A reunião havia terminado, e eu podia sentir os olhares em minhas costas enquanto saía da sala. Lorenzo me seguiu de perto, seu silêncio mais intimidador do que qualquer ameaça.
Caminhamos lado a lado pelo corredor até chegarmos ao escritório dele. Assim que entramos, ele fechou a porta com força, fazendo o vidro tremer. — Você quer brincar com fogo, Priscilla? — Sua voz era fria, controlada, mas os olhos estavam cheios de fúria. Cruzei os braços, encarando-o sem desviar o olhar. — Não vejo problema em me envolver nos negócios da família. Afinal, sou uma De Luca agora. Ele riu, mas não havia humor no som. — Você é uma Romano. E continua agindo como uma. Dei de ombros. — E você ainda age como se eu fosse insignificante. Mas hoje, os seus próprios homens ouviram e consideraram minhas palavras. Isso te incomoda? Lorenzo se aproximou, seu rosto ficando a centímetros do meu. — O que me incomoda é você achar que pode desafiar as minhas decisões sem consequências. Minha respiração acelerou, mas não recuei. — Então me mostre as consequências, Lorenzo. Por um segundo, algo diferente brilhou em seus olhos. Raiva. Interesse. Talvez até respeito. Ele soltou um suspiro pesado e se afastou, passando a mão pelos cabelos escuros. — Você está brincando com forças que não entende, Priscilla. Sorri de canto. — Então é melhor eu aprender rápido, não acha? Lorenzo passou a mão pelos cabelos escuros, claramente frustrado. O silêncio que se instalou entre nós era pesado, carregado de promessas não ditas e ameaças veladas. — Você está brincando com forças que não entende, Priscilla. — Ele repetiu, como se suas palavras pudessem me assustar. Mas eu não me assustava facilmente. Cruzei os braços e inclinei a cabeça para o lado. — Então é melhor eu aprender rápido, não acha? Lorenzo me lançou um olhar de advertência, mas havia algo mais ali. Algo que ele tentava esconder. — Isso não é um jogo. Você pode ter impressionado os homens na reunião, mas isso não significa que está segura. Você não pertence a esse mundo. Ri, sem humor. — Se eu não pertencesse, por que fui prometida a você desde o nascimento? Ele me olhou por um longo momento, sua mandíbula travada. — Porque isso não foi escolha minha. Aquilo me atingiu mais forte do que eu gostaria de admitir. Claro, eu sabia que ele não me queria. Mas ouvir isso em voz alta… era diferente. Tomei um fôlego profundo, obrigando-me a manter a postura firme. — Talvez não tenha sido sua escolha, mas agora sou sua esposa. E goste ou não, eu vou ocupar meu lugar. Lorenzo riu de leve, mas não havia diversão em seu tom. — E que lugar seria esse? A esposa rejeitada que tenta se infiltrar nos negócios da máfia para ganhar minha atenção? Cerrei os dentes. — Não preciso da sua atenção, Lorenzo. Preciso do meu próprio espaço. Você pode continuar fingindo que não sou parte da sua vida, mas não pode me impedir de ser parte desse império. Ele me observou com um olhar indecifrável. Por um momento, achei que ele fosse me desafiar, me expulsar de sua presença. Mas, em vez disso, suspirou pesadamente e se afastou. — Faça o que quiser. Mas não espere que eu vá te proteger quando as coisas ficarem feias. Aquilo foi um aviso. Uma última chance para eu recuar. Mas recuar nunca foi uma opção. *** Naquela noite, eu não dormi. As palavras de Lorenzo ecoavam na minha mente, junto com o olhar dos capangas na reunião. Eu não podia ser apenas uma sombra na vida dele. Não podia viver à margem do que deveria ser meu direito. Então, tomei uma decisão. Se Lorenzo não ia me dar um lugar ao seu lado, eu o tomaria. E começaria pelo cassino. *** O Il Vincitore era um dos cassinos mais exclusivos da cidade. Oficialmente, pertencia a um empresário respeitável, mas todos sabiam que o verdadeiro dono era Lorenzo De Luca. Eu vesti um vestido preto elegante, mas discreto, e deixei meu cabelo solto, caindo em ondas pelos ombros. Quando cheguei, os seguranças hesitaram por um momento antes de me deixarem entrar. Dentro do cassino, o brilho das luzes douradas refletia nas taças de cristal, e o som das fichas e das cartas se misturava às conversas abafadas. Caminhei até a área VIP sem pressa, absorvendo cada detalhe. Eu sabia que Lorenzo estaria ali. E sabia que Bianca também estaria. Quando entrei na sala reservada, vi exatamente o que esperava. Lorenzo estava sentado em uma das poltronas de couro, um copo de uísque na mão. Bianca estava ao seu lado, com um sorriso vitorioso no rosto. — O que você está fazendo aqui? — A voz de Lorenzo cortou o ambiente assim que me viu. Sorri, fingindo inocência. — O mesmo que você. Apenas aproveitando a noite. Bianca riu de leve, sua expressão carregada de desdém. — Não sabia que o cassino também aceitava… mulheres desesperadas. A raiva se espalhou pelo meu peito, mas eu não deixaria que ela visse isso. Me aproximei e parei bem na frente deles. — Desespero não é bem a palavra, Bianca. Mas eu entendo sua preocupação. Ela arqueou uma sobrancelha. — Preocupação? — Claro. Afinal, por mais que tente, você nunca será minha. O sorriso de Bianca vacilou por um segundo. Mas Lorenzo interveio antes que ela pudesse responder. — Priscilla, isso não é lugar para você. Vá para casa. Cruzei os braços, mantendo meu olhar firme no dele. — É exatamente esse tipo de pensamento que eu estou tentando mudar, Lorenzo. Você não pode continuar me tratando como se eu fosse invisível. Lorenzo suspirou, passando a mão no rosto. — Você está brincando com fogo. Sorri de canto. — Então talvez seja hora de me queimar. *** A noite seguiu, e eu permaneci no cassino. Fiz questão de me apresentar aos chefes de segurança, aos responsáveis pela contabilidade e até aos funcionários do bar. Cada conversa, cada olhar trocado, era uma pequena vitória. Lorenzo podia tentar me ignorar. Mas, a partir daquela noite, ninguém mais poderia fingir que eu não existia. E eu sabia que isso o incomodava. O que eu não sabia… era que essa ousadia teria consequências mais perigosas do que eu imaginava. O clima no Il Vincitore ficou mais pesado à medida que a noite avançava. Eu podia sentir os olhares sobre mim, alguns curiosos, outros desconfiados. Mas não me importei. Meu objetivo era claro: marcar presença e deixar claro que eu não seria apenas um nome esquecido no papel do nosso casamento. E, por mais que Lorenzo tentasse me ignorar, ele falhou miseravelmente. De tempos em tempos, eu o pegava me observando. Seus olhos escuros seguiam cada um dos meus passos, mas sempre que nossos olhares se cruzavam, ele desviava como se minha presença fosse um incômodo. Eu sabia que estava cutucando um vespeiro. Mas eu também sabia que, se quisesse sobreviver nesse mundo, precisava começar a jogar o jogo deles. *** Minha primeira jogada aconteceu quando notei um dos homens de Lorenzo se aproximando de mim. Ele era alto, com traços duros e um olhar calculista. — Senhora De Luca. — Ele me chamou, e foi a primeira vez que alguém se referiu a mim desse jeito. Olhei para ele sem pressa, permitindo que meu nome na boca dele se espalhasse pelo cassino. — Sim? — O chefe pediu que eu a levasse para casa. Não precisei perguntar qual chefe. Lorenzo estava perdendo a paciência. Cruzei os braços, mantendo um pequeno sorriso no rosto. — Diga ao seu chefe que eu ainda não terminei minha noite. O homem hesitou. Ele claramente não gostava da ideia de desobedecer Lorenzo, mas também não queria me empurrar contra minha vontade em um local tão público. Aproveitei isso. — Se ele quiser tanto que eu vá embora, pode vir me dizer pessoalmente. O segurança não respondeu, apenas se afastou para dar o recado. E eu sabia que Lorenzo viria. *** Não demorou muito para que a tensão no ambiente aumentasse. Os clientes continuavam suas apostas, mas era impossível ignorar a presença de Lorenzo se movendo pelo cassino com uma postura rígida, claramente irritado. Ele não perdeu tempo e parou bem na minha frente. — O que você está fazendo, Priscilla? — Sua voz era baixa, mas o tom afiado como uma lâmina. Sorri. — Apenas me familiarizando com o negócio da minha família. Ele cerrou os punhos. — Você não tem nada a ver com isso. — Sou sua esposa. Isso faz de mim uma De Luca. E, como você mesmo disse, esse é um império. Não acha que a rainha deveria conhecer seu reino? Eu soube que tinha tocado num ponto sensível quando o maxilar dele se contraiu. — Você está brincando com fogo. — Talvez. Mas eu nunca gostei do frio. Os olhos de Lorenzo escureceram. Por um momento, achei que ele fosse dizer algo cortante, algo que me colocaria no meu devido lugar. Mas então, ele fez algo inesperado. Ele riu. Baixo, carregado de descrença. — Você realmente quer jogar esse jogo, Priscilla? Levantei o queixo, sem hesitar. — Não sou eu quem está jogando, Lorenzo. Apenas estou me recusando a perder. *** A tensão entre nós era palpável. Mas antes que Lorenzo pudesse responder, fomos interrompidos. — Lorenzo! Viramos ao mesmo tempo e encontramos um homem alto e corpulento se aproximando. Seu terno cinza estava impecável, mas havia algo predatório nele, algo que fazia os outros ao redor instintivamente se afastarem. Eu o reconheci imediatamente. Emilio Conti. Chefe de uma das famílias aliadas, mas tão traiçoeiro quanto uma cobra. Ele sorriu, mas seus olhos não mostravam nenhuma simpatia. — Vejo que trouxe sua esposa para conhecer os negócios. Lorenzo não respondeu de imediato. Seu corpo estava tenso, e eu podia sentir a irritação irradiando dele. Mas fui eu quem falou primeiro. — Isso mesmo. Afinal, o Il Vincitore faz parte da minha família agora, não é? Emilio ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo com minha ousadia. — Interessante. Geralmente, as esposas sabem qual é o seu lugar. Sorri, fingindo calma. — Talvez esteja na hora de mudar essa tradição. Houve um momento de silêncio tenso. Lorenzo me lançou um olhar de advertência, mas Emilio apenas riu. — Aprecio sua confiança, bella. Mas espero que saiba no que está se metendo. Esse mundo não é gentil com quem não sabe jogar. Me aproximei ligeiramente, sustentando seu olhar. — Talvez o mundo precise aprender a ser gentil comigo. Por um segundo, Emilio me avaliou. E então, algo brilhou em seus olhos. Interesse. Ele se virou para Lorenzo com um sorriso satisfeito. — Sua esposa é intrigante. Espero que consiga mantê-la a salvo. Lorenzo não respondeu, mas sua mandíbula estava travada. Eu sabia que tinha causado um impacto. Mas também sabia que tinha acabado de chamar a atenção errada. *** Quando Emilio se afastou, Lorenzo me agarrou pelo braço e me puxou para um canto mais reservado do cassino. — Você tem ideia do que acabou de fazer? — Ele rosnou. Puxei meu braço, me soltando. — Mostrei que não sou uma sombra. — Você chamou a atenção de Emilio Conti! Esse homem não confia nem nos próprios filhos, e agora ele está curioso sobre você. Revirei os olhos. — E qual o problema? Lorenzo se inclinou, seu rosto muito próximo ao meu. — O problema, dolcezza, é que Emilio nunca se interessa por algo que não pode usar a seu favor. Um arrepio percorreu minha espinha com a forma como ele me chamou. Mas eu não podia me deixar abalar. — Talvez eu possa usá-lo a meu favor também. Lorenzo me olhou por um longo momento, e então soltou uma risada baixa. — Você realmente não sabe onde está se metendo. — Então me ensine. Por um segundo, o silêncio se estendeu entre nós. E então, Lorenzo fez algo que me pegou de surpresa. Ele passou a mão pelo meu rosto, seu toque quente e firme. — Se quer tanto j**ar esse jogo, Priscilla, então vou te mostrar como se j**a. Mas não reclame quando perceber que ele não tem regras. Eu deveria ter medo do aviso na voz dele. Mas tudo que senti foi um frio na barriga. Porque, naquele momento, eu soube que tinha dado o primeiro passo para dentro do mundo dele. E não havia mais volta.Acordei antes do amanhecer, com a respiração ainda acelerada e a mente repleta de imagens da noite anterior. Enquanto a cidade dormia, os pensamentos corriam soltos: os olhares de desdém, o toque gelado de Lorenzo, o sorriso malicioso de Bianca e, principalmente, o olhar intrigado de Emilio Conti. Cada detalhe me lembrava que a vida que escolhi – ou que me foi imposta – era feita de riscos e que, agora, eu tinha que aprender a jogar o jogo da máfia com unhas e dentes.Levantei-me devagar, tentando recuperar o fôlego e a compostura. O quarto da mansão De Luca era imenso, com cortinas pesadas e mobília de época, mas nada me fazia sentir que pertencia ali. Ainda assim, cada canto lembrava o peso do legado que carregava. Minha mente vagou para as palavras de Lorenzo na noite anterior: "Você está brincando com forças que não entende." E, por mais que ele tentasse me intimidar, eu sabia que cada palavra dele só alimentava minha determinação. Eu não seria uma sombra. Eu seria a força que far
Lorenzo permaneceu em silêncio por alguns longos segundos, o peso das minhas palavras parecendo finalmente penetrar naquela armadura de arrogância que sempre usava. Seus olhos se suavizaram brevemente, e eu pude ver, por trás da rigidez, um homem dividido entre o orgulho e a necessidade. Depois de uma pausa que pareceu eterna, ele falou: — Eu não escolhi ter você ao meu lado, Priscilla. Mas agora que está aqui, talvez seja hora de reavaliar algumas coisas. Você tem coragem, vou lhe dar isso. Mas saiba que cada passo seu, cada decisão, pode ter consequências que afetarão não apenas você, mas todos ao nosso redor. Eu respirei fundo, encarando-o com determinação: — Então, me mostre como podemos enfrentar essas tempestades juntos, Lorenzo. Não quero ser apenas uma marionete ou uma peça descartável. Quero ser a rainha que controla o jogo, e, se for preciso, quebre as regras para construir um império que resista a qualquer traição. A tensão entre nós parecia se transformar em uma alianç
O véu pesava sobre minha cabeça, mas não mais do que a sensação sufocante em meu peito. O vestido era um verdadeiro espetáculo—rendas finíssimas, bordadas à mão, abraçavam minhas curvas com perfeição. Eu deveria estar deslumbrante. Deveria me sentir a mulher mais sortuda do mundo. Afinal, hoje era meu casamento.Mas a única coisa que sentia era humilhação.Os convidados murmuravam entre si, trocando olhares discretos enquanto eu esperava diante do altar, as mãos firmemente entrelaçadas diante de mim. Onde ele estava?Lorenzo De Luca. O homem que deveria estar aqui. O homem a quem fui prometida antes mesmo de nascer.Ele estava atrasado.E não era um atraso qualquer. Era um atraso calculado.A igreja estava lotada. Homens de ternos impecáveis e mulheres de vestidos caros ocupavam os bancos, todos eles membros das famílias mais poderosas da máfia. O casamento não era apenas uma cerimônia. Era uma aliança entre os Romanos e os De Luca, duas das dinastias mais temidas da Itália.E Lorenzo
O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas do meu novo quarto. A cama era enorme, macia demais, mas vazia.Lorenzo não dormira aqui.Óbvio.Eu me espreguicei, sentindo o peso da noite anterior ainda sobre mim. A cena de Lorenzo deixando claro que eu não significava nada para ele repetia-se na minha cabeça como um disco arranhado.Não vai me importar.Levantei-me, deixando de lado a camisola de seda que fora cuidadosamente separada por uma das empregadas. Se Lorenzo esperava que eu me trancasse nesse quarto e me lamentasse, estava enganado.Eu sou uma Romano.E Romanos lutam.Quando desci para o café da manhã, fui recebida por olhares de surpresa dos funcionários.Nenhuma das esposas de Lorenzo havia durado tempo suficiente para tomar café da manhã na mansão.Os poucos que estavam na mesa – capangas de confiança e membros da família – pararam de mastigar quando me viram.Mas eu não hesitei. Caminhei até a mesa como se pertencesse ali. Peguei uma xícara de café, servi-me de fruta