“Papai, você quer que eu volte depois da traição? Ele engravidou outra mulher e eu não vou perdoá-lo.”“Felícia, só foi a fraqueza de um macho. E, além disso, você não deu nenhum filho para ele e ele se viu no direito de procurar outra mulher.”“Que desculpa esfarrapada, não aceitarei essa humilhação. Papai, me perdoe, mas isso é demais para mim.” “Felícia, por favor, pense na nossa dívida.”“Papai, eu deixei um pouco dinheiro com a minha mãe. Também tenho dinheiro que peguei de Raul escondido. Tentei procurar seu contrato, mas não achei.”“E agora, o que faremos?”, perguntou o fazendeiro apreensivo.“Papai, esqueça essa dívida, não vamos pagar. Raul só está usando a dívida para eu continuar casada, vou enviar dinheiro para vocês até a chuva chegar.”“Minha filha, não posso fazer isso! Sou um homem de princípios, tenho um nome a honrar.”“Tudo bem, papai, futuramente a gente paga. Agora estamos sem condições. Por favor, esqueça essa dívida nesse momento, eu lhe garanto que Ra
“Que bom, vai ajudar muito na criação do filho dele. Agora preciso ir, tia.” “Se cuida, minha filha, me liga se precisar de algo.” Felícia passava seus dias isolada na casa da amiga da tia. Sentia muitos enjoos e sono devido à gravidez. Ela até caminhou no bairro a procura de emprego nos comércios, mas era dispensada quando revelava sobre a gravidez. Voltou para casa no sol escaldante com os pés inchados. Ao se aproximar do portão, presenciou a tia parada com um guarda-chuva em frente ao portão. “Minha filha, onde você estava? Liguei e ninguém atendeu.” “Eu estava procurando trabalho, tia. Não tem ninguém em casa, todos estão trabalhando. O que aconteceu? Por que você está aqui tão agitada?” “Isla me ligou da fazenda com notícias nada animadoras. Falou que seu pai não está bem, você precisa ir vê-lo.” “Mas o que ele tem? O que aconteceu?” “Não sei, ela só me pediu que você retornasse imediatamente.” “Tia, não posso voltar. Tenho medo de Raul me encontrar.”
Raul, ao ficar sabendo da morte do sogro, sentiu um grande desgosto, culpa e remorso, lamentando-se pela última conversa que tiveram.Ele largou tudo na fazenda e foi ao velório se despedir do sogro com a mãe e a irmã, Bibiana, na certeza de que encontraria a mulher.No caminho para a fazenda da família da esposa, ele conversava com a mãe: “Se pelo menos eu tivesse perdoado aquela maldita dívida, o pobre velho estaria vivo.”“Pare com isso, filho. Isso tudo é consequência das atitudes dele, foi ele quem escolheu esse fim.”“Eu sei, mãe, mas não tem como sentir remorso dessa tragédia. Eu ameacei tomar a fazenda dele em nossa última conversa.” “E agora, como você e Felícia vão ficar? Com certeza ela estará lá”, perguntou Bibiana, preocupada com as consequências do crime cometido pela irmã e a amiga.“Não sei, agora acho difícil ela querer voltar já que perdeu pai. Sua única razão para estar comigo era a maldita dívida.”“Você precisa conversar com ela e resolver.”“Não sei o
Às seis da manhã, no romper da aurora, ela levantou com os olhos inchados e a cabeça doendo. Nas poucas horas que adormeceu, teve terríveis pesadelos. Após realizar sua higiene matinal, desceu com a alma oprimida pela amargura e pela vergonha. Disposta a revelar a verdade para o irmão, dirigiu-se à mesa de jantar onde o irmão se encontrava com mãe. “Bom dia!” Ela cumprimentou abatida com lágrimas genuínas escorrendo pelo canto dos olhos. Dona Quitéria se levantou e abraçou a filha com preocupação.“Bibiana, o que aconteceu? Por que acordou assim, filha?”Raul também se levantou preocupado com a irmã. Ela secou os olhos com a manga do casaco e murmurou:“Irmão, preciso falar com você.” “Pode falar, o que aconteceu?” “É uma história longa e delicada, pode ser no seu escritório?”“Bibiana, agora preciso ir à fazenda da família de Felícia. Podemos conversar quando eu voltar?” “Não, é sobre a morte do seu filho. Você precisa me escutar antes de conversar com Felícia.”
Antes do almoço, Raul chegou na fazenda Bela Vista. Ainda caiam fortes pancadas de chuva quando ele se aproximou e estacionou em frente à casa grande.Dionísio, que estava no estábulo, ouviu o barulho do ronco do motor e se apressou para ver de quem se tratava.Ao se deparar com o cunhado, ele não o cumprimentou. Chegou perto e interrogou em tom elevado:“Veio buscar sua mulher ou tomar nossa fazenda?” Raul desceu de sua caminhonete com guarda-chuva e respondeu calmo, porém com um nó na garganta:“Dionísio, meus pêsames pelo seu pai, sinto muito pelo que aconteceu. Hoje vim apenas conversar, será que podemos sentar?”“Não posso sentar, tenho muita coisa para fazer. Mas você pode me acompanhar até o estábulo, se quiser.”Raul o acompanhou.No estábulo, ele reparou no cavalo que deu de presente ao sogro. Haviam, também, três vacas magras, um bezerro e algumas ovelhas.“Onde estão os outros animais?”“Não temos animais, perdemos boa parte com a seca. Outra grande parte meu pai
“Fui um estúpido, eu sinto muito.” Em um clima tenso de revelações e ressentimentos, ela deitou na cama e não quis falar mais nada. Ele insistia, na tentativa de convencê-la:“Lembra quando eu prometi comprar uma casa para vivermos juntos na capital? É o que eu quero fazer agora. Vamos embora para a capital viver só nos dois, sem ninguém para tirar nossa paz.”“Eu perdi minha dignidade com esse casamento, sendo uma mulher submissa, oprimida e sofrendo humilhações. Acabou, Raul, meu pai pagou com a própria vida a dívida dele. Não existe mais nada que nos prenda.” Ele chegou perto dela e disse com serenidade: “Tem sim, esse filho que está no seu ventre. Ele será nosso porto seguro.”Felícia sentiu arrepios. Como ele descobriu seu segredo? Ela levantou rapidamente e disse alterada: “Eu não estou grávida, você está equivocado.”“Olha o tamanho dessa barriga, eu conheço o seu corpo. Aí tem um filho meu.”Ela colocou as mãos na cabeça com um semblante de desilusão e os olhos
Felícia desceu para conversar com o irmão e o marido e encontrou os dois na sala tomando café. “Dionísio, quero passar mais alguns dias aqui. Minha mãe ainda está debilitada por conta da perda do nosso pai, quero cuidar dela.”“Tudo bem, amanhã você vai embora então.”“Não, em três dias. Essa casa também é minha, eu tenho o direito de ficar aqui o tempo que eu quiser cuidando da minha mãe.” “Você não tem nada aqui, Felícia. Deixa de ser tola. Você ainda tem sorte de seu marido te aceitar de volta”, ele falou isso na presença do cunhado. Ela ignorou o irmão e se dirigiu ao marido com o semblante triste:“Volte na quarta-feira para me buscar.”Ele concordou acenando com a cabeça. Ela subiu as escadas, sem se despedir.Felícia voltou para o quarto e entregou um bolo de dinheiro para a mãe. “Isso é para ajudar nos custos do funeral do meu pai.” “Tem muito dinheiro aqui, Felícia.”“Não tem problema, mãe. Sei que a situação aqui não está nada bem. Vou tentar enviar mais dinheiro até os
Durante o percurso, ela acordou e se deu conta que estava chegando na capital. “Aonde estamos indo?” “Estou cumprindo minha promessa. A partir de hoje, vamos morar na capital. Quero criar nossos filhos lá.” Ele levou Felícia até um hotel modesto. Ela se aconchegou na cama e permaneceu quieta até a hora do almoço enquanto ele pesquisava no jornal uma casa para comprar. A todo momento, Raul manteve uma postura respeitosa. Tentou não incomodar a mulher até a hora do almoço. “Você não tomou café da manhã, precisa se alimentar agora que está gestando nosso filho. Pedi que trouxessem uma refeição nutritiva e saborosa. Por favor, levante-se e coma um pouco.” Ela levantou, não porque ele pediu, mas porque realmente estava com fome. Eles almoçavam em silêncio. Felícia saboreava sua comida vagarosamente até o marido quebrar silêncio e puxar assunto: “Você precisa passar no médico, amanhã vou marcar sua consulta.” Após uma pausa, ela respondeu baixinho: “Para quê? Você quer te