Ela se aproximou enquanto ele lia seu jornal na varanda, sentou em outra poltrona e sem hesitar o parabenizou: “Estou feliz por você pelo emprego!” “Obrigado.”Ele a agradeceu com um leve sorriso e um brilho de esperança nos olhos. Ele sugeriu:“Agora que vou trabalhar, você pode ficar em casa e cuidar do menino.” Ela retrucou respeitosamente: “Eu gosto do meu trabalho, não quero pedir demissão. Meu chefe me autorizou a levar Antônio caso precisasse, pois lá tem berçário.”“Tudo bem, faça o que for melhor para você e nosso filho.”Mesmo não concordando, ele aceitou para agradar a mulher.Depois que Raul começou a trabalhar, Dona Quitéria voltou para Santa Rita para visitar as filhas.Felícia começou a levar o filho para o trabalho, o menino ficava no berçário da própria escola enquanto ela era professora auxiliar de outra turma. Após uma semana trabalhando com o filho, no final do expediente bateu uma tremenda chuva. Felícia permaneceu na escola esperando a chuva passar.Seu chefe
Na capital, Raul continuou sua rotina de trabalho, sentindo saudades da mulher e do filho. Era a semana do Natal. Um dia antes de viajar para Santa Rita, ele teve um sonho revelador. Acordou atordoado e disse ofegante: “Lembrei! Eu lembrei onde está o testamento. Vou recuperar minha herança.” O testamento fora registrado em um cartório na capital. Era madrugada e ele não conseguia pregar os olhos depois do sonho. Às sete da manhã, levantou, fez um café e esperou o cartório abrir para recuperar uma cópia do meu testamento, pois ainda estava muito cedo. Às sete e trinta, ele partiu para o cartório cheio de expectativas. Raul chegou ansioso no balcão do cartório e, sem hesitar, explicou a situação para o atendente. Com pouca burocracia, o funcionário adentrou o interior do cartório, voltou com um documento e entregou a Raul. Ele olhou e respirou fundo, com o semblante carregado de emoção. Saiu do local e se dirigiu de imediato ao escritório do advogado. “Que bom que o s
Nessa ocasião, Felícia sentia um misto de sentimentos: raiva, tristeza, alívio. Se ela não estivesse tão sensibilizada com a ruína da mulher em sua frente, já teria lhe esbofeteado sem piedade. Ludmila continuava a desabafar:“Ele estava bêbado, não lembraria de nada daquela noite que me deixou em casa. Eu já estava grávida de outro homem e premeditei aquela história só para ele assumir meu filho.”Felícia balançava a cabeça em reprovação ao desabafo da mulher.“Que Deus tenha piedade de você, Ludmila.” “Eu fui pervertida e depravada, estou pagando cruelmente por tudo que fiz. Não quero morrer com esse pecado, preciso que me perdoe para eu partir em paz.”Ludmila soltou uma lágrima genuína e clamou:“Por favor, me perdoe por todo mal que lhe causei.” Felícia suspirou fundo e respondeu:“Eu te perdoo, Ludmila, espero que você encontre a paz.” “Muito obrigada! Espero que você seja feliz com a sua família.”Felícia perdoou a mulher e se foi, sentindo um tremendo alívio na alma por s
Depois, revelou com entusiasmo:“Mãe, eu encontrei meu testamento!” Dona Quitéria deu um tremendo suspiro e cruzou os dedos em um gesto de agradecimento. “Que notícia maravilhosa, meu filho! E agora? O que vai acontecer?” “Entreguei o documento para o advogado, agora é só esperar a audiência. Ele me pediu três testemunhas: a senhora e mais duas que participaram do caso.”“Vamos conseguir, meu filho.”Bibiana perguntou:“Você vai passar a noite de Natal com a gente, irmão?”“Prometi a Felícia que iria passar o Natal com a família dela. Agradeço o convite, Bibiana.”Raul almoçou com a família. À tarde, saiu para o centro da cidade. Entrou em uma loja de carros e escolheu um modelo não muito caro. Ficou de retornar para pagar o carro com o dinheiro do médico. Conforme tinha combinado com o médico, ele passou no hospital. O médico estava na recepção, carrancudo e com uma aparência fria, esperando com dois cheques em mãos.Ele se aproximou com compostura e fisionomia intim
“Como você sabe disso? Quem te falou isso?”“A própria Ludmila, eu a encontrei no hospital hoje, aqui em Santa Rita. Ela revelou que te enganou, que nunca dormiu com você. Ela já estava grávida de outro homem quando você passou a noite embriagado na casa dela.”Raul sentia ódio com a revelação da mulher. Ele serrava o punho com um olhar de indignação e raiva.“Ela vai me pagar.” Murmurou entre os dentes serrados.“Sim, ela já está pagando. Com certeza, em pouco tempo estará debaixo da terra.”“Como é que é?” Felícia relatou toda conversa que teve com Ludmila e sua situação atual.“Lamentável! Ela teve o que merecia. Espero que tenha se arrependido de verdade.”Ele olhou firme para ela e continuou a insistir:“Fui um idiota, me perdoe! Agora que você já sabe a verdade, podemos nos entender?”“Raul, você não foi só um idiota, você me magoou demais. Foi muito sofrido o tempo que passei ao seu lado naquela fazenda.”“Eu sinto muito! Já te pedi perdão um milhão de vezes. Por favor, vamos
“Do dia que você veio me buscar aqui e me encontrou dormindo na minha cama de solteira.” “Não somos solteiros. Temos um filho, esqueceu?”“Isso não impede a gente de namorar e realizar nossas fantasias de solteiros. Você vai ou não vai?”Ele soltou um riso, fingindo estar envergonhado. Mordia os lábios com as loucuras da mulher. “Está bem. Mas rapidinho e sem fazer barulho, pra ninguém descobrir e nem acordar o bebê.”Os dois saíram sorrateiramente pelo corredor, com leves passos no piso de madeira. Trancaram-se no antigo quarto de Felícia e realizaram loucuras de amor na cama de solteira dela, do jeito que ela sonhou. Depois de vinte e cinco minutos, retiraram-se em silêncio, nas pontas dos pés novamente.Após alguns dias de festividades na terra natal, a família retornou para a casa na capital no carro novo de Raul.[...]Dois meses depois, chegou o dia da audiência de Raul. Dona Quitéria, uma amiga de longa data que trabalhou na fazenda do Barão e uma prima das filhas do Barão t
Era um dia festivo na Fazenda Bela Vista. Felícia, a filha caçula do fazendeiro Dante Molina, estava completando dezoito anos. A família e alguns amigos da jovem comemoravam com uma festa simples, mas com bastante música, comida e alegria. “Amiga, você está linda!” Elogiou Sarah, melhor amiga de Felícia. Desde a infância as duas compartilhavam os melhores momentos da vida juntas. Elas tinham a mesma idade, estudavam na mesma escola desde o primário e estavam quase terminado o colegial. Conversavam sobre tudo e às vezes Sarah dormia na casa da amiga, elas se consideravam irmãs. “Deixa eu colocar mais base, vai te dar mais brilho... Pronto! Agora só falta arranjar um fazendeiro rico.” “Já falei, não quero namorar com ninguém agora”, respondeu Felícia revirando os olhos. “Tudo bem! Só toma cuidado para não ficar donzela.” “Prefiro ficar donzela do que casar com esses homens daqui de Santa Rita.” “Agora vamos descer? Todos estão esperando para os parabéns.” [...]
No final do ano, a cidade de Santa Rita festejava a festa da padroeira. Felícia, o seu irmão Dionísio e sua cunhada Isla participavam das comemorações em uma tarde de domingo. “Vou procurar Sarah”, comunicou Felícia ao seu irmão mais velho. “Vá, mas volte logo!” Ela saiu no meio da multidão em direção a padaria da família de sua amiga. Raul, que também participava da festividade, avistou a bela jovem de longe. Quase que hipnotizado, contemplava a postura séria e elegante da donzela. Felícia exibia uma aparência decente, trajava um vestido azul-marinho cintado um pouco acima dos joelhos, com botões na frente que firmava um discreto decote. Tinha cabelos castanhos longos, ondulados e bem tratados. Sua face era graciosa, caprichada em uma maquiagem leve e discreta, usava um sapato preto scarpin de salto médio. Obstinado, ele deixou os amigos e caminhou apressadamente atrás da moça. Em um tom educado e respeitoso, ele pronunciou: “Senhorita Felícia, espere!” Ela parou e