Fernando chegou ao seu encontro com Menezes atrasado. Depois da confusão com Daniel, tudo havia se descontrolado. Se cumprimentaram e Fernando pediu um café forte ao atendente.Sem exitar, Menezes começou a falar: — A corte entendeu que seu irmão Manuel cometeu fraude ao protestar a dívida com a família de Elisa. Você sabe que Manuel será preso. Fernando ficou inquieto, sabia muito bem as consequências daquilo, seu irmão cometeu um crime e seria julgado.— E tudo isso está a seu favor. Entretanto — Menezes pigarreou por um instante. — Não ao favor de Elisa, eu sinto muito.Fernando levou a mão ao rosto e olhou para a mesa.— A cláusula do testamento de seu pai, diz que o primeiro filho que se casasse ficaria como administrador legal da família. Fernando, se conseguirmos levar para a corte que não houve consumação do casamento, como você diz ... — O senhor Menezes falou constrangido com o assunto.—, teremos uma chance. Porém, a anulação do casamento, seguindo de seu casamento com Eli
A expressão de Manuel não era das melhores, ele havia passado a última hora junto aos soldados da marinha realizando uma busca por Joaquim. Elisa e Antônia se esforçaram ao máximo para que ninguém desconfiasse que haviam ajudado, e o olhar frio de Manuel estava sobre elas em vários momentos, mas Elisa fez um drama para representar a irmã desinformada e que estava sofrendo por não ter notícias de Joaquim.Quando os homens da Marinha se retiraram, todos partiram para a casa dos Antunes. Felizmente, Manuel havia decidido por um transporte individual, ele realmente estava muito aborrecido. No entanto, Edna parecia um pouco desconfiada, olhava ora para Elisa e ora para Antônia como uma raposa astuta.*Ao chegarem à casa dos Antunes, Elisa notou a beleza do lugar, não se sentiu surpresa, havia imaginado que a residência deles fosse tão espetacular quanto a dos Valença. Foram recebidos pelos irmãos Daniel e Valentina. Um certo comichão percorreu o corpo de Elisa ao se recordar das palav
O fato de Antônia não ter sido cortejada foi a única coisa boa que aconteceu naquela noite. Depois do escândalo de Fernando, Alberto Antunes decidiu adiar o compromisso, pois era visível que a família Valença tinha problemas para resolver.Dormir também não foi fácil para ninguém. Elisa rolava de um lado para outro entre sua dor e angústia, acreditava que não pudesse perdoar Fernando por tê-la enganado. Ele havia se transformado em um monstro para ela, causando-lhe dores maiores que as de Manuel. No fim, descobriu que os homens daquela família não valiam a pena. Entre lágrimas e tormento, envolveu as mãos sobre o ventre e sorriu ao se lembrar de que ao menos não estaria mais sozinha, e que naquele momento precisava ser forte por seu filho que estava em seu ventre. Entretanto, não diria nada a Fernando, ele não merecia aquele filho. Por isso, chorou novamente, consumida em sua amargura.Para Fernando, as coisas também não estavam nada bem. No fundo, ainda restavam dúvidas se havia fe
A senhora Mazé tentava convencer Elisa de que precisava se alimentar, há dias mal saía do quarto, não comia, e a serva estava preocupada, pois sabia que no estado de Elisa deveria se cuidar.- Senhora, por favor, coma ao menos um pedaço de pão - pediu, se aproximando com uma fatia generosa enrolada no guardanapo de linho. No entanto, Elisa mal olhou em sua direção.- Não tenho fome, obrigada, Senhora Mazé.A mulher se inclinou e falou em tom baixo, praticamente um sussurro.- Pense nesse bebezinho que a senhora carrega, ele precisa de alimento.Os olhos de Elisa se direcionaram à serva, tomados por uma forte emoção.Foram interrompidas por uma delicada batida na porta, seguida pelo som da voz de Antônia.- Entre, minha querida - Elisa ordenou.A jovem entrou, ansiosa, para falar com Elisa, que se sentou na cama animada ao ver sua expressão. Antes que dissesse qualquer coisa, Mazé pediu que ela convencesse Elisa a comer.- Que bom que chegou, menina. Ajude-me, a senhora Elisa não está
Antônia tinha pensado em milhares de desculpas para ir até Fernando, desejava muito que ele a levasse até Joaquim, e sabia que este também era o desejo de Elisa. Entretanto, Manuel não saía de casa, resolvera trabalhar no escritório, e Antônia temia que desconfiasse de qualquer desculpa que inventasse.Naquela manhã, tinha conseguido tirar Elisa do quarto por um tempo após muita insistência. A cunhada não andava nada bem, tinha muita tristeza em seu rosto e Antônia ficava angustiada por vê-la assim. Estavam na varanda tomando chá quando a senhora Edna surgiu sorrindo entre os dentes, anunciando a chegada de uma visita. Então, a senhorita Valentina surgiu, linda e exuberante como sempre. Edna estava visivelmente incomodada com a visitante. Depois do anúncio do casamento, passou a ver a jovem como um risco para seus planos. Entretanto, lhe recebeu fazendo um enorme esforço para manter a etiqueta.— Olha quem veio nos agraciar com sua presença — falou quando já estavam próximas de Elisa
Elisa abriu os olhos devagar, seu corpo ainda estava desconfortável, mas aquela dor forte no ventre tinha diminuído. Aos poucos se recordou de que estava em um hotel e que tinha ido ver seu irmão. Olhou para o lado e percebeu que o quarto estava silencioso demais, as cortinas de camurça estavam fechadas, não conseguiu ter se quer noção do tempo. Então, sentiu um peso sobre seus pés, ergueu a cabeça ainda bastante fraca e viu a imagem de um homem forte deitado sobre eles na extremidade da cama. Era Fernando, parecia fazer algum tipo de prece com os olhos fechados, mãos unidas e uma angústia devastadora. Ele não vestia o casaco, usava apenas a camisa de linho branca. Elisa se sentiu confusa, pois se lembrava de que pouco tempo antes estavam em uma discussão acalorada.Fazendo bastante esforço, ela se moveu e Fernando notou. Imediatamente, ele se ergueu. Seus olhos estavam dilatados e vermelhos, era visível que estava demasiadamente angustiado.— Céus, você está bem... — falou com alív
— O que você achou? — Daniel perguntou para Manuel enquanto ele analisava o desenho.Daniel era um amante da arte e da pintura, o desenho da figura humana era sua maior habilidade, entretanto, não se dedicava à sua paixão, pois precisava administrar a fortuna e os negócios da família. Às vezes, principalmente à noite, se reunia com alguns amigos em uma casa noturna, inspirada em conceitos de liberdade, como na Europa. Passava bastante tempo com Manuel. Ambos eram frequentadores assíduos do local. Ali eram livres para práticas que, para a sociedade atual, seriam consideradas absurdas, escandalosas ou inapropriadas. Naquela noite, uma cantora de ópera nua se apresentava no salão, enquanto um grupo de bêbados se divertia entre si em trocas sexuais das mais diversas.— Ficou muito bom, você é ótimo com desenho — Manuel falou, levando um copo de bebida aos lábios.— Me sinto lisonjeado. Conseguir um elogio do Valença mais durão de Serrana não é algo fácil.Manuel bufou, ele se virou, anali
Dormir já não fazia parte da rotina de Fernando há dias, chegou a pensar que algum tipo de espírito maligno o estivesse atormentando. As noites eram longas, vazias e dolorosas, sentia como se tivesse sido ferido à espada ou algum armamento de fogo, sua alma gemia em remorso, se sentia um covarde, um maldito covarde! Tudo que tinha feito até ali, suas mentiras sobre ter se deitado com a senhorita Valentina, o pedido absurdo de casamento, e a forma fria com que vinha tratando Elisa, eram parte de um plano para protegê-la. Porém, agora, Fernando sabia que tinha tomado a decisão errada, magoara Elisa de uma forma avassaladora, e ainda tinha sido o responsável pela perda do seu filho.Mais uma vez, Fernando rolou na cama, após tanta inquietude, ergueu-se, se sentando, levou as mãos ao rosto e respirou profundamente, numa angústia que estava o sufocando. Sua camisa estava molhada, como se tivesse saído por um bom tempo na chuva. Ele colocou os pés para fora da cama e pisou no chão descalço,