Capítulo 1: Caindo em si - Parte 2

George sempre foi um homem muito cético, mas, vendo a filha tão abalada e nervosa, ele suspirou, colocando os pacotes sobre o capô do carro e puxando Sel para seus braços a abraçando carinhosamente. 

—  Oh filha… Não deveria ter saído de casa por isso, está tudo bem — ele começou, fazendo carinho nos cabelos vermelhos dela e deixando um beijinho em sua testa. — Mas se for te fazer se sentir melhor, vou ligar para o mecânico que o senhor Campbell  sempre leva seus carros vir aqui dar uma olhada, o que acha?

As sobrancelhas grossas dele estavam unidas e seus olhos claros a olhavam com preocupação. George não pretendia questionar a filha, não porque acreditava nessa coisa de intuição, mas porque sabia que o aniversário de morte da mãe de Sel estava chegando e sabia como a filha ficava sensível nessa época. 

— Tudo bem, ligue para ele e vai ver que estou certa! — Sel concordou, suspirando de alívio, estava convicta e sabia bem que os freios do carro estavam ruins.

Antes de voltar até ali, em sua antiga vida, Roman foi quem contou sobre o acidente de seu pai e, na época ela acreditou que os freios apenas falharam que tudo não passou de um azar mecânico, mas agora suspeitava de que a morte de seu pai tinha a ver com a sua própria morte. Não sabia o que estava por trás daquilo tudo, mas agora acreditava que nada era por acaso. 

Viu seu pai se afastar e então respirou novamente, tranquila quando ele pegou o telefone e ligou para o mecânico. Enquanto o observava, por um momento ela se desligou do mundo, lembrando do dia em que soube do acidente que aconteceria naquele exato momento caso não estivesse chegado a tempo: 

— Perdão, Selena, não queria incomodar — Henry falou, sorrindo de uma forma doce para a jovem à sua frente. 

Desde que seu segundo filho contratou George como motorista, Henry logo conectou-se com a filha dele, via nela uma jovem gentil e carinhosa com a família e aquilo o encantava, então procurou ter uma amizade com ela e a tratava como uma filha também. 

Quando soube do acidente decidiu que seria ele mesmo a avisar a pobre garota que já era órfã de mãe e que agora, teria que suportar a notícia de que seu pai estava em coma numa UTI. Ele sentia uma dor parecida com a dela, George estava dirigindo para Anthony naquele dia e, segundo o que a empresa havia informado, Anthony nunca chegou ao trabalho naquele dia então, também estava no carro no momento do acidente. 

— Tudo bem, senhor Campbell , aconteceu alguma coisa? — Sel sentia que algo estava errado. 

O senhor Campbell  sempre a visitava vez ou outra, mas seus olhos estavam sombrios e havia alguma coisa ali, tristeza, medo, coisas que Sel não conseguia compreender. 

O senhor suspirou, levando a mão aos cabelos ralos. Ele tinha cerca de 60 anos e quase não tinha cabelos, não tinha barba também, seu rosto era limpo e algumas rugas eram aparentes. Normalmente, Sel o via como um avô simpático, mas não conseguia sorrir naquele momento. 

— Aconteceu um acidente, Sel, seu pai e Anthony estavam a caminho da empresa quando sofreram um acidente de carro — começou o senhor, apoiando a destra no ombro da menina. — Seu pai está na UTI, os médicos induziram o coma, seu estado é grave… Sinto muito, minha querida.

Naquele momento, Selena sentiu o chão sumir sob seus pés, seu mundo inteiro desabou. Ela só tinha seu pai, e após a morte da mãe, desde seus oito anos eram apenas ela e ele, seu pai sempre fez de tudo para dar a ela o melhor que podia, mesmo na simplicidade em que viviam. Depois que Anthony, neto de Henry Campbell , o contratou como motorista, a vida deles se tornou muito melhor e Sel viu que seu pai já não precisava trabalhar tanto. 

Não conseguia acreditar que, justo agora que as coisas estavam melhores, aquilo havia acontecido. 

O que ela faria agora? 

Como ia viver?

E o mais importante, como ia pagar as contas médicas de seu pai e dar a ele o melhor tratamento possível?

Havia acabado de começar a faculdade naquele dia, não tinha um emprego fixo, não tinha de onde tirar dinheiro para mantê-lo internado e manter os aparelhos que o mantinham vivo! O desespero começou a tomá-la cada vez mais e ela começou a chorar, sem se importar com Henry. Mas antes que falasse qualquer coisa, sentiu um segundo aperto em seu outro ombro e quando ergueu os olhos viu Roman segundo neto de Henry. 

Diferente de Anthony Roman tinha olhos negros como a noite, seus cabelos eram escuros e sua pele era clara. Ele era alto, tinha um porte elegante e sua presença faria os joelhos de qualquer pessoa tremerem de tão imponente que ele era. Mas ali, mesmo com os olhos ainda um pouco frios e distantes, havia um homem que mostrava seu apoio. 

— Não se preocupe, Sele — ele falou, a chamando por um apelido que ninguém nunca havia lhe dado. — Meu pai e eu compartilhamos de sua dor… Perdemos alguém também meu irmão não foi encontrado e tememos pelo pior… Vamos nos apoiar nesse momento difícil e ajudaremos você com tudo o que precisar. “ 

Naquele dia, ela acreditou ter conhecido o melhor homem de sua vida. Roman fez tudo, realmente, a apoiou, a ajudou e esteve com ela junto a Henry, mas Selena não sabia antes o que sabe agora. Aos 19 anos era só uma garotinha com muitos sonhos e uma grande tristeza, mas agora não mais, podia ter 19 anos de novo, mas se lembrava muito bem do que havia passado com os Campbell , não cairia no conto de Roman novamente, não da forma como ele queria.

Quando seu pai se aproximou novamente ela o olhou com um sorriso, ter a oportunidade de vê-lo de pé caminhando, conversando com ela de novo era a maior benção que poderia ter, ela iria protegê-lo o máximo possível. 

— O mecânico está vindo, vamos pra casa, está bem? — George falou, olhando para a moto do outro lado da rua e balançando a cabeça. — Vai ter que explicar a ele o que aconteceu.

Sel não disse nada, apenas gargalhou e saiu junto ao pai, atravessando a rua e montando com ele na moto, juntos, os dois passaram em sua cafeteria favorita e tomaram juntos um bom café, afinal, George não faria nada enquanto o carro estivesse na oficina. Depois disso, voltaram para casa. 

Quando estacionou na frente da mansão Campbell , George e Sel viram que haviam viaturas da polícia e vários repórteres procurando alguém com quem conversar. A multidão se acumulava cada vez mais e entrando discretamente pelo portão lateral, os dois chegaram ao jardim. Sel estava confusa, quanto tempo fazia desde que havia saído? Não demorou mais que duas horas fora de casa. Dentro da casa, no hall, George se adiantou na frente e encontrou o velho Henry sentado no sofá que havia na entrada para as visitas. 

Roman estava ao seu lado, consolando o pai com uma expressão vazia, Ela se lembrou de tudo o que aconteceu em sua vida enquanto eles eram marido e mulher, lembrou-se da forma que Roman a tratava, da ultima noite em que o viu, quando ele a expulsou de casa. Naquela época ela não sabia, mas casar-se com Roman era o começo de seu fim. 

***

— Senhor Henry, o que aconteceu? — Sel se aproximou dele com compaixão e pena, afinal, ele chorava como uma criança. — O que houve?

— Levaram ele, Sel! Levaram meu neto — falou Henry, com sua voz rouca e triste. — Ele saiu da empresa para fazer alguma coisa e levaram ele no meio do caminho! Soubemos porque os sequestradores ligaram para os principais jornais! Não sabemos o que eles querem, mas Anthony está nas mãos deles! 

Só então Selena se lembrou, George não era a única vítima daquele dia… Anthony também perdia a vida naquele mesmo acidente. Anthony era patrão de seu pai, um homem de cerca de 28 anos, tinha uma pele negra que parecia brilhar no sol, olhos castanhos claros e um porte musculoso que fazia qualquer mulher suspirar incluindo Sel. Eles trocaram poucas palavras em sua vida, mas Anthony sempre foi tão gentil que, secretamente, ela nutria uma paixonite por ele que perdurou desde que seu pai o apresentou como chefe dele. 

Nesse momento, Sel sentiu uma dor forte em sua cabeça e sentiu as pernas ficarem moles. Ela apoiou a mão na testa e inspirou profundamente, então se lembrou claramente de sua morte mais uma vez. 

Mas… Eu vi Anthony pular do penhasco para me salvar… Será, será que ele nunca morreu neste acidente? Anthony, por favor, esteja vivo!”

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