Muitas coisas passavam pela mente de Elisa enquanto tomava seu café da manhã, já era tarde, ela havia decidido ficar um pouco mais na cama, não tinha dormido bem e a culpa não era de Joana, a menina mal se mexia a noite toda, talvez devesse à exaustão de toda a energia gasta pela criança durante o dia. Mas quando soube que as meninas iriam sair para um passeio, Elisa preferiu ficar e se preparar, pois a qualquer momento Manuel iria procurá-la, então precisava estar pronta para este confronto.Não estava com fome, seu apetite desapareceu no momento em que soube que precisaria voltar àquela casa. Muitas delícias estavam sobre a mesa, entretanto, degustava apenas um chá de hortelã com mel. No momento em que iria comer uma fatia de pão, a senhora Francesca surgiu ordenando às servas que retirassem a mesa do café como se Elisa nem estivesse ali a ignorando. Elisa ficou surpresa e abriu a boca para protestar, no entanto, viu a imagem de Edna surgir toda imponente logo atrás. A presença daqu
Depois de toda confusão no hall principal da casa grande, Antônia ajudou Elisa a levar Joaquim para seus aposentos, mesmo sobre a recriminação de sua mãe. Ele resmungou por várias vezes que estava bem, mas era nítido que estava mentindo, talvez sentisse vergonha de que Antônia o visse naquela situação, porém, quando finalmente conseguiram colocá-lo na cama, ele levou a mão à altura do ferimento que há pouco tinha sido cuidado.— Ah, meu irmão, eu sinto muito... — lamentou Elisa com voz de choro.— A culpa não é sua... — respondeu entre um gemido e outro.— Não mesmo, meu irmão, que é um monstro! — Antônia manifestou indignada.Elisa levou a mão à altura da camisa e, antes de retirá-la, olhou para Antônia. Não sabia ao certo se deixar o corpo do irmão à mostra próximo de uma donzela fosse algo certo, e sabia muito bem que não era, no entanto, a situação parecia necessária. Ficou surpresa com a naturalidade com que Antônia agiu, a menina realmente não era mais uma adolescente, se torna
Dias depois...Fernando retornou de Santana, estava ansioso quando o trem de ferro parou na estação de sua cidade. Logo, se encontrou com Menezes no Alamedas Café, precisava lhe entregar os documentos que tinha conseguido, aquele no qual Manuel usara para protestar a dívida.O advogado segurava uma das inúmeras folhas entre as mãos, atônito.— Seu irmão pode ser preso por fraude — Menezes falou, analisando o documento.Fernando respirou fundo, não desejava mal ao seu meio-irmão, entretanto, sabia que Manuel estava colhendo os frutos de suas ações.Menezes continuou:— Manuel foi longe demais. Além disso, condenou uma jovem a se manter em um casamento indesejado, obrigando-a ao matrimônio.— Meu irmão nunca teve limites — afirmou Fernando, bufando, estava indignado com tudo que descobriu.— Fernando, eu preciso ser sincero... tenho pena da senhora Elisa. A situação dela é delicada... Pelo que percebi naquele dia do baile, talvez ela esteja...Fernando pigarreou, incomodado com as lemb
Aquela se tratava de uma noite relativamente quente. Elisa estava com dificuldades para dormir, como em todas as noites desde que chegou aquela casa. Felizmente estava em um quarto somente seu, depois que se impôs a Manuel, ele a deixou em paz, e não se colocou contra quando pediu que os servos arrumassem o quarto que era dela quando havia chegado na casa. Na verdade, tudo estava tranquilo demais, o que era inquietante. Elisa sabia que Manuel estava empenhado em alguma coisa para tentar virar o jogo ao seu favor novamente, e aquela suposição a deixava mais assustada do que antes. Ele mal parava em casa, saía muito cedo e chegava pela madrugada. Os criados começavam a falar sobre algumas questões administrativas dos negócios que não andavam bem. Manuel não era como Fernando, que andava pelos campos, conversava com os trabalhadores e às vezes até colocava a mão no arado. Além do mais, Manuel havia deixado de assinar papéis importantes, se recusava a aceitar suprimentos de cargas encomen
Quando Fernando retornou à casa dos Antunes, estava completamente satisfeito, havia feito amor com Elisa da forma mais maravilhosa do mundo, ansiava que em breve ela se tornasse sua esposa, assim a teria em seu leito todas as noites e dias também. Na casa principal, tudo estava quieto demais, afinal ainda era madrugada, e ao subir a escada, se deparou com quem ele não queria, Manuel. Aquele foi um encontro do qual Fernando não desejava ter, o irmão ainda estava embriagado, e isso não era nada bom, costumava se encorajar quando estava naquele estado. No entanto, percebeu que não havia tanta surpresa em sua expressão por vê-lo ali.Então, Daniel surgiu também, sua pele pálida estava vermelha pela exaustão da noitada, seus cabelos loiros, como os de Valentina, estavam completamente desalinhados. E assim como Manuel, não pareceu surpreso com sua presença.— Fernando — Daniel estendeu a mão e o cumprimentou primeiro.Era óbvio que ele temia uma batalha entre os irmãos em sua casa.— Olá,
O retorno da modista na cidade à fazenda era tão entediante quanto as compras que Antônia tinha ido fazer junto de sua mãe. Edna não parava de listar os benefícios financeiros que um casamento com um Antunes proporcionaria à sua família, e aquele assunto estava entediante, a jovem não aguentava mais a mãe lhe pressionando. Antônia se sentia angustiada, aquele casamento seria seu fim, pois os Antunes não tinham boa fama, e Alberto então era ainda pior, ia de depravado a libertino, além dos rumores sobre ele ter assassinado a primeira esposa. Antônia não desejava se casar, além do mais, estava apaixonada por Joaquim, mas aquele parecia ser um sentimento não correspondido, já que ele agia friamente com ela, lhe evitando e ignorando de todas as formas e aquilo estava sendo doloroso.Finalmente chegaram em casa e o cocheiro abriu a porta da carruagem. Antônia percebeu que havia um movimento estranho no pátio principal, os servos andavam agitados de um lado para o outro, e a senhora Mazé se
Ao contrário do que Fernando acreditava, Valentina parecia à vontade em sua presença durante o jantar, e depois, enquanto tomavam uma bebida na sala de estar, se manteve como sempre, sorridente, alegre, uma boa anfitriã. Então, conseguiu relaxar, ou talvez fosse efeito do licor francês, uma iguaria que Fernando desconhecia e que insistiam que deveria experimentar. Naquele momento, relembravam algumas situações que tinham vivido na infância, algumas travessuras típicas de crianças. Daniel servia a terceira taça do licor.- Lembra daquela vez em que colocamos lama no cosmético da senhora Mazé? - Valentina recordou enquanto todos arrancavam gargalhadas. Fernando se sentia um pouco estranho, talvez estivesse se excedendo no álcool, os risos na sala ficavam cada vez mais altos em seus ouvidos, sentiu seu corpo leve demais e isto era um claro sinal de que deveria negar a quarta taça de licor. Entretanto, Daniel insistiu novamente com a voz falha e deixou um pouco do líquido derramar, já es
Antônia estava enfadada com tantos mimos de todas as servas e de sua mãe. A fuga de Joana despertou ao menos um pouco o lado materno de Edna. Eram tantos elogios à sua roupa, maquiagem, penteado e de como se assemelhava a uma princesa, entretanto, a jovem não se animou, não desejava ser cortejada nem por Alberto e nem por outro homem na terra que não fosse Joaquim, estava completamente apaixonada, ainda sonhava dormindo e acordada com o beijo maravilhoso que haviam trocado.De repente, a voz exageradamente animada de sua mãe lhe tirou de seus pensamentos:- Tudo está saindo perfeitamente! -Edna tagarelou sentada à sua frente enquanto observava as servas terminarem de aprontar Antônia - logo Fernando vai desaparecer de nossas vidas, já que irá se casar com Valentina.Antônia ficou perplexa com as palavras da mãe. Sentiu que a serva havia apertado o aplique de cabelo e gemeu.- Que sandisse, mamãe, Fernando não se casaria com Valentina jamais.A mulher, carregada de joias, olhou para a