Nessa ocasião, Felícia sentia um misto de sentimentos: raiva, tristeza, alívio. Se ela não estivesse tão sensibilizada com a ruína da mulher em sua frente, já teria lhe esbofeteado sem piedade. Ludmila continuava a desabafar:“Ele estava bêbado, não lembraria de nada daquela noite que me deixou em casa. Eu já estava grávida de outro homem e premeditei aquela história só para ele assumir meu filho.”Felícia balançava a cabeça em reprovação ao desabafo da mulher.“Que Deus tenha piedade de você, Ludmila.” “Eu fui pervertida e depravada, estou pagando cruelmente por tudo que fiz. Não quero morrer com esse pecado, preciso que me perdoe para eu partir em paz.”Ludmila soltou uma lágrima genuína e clamou:“Por favor, me perdoe por todo mal que lhe causei.” Felícia suspirou fundo e respondeu:“Eu te perdoo, Ludmila, espero que você encontre a paz.” “Muito obrigada! Espero que você seja feliz com a sua família.”Felícia perdoou a mulher e se foi, sentindo um tremendo alívio na alma por s
Depois, revelou com entusiasmo:“Mãe, eu encontrei meu testamento!” Dona Quitéria deu um tremendo suspiro e cruzou os dedos em um gesto de agradecimento. “Que notícia maravilhosa, meu filho! E agora? O que vai acontecer?” “Entreguei o documento para o advogado, agora é só esperar a audiência. Ele me pediu três testemunhas: a senhora e mais duas que participaram do caso.”“Vamos conseguir, meu filho.”Bibiana perguntou:“Você vai passar a noite de Natal com a gente, irmão?”“Prometi a Felícia que iria passar o Natal com a família dela. Agradeço o convite, Bibiana.”Raul almoçou com a família. À tarde, saiu para o centro da cidade. Entrou em uma loja de carros e escolheu um modelo não muito caro. Ficou de retornar para pagar o carro com o dinheiro do médico. Conforme tinha combinado com o médico, ele passou no hospital. O médico estava na recepção, carrancudo e com uma aparência fria, esperando com dois cheques em mãos.Ele se aproximou com compostura e fisionomia intim
“Como você sabe disso? Quem te falou isso?”“A própria Ludmila, eu a encontrei no hospital hoje, aqui em Santa Rita. Ela revelou que te enganou, que nunca dormiu com você. Ela já estava grávida de outro homem quando você passou a noite embriagado na casa dela.”Raul sentia ódio com a revelação da mulher. Ele serrava o punho com um olhar de indignação e raiva.“Ela vai me pagar.” Murmurou entre os dentes serrados.“Sim, ela já está pagando. Com certeza, em pouco tempo estará debaixo da terra.”“Como é que é?” Felícia relatou toda conversa que teve com Ludmila e sua situação atual.“Lamentável! Ela teve o que merecia. Espero que tenha se arrependido de verdade.”Ele olhou firme para ela e continuou a insistir:“Fui um idiota, me perdoe! Agora que você já sabe a verdade, podemos nos entender?”“Raul, você não foi só um idiota, você me magoou demais. Foi muito sofrido o tempo que passei ao seu lado naquela fazenda.”“Eu sinto muito! Já te pedi perdão um milhão de vezes. Por favor, vamos
“Do dia que você veio me buscar aqui e me encontrou dormindo na minha cama de solteira.” “Não somos solteiros. Temos um filho, esqueceu?”“Isso não impede a gente de namorar e realizar nossas fantasias de solteiros. Você vai ou não vai?”Ele soltou um riso, fingindo estar envergonhado. Mordia os lábios com as loucuras da mulher. “Está bem. Mas rapidinho e sem fazer barulho, pra ninguém descobrir e nem acordar o bebê.”Os dois saíram sorrateiramente pelo corredor, com leves passos no piso de madeira. Trancaram-se no antigo quarto de Felícia e realizaram loucuras de amor na cama de solteira dela, do jeito que ela sonhou. Depois de vinte e cinco minutos, retiraram-se em silêncio, nas pontas dos pés novamente.Após alguns dias de festividades na terra natal, a família retornou para a casa na capital no carro novo de Raul.[...]Dois meses depois, chegou o dia da audiência de Raul. Dona Quitéria, uma amiga de longa data que trabalhou na fazenda do Barão e uma prima das filhas do Barão t
Era um dia festivo na Fazenda Bela Vista. Felícia, a filha caçula do fazendeiro Dante Molina, estava completando dezoito anos. A família e alguns amigos da jovem comemoravam com uma festa simples, mas com bastante música, comida e alegria. “Amiga, você está linda!” Elogiou Sarah, melhor amiga de Felícia. Desde a infância as duas compartilhavam os melhores momentos da vida juntas. Elas tinham a mesma idade, estudavam na mesma escola desde o primário e estavam quase terminado o colegial. Conversavam sobre tudo e às vezes Sarah dormia na casa da amiga, elas se consideravam irmãs. “Deixa eu colocar mais base, vai te dar mais brilho... Pronto! Agora só falta arranjar um fazendeiro rico.” “Já falei, não quero namorar com ninguém agora”, respondeu Felícia revirando os olhos. “Tudo bem! Só toma cuidado para não ficar donzela.” “Prefiro ficar donzela do que casar com esses homens daqui de Santa Rita.” “Agora vamos descer? Todos estão esperando para os parabéns.” [...]
No final do ano, a cidade de Santa Rita festejava a festa da padroeira. Felícia, o seu irmão Dionísio e sua cunhada Isla participavam das comemorações em uma tarde de domingo. “Vou procurar Sarah”, comunicou Felícia ao seu irmão mais velho. “Vá, mas volte logo!” Ela saiu no meio da multidão em direção a padaria da família de sua amiga. Raul, que também participava da festividade, avistou a bela jovem de longe. Quase que hipnotizado, contemplava a postura séria e elegante da donzela. Felícia exibia uma aparência decente, trajava um vestido azul-marinho cintado um pouco acima dos joelhos, com botões na frente que firmava um discreto decote. Tinha cabelos castanhos longos, ondulados e bem tratados. Sua face era graciosa, caprichada em uma maquiagem leve e discreta, usava um sapato preto scarpin de salto médio. Obstinado, ele deixou os amigos e caminhou apressadamente atrás da moça. Em um tom educado e respeitoso, ele pronunciou: “Senhorita Felícia, espere!” Ela parou e
Na segunda-feira, Catarina, irmã de Raul, voltou da capital para casa, de férias da faculdade. Raul foi pegar a irmã na estação de trem de Santa Rita. Ao chegarem em casa, ela foi recebida pela mãe, Dona Quitéria e pela irmã, Bibiana. “Minha filha, seja bem-vinda! Que felicidade recebê-la e te ver bem, até pegou uns quilinhos.” “Obrigada, mamãe, também estava com saudades!” “Que saudade, irmã!” Todas a abraçaram. “Obrigada pela recepção, meus amores, também estava morrendo de saudades. Agora preciso tomar um banho, a viagem foi bem cansativa.” “Então suba, a comida está quase pronta.” Em meio à conversação durante o almoço, Catarina anunciou: “Tenho uma novidade para contar a vocês.” A caçula da família, Bibiana, perguntou curiosa: “O que é? Fala!” Ela revelou, sem jeito: “Eu vou me casar!”, Catarina falou já mostrando uma aliança no dedo. Raul se pronunciou como o homem da casa: “Posso saber onde está o noivo?” “Ele também estuda na capital,
“Mas é claro, com muito prazer, senhorita! Minha caminhonete está estacionada na rua de trás, me acompanhe.” Os dois caminharam juntos, viraram a esquina e subiram uma rua pouco movimentada onde estava estacionada a caminhonete de Raul. Ele abriu a porta e pediu que ela entrasse. Ligou o carro e saiu todo feliz e satisfeito. Durante o percurso, ele puxou assunto. “Agora a pouco lhe vi chorar. Desculpe-me pelo atrevimento, senhorita, seria pelo concurso?” “Sim, meu pai não me permitiu desfilar.” “Você é tão linda, se o seu pai deixasse tenho certeza que venceria aquele concurso facilmente.” “Infelizmente o meu pai preza por princípios ultrapassados e me obriga a fazer o mesmo.” “Sinto muito por você não conseguir subir na passarela, adoraria te ver desfilar!” Felícia não se sentia à vontade com o rumo daquela conversa, estava incomodada e rezando para chegar em casa logo. “Você está bem? Parece ansiosa!”, ele perguntou. “Estou preocupada, com medo de alguém