voo. Eu olho pela janela, vendo as nuvens passarem rapidamente, mas minha mente está longe.Beatriz.Não consigo evitar o nó no estômago ao pensar em Felipe. Ele é mais jovem, saudável, e, acima de tudo, foi um grande amor na vida dela. Um amor que deixou marcas, e agora eles sabem de tudo, que foram vítimas de uma armação. Será que ela vai me contar tudo o que aconteceu entre eles? Será que ela ainda pensa nele de uma forma que nunca admitiria?Eu sempre confiei na Beatriz, mas a sombra de Felipe agora paira sobre nós. Ele não é qualquer um. Ele tem um passado com ela, uma filha que os conecta para sempre. E, mesmo que ela me ame, mesmo que tenhamos construído uma família juntos, a dúvida se instala como uma faca.Quando o jato pousa e entramos
BeatrizAcordo antes do amanhecer, como sempre faço quando quero dedicar um momento especial ao Rafael. Arrumo a mesa de café da manhã com todo cuidado, frutas frescas, pão quentinho, suco natural, e o café forte que ele adora. É um ritual silencioso que me ajuda a organizar os pensamentos.Ao chegar no quarto das crianças encontro-os dormindo, a Morgana de Barriga para cima ao lado do Rafinha, carrego ela e ofereço um pouco de ração nova, ela come imediatamente.Tomo meu café devagar enquanto alimento a Giulia e o Rafinha,. Eles riem e brincam, iluminando a manhã com sua energia. Depois de vesti-los e arrumá-los, caminhamos juntos até a creche. Cristina os recebe com um sorriso, e eu me despeço com um beijo em cada um, sentindo a leveza do amor que temos.O trajeto até o laboratório deveria ser uma pausa para respirar, mas meus pensamentos estão inquietos. O reencontro com Felipe, o turbilhão de emoções que ele trouxe de volta, e a conversa inevitável com Rafael pairam sobre mim como
FelipeEstou sentado na poltrona do meu apartamento, o silêncio ao meu redor só amplifica o barulho da minha mente. Tudo o que vivi nos últimos dias com Beatriz se repete como um filme que não posso pausar. Cada palavra, cada expressão no rosto dela, cada emoção que transbordou. Sinto-me puxado em direções opostas, o amor que ainda sinto por ela e a angústia de tudo que perdi com a nossa filha, Giulia.Giulia. Só o nome dela já mexe comigo de um jeito que não consigo descrever. Penso em como deve ter sido o dia em que nasceu. Será que ela chorou muito? E as vacinas? Beatriz estava sozinha com ela? Quem segurou sua mão quando ela deu os primeiros passos? Qual foi a primeira palavra que falou? Será que era algo simples como “mamãe”? Ou talvez...Meus punhos se cerram com força, e percebo que estou respirando fundo para tentar controlar a tempestade dentro de mim. A verdade é que essas perguntas não têm resposta. Não para mim. Não estava lá. Perdi tudo. Cada momento pequeno, mas importan
BeatrizSirvo o almoço em silêncio, colocando o prato de Rafael à sua frente. Ele me observa com aquele olhar carinhoso de sempre, mas um sorriso discreto suaviza sua expressão. Sentamos juntos à mesa, o aroma do arroz com legumes e frango grelhado preenchendo a sala.— Está delicioso, como sempre, Bia. — ele comenta entre uma garfada e outra.Apenas sorrio, grata pelo elogio, mas a tensão no ar é palpável. Ele limpa a boca com o guardanapo e finalmente quebra o silêncio:— Vou sair em uma missão agora à tarde. Volto à noite, fique tranquila, nada demais, nem perigoso, apenas algumas situações e definir logistica de algumas mercadorias.— Não me espere para o jantar. Minha vontade é de pedir para ele ficar, mas conheço a sua vida, suas responsabilidades. Apenas aceno em concordância, tentando esconder minha preocupação. Ele percebe, é claro, mas não comenta.Quando ele termina, se levanta, me dá um beijo na testa e diz:— Bia, toma cuidado!— Me dá um beijo Rafa!Levanto, dou a mão
BeatrizA escuridão é interrompida por sons abafados. O som distante de sirenes se mistura com vozes que mal consigo distinguir. Minha cabeça lateja, e cada músculo do meu corpo dói, mas a primeira coisa que penso é na Giulia.Luto para abrir os olhos. Vejo borrões de luzes vermelhas e azuis piscando. Tento me mover, mas uma dor aguda no lado do meu corpo me impede.— Fique calma, senhora. Você está em segurança agora. — É a voz de um homem, mas não é Rafael.— Minha filha... — minha voz sai como um sussurro, quase inaudível.— A equipe médica está cuidando dela. Estamos aqui para ajudar. — Ele parece sincero, mas minha mente ainda está presa na imagem de Giulia desacordada.Ouço outra voz, firme, autoritária. E então, reconheço a voz do Rafael.— Onde ela está? Onde está a minha esposa? — Ele soa desesperado, mas sua força habitual ainda está ali.— Está no carro, doutor Antonelli. Ela está consciente, não toque nela, ainda não sabemos a extensão das lesões.Em segundos, sinto a su
FelipeO telefone toca, e atendo no segundo toque. Assim que ouço a voz de Beatriz, meu coração acelera.— Sim, Felipe, fizeram uma emboscada para mim... estava com a Giulia... estou bem, mas a minha pequena teve um traumatismo craniano. — A voz dela é firme, mas percebo o peso do medo e da exaustão.Meu mundo para por um instante. A ideia de algo acontecendo com minha filha é insuportável. Respiro fundo, tentando manter a calma.— Beatriz... descansa, por favor. Toma conta da nossa filha. Só me diga mais uma coisa... onde está o seu marido? Preciso falar com ele.Ela hesita, mas então ouço a voz do Rafael— Felipe. — Sua voz é direta.— Estou indo para Brasília. — Não dou espaço para discussão.— Entendido. Vamos resolver isso com calma. — A resposta é fria, mas pragmática, como esperado.Desligo e fico parado por um momento. A raiva e a impotência me consomem, mas sei que não posso perder o controle. Caminho até o bar e pego uma garrafa de uísque. Sirvo uma dose, depois outra. O líq
David LambertiniEstou no escritório de casa, analisando relatórios da última operação em Córdoba, quando o telefone toca. O número é familiar, mas o horário da ligação já me alerta que algo sério aconteceu. Atendo de imediato.— Vassalo?— Lambertini, é sobre Beatriz e a filha dela, Giulia. Fizeram uma emboscada.Meu corpo se tensiona, e a caneta que estava girando entre meus dedos cai sobre a mesa.— Beatriz? O que aconteceu?— Ela está bem, mas a Giulia... sofreu um traumatismo craniano. Está na UTI.Sinto o sangue gelar. penso nos meus filhos e sobrinhos. Beatriz e Lizandra criaram um vínculo forte no congresso, e Lizandra não me perdoaria se eu não agisse de imediato.— Onde estão agora?— Hospital São Miguel, em Brasília.Penso por um momento e decido.— Estou indo para lá com Lizandra. Não mova um dedo sem me avisar.— Entendido.Desligo e imediatamente aperto o botão do interfone.— Hernan, organize a segurança. Vamos partir para Brasília ainda hoje.Levanto-me e vou até o qua