A noite estava fria, e o vento cortante parecia carregar consigo o peso das palavras de Catarina. Lorenzo e eu estávamos no terraço, mas o silêncio entre nós era pesado, carregado de perguntas não respondidas e medos não expressos. Ele segurava um copo de whisky, mas não bebia—apenas olhava para a cidade abaixo, como se buscasse respostas nas luzes distantes.— Ela não vai desistir — eu disse finalmente, quebrando o silêncio. — Catarina não é do tipo que aceita um "não" como resposta.Lorenzo suspirou, passando a mão pelo rosto.— Eu sei — ele respondeu, sua voz cansada. — Mas ela não tem mais lugar na minha vida. Eu escolhi você, Priscilla. E escolhi nosso filho.Eu sabia que ele estava falando sério, mas também sabia que as emoções não eram tão simples assim. Catarina havia sido parte de sua vida por anos, e o passado tinha uma maneira estranha de se intrometer no presente, especialmente quando menos esperávamos.— E se ela tentar nos separar? — perguntei, minha voz baixa, mas firme
O som dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos. O cheiro de pólvora impregnava o ar, misturado ao frio cortante da noite. Meu peito subia e descia rapidamente enquanto meus olhos varriam o armazém, tentando encontrar Lorenzo no meio do caos.Catarina havia desaparecido na confusão, mas a ameaça que ela deixara pairava sobre nós como uma sentença de morte."Eu quero o seu filho."Essas palavras ainda ecoavam na minha mente.Meu coração disparou quando vi Lorenzo emergir da fumaça, sua expressão carregada de fúria. Ele segurava a arma com força, os olhos escuros faiscando de ódio.— Ela fugiu — ele rosnou, os punhos cerrados. — Mas isso não acabou.Domenico se aproximou, mancando ligeiramente.— Perdemos dois homens — ele informou, a voz carregada de tensão. — Mas levamos três dos capangas dela. Vamos descobrir tudo o que sabem.Olhei para Lorenzo, esperando sua decisão. Ele respirou fundo e assentiu.— Vamos levá-los para a mansão. Precisamos de respostas.Meu coração ainda batia aceler
O cano frio da arma pressionado contra minha têmpora fazia cada segundo parecer uma eternidade. Catarina mantinha um sorriso cruel nos lábios, e seus olhos estavam repletos de uma satisfação sádica. Lorenzo estava imóvel, os punhos cerrados, os músculos retesados como um animal prestes a atacar.— Onde está o meu filho? — minha voz saiu baixa, controlada, mas repleta de um ódio que queimava em minhas veias.Catarina inclinou a cabeça levemente, como se saboreasse meu desespero.— Em breve, você não precisará mais se preocupar com ele.Minha mente fervia. Eu precisava pensar rápido. Catarina sempre foi manipuladora, sempre um passo à frente. Mas dessa vez, eu não podia permitir que ela ganhasse.E então, percebi algo.Ela não planejava nos matar ali.Se quisesse, já teria puxado o gatilho.Ela queria nos fazer sofrer primeiro.Respirei fundo, tentando manter o controle.— Você acha que pode fugir disso? Que pode simplesmente desaparecer com meu filho e que Lorenzo e eu vamos aceitar is
Meu nome é Matteo, e hoje completo dezoito anos. Se você me visse na rua, pensaria que sou apenas mais um jovem qualquer, mas a verdade é que meu sobrenome carrega um peso que poucos conseguem suportar. Meu pai, Lorenzo, construiu um império. Minha mãe, Priscilla, o fortaleceu. E eu? Bom, eu ainda estou tentando entender qual será o meu papel nisso tudo.Desde pequeno, soube que minha família era diferente. Enquanto os pais dos meus amigos tinham empregos normais, o meu comandava negócios que ninguém ousava questionar. O mundo ao nosso redor sempre foi perigoso, cheio de segredos, lealdades frágeis e traições constantes. E, embora meus pais tentassem me proteger disso, nunca fui ingênuo o suficiente para acreditar que poderia escapar.Hoje, enquanto olho para meu reflexo no espelho, vejo mais do que um jovem à beira da vida adulta. Vejo um herdeiro. Um nome que carrega um legado. Mas será que quero seguir esse caminho?O Jantar do LegadoMeu aniversário nunca foi apenas uma comemoraçã
O véu pesava sobre minha cabeça, mas não mais do que a sensação sufocante em meu peito. O vestido era um verdadeiro espetáculo—rendas finíssimas, bordadas à mão, abraçavam minhas curvas com perfeição. Eu deveria estar deslumbrante. Deveria me sentir a mulher mais sortuda do mundo. Afinal, hoje era meu casamento.Mas a única coisa que sentia era humilhação.Os convidados murmuravam entre si, trocando olhares discretos enquanto eu esperava diante do altar, as mãos firmemente entrelaçadas diante de mim. Onde ele estava?Lorenzo De Luca. O homem que deveria estar aqui. O homem a quem fui prometida antes mesmo de nascer.Ele estava atrasado.E não era um atraso qualquer. Era um atraso calculado.A igreja estava lotada. Homens de ternos impecáveis e mulheres de vestidos caros ocupavam os bancos, todos eles membros das famílias mais poderosas da máfia. O casamento não era apenas uma cerimônia. Era uma aliança entre os Romanos e os De Luca, duas das dinastias mais temidas da Itália.E Lorenzo
O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas do meu novo quarto. A cama era enorme, macia demais, mas vazia.Lorenzo não dormira aqui.Óbvio.Eu me espreguicei, sentindo o peso da noite anterior ainda sobre mim. A cena de Lorenzo deixando claro que eu não significava nada para ele repetia-se na minha cabeça como um disco arranhado.Não vai me importar.Levantei-me, deixando de lado a camisola de seda que fora cuidadosamente separada por uma das empregadas. Se Lorenzo esperava que eu me trancasse nesse quarto e me lamentasse, estava enganado.Eu sou uma Romano.E Romanos lutam.Quando desci para o café da manhã, fui recebida por olhares de surpresa dos funcionários.Nenhuma das esposas de Lorenzo havia durado tempo suficiente para tomar café da manhã na mansão.Os poucos que estavam na mesa – capangas de confiança e membros da família – pararam de mastigar quando me viram.Mas eu não hesitei. Caminhei até a mesa como se pertencesse ali. Peguei uma xícara de café, servi-me de fruta
A reunião havia terminado, e eu podia sentir os olhares em minhas costas enquanto saía da sala. Lorenzo me seguiu de perto, seu silêncio mais intimidador do que qualquer ameaça.Caminhamos lado a lado pelo corredor até chegarmos ao escritório dele. Assim que entramos, ele fechou a porta com força, fazendo o vidro tremer.— Você quer brincar com fogo, Priscilla? — Sua voz era fria, controlada, mas os olhos estavam cheios de fúria.Cruzei os braços, encarando-o sem desviar o olhar.— Não vejo problema em me envolver nos negócios da família. Afinal, sou uma De Luca agora.Ele riu, mas não havia humor no som.— Você é uma Romano. E continua agindo como uma.Dei de ombros.— E você ainda age como se eu fosse insignificante. Mas hoje, os seus próprios homens ouviram e consideraram minhas palavras. Isso te incomoda?Lorenzo se aproximou, seu rosto ficando a centímetros do meu.— O que me incomoda é você achar que pode desafiar as minhas decisões sem consequências.Minha respiração acelerou,
Acordei antes do amanhecer, com a respiração ainda acelerada e a mente repleta de imagens da noite anterior. Enquanto a cidade dormia, os pensamentos corriam soltos: os olhares de desdém, o toque gelado de Lorenzo, o sorriso malicioso de Bianca e, principalmente, o olhar intrigado de Emilio Conti. Cada detalhe me lembrava que a vida que escolhi – ou que me foi imposta – era feita de riscos e que, agora, eu tinha que aprender a jogar o jogo da máfia com unhas e dentes.Levantei-me devagar, tentando recuperar o fôlego e a compostura. O quarto da mansão De Luca era imenso, com cortinas pesadas e mobília de época, mas nada me fazia sentir que pertencia ali. Ainda assim, cada canto lembrava o peso do legado que carregava. Minha mente vagou para as palavras de Lorenzo na noite anterior: "Você está brincando com forças que não entende." E, por mais que ele tentasse me intimidar, eu sabia que cada palavra dele só alimentava minha determinação. Eu não seria uma sombra. Eu seria a força que far