O retorno da modista na cidade à fazenda era tão entediante quanto as compras que Antônia tinha ido fazer junto de sua mãe. Edna não parava de listar os benefícios financeiros que um casamento com um Antunes proporcionaria à sua família, e aquele assunto estava entediante, a jovem não aguentava mais a mãe lhe pressionando. Antônia se sentia angustiada, aquele casamento seria seu fim, pois os Antunes não tinham boa fama, e Alberto então era ainda pior, ia de depravado a libertino, além dos rumores sobre ele ter assassinado a primeira esposa. Antônia não desejava se casar, além do mais, estava apaixonada por Joaquim, mas aquele parecia ser um sentimento não correspondido, já que ele agia friamente com ela, lhe evitando e ignorando de todas as formas e aquilo estava sendo doloroso.Finalmente chegaram em casa e o cocheiro abriu a porta da carruagem. Antônia percebeu que havia um movimento estranho no pátio principal, os servos andavam agitados de um lado para o outro, e a senhora Mazé se
Ao contrário do que Fernando acreditava, Valentina parecia à vontade em sua presença durante o jantar, e depois, enquanto tomavam uma bebida na sala de estar, se manteve como sempre, sorridente, alegre, uma boa anfitriã. Então, conseguiu relaxar, ou talvez fosse efeito do licor francês, uma iguaria que Fernando desconhecia e que insistiam que deveria experimentar. Naquele momento, relembravam algumas situações que tinham vivido na infância, algumas travessuras típicas de crianças. Daniel servia a terceira taça do licor.- Lembra daquela vez em que colocamos lama no cosmético da senhora Mazé? - Valentina recordou enquanto todos arrancavam gargalhadas. Fernando se sentia um pouco estranho, talvez estivesse se excedendo no álcool, os risos na sala ficavam cada vez mais altos em seus ouvidos, sentiu seu corpo leve demais e isto era um claro sinal de que deveria negar a quarta taça de licor. Entretanto, Daniel insistiu novamente com a voz falha e deixou um pouco do líquido derramar, já es
Antônia estava enfadada com tantos mimos de todas as servas e de sua mãe. A fuga de Joana despertou ao menos um pouco o lado materno de Edna. Eram tantos elogios à sua roupa, maquiagem, penteado e de como se assemelhava a uma princesa, entretanto, a jovem não se animou, não desejava ser cortejada nem por Alberto e nem por outro homem na terra que não fosse Joaquim, estava completamente apaixonada, ainda sonhava dormindo e acordada com o beijo maravilhoso que haviam trocado.De repente, a voz exageradamente animada de sua mãe lhe tirou de seus pensamentos:- Tudo está saindo perfeitamente! -Edna tagarelou sentada à sua frente enquanto observava as servas terminarem de aprontar Antônia - logo Fernando vai desaparecer de nossas vidas, já que irá se casar com Valentina.Antônia ficou perplexa com as palavras da mãe. Sentiu que a serva havia apertado o aplique de cabelo e gemeu.- Que sandisse, mamãe, Fernando não se casaria com Valentina jamais.A mulher, carregada de joias, olhou para a
Fernando chegou ao seu encontro com Menezes atrasado. Depois da confusão com Daniel, tudo havia se descontrolado. Se cumprimentaram e Fernando pediu um café forte ao atendente.Sem exitar, Menezes começou a falar: — A corte entendeu que seu irmão Manuel cometeu fraude ao protestar a dívida com a família de Elisa. Você sabe que Manuel será preso. Fernando ficou inquieto, sabia muito bem as consequências daquilo, seu irmão cometeu um crime e seria julgado.— E tudo isso está a seu favor. Entretanto — Menezes pigarreou por um instante. — Não ao favor de Elisa, eu sinto muito.Fernando levou a mão ao rosto e olhou para a mesa.— A cláusula do testamento de seu pai, diz que o primeiro filho que se casasse ficaria como administrador legal da família. Fernando, se conseguirmos levar para a corte que não houve consumação do casamento, como você diz ... — O senhor Menezes falou constrangido com o assunto.—, teremos uma chance. Porém, a anulação do casamento, seguindo de seu casamento com Eli
A expressão de Manuel não era das melhores, ele havia passado a última hora junto aos soldados da marinha realizando uma busca por Joaquim. Elisa e Antônia se esforçaram ao máximo para que ninguém desconfiasse que haviam ajudado, e o olhar frio de Manuel estava sobre elas em vários momentos, mas Elisa fez um drama para representar a irmã desinformada e que estava sofrendo por não ter notícias de Joaquim.Quando os homens da Marinha se retiraram, todos partiram para a casa dos Antunes. Felizmente, Manuel havia decidido por um transporte individual, ele realmente estava muito aborrecido. No entanto, Edna parecia um pouco desconfiada, olhava ora para Elisa e ora para Antônia como uma raposa astuta.*Ao chegarem à casa dos Antunes, Elisa notou a beleza do lugar, não se sentiu surpresa, havia imaginado que a residência deles fosse tão espetacular quanto a dos Valença. Foram recebidos pelos irmãos Daniel e Valentina. Um certo comichão percorreu o corpo de Elisa ao se recordar das palav
O fato de Antônia não ter sido cortejada foi a única coisa boa que aconteceu naquela noite. Depois do escândalo de Fernando, Alberto Antunes decidiu adiar o compromisso, pois era visível que a família Valença tinha problemas para resolver.Dormir também não foi fácil para ninguém. Elisa rolava de um lado para outro entre sua dor e angústia, acreditava que não pudesse perdoar Fernando por tê-la enganado. Ele havia se transformado em um monstro para ela, causando-lhe dores maiores que as de Manuel. No fim, descobriu que os homens daquela família não valiam a pena. Entre lágrimas e tormento, envolveu as mãos sobre o ventre e sorriu ao se lembrar de que ao menos não estaria mais sozinha, e que naquele momento precisava ser forte por seu filho que estava em seu ventre. Entretanto, não diria nada a Fernando, ele não merecia aquele filho. Por isso, chorou novamente, consumida em sua amargura.Para Fernando, as coisas também não estavam nada bem. No fundo, ainda restavam dúvidas se havia fe
A senhora Mazé tentava convencer Elisa de que precisava se alimentar, há dias mal saía do quarto, não comia, e a serva estava preocupada, pois sabia que no estado de Elisa deveria se cuidar.- Senhora, por favor, coma ao menos um pedaço de pão - pediu, se aproximando com uma fatia generosa enrolada no guardanapo de linho. No entanto, Elisa mal olhou em sua direção.- Não tenho fome, obrigada, Senhora Mazé.A mulher se inclinou e falou em tom baixo, praticamente um sussurro.- Pense nesse bebezinho que a senhora carrega, ele precisa de alimento.Os olhos de Elisa se direcionaram à serva, tomados por uma forte emoção.Foram interrompidas por uma delicada batida na porta, seguida pelo som da voz de Antônia.- Entre, minha querida - Elisa ordenou.A jovem entrou, ansiosa, para falar com Elisa, que se sentou na cama animada ao ver sua expressão. Antes que dissesse qualquer coisa, Mazé pediu que ela convencesse Elisa a comer.- Que bom que chegou, menina. Ajude-me, a senhora Elisa não está
Antônia tinha pensado em milhares de desculpas para ir até Fernando, desejava muito que ele a levasse até Joaquim, e sabia que este também era o desejo de Elisa. Entretanto, Manuel não saía de casa, resolvera trabalhar no escritório, e Antônia temia que desconfiasse de qualquer desculpa que inventasse.Naquela manhã, tinha conseguido tirar Elisa do quarto por um tempo após muita insistência. A cunhada não andava nada bem, tinha muita tristeza em seu rosto e Antônia ficava angustiada por vê-la assim. Estavam na varanda tomando chá quando a senhora Edna surgiu sorrindo entre os dentes, anunciando a chegada de uma visita. Então, a senhorita Valentina surgiu, linda e exuberante como sempre. Edna estava visivelmente incomodada com a visitante. Depois do anúncio do casamento, passou a ver a jovem como um risco para seus planos. Entretanto, lhe recebeu fazendo um enorme esforço para manter a etiqueta.— Olha quem veio nos agraciar com sua presença — falou quando já estavam próximas de Elisa