A senhora Mazé tentava convencer Elisa de que precisava se alimentar, há dias mal saía do quarto, não comia, e a serva estava preocupada, pois sabia que no estado de Elisa deveria se cuidar.- Senhora, por favor, coma ao menos um pedaço de pão - pediu, se aproximando com uma fatia generosa enrolada no guardanapo de linho. No entanto, Elisa mal olhou em sua direção.- Não tenho fome, obrigada, Senhora Mazé.A mulher se inclinou e falou em tom baixo, praticamente um sussurro.- Pense nesse bebezinho que a senhora carrega, ele precisa de alimento.Os olhos de Elisa se direcionaram à serva, tomados por uma forte emoção.Foram interrompidas por uma delicada batida na porta, seguida pelo som da voz de Antônia.- Entre, minha querida - Elisa ordenou.A jovem entrou, ansiosa, para falar com Elisa, que se sentou na cama animada ao ver sua expressão. Antes que dissesse qualquer coisa, Mazé pediu que ela convencesse Elisa a comer.- Que bom que chegou, menina. Ajude-me, a senhora Elisa não está
Antônia tinha pensado em milhares de desculpas para ir até Fernando, desejava muito que ele a levasse até Joaquim, e sabia que este também era o desejo de Elisa. Entretanto, Manuel não saía de casa, resolvera trabalhar no escritório, e Antônia temia que desconfiasse de qualquer desculpa que inventasse.Naquela manhã, tinha conseguido tirar Elisa do quarto por um tempo após muita insistência. A cunhada não andava nada bem, tinha muita tristeza em seu rosto e Antônia ficava angustiada por vê-la assim. Estavam na varanda tomando chá quando a senhora Edna surgiu sorrindo entre os dentes, anunciando a chegada de uma visita. Então, a senhorita Valentina surgiu, linda e exuberante como sempre. Edna estava visivelmente incomodada com a visitante. Depois do anúncio do casamento, passou a ver a jovem como um risco para seus planos. Entretanto, lhe recebeu fazendo um enorme esforço para manter a etiqueta.— Olha quem veio nos agraciar com sua presença — falou quando já estavam próximas de Elisa
Elisa abriu os olhos devagar, seu corpo ainda estava desconfortável, mas aquela dor forte no ventre tinha diminuído. Aos poucos se recordou de que estava em um hotel e que tinha ido ver seu irmão. Olhou para o lado e percebeu que o quarto estava silencioso demais, as cortinas de camurça estavam fechadas, não conseguiu ter se quer noção do tempo. Então, sentiu um peso sobre seus pés, ergueu a cabeça ainda bastante fraca e viu a imagem de um homem forte deitado sobre eles na extremidade da cama. Era Fernando, parecia fazer algum tipo de prece com os olhos fechados, mãos unidas e uma angústia devastadora. Ele não vestia o casaco, usava apenas a camisa de linho branca. Elisa se sentiu confusa, pois se lembrava de que pouco tempo antes estavam em uma discussão acalorada.Fazendo bastante esforço, ela se moveu e Fernando notou. Imediatamente, ele se ergueu. Seus olhos estavam dilatados e vermelhos, era visível que estava demasiadamente angustiado.— Céus, você está bem... — falou com alív
— O que você achou? — Daniel perguntou para Manuel enquanto ele analisava o desenho.Daniel era um amante da arte e da pintura, o desenho da figura humana era sua maior habilidade, entretanto, não se dedicava à sua paixão, pois precisava administrar a fortuna e os negócios da família. Às vezes, principalmente à noite, se reunia com alguns amigos em uma casa noturna, inspirada em conceitos de liberdade, como na Europa. Passava bastante tempo com Manuel. Ambos eram frequentadores assíduos do local. Ali eram livres para práticas que, para a sociedade atual, seriam consideradas absurdas, escandalosas ou inapropriadas. Naquela noite, uma cantora de ópera nua se apresentava no salão, enquanto um grupo de bêbados se divertia entre si em trocas sexuais das mais diversas.— Ficou muito bom, você é ótimo com desenho — Manuel falou, levando um copo de bebida aos lábios.— Me sinto lisonjeado. Conseguir um elogio do Valença mais durão de Serrana não é algo fácil.Manuel bufou, ele se virou, anali
Dormir já não fazia parte da rotina de Fernando há dias, chegou a pensar que algum tipo de espírito maligno o estivesse atormentando. As noites eram longas, vazias e dolorosas, sentia como se tivesse sido ferido à espada ou algum armamento de fogo, sua alma gemia em remorso, se sentia um covarde, um maldito covarde! Tudo que tinha feito até ali, suas mentiras sobre ter se deitado com a senhorita Valentina, o pedido absurdo de casamento, e a forma fria com que vinha tratando Elisa, eram parte de um plano para protegê-la. Porém, agora, Fernando sabia que tinha tomado a decisão errada, magoara Elisa de uma forma avassaladora, e ainda tinha sido o responsável pela perda do seu filho.Mais uma vez, Fernando rolou na cama, após tanta inquietude, ergueu-se, se sentando, levou as mãos ao rosto e respirou profundamente, numa angústia que estava o sufocando. Sua camisa estava molhada, como se tivesse saído por um bom tempo na chuva. Ele colocou os pés para fora da cama e pisou no chão descalço,
⚜️Fernando caiu num sono profundo após o momento maravilhoso que viveu com Elisa. Mas sabia que precisava ir, ou poderia ter graves problemas. Ela ainda estava ao seu lado, deitada sobre seus braços como travesseiro. O cheiro dela estava todo em seu corpo, era uma sensação deliciosa. Devagar, puxou o braço, Elisa mexeu por um instante, entretanto, não despertou. Fernando se ergueu lentamente e se vestiu, sem tirar os olhos da mulher que amava ainda dormindo. Suspirou profundamente e se virou para a porta que dava para a varanda, a mesma por onde entrara. Antes de partir, a admirou mais uma vez.Elisa despertou bastante sonolenta, as janelas estavam todas abertas e as primeiras luzes do dia invadiam o quarto. Se recordou de ter tomado várias infusões que a deixaram sonolenta. Então, lembranças de uma noite de amor vieram em sua mente, os toques, os beijos, as carícias de Fernando, fazendo-a chegar ao nível máximo de satisfação a que uma mulher poderia chegar. Ficou tentando entender s
Edna ficou surpresa ao ver Fernando e Joaquim sentados na sala de estar tomando chá confortavelmente. Eles pediram que a serva lhe chamasse, afinal era a mãe de Antônia. A mulher avaliou a imagem emponderada de Joaquim, e naquele instante todo preconceito anterior não existia mais, afinal, agora ele se tratava de um militar de patente alta, condecorado e certamente seria muito bem recompensado por seus "tais" atos heroicos, provavelmente faria fortuna.Ela cumprimentou os rapazes com uma mesura curiosa em saber o que realmente desejavam. Estranhou a presença de Elisa e da filha Antônia, sempre que Fernando estava por perto, era confusão na certa.- E como está a senhorita Valentina, e os preparativos para o casamento, Fernando? - Edna provocou, lançando um olhar para Elisa, que fitou o chão, incomodada com as palavras da sogra.Fernando ainda buscou o olhar de Elisa pela última vez, entretanto ela o ignorou.- Está tudo perfeito. Não se preocupe, os convites chegarão em breve.- Mas c
AnaDois meses depois...Depois da nossa última briga, Marco e eu conversamos bastante. Decidimos confiar um no outro e prometi nunca mais esconder nada dele. Ele compreendeu meus medos e não me pressionou com a gravidez tão desejada. Continuo tomando meu anticoncepcional até decidir que é o meu melhor momento. Já retirei a tipóia e estou fazendo muitas sessões de fisioterapias. Felizmente, estou praticamente recuperada.É feriado, e por isso Marco resolveu tirar uma folga para visitar os pais. Claudio está na churrasqueira, há também alguns parentes, entre eles Bruno e sua família. Estou com Helena, ajudando com um molho especial quando de repente sinto muito mal-estar. Esta é a segunda vez em que não me sinto bem. Conversamos sobre o quanto fiquei enjoada no voo, mas é normal ao viajar de avião, isso não muda.Helena me encara com um brilho nos olhos.— Ana, você pode estar grávida novamente! — fala empolgada.Reviro os olhos, meus sogros, ao contrário de Marco, não param de me pres