BeatrizAcordo antes do amanhecer, como sempre faço quando quero dedicar um momento especial ao Rafael. Arrumo a mesa de café da manhã com todo cuidado, frutas frescas, pão quentinho, suco natural, e o café forte que ele adora. É um ritual silencioso que me ajuda a organizar os pensamentos.Ao chegar no quarto das crianças encontro-os dormindo, a Morgana de Barriga para cima ao lado do Rafinha, carrego ela e ofereço um pouco de ração nova, ela come imediatamente.Tomo meu café devagar enquanto alimento a Giulia e o Rafinha,. Eles riem e brincam, iluminando a manhã com sua energia. Depois de vesti-los e arrumá-los, caminhamos juntos até a creche. Cristina os recebe com um sorriso, e eu me despeço com um beijo em cada um, sentindo a leveza do amor que temos.O trajeto até o laboratório deveria ser uma pausa para respirar, mas meus pensamentos estão inquietos. O reencontro com Felipe, o turbilhão de emoções que ele trouxe de volta, e a conversa inevitável com Rafael pairam sobre mim como
FelipeEstou sentado na poltrona do meu apartamento, o silêncio ao meu redor só amplifica o barulho da minha mente. Tudo o que vivi nos últimos dias com Beatriz se repete como um filme que não posso pausar. Cada palavra, cada expressão no rosto dela, cada emoção que transbordou. Sinto-me puxado em direções opostas, o amor que ainda sinto por ela e a angústia de tudo que perdi com a nossa filha, Giulia.Giulia. Só o nome dela já mexe comigo de um jeito que não consigo descrever. Penso em como deve ter sido o dia em que nasceu. Será que ela chorou muito? E as vacinas? Beatriz estava sozinha com ela? Quem segurou sua mão quando ela deu os primeiros passos? Qual foi a primeira palavra que falou? Será que era algo simples como “mamãe”? Ou talvez...Meus punhos se cerram com força, e percebo que estou respirando fundo para tentar controlar a tempestade dentro de mim. A verdade é que essas perguntas não têm resposta. Não para mim. Não estava lá. Perdi tudo. Cada momento pequeno, mas importan
BeatrizSirvo o almoço em silêncio, colocando o prato de Rafael à sua frente. Ele me observa com aquele olhar carinhoso de sempre, mas um sorriso discreto suaviza sua expressão. Sentamos juntos à mesa, o aroma do arroz com legumes e frango grelhado preenchendo a sala.— Está delicioso, como sempre, Bia. — ele comenta entre uma garfada e outra.Apenas sorrio, grata pelo elogio, mas a tensão no ar é palpável. Ele limpa a boca com o guardanapo e finalmente quebra o silêncio:— Vou sair em uma missão agora à tarde. Volto à noite, fique tranquila, nada demais, nem perigoso, apenas algumas situações e definir logistica de algumas mercadorias.— Não me espere para o jantar. Minha vontade é de pedir para ele ficar, mas conheço a sua vida, suas responsabilidades. Apenas aceno em concordância, tentando esconder minha preocupação. Ele percebe, é claro, mas não comenta.Quando ele termina, se levanta, me dá um beijo na testa e diz:— Bia, toma cuidado!— Me dá um beijo Rafa!Levanto, dou a mão
BeatrizA escuridão é interrompida por sons abafados. O som distante de sirenes se mistura com vozes que mal consigo distinguir. Minha cabeça lateja, e cada músculo do meu corpo dói, mas a primeira coisa que penso é na Giulia.Luto para abrir os olhos. Vejo borrões de luzes vermelhas e azuis piscando. Tento me mover, mas uma dor aguda no lado do meu corpo me impede.— Fique calma, senhora. Você está em segurança agora. — É a voz de um homem, mas não é Rafael.— Minha filha... — minha voz sai como um sussurro, quase inaudível.— A equipe médica está cuidando dela. Estamos aqui para ajudar. — Ele parece sincero, mas minha mente ainda está presa na imagem de Giulia desacordada.Ouço outra voz, firme, autoritária. E então, reconheço a voz do Rafael.— Onde ela está? Onde está a minha esposa? — Ele soa desesperado, mas sua força habitual ainda está ali.— Está no carro, doutor Antonelli. Ela está consciente, não toque nela, ainda não sabemos a extensão das lesões.Em segundos, sinto a su
FelipeO telefone toca, e atendo no segundo toque. Assim que ouço a voz de Beatriz, meu coração acelera.— Sim, Felipe, fizeram uma emboscada para mim... estava com a Giulia... estou bem, mas a minha pequena teve um traumatismo craniano. — A voz dela é firme, mas percebo o peso do medo e da exaustão.Meu mundo para por um instante. A ideia de algo acontecendo com minha filha é insuportável. Respiro fundo, tentando manter a calma.— Beatriz... descansa, por favor. Toma conta da nossa filha. Só me diga mais uma coisa... onde está o seu marido? Preciso falar com ele.Ela hesita, mas então ouço a voz do Rafael— Felipe. — Sua voz é direta.— Estou indo para Brasília. — Não dou espaço para discussão.— Entendido. Vamos resolver isso com calma. — A resposta é fria, mas pragmática, como esperado.Desligo e fico parado por um momento. A raiva e a impotência me consomem, mas sei que não posso perder o controle. Caminho até o bar e pego uma garrafa de uísque. Sirvo uma dose, depois outra. O líq
David LambertiniEstou no escritório de casa, analisando relatórios da última operação em Córdoba, quando o telefone toca. O número é familiar, mas o horário da ligação já me alerta que algo sério aconteceu. Atendo de imediato.— Vassalo?— Lambertini, é sobre Beatriz e a filha dela, Giulia. Fizeram uma emboscada.Meu corpo se tensiona, e a caneta que estava girando entre meus dedos cai sobre a mesa.— Beatriz? O que aconteceu?— Ela está bem, mas a Giulia... sofreu um traumatismo craniano. Está na UTI.Sinto o sangue gelar. penso nos meus filhos e sobrinhos. Beatriz e Lizandra criaram um vínculo forte no congresso, e Lizandra não me perdoaria se eu não agisse de imediato.— Onde estão agora?— Hospital São Miguel, em Brasília.Penso por um momento e decido.— Estou indo para lá com Lizandra. Não mova um dedo sem me avisar.— Entendido.Desligo e imediatamente aperto o botão do interfone.— Hernan, organize a segurança. Vamos partir para Brasília ainda hoje.Levanto-me e vou até o qua
FelipeSeguimos todos para o quarto da Beatriz, ela nos recebe com um sorriso fraco e logo em seguida faz careta de dor, preciso me controlar, por sentir vontade de ajudar, mas sei que o Antonelli pode enlouquecer de ciúmes, por saber que na verdade ainda a amo e me ver perto demais, eu também ficaria louco, não tiro a razão dele.Observo a interação entre ela e Lizandra que rapidamente a ajuda a sentar de uma forma mais confortável, o David fica todo sem graça, acho que é por estar no quarto de uma mulher, mas nesse momento todos precisamos estar juntos e ouvir Beatriz.— Beatriz Antonelli, por favor, nos conte tudo o que aconteceu. — digo tentando não pressiona-la.— Isso é muito importante para todos nós, tente lembrar de tudo, se houve algo estranho, alguma ligação, mensagem, qualquer coisa fora do normal.Observo quando ela aperta a mão de Lizandra, elas trocam um olhar cúmplice, mas noto quando Lizandra enrijece o corpo.— Não aconteceu nada demais, notei a minha pequena com feb
FelipeTodos os olhares se voltam para ele, e eu sei o que vem a seguir. Rafael inclina-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.— Felipe é o pai biológico da Giulia. Ele é um Vassalo, primogênito de Cesare, membr0 da máfia Italiana.Othon e Yana não reagem, eles conhecem bem essa história, mas é evidente que a informação foi processada. A surpresa foi apenas para David, que se mantém em neutralidade. O casal troca um breve olhar antes de Othon falar.— Entendido. Isso não muda o fato de que estamos aqui para proteger a criança e encontrar quem está por trás disso.— Não se mexe em família, é um bem sagrado!Agradeço mentalmente a sensibilidade de todos para com o assunto. Não preciso de julgamento ou distrações agora.Yana interrompe, chamando a atenção de todos.— Consegui algo. Esse número está conectado a um CEO de uma multinacional envolvida com exportação de glifosato. Aparentemente, eles têm conexões bem enraizadas no Brasil, Argentina e Uruguai.David se endireita na ca