Ninguém havia dormido bem naquela noite, para Fernando nem todo o conforto da melhor hospedaria da cidade era suficiente para aquietar seu corpo e o fazer repousar. Dois pensamentos insistiam em deixá-lo agitado: A possibilidade de cancelar o casamento de Elisa e Manuel, e as lembranças do último beijo que trocou com ela, a única mulher que, até então, era proibida para ele.Já Elisa quase não podia se mexer na cama, dividir o pequeno móvel com Joana não havia sido fácil, mas a pequena ficou eufórica quando Elisa anunciou que dormiria em sua cama. Mas, por várias vezes, Elisa acordou assustada, temendo que Manuel chegasse a qualquer momento para exigir que ela ficasse em seu quarto.O dia amanheceu com um sol lindo brilhando no céu. Antônia e Joana estavam no jardim com Mazé. Antônia tentava convencer a dama de que o sol naquele horário era favorável à saúde, mas a serva achou aquela ideia descabida e resmungava algo sobre selecionar os livros que a jovem continuaria a ler. De repente
Muitas coisas passavam pela mente de Elisa enquanto tomava seu café da manhã, já era tarde, ela havia decidido ficar um pouco mais na cama, não tinha dormido bem e a culpa não era de Joana, a menina mal se mexia a noite toda, talvez devesse à exaustão de toda a energia gasta pela criança durante o dia. Mas quando soube que as meninas iriam sair para um passeio, Elisa preferiu ficar e se preparar, pois a qualquer momento Manuel iria procurá-la, então precisava estar pronta para este confronto.Não estava com fome, seu apetite desapareceu no momento em que soube que precisaria voltar àquela casa. Muitas delícias estavam sobre a mesa, entretanto, degustava apenas um chá de hortelã com mel. No momento em que iria comer uma fatia de pão, a senhora Francesca surgiu ordenando às servas que retirassem a mesa do café como se Elisa nem estivesse ali a ignorando. Elisa ficou surpresa e abriu a boca para protestar, no entanto, viu a imagem de Edna surgir toda imponente logo atrás. A presença daqu
Depois de toda confusão no hall principal da casa grande, Antônia ajudou Elisa a levar Joaquim para seus aposentos, mesmo sobre a recriminação de sua mãe. Ele resmungou por várias vezes que estava bem, mas era nítido que estava mentindo, talvez sentisse vergonha de que Antônia o visse naquela situação, porém, quando finalmente conseguiram colocá-lo na cama, ele levou a mão à altura do ferimento que há pouco tinha sido cuidado.— Ah, meu irmão, eu sinto muito... — lamentou Elisa com voz de choro.— A culpa não é sua... — respondeu entre um gemido e outro.— Não mesmo, meu irmão, que é um monstro! — Antônia manifestou indignada.Elisa levou a mão à altura da camisa e, antes de retirá-la, olhou para Antônia. Não sabia ao certo se deixar o corpo do irmão à mostra próximo de uma donzela fosse algo certo, e sabia muito bem que não era, no entanto, a situação parecia necessária. Ficou surpresa com a naturalidade com que Antônia agiu, a menina realmente não era mais uma adolescente, se torna
Dias depois...Fernando retornou de Santana, estava ansioso quando o trem de ferro parou na estação de sua cidade. Logo, se encontrou com Menezes no Alamedas Café, precisava lhe entregar os documentos que tinha conseguido, aquele no qual Manuel usara para protestar a dívida.O advogado segurava uma das inúmeras folhas entre as mãos, atônito.— Seu irmão pode ser preso por fraude — Menezes falou, analisando o documento.Fernando respirou fundo, não desejava mal ao seu meio-irmão, entretanto, sabia que Manuel estava colhendo os frutos de suas ações.Menezes continuou:— Manuel foi longe demais. Além disso, condenou uma jovem a se manter em um casamento indesejado, obrigando-a ao matrimônio.— Meu irmão nunca teve limites — afirmou Fernando, bufando, estava indignado com tudo que descobriu.— Fernando, eu preciso ser sincero... tenho pena da senhora Elisa. A situação dela é delicada... Pelo que percebi naquele dia do baile, talvez ela esteja...Fernando pigarreou, incomodado com as lemb
Aquela se tratava de uma noite relativamente quente. Elisa estava com dificuldades para dormir, como em todas as noites desde que chegou aquela casa. Felizmente estava em um quarto somente seu, depois que se impôs a Manuel, ele a deixou em paz, e não se colocou contra quando pediu que os servos arrumassem o quarto que era dela quando havia chegado na casa. Na verdade, tudo estava tranquilo demais, o que era inquietante. Elisa sabia que Manuel estava empenhado em alguma coisa para tentar virar o jogo ao seu favor novamente, e aquela suposição a deixava mais assustada do que antes. Ele mal parava em casa, saía muito cedo e chegava pela madrugada. Os criados começavam a falar sobre algumas questões administrativas dos negócios que não andavam bem. Manuel não era como Fernando, que andava pelos campos, conversava com os trabalhadores e às vezes até colocava a mão no arado. Além do mais, Manuel havia deixado de assinar papéis importantes, se recusava a aceitar suprimentos de cargas encomen
Quando Fernando retornou à casa dos Antunes, estava completamente satisfeito, havia feito amor com Elisa da forma mais maravilhosa do mundo, ansiava que em breve ela se tornasse sua esposa, assim a teria em seu leito todas as noites e dias também. Na casa principal, tudo estava quieto demais, afinal ainda era madrugada, e ao subir a escada, se deparou com quem ele não queria, Manuel. Aquele foi um encontro do qual Fernando não desejava ter, o irmão ainda estava embriagado, e isso não era nada bom, costumava se encorajar quando estava naquele estado. No entanto, percebeu que não havia tanta surpresa em sua expressão por vê-lo ali.Então, Daniel surgiu também, sua pele pálida estava vermelha pela exaustão da noitada, seus cabelos loiros, como os de Valentina, estavam completamente desalinhados. E assim como Manuel, não pareceu surpreso com sua presença.— Fernando — Daniel estendeu a mão e o cumprimentou primeiro.Era óbvio que ele temia uma batalha entre os irmãos em sua casa.— Olá,
POR VOLTA DE 1810...— Preciso... falar com... minha filha... — lamentou João Alvares Carvalho com bastante dificuldade. O homem estava num estágio avançado de uma doença desconhecida e misteriosa.— Sua filha não pode se aproximar, ninguém de sua família, senhor João, pode ser muito perigoso — afirmou o doutor, pela quarta ou quinta vez naquele dia, desde que João insistira em falar com a filha. Ele parecia pressentir que estava morrendo, pois a aflição do homem tão fraco e esquelético sobre a cama era intensa.A filha, que aguardava ao lado de fora nos braços de sua mãe, estava muito angustiada. Elisa temia que aqueles fossem os últimos minutos de vida de seu pai e desejava ansiosamente estar ao seu lado.O vento balançava as frestas das janelas, anunciando uma forte tempestade. Era uma noite assustadora, e toda a angústia presenciada naquela casa anunciava que o pior estava por vir.Após momentos terríveis de espera, Elisa e a mãe ouviram gritos vindo de dentro do quarto. A dor que
Dias se passaram após a morte do pai de Elisa e lá estava ela novamente usando seu vestido preto, sobre mais lágrimas e angústia. Sua mãe não havia suportado a dor da perda de João e supostamente do filho Joaquim. Teresa esteve mal nos dias que se seguiram, a mulher não saía mais da cama e recusava se alimentar, ficando fraca, e tanta tristeza a sufocou, a ponto de seu coração não aguentar. Sofrendo com sua perda, Elisa terminava de se despedir dos conhecidos que haviam estado no funeral. A maioria se tratava apenas de curiosos, ela sabia que todos faziam conversas sobre o quanto desamparada estava, afinal se tratava apenas de uma jovem de vinte anos, solteira e sem família. Muitos estavam certos de que ela cairia na vida fácil, já que rondava outro boato de que o grande fazendeiro João Álvares havia deixado apenas dívidas, e esta parte Elisa sabia muito bem que não eram apenas mexericos. Ela e sua mãe ficaram assustadas com a quantidade de promissórias que haviam encontrado no escri