George sempre foi um homem muito cético, mas, vendo a filha tão abalada e nervosa, ele suspirou, colocando os pacotes sobre o capô do carro e puxando Sel para seus braços a abraçando carinhosamente.
— Oh filha… Não deveria ter saído de casa por isso, está tudo bem — ele começou, fazendo carinho nos cabelos vermelhos dela e deixando um beijinho em sua testa. — Mas se for te fazer se sentir melhor, vou ligar para o mecânico que o senhor Campbell sempre leva seus carros vir aqui dar uma olhada, o que acha?
As sobrancelhas grossas dele estavam unidas e seus olhos claros a olhavam com preocupação. George não pretendia questionar a filha, não porque acreditava nessa coisa de intuição, mas porque sabia que o aniversário de morte da mãe de Sel estava chegando e sabia como a filha ficava sensível nessa época.
— Tudo bem, ligue para ele e vai ver que estou certa! — Sel concordou, suspirando de alívio, estava convicta e sabia bem que os freios do carro estavam ruins.
Antes de voltar até ali, em sua antiga vida, Roman foi quem contou sobre o acidente de seu pai e, na época ela acreditou que os freios apenas falharam que tudo não passou de um azar mecânico, mas agora suspeitava de que a morte de seu pai tinha a ver com a sua própria morte. Não sabia o que estava por trás daquilo tudo, mas agora acreditava que nada era por acaso.
Viu seu pai se afastar e então respirou novamente, tranquila quando ele pegou o telefone e ligou para o mecânico. Enquanto o observava, por um momento ela se desligou do mundo, lembrando do dia em que soube do acidente que aconteceria naquele exato momento caso não estivesse chegado a tempo:
“— Perdão, Selena, não queria incomodar — Henry falou, sorrindo de uma forma doce para a jovem à sua frente.
Desde que seu segundo filho contratou George como motorista, Henry logo conectou-se com a filha dele, via nela uma jovem gentil e carinhosa com a família e aquilo o encantava, então procurou ter uma amizade com ela e a tratava como uma filha também.
Quando soube do acidente decidiu que seria ele mesmo a avisar a pobre garota que já era órfã de mãe e que agora, teria que suportar a notícia de que seu pai estava em coma numa UTI. Ele sentia uma dor parecida com a dela, George estava dirigindo para Anthony naquele dia e, segundo o que a empresa havia informado, Anthony nunca chegou ao trabalho naquele dia então, também estava no carro no momento do acidente.
— Tudo bem, senhor Campbell , aconteceu alguma coisa? — Sel sentia que algo estava errado.
O senhor Campbell sempre a visitava vez ou outra, mas seus olhos estavam sombrios e havia alguma coisa ali, tristeza, medo, coisas que Sel não conseguia compreender.
O senhor suspirou, levando a mão aos cabelos ralos. Ele tinha cerca de 60 anos e quase não tinha cabelos, não tinha barba também, seu rosto era limpo e algumas rugas eram aparentes. Normalmente, Sel o via como um avô simpático, mas não conseguia sorrir naquele momento.
— Aconteceu um acidente, Sel, seu pai e Anthony estavam a caminho da empresa quando sofreram um acidente de carro — começou o senhor, apoiando a destra no ombro da menina. — Seu pai está na UTI, os médicos induziram o coma, seu estado é grave… Sinto muito, minha querida.
Naquele momento, Selena sentiu o chão sumir sob seus pés, seu mundo inteiro desabou. Ela só tinha seu pai, e após a morte da mãe, desde seus oito anos eram apenas ela e ele, seu pai sempre fez de tudo para dar a ela o melhor que podia, mesmo na simplicidade em que viviam. Depois que Anthony, neto de Henry Campbell , o contratou como motorista, a vida deles se tornou muito melhor e Sel viu que seu pai já não precisava trabalhar tanto.
Não conseguia acreditar que, justo agora que as coisas estavam melhores, aquilo havia acontecido.
O que ela faria agora?
Como ia viver?
E o mais importante, como ia pagar as contas médicas de seu pai e dar a ele o melhor tratamento possível?
Havia acabado de começar a faculdade naquele dia, não tinha um emprego fixo, não tinha de onde tirar dinheiro para mantê-lo internado e manter os aparelhos que o mantinham vivo! O desespero começou a tomá-la cada vez mais e ela começou a chorar, sem se importar com Henry. Mas antes que falasse qualquer coisa, sentiu um segundo aperto em seu outro ombro e quando ergueu os olhos viu Roman segundo neto de Henry.
Diferente de Anthony Roman tinha olhos negros como a noite, seus cabelos eram escuros e sua pele era clara. Ele era alto, tinha um porte elegante e sua presença faria os joelhos de qualquer pessoa tremerem de tão imponente que ele era. Mas ali, mesmo com os olhos ainda um pouco frios e distantes, havia um homem que mostrava seu apoio.
— Não se preocupe, Sele — ele falou, a chamando por um apelido que ninguém nunca havia lhe dado. — Meu pai e eu compartilhamos de sua dor… Perdemos alguém também meu irmão não foi encontrado e tememos pelo pior… Vamos nos apoiar nesse momento difícil e ajudaremos você com tudo o que precisar. “
Naquele dia, ela acreditou ter conhecido o melhor homem de sua vida. Roman fez tudo, realmente, a apoiou, a ajudou e esteve com ela junto a Henry, mas Selena não sabia antes o que sabe agora. Aos 19 anos era só uma garotinha com muitos sonhos e uma grande tristeza, mas agora não mais, podia ter 19 anos de novo, mas se lembrava muito bem do que havia passado com os Campbell , não cairia no conto de Roman novamente, não da forma como ele queria.
Quando seu pai se aproximou novamente ela o olhou com um sorriso, ter a oportunidade de vê-lo de pé caminhando, conversando com ela de novo era a maior benção que poderia ter, ela iria protegê-lo o máximo possível.
— O mecânico está vindo, vamos pra casa, está bem? — George falou, olhando para a moto do outro lado da rua e balançando a cabeça. — Vai ter que explicar a ele o que aconteceu.
Sel não disse nada, apenas gargalhou e saiu junto ao pai, atravessando a rua e montando com ele na moto, juntos, os dois passaram em sua cafeteria favorita e tomaram juntos um bom café, afinal, George não faria nada enquanto o carro estivesse na oficina. Depois disso, voltaram para casa.
Quando estacionou na frente da mansão Campbell , George e Sel viram que haviam viaturas da polícia e vários repórteres procurando alguém com quem conversar. A multidão se acumulava cada vez mais e entrando discretamente pelo portão lateral, os dois chegaram ao jardim. Sel estava confusa, quanto tempo fazia desde que havia saído? Não demorou mais que duas horas fora de casa. Dentro da casa, no hall, George se adiantou na frente e encontrou o velho Henry sentado no sofá que havia na entrada para as visitas.
Roman estava ao seu lado, consolando o pai com uma expressão vazia, Ela se lembrou de tudo o que aconteceu em sua vida enquanto eles eram marido e mulher, lembrou-se da forma que Roman a tratava, da ultima noite em que o viu, quando ele a expulsou de casa. Naquela época ela não sabia, mas casar-se com Roman era o começo de seu fim.
***
— Senhor Henry, o que aconteceu? — Sel se aproximou dele com compaixão e pena, afinal, ele chorava como uma criança. — O que houve?
— Levaram ele, Sel! Levaram meu neto — falou Henry, com sua voz rouca e triste. — Ele saiu da empresa para fazer alguma coisa e levaram ele no meio do caminho! Soubemos porque os sequestradores ligaram para os principais jornais! Não sabemos o que eles querem, mas Anthony está nas mãos deles!
Só então Selena se lembrou, George não era a única vítima daquele dia… Anthony também perdia a vida naquele mesmo acidente. Anthony era patrão de seu pai, um homem de cerca de 28 anos, tinha uma pele negra que parecia brilhar no sol, olhos castanhos claros e um porte musculoso que fazia qualquer mulher suspirar incluindo Sel. Eles trocaram poucas palavras em sua vida, mas Anthony sempre foi tão gentil que, secretamente, ela nutria uma paixonite por ele que perdurou desde que seu pai o apresentou como chefe dele.
Nesse momento, Sel sentiu uma dor forte em sua cabeça e sentiu as pernas ficarem moles. Ela apoiou a mão na testa e inspirou profundamente, então se lembrou claramente de sua morte mais uma vez.
“Mas… Eu vi Anthony pular do penhasco para me salvar… Será, será que ele nunca morreu neste acidente? Anthony, por favor, esteja vivo!”
— Como assim o levaram? — Sel perguntou, então sentiu as mãos firmes de Roman em sua cintura, a impedindo de cair. Roman havia sido rápido, deixou seu tio no sofá e se aproximou assim que a viu, tinha que aproveitar a oportunidade, afinal, que momentos são melhores para unir pessoas senão os momentos de angústia? Ele faria o que precisava fazer. Ganancioso como era, não deixaria que nada ficasse em seu caminho para herdar a empresa por completo, nada e nem ninguém. Já tinha um nome no mercado de tecnologia e tomar conta dos negócios de seu avô era sua prioridade, então,estava disposto a cumprir todas as exigências dele. — Está bem, Selena? — ele perguntou, sua voz era rouca e seu sussurro chegou aos ouvidos de Selena trazendo um arrepio em sua espinha. Roman era um crápula, ela sabia, quando se conheceram ela não imaginava como ele era de verdade, mas agora, depois de voltar até o ponto de partida, ela sabia bem que ele não era um cavalheiro como aparentava. Mas isso não diminui a
Quando Henry e Roman se foram, Selena sentiu a cabeça doer e o corpo pesar, eram tantas coisas acontecendo naquele mesmo dia que ela mal conseguia se manter focada em seus objetivos. Mas ao menos algo de bom havia acontecido, ela estaria na casa Campbell no dia seguinte, então, teria oportunidade de descobrir o que estava por trás de tudo aquilo e de sua morte. No entanto, ela notou quando a noite chegou e se sentou a mesa para jantar com seu pai, que George estava estranho. Seu pai sempre foi muito falante, os jantares em sua casa eram sempre divertidos e regados a conversa sobre seus dias e acontecimentos que os deixaram chocados, mas, naquela noite, George estava com um olhar triste e completamente calado. — Pai? Por que está assim? — Sel perguntou, mesmo que já suspeitasse o motivo de seu pai estar tão cabisbaixo. — Estou preocupado, minha filha — ele começou suspirando pesadamente —, o Sr. Anthony sempre foi tão bom com a gente… Tenho medo que ele não seja encontrado, sabe?
*LEMBRANÇA*“Roman estava distante desde o beijo e isso a magoava, de fato, Sel acreditou que ele se sentia atraído por ela, mas agora estava culpada, pois, aparentemente havia outro alguém em sua vida.Ela não conseguia esquecer os olhos magoados e cheios de lágrimas da loira que os flagrou enquanto se beijavam intensamente. A primeira coisa que sentiu foi a vergonha, que a fez corar e querer se esconder eternamente. Depois disso, sentiu raiva, uma raiva que não cabia em si.Roman estava a usando enquanto se envolvia com outra mulher? Aquele era o tipo de homem que ele era?Talvez, por isso ele estivesse se mantendo distante, ao menos era o que Selena achava naquele momento.Fazia uma semana desde que o beijo havia acontecido e ela mal o via, porém, naquela noite, algo mudou. Henry havia saído numa viagem de negócios e ela estava praticamente só na mansão, já que os empregados mal interagiam com ela e Roman não estava ali.Mas se viu surpreendida quando, depois do jantar, alguém bate
— Entendi… — ele respondeu, quase como um rosnado, tentando se manter passivo até o momento certo. — Isso mesmo, é assim que tem que ser, riquinho de merda — o sequestrador acertou a nuca dele com um forte tapa, mas que não doeu tanto quanto deveria, já que Anthony estava com o sangue quente e isso o fazia mais resistente. — Seu vovô vaid ar uns bons milhões por você! Oh moleque fica aqui com quele! Depois disso, o homem que falava com Anthony se foi e, em seguida, um outro entrou. Os passos dele eram mais curtos e mais fracos, com isso, Anthony deduziu que ele era menor. Os ouviu cochichar algo e percebeu que a voz do novo sequestrador também era mais baixa e trêmula, ele parecia estar nervoso e ser muito jovem, provavelmente ele era o elo mais fraco daquele grupo e essa seria a oportunidade dele se livrar. O outro sequestrador saiu dali e os deixou sozinhos, mas não amordaçaram Anthony novamente e isso lhe deu uma vantagem. Nos primeiros minutos, ele ficou em silencio, ouvi
Quando acordou, Selena viu que o sol já havia nascido e que, certamente, já seria mais que oito da manhã. Preguiçosamente ela se mexeu na cama, esticando o corpo e bocejando enquanto tentava se lembrar do que tinha para fazer naquela manhã. Nesse exato momento, três batidas soaram em seu quarto. — Sel, o motorista dos Campbell chega em alguns minutos, você já acordou? — a voz de George soou por todo o quarto e ela arregalou os olhos, lembrando-se de seu compromisso singular. Aquele era o dia em que ela iria para a casa dos Campbell , o dia em que começaria a enteder o que havia acontecido no passado. Ao menos era o que achava e o que esperava. — Estou quase pronta! — mentiu, se levantando rapidamente e correndo para seu banheiro. Ouviu de longe os passos de seu pai se afastando e logo arrancou toda sua roupa, ligando o chuveiro e fechando a porta do box, entrando na água quente e começando um banho rápido. A água escorreu por todo seu corpo e Sel tentou acalmar as batidas de se
Depois de um café tranquilo, Sel decidiu dar uma volta. Esperava que Henry descesse, mas como ele não o fez, ela aceitou que aquele era um bom momento para começar sua busca. Mas o que estava procurando? Ela não sabia, na verdade, não fazia ideia.Mas estava confiante de que encontraria qualquer coisa, qualquer evidência, que dissesse por onde começar. Os empregados estavam distraídos com a arrumação do andar de baixo, bem como com os preparativos para o jantar e demais afazeres do dia, então, não foi difícil para ela se esgueirar para as escadarias e se direcionar ao terceiro andar, o último. Sel caminhou apressadamente, os corredores estavam vazios, mas nada impediria que alguém chegasse a qualquer momento, então, teria que ser rápida. Ela tinha um destino certo, apesar de não saber o que procurar ali. Agradeceu por Henry decidir se isolar naquele dia, ele tinha aquele costume, quando algo acontecia, ele escondia-se em seu quarto até que se sentisse bem para ser o mesmo de sempre
Quando a noite chegou, Selena estava exausta. Acabou passando todo o dia ao lado de Henry, tentando o consolar e o ajudar diante de todos os acontecimentos, mas quando a noite caiu ela finalmente conseguiu descansar, ao menos foi o que imaginou que aconteceria. A foto ainda estava em sua cabeça, ela tinha um pressentimento que aquela era a primeira peça, mas não sabia o que fazer diante daquilo. Mas a foto não era a única coisa que a incomodava, pelo contrário, havia ainda a misteriosa mensagem que a dizia para não confiar em ninguém.Quem havia mandado e porquê?Tudo aquilo a deixou extremamente distraída, tanto que sequer notou quando Roman chegou à mansão e se sentou junto a ela na mesa de jantar. Diferente de Sel, Roman estava muito atento, seus olhos negros se fiaram nela assim que ele adentrou a casa e, olhando-a dali, percebia quão distraida ela estava. Aos olhos de Roman, Sel parecia uma bela pintura feita especialmente para que ele a observasse, era inegável o quanto ela er
— Sua vadia! É isso o que você é! — Carina gritava enquanto era arrastada para fora, completamente insana. —Levem ela e não deixe que entrem de novo! — Roman ordenou, furioso com toda aquela cena. Então, quando o silêncio reinou novamente, ele voltou os olhos para Selena e segurou seu rosto entre as mãos, a olhando com culpa enquanto acariciava sua bochecha. — Está tudo bem? Ela te machucou muito? — seu tom era preocupado e por um momento Selena até acreditou nele, mas logo voltou a si. Ela deixou que seus olhos expressassem tristeza e confusão., mesmo que tudo o que sentisse fosse raiva. Aproveitou a vontade de chorar de ódio que sentia e sentiu seus olhos marejarem, com algumas lágrimas escorrendo por sua bochecha. — Quem é ela? Por que ela fez isso comigo? — perguntou Selena, com voz de choro, mesmo já sabendo a resposta. Queria ver a desculpa que Roman inventaria. — Ela é apenas alguém com quem eu tive algo… — ele disse, suspirando, abraçando Selena mais uma vez. — Hoje eu