Felipe— Sei que ele é membro da máfia americana. E sei que isso tem tudo a ver com o fato de você estar aqui.Ela me encara, surpresa e, por um breve momento, parece que vai responder. Mas, então, sua expressão endurece novamente.— Felipe, você está delirando. Não sei de onde tirou essas ideias, mas…— Não minta para mim, Beatriz! — minha voz sai mais alta do que eu pretendia, mas não consigo evitar. — Eu só quero a verdade. Sobre tudo.— Mas antes preciso te confessar que eu sou um membr0 da máfia italiana, então não adianta negar sobre isso.Ela recua um passo, os braços caindo ao lado do corpo, e por um momento, parece hesitar.— Felipe… — ela começa, mas a voz falha. Então, fecha os olhos, como se estivesse reunindo coragem.— Se você quer respostas. — ela finalmente diz, abrindo os olhos para me encarar diretamente.— Então está na hora de você me ouvir também. Porque tem coisas que você não sabe. Coisas que vão mudar tudo.E, naquele instante, sinto que estou à beira de desco
BeatrizFelipe me encara, a expressão tensa enquanto conto a ele palavra por palavra da conversa que tive com Cesare. É doloroso revisitar aquele momento, mas sei que preciso ser honesta. Respiro fundo antes de continuar, mesmo sentindo o peso de cada frase.— Ele apareceu no meu apartamento sem avisar. Assim que abri a porta, já percebi que algo estava errado. A forma como ele me olhou... como se eu fosse uma intrusa, um problema a ser eliminado.As mãos de Felipe se fecham em punhos ao meu lado, mas ele permanece em silêncio, me incentivando a continuar.— Ele disse: "Meu nome é Cesare Vassalo. Sou pai de Felipe, o homem cuja cama você tem aquecido." Tento imitar o tom gelado dele, mas minha voz treme ao relembrar.— Eu tentei manter a compostura, Lipe. Disse que não sabia do que ele estava falando, mas ele... ele foi direto. Disse que eu era uma golpista, que tinha um cheiro característico, e que estava impregnado no apartamento…Vejo os olhos de Felipe se estreitarem, o maxilar de
RafaelEstou ao lado de Othon no escritório dele, em Denver, com os olhos fixos na tela do computador, quando Marlon me liga e avisa que Felipe Vassalo está no quarto de Beatriz! A porrah do meu mundo gira e sinto na boca o amargo do ciúme cru, visceral...Nem sei dizer o que estou sentindo, mas preciso saber exatamente o que eles estão falando e fazendo, não deveria fazer isso, mas é mais forte que eu, muito mais forte!Ligo a escuta do celular dela e ouvimos a conversa de Beatriz e Felipe. Cada palavra que ecoa pelo alto falante me faz atravessar uma montanha russa de emoções. Eu sabia que esse encontro ia acontecer, mas não pensei que teria o coração tão apertado ao ouvir e o pior, estar tão distante e sem poder intervir.No início, quando ouvi a voz de Felipe e sabendo que ele estava no quarto de hotel com Beatriz, meus nervos entraram em combustão. O cenário inteiro se formou na minha cabeça, Giulia e Rafinha devem estar dormindo, alheios ao que está acontecendo. Mas minha ment
BeatrizChegamos do Rio de Janeiro no meio da tarde e apesar de todo o cansaço Giulia e o Rafa quiseram ir brincar com os seus amigos. Eu compreendo a saudade que eles devem ter sentido deles, nunca ficaram longe do Arthur da Clara e do Nicolas durante muito tempo.Hoje eles ficaram na casa da Fabrícia, ela me pediu que deixasse eles com gêmeos, que estavam sentindo muita falta deles.Para mim foi uma benção, pois estou cansada, não só física mas também emocionalmente.Coloco as malas no canto e sinto um carinho que gosto muito, me abaixo e carrego a minha gatinha no colo, dou alguns cheirinhos nela e acaricio a sua cabeça, coloco-a no chão, pego uma camisa de malha e me dirijo ao banheiro, tomo uma bela chuveirada, aproveito para lavar os cabelos hidratá-los e termino com um bom óleo corporal. Saio do banheiro, pego a toalha me enxugo coloco uma camisa e vou em direção a cozinha Será que encontrarei algo na geladeira para comer, pois não tem a menor disposição para enfrentar o fo
RafaelO ronco constante dos motores do jato é um som familiar, quase reconfortante, mas minha cabeça está a mil. Ramiro está em silêncio ao meu lado, folheando alguns documentos, enquanto Tobias, sempre atento, mantém o controle impecável do voo. Eu olho pela janela, vendo as nuvens passarem rapidamente, mas minha mente está longe.Beatriz.Não consigo evitar o nó no estômago ao pensar em Felipe. Ele é mais jovem, saudável, e, acima de tudo, foi um grande amor na vida dela. Um amor que deixou marcas, e agora eles sabem de tudo, que foram vítimas de uma armação. Será que ela vai me contar tudo o que aconteceu entre eles? Será que ela ainda pensa nele de uma forma que nunca admitiria?Eu sempre confiei na Beatriz, mas a sombra de Felipe agora paira sobre nós. Ele não é qualquer um. Ele tem um passado com ela, uma filha que os conecta para sempre. E, mesmo que ela me ame, mesmo que tenhamos construído uma família juntos, a dúvida se instala como uma faca.Quando o jato pousa e entramos
BeatrizAcordo antes do amanhecer, como sempre faço quando quero dedicar um momento especial ao Rafael. Arrumo a mesa de café da manhã com todo cuidado, frutas frescas, pão quentinho, suco natural, e o café forte que ele adora. É um ritual silencioso que me ajuda a organizar os pensamentos.Ao chegar no quarto das crianças encontro-os dormindo, a Morgana de Barriga para cima ao lado do Rafinha, carrego ela e ofereço um pouco de ração nova, ela come imediatamente.Tomo meu café devagar enquanto alimento a Giulia e o Rafinha,. Eles riem e brincam, iluminando a manhã com sua energia. Depois de vesti-los e arrumá-los, caminhamos juntos até a creche. Cristina os recebe com um sorriso, e eu me despeço com um beijo em cada um, sentindo a leveza do amor que temos.O trajeto até o laboratório deveria ser uma pausa para respirar, mas meus pensamentos estão inquietos. O reencontro com Felipe, o turbilhão de emoções que ele trouxe de volta, e a conversa inevitável com Rafael pairam sobre mim como
FelipeEstou sentado na poltrona do meu apartamento, o silêncio ao meu redor só amplifica o barulho da minha mente. Tudo o que vivi nos últimos dias com Beatriz se repete como um filme que não posso pausar. Cada palavra, cada expressão no rosto dela, cada emoção que transbordou. Sinto-me puxado em direções opostas, o amor que ainda sinto por ela e a angústia de tudo que perdi com a nossa filha, Giulia.Giulia. Só o nome dela já mexe comigo de um jeito que não consigo descrever. Penso em como deve ter sido o dia em que nasceu. Será que ela chorou muito? E as vacinas? Beatriz estava sozinha com ela? Quem segurou sua mão quando ela deu os primeiros passos? Qual foi a primeira palavra que falou? Será que era algo simples como “mamãe”? Ou talvez...Meus punhos se cerram com força, e percebo que estou respirando fundo para tentar controlar a tempestade dentro de mim. A verdade é que essas perguntas não têm resposta. Não para mim. Não estava lá. Perdi tudo. Cada momento pequeno, mas importan
BeatrizSirvo o almoço em silêncio, colocando o prato de Rafael à sua frente. Ele me observa com aquele olhar carinhoso de sempre, mas um sorriso discreto suaviza sua expressão. Sentamos juntos à mesa, o aroma do arroz com legumes e frango grelhado preenchendo a sala.— Está delicioso, como sempre, Bia. — ele comenta entre uma garfada e outra.Apenas sorrio, grata pelo elogio, mas a tensão no ar é palpável. Ele limpa a boca com o guardanapo e finalmente quebra o silêncio:— Vou sair em uma missão agora à tarde. Volto à noite, fique tranquila, nada demais, nem perigoso, apenas algumas situações e definir logistica de algumas mercadorias.— Não me espere para o jantar. Minha vontade é de pedir para ele ficar, mas conheço a sua vida, suas responsabilidades. Apenas aceno em concordância, tentando esconder minha preocupação. Ele percebe, é claro, mas não comenta.Quando ele termina, se levanta, me dá um beijo na testa e diz:— Bia, toma cuidado!— Me dá um beijo Rafa!Levanto, dou a mão