Rejeitada pelo Mafioso
Rejeitada pelo Mafioso
Por: Karol Dark
Capítulo 1

O véu pesava sobre minha cabeça, mas não mais do que a sensação sufocante em meu peito. O vestido era um verdadeiro espetáculo—rendas finíssimas, bordadas à mão, abraçavam minhas curvas com perfeição. Eu deveria estar deslumbrante. Deveria me sentir a mulher mais sortuda do mundo. Afinal, hoje era meu casamento.

Mas a única coisa que sentia era humilhação.

Os convidados murmuravam entre si, trocando olhares discretos enquanto eu esperava diante do altar, as mãos firmemente entrelaçadas diante de mim. Onde ele estava?

Lorenzo De Luca. O homem que deveria estar aqui. O homem a quem fui prometida antes mesmo de nascer.

Ele estava atrasado.

E não era um atraso qualquer. Era um atraso calculado.

A igreja estava lotada. Homens de ternos impecáveis e mulheres de vestidos caros ocupavam os bancos, todos eles membros das famílias mais poderosas da máfia. O casamento não era apenas uma cerimônia. Era uma aliança entre os Romanos e os De Luca, duas das dinastias mais temidas da Itália.

E Lorenzo fazia questão de mostrar, para cada um deles, que eu não era uma prioridade.

A humilhação queimava minha pele. Meus dedos apertaram o buquê de lírios brancos, tentando conter a onda de raiva que ameaçava transbordar. Eu podia sentir o olhar do meu pai em mim, severo e impaciente. Ele não toleraria nenhuma demonstração de fraqueza.

O som das portas da igreja se abrindo com força cortou o silêncio.

Todos se viraram.

Lá estava ele.

Lorenzo De Luca.

Alto, de ombros largos, vestindo um terno negro impecável. Seu cabelo escuro estava alinhado, e o olhar frio e calculista varreu o salão sem pressa, como se ele não fosse o homem mais esperado daquela noite. Como se não fosse o noivo.

O choque inicial deu lugar a murmúrios ainda mais altos quando uma segunda figura entrou ao lado dele. Bianca Moretti.

O ar desapareceu dos meus pulmões.

Ela estava ali. Linda, como sempre. Vestindo um vestido de seda azul-claro, colado ao corpo, os lábios pintados de vermelho, como se quisesse desafiar a santidade desta cerimônia.

E ela estava com ele.

Lorenzo não apenas chegou atrasado ao próprio casamento—ele chegou com a amante ao lado.

Senti o gosto amargo da humilhação na boca, mas me recusei a abaixar a cabeça. Minha mãe, sentada no banco da frente, levou uma mão ao peito, horrorizada. Meu pai cerrou o maxilar, mas não disse nada. Não podia. Este casamento tinha que acontecer.

Lorenzo caminhou até o altar sem pressa, como se tudo isso fosse um mero incômodo para ele. Seus olhos se encontraram com os meus por um breve segundo, e tudo o que vi foi indiferença.

— Você demorou. — Minha voz saiu firme, contrariando a tempestade dentro de mim.

Um sorriso arrogante surgiu em seus lábios.

— Tive coisas mais importantes para fazer.

Eu não me permiti desviar o olhar. Se ele queria um jogo de poder, eu jogaria.

O padre pigarreou, visivelmente desconfortável. Os sussurros entre os convidados eram como navalhas cortando o silêncio.

— Podemos prosseguir? — perguntou, hesitante.

Meu pai me lançou um olhar severo, deixando claro que não havia escolha.

Eu sabia disso desde o momento em que nasci. Meu destino nunca me pertenceu.

Engoli em seco e assenti.

— Sim, podemos.

A cerimônia começou, mas para mim, era apenas um borrão. Eu conseguia ouvir as palavras do padre, mas elas pareciam distantes, irreais. Meu coração batia forte dentro do peito, uma mistura de raiva e desespero.

E então, chegou o momento das promessas.

Lorenzo pegou minha mão sem emoção alguma, como se estivesse tocando um pedaço de madeira.

— Você aceita Lorenzo De Luca como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?

Eu queria gritar.

Queria dizer não.

Mas o peso do olhar do meu pai era insuportável. Eu sabia o que aconteceria se me recusasse. Sabia o caos que isso traria.

Então, fiz a única coisa que podia.

— Aceito.

O padre se virou para Lorenzo.

— E você, Lorenzo?

O salão ficou em silêncio.

Cada segundo que se passou sem uma resposta foi como um golpe no meu estômago.

Lorenzo não respondeu de imediato. Ele hesitou.

Eu vi.

Os convidados viram.

Meu Deus… ele vai me rejeitar aqui?

Minha respiração ficou presa na garganta.

Finalmente, ele soltou um suspiro, como se isso fosse a coisa mais irritante que já teve que fazer.

— Aceito.

A humilhação estava completa.

A aliança foi colocada no meu dedo. O beijo que selaria nossa união foi inexistente. Ele sequer fingiu.

E então, estava feito.

Eu era a esposa de Lorenzo De Luca.

E ele me odiava.

As palmas ressoaram pela igreja, um som mecânico e sem emoção, como se até os convidados estivessem incertos sobre o que acabaram de testemunhar.

Eu sabia que minha vida nunca seria um conto de fadas, mas nunca imaginei que meu casamento começaria com uma humilhação pública.

Lorenzo De Luca, meu marido, nem sequer olhou para mim quando virou de costas e começou a caminhar para fora da igreja, sem me dar o braço, sem um gesto mínimo de cortesia.

Eu deveria segui-lo. Afinal, agora era sua esposa.

Mas o que ele não sabia é que, por mais que esse casamento tivesse sido arranjado, eu não seria uma sombra apagada ao seu lado.

Com o queixo erguido, girei nos calcanhares e caminhei em seu encalço, ignorando os olhares curiosos e cheios de pena que me cercavam.

Se acham que vou chorar, estão muito enganados.

A recepção aconteceria em uma das propriedades da família De Luca, um castelo luxuoso às margens do Lago de Como. O percurso até lá foi feito em silêncio absoluto.

Lorenzo e eu estávamos no banco traseiro de um Rolls-Royce preto, e a presença dele ao meu lado era como um gelo cortante. Ele sequer se preocupou em fingir que esse casamento significava algo para ele.

— Se pretende manter essa expressão de quem está sendo levado para a forca, ao menos tente disfarçar. — Quebrei o silêncio, mantendo os olhos fixos na paisagem do lado de fora.

Ele soltou um riso baixo e sarcástico.

— Engraçado você dizer isso, considerando que fui obrigado a esse casamento tanto quanto você.

Virei-me para encará-lo, minha paciência se esgotando.

— Você foi obrigado? — Ri, sem humor. — A única pessoa humilhada naquela igreja fui eu. Você teve o luxo de entrar com sua amante ao lado.

A mandíbula dele se retesou.

— Cuidado, Priscilla. Você não sabe nada sobre mim.

— E nem quero saber. — Cruzei os braços. — A única coisa que me importa é que, a partir de hoje, somos marido e mulher. Você pode fingir que eu não existo, pode continuar com sua amante, mas não me trate como uma idiota. Eu sou uma Romano. E os Romanos não são descartáveis.

Um silêncio pesado se instalou. Lorenzo virou o rosto, como se não quisesse gastar mais energia discutindo comigo.

Ótimo.

Se ele queria um casamento de aparências, eu também poderia jogar esse jogo.

---

A propriedade dos De Luca parecia saída de um filme. Lustres de cristal reluziam no grande salão de festas, espelhos enormes refletiam o luxo do ambiente e garçons deslizavam entre os convidados, servindo champanhe em taças finíssimas.

A festa estava em pleno andamento quando chegamos. Os convidados se voltaram para nós com expectativa, esperando que agíssemos como recém-casados apaixonados.

Lorenzo nem sequer me ofereceu o braço.

Respirei fundo e segui para o centro do salão, onde os convidados começaram a brindar. Os olhos da minha mãe estavam nublados de preocupação, e meu pai, como sempre, mantinha a expressão impassível.

Eu estava acostumada com o mundo em que nasci. Filhas da máfia não escolhem seus maridos. Elas são moedas de troca, alianças seladas com um sobrenome e uma assinatura.

Mas isso não significava que eu deixaria Lorenzo me transformar em um fantasma dentro desse casamento.

— Agora, o brinde dos noivos! — O mestre de cerimônias anunciou, erguendo sua taça.

Senti meu estômago se revirar. Lorenzo não parecia minimamente interessado.

Peguei uma taça da bandeja de um garçom e ergui-a no alto, olhando diretamente para ele.

— Ao nosso casamento. — Minha voz era firme, carregada de algo que não consegui identificar.

Lorenzo hesitou por uma fração de segundo, então pegou sua taça e respondeu:

— Ao nosso casamento.

Os convidados aplaudiram, mas eu percebi os olhares de alguns—uns satisfeitos, outros cheios de dúvida. Todos sabiam que aquele casamento não passava de um contrato.

Mas eu prometi a mim mesma, ali mesmo, que se Lorenzo queria me ignorar e me desprezar, eu faria com que um dia ele se arrependesse de cada segundo que passou me subestimando.

Eu sou Priscilla Romano. E não nasci para ser rejeitada.

A recepção seguiu seu curso, cheia de sorrisos falsos e conversas mornas. Eu dancei com aliados da família, aceitei cumprimentos de convidados que mal disfarçavam sua curiosidade sobre o casamento e mantive a pose.

Mas, por dentro, meu sangue fervia.

Lorenzo não fez questão de ficar ao meu lado. Pelo contrário. Ele desapareceu no meio da multidão assim que teve a chance, e quando o vi novamente, ele estava no bar, com Bianca Moretti sentada ao lado dele, rindo como se eu não existisse.

O noivo da noite, agindo como um homem livre.

A humilhação se repetia, dessa vez diante da alta cúpula da máfia.

Eu poderia explodir. Criar um escândalo.

Mas isso significaria perder.

Então, fiz o que uma Romano faria. Peguei uma taça de vinho, deslizei pelo salão com um sorriso impecável e fingi que nada disso me atingia.

Se ele quer jogar esse jogo, eu também posso jogar.

---

A festa se prolongou, mas quando as horas avançaram, Lorenzo desapareceu novamente.

Dessa vez, para a mansão.

Nosso "lar".

— Está na hora de ir, — meu pai sussurrou ao meu ouvido.

Assenti, sentindo um arrepio na espinha. Não por medo, mas pelo desconhecido.

Eu me despedi da minha mãe, cuja expressão preocupada não passou despercebida. Mesmo sem dizer nada, eu sabia que ela temia pelo que viria a seguir.

Quando finalmente entrei no carro que me levaria para a mansão De Luca, uma nova realidade caiu sobre mim.

Eu agora era a esposa de Lorenzo.

E, gostando ou não, essa era minha nova vida.

---

A primeira noite

A mansão De Luca era imensa, com arquitetura imponente e jardins que pareciam se estender ao infinito. Mas, quando entrei, não tive tempo de admirar nada.

Lorenzo já estava lá, no centro da sala principal, tirando o paletó e afrouxando a gravata. Quando me viu, ergueu uma sobrancelha.

— Achei que fosse desistir e voltar para casa.

Cruzei os braços, mantendo o queixo erguido.

— Minha casa é aqui agora. Com você.

Ele soltou uma risada curta, sem humor, e jogou o paletó no sofá.

— Não se engane, Priscilla. Esse casamento pode ser oficial no papel, mas não significa nada para mim.

Caminhei lentamente até ele, cada passo medido.

— Então, você pretende me ignorar? Fingir que não existo?

Ele passou a mão pelos cabelos, impaciente.

— Seria melhor para nós dois.

— Para nós dois? Ou para você e sua amante?

Dessa vez, ele me olhou diretamente. Seu olhar era sombrio, ameaçador. Mas eu não recuei.

— Escute bem. — Sua voz era baixa, cortante. — Eu não te escolhi. Eu nunca quis isso. Você pode carregar meu sobrenome, mas não tem o meu coração.

Meu estômago se apertou, mas não deixei transparecer.

— E eu nunca pedi seu coração, Lorenzo.

Ele franziu o cenho, como se minha resposta o surpreendesse.

Dei mais um passo à frente, tão próxima que podia sentir o cheiro amadeirado do seu perfume.

— Se acha que vou ser uma esposa submissa, trancada nessa mansão enquanto você vive sua vida, está enganado.

Seus olhos analisaram meu rosto, como se tentasse decifrar se eu falava sério.

— E o que você pretende fazer, então? — perguntou com desdém.

Sorri de canto.

— O que uma Romano faria.

Então, sem esperar por uma resposta, tirei os sapatos e segui pelo corredor, deixando-o para trás.

Se Lorenzo pensava que eu seria um problema fácil de ignorar, ele acabava de cometer seu primeiro erro.

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