― Ah, certo. Eu vi um tubo de pomada na mesa. Quem te deu? ―Deirdre colocou lenha no fogão e disse:― Um rapaz, negro e alto. ―― Hoyt? ―― Isso! ―A expressão da senhora Cox se transformou em um olhar desconfiado, enquanto dizia:― Eu sei que ele não teria um remédio desse em casa. Diga-me que ele não foi até a farmácia no centrinho, só porque te conheceu ontem, quando você torceu o pé? ―Deirdre assentiu, hesitou por um momento e perguntou:― Acho que foi isso. Por quê? ―― Não temos carros na aldeia, então ele deve ter ido com a moto para chegar ao centrinho, que não é nada perto e o caminho está todo esburacado... gasta um bom tempo. De qualquer forma, não há nada importante acontecendo por lá. O que você acha? ―Deirdre não sabia o que pensar e, vendo o constrangimento da jovem, a mulher deu um sorriso malicioso e concluiu:― Hoyt se apaixonou por você. ―Era um tanto absurdo para Deirdre, e ela disse:― Como isso pode ser possível? Ele é apenas um bom rapaz. ―― Nã
Deirdre enfiou o casaco nas mãos de Hoyt e disse, com calma:― Este foi um presente de alguém, para mim. No entanto, não pretendo mais usá-lo, porque, como diz o ditado ‘longe dos olhos, longe da mente. Seria ótimo se você pudesse cuidar disso para mim também. Se você realmente acha que é demais, pode pegar 70% do lucro da venda e dar os 30% restantes para a senhora Cox. ―Hoyt ainda queria recusar, mas Deirdre insistiu:― Pense nisso como um favor para mim. Tudo bem? ―Hoyt não conseguiu recusar novamente. Ele dobrou o casaco e disse, em um tom de voz suave:― No entanto, eu não quero nada. Vou te ajudar a vender a roupa e ponto final. Você é uma garota e precisa de algum dinheiro. Você pode usá-lo para comprar coisas para si mesma. ―Deirdre sorriu, mas não fez mais comentários. Ela descobriria uma maneira de dar o dinheiro para Hoyt, quando chegasse o momento.Hoyt sentiu o coração disparar, assim que viu o sorriso da jovem. Ele abaixou a cabeça ainda mais instantaneamente po
― Desculpe, mas assim que encontrar qualquer coisa, não hesite em nos informar. ― Declan entregou fotos de Deirdre para o homem e saiu com Kyran.O olhar de Kyran voltou-se para a direção da motocicleta e isso levou Declan a perguntar:― O que há de errado? ―Ele desviou o olhar.― Nada. ―Ele se sentia vazio. Não descansar o suficiente apenas exacerbou sua inquietação e, frequentemente, parecia uma casca sem alma, com um rosto pálido e sem vida.Declan não podia mais observar seu amigo se deteriorar daquela maneira.― Você tem que parar de me acompanhar, eu acho. Você acabou de se recuperar e... agora é o momento crítico e fundamental para sua recuperação. ―― Eu não consigo ― Kyran respondeu, com franqueza. Apenas o pensamento de que Deirdre poderia ter caído do penhasco e morrido partia seu coração. ― Não sei se ela está viva ou morta! Mesmo se ela estivesse morta... Mesmo se ela estivesse morta, eu iria embora apenas depois de ver seu corpo sem vida, bem na minha frente! ―
A mulher seguia o filho sem que este percebesse. Ele caminhava distraído e alegre, carregando dinheiro no bolso, até quase o final do vilarejo, no canto mais íngreme da encosta, quando parou na porta da senhora Cox.Hoyt notou imediatamente Deirdre, que secava ervas do lado de fora da porta. Ele caminhou em direção a ela e a cumprimentou:― Ei, bom dia! ―A jovem ergueu a cabeça ao ouvir a voz do rapaz:― Bom dia, Hoyt! ―O rapaz coçou a cabeça e tirou todo o dinheiro do bolso, enfiando as notas nas mãos da jovem.― Aqui estão os 300 dólares que consegui com a venda do seu casaco. ―Deirdre pegou 100 dólares e deu o resto para Hoyt.― Aqui. O restante é seu, você mereceu isso. ―― Mereci o quê? ― Hoyt gaguejou e suspirou. ― Eu não fiz nada para merecer isso! ―― Como, não fez nada? Você me ajudou muito. Você merece isso. ― Deirdre enfiou o dinheiro nas mãos dele e seu tom era sincero. ― Foi você quem me ajudou com meus ferimentos e foi você quem teve que fazer longas viagens,
A persistência obstinada se estabeleceu no rosto de Hoyt.― Você quer dizer que vamos obter nossa glória e fortuna em troca da miséria e do sofrimento de outra pessoa, mãe? Eu não vou conseguir sobreviver a isso! Não importa o quão bom pareça, não quero usar ninguém como degrau! ―― Moleque estúpido! ― Madame Leigh se segurava de vontade de bater no próprio filho quando um pensamento passou por sua mente. Cambaleando em realização, ela voltou para Hoyt, com descrença em seus olhos. ― Seja franco comigo. Hoyt Leigh, você se apaixonou por aquela jovem? ―As pontas das orelhas de Hoyt ficaram escarlates e ele ficou confuso. Do jeito que as pessoas ficam quando seu segredo mais íntimo é revelado. Qualquer um teria percebido os sentimentos do rapaz, mas para uma mãe, a situação ficou ainda mais óbvia:―Você perdeu a cabeça, filho!? Quem você pensa que é e quem você pensa que ela é? Você não pode se apaixonar por ela! ―Hoyt estava quieto.― Mas aconteceu... eu estou. Não que você prec
A senhora Cox ficou igualmente surpresa ao vê-la fora do quarto àquela hora.― Você não acordou muito cedo, querida? Tendo problemas para dormir? ―― Acabei de me levantar. Estou com um pouco de sede. ―― Bem, deixe-me pegar um copo de água para você ― disse a gentil mulher, servindo um copo para ela, antes de olhar para a chuva lá fora. ― Droga, está chovendo de novo. ― Ela suspirou. ― As estradas vão ficar molhadas e escorregadias. Sempre acontece algum acidente. ―Deirdre tomou um gole, enquanto comentava:― Você deveria ficar em casa hoje, senhora Cox. Você pode se machucar se sair, apesar de já estar acostumada. Eu tenho 100 dólares que você poderia usar. ―― Oh não. Caramba, não. Você não pode ver bem, não é fácil para você conseguir um emprego e você não pode se dar ao luxo de não ter dinheiro com você. Você não pode comprar nada, se não tiver dinheiro! ― A caridosa mulher protestou. ― Tudo o que você tem usado esses dias são minhas roupas velhas. Não importa se você é a p
― Claro que não foi, mas... É diferente para ele. Ele direciona tudo para si mesmo, pensando que se pudesse ter agido melhor, de alguma forma, a garota de seu amor não teria acabado com o homem mais velho. Quanto mais ele pensava remoía aquilo mais abaixava a cabeça e simplesmente... não conseguia endireitar a coluna e não mais olhar para frente. ―A pena coloriu os olhos de Deirdre.― O dinheiro é o diabo, não é? Você pode fazer o que quiser quando for rico, mas se não for, tem que passar a vida inteira se esfalfando. ―A senhora Cox continuou.― É por isso que fico feliz em ver Hoyt alegre quando ajuda você. Talvez vocês não namorem, mas isso não importa. O que importa é que você o tirou das sombras. Esse é o objetivo desses relacionamentos, não é? Esquecer a dor do último é uma benção. Encontrar uma nova pessoa para tentar novamente é outra. ―Como se o clima variasse com o tom da conversa, a chuva parou.Como ainda era madrugada, a senhora Cox voltou a dormir, enquanto Deirdr
Depois de um tempo, pegando estradas ora melhores ora piores, Deirdre e Hoyt finalmente chegaram ao seu destino e, embora nenhum deles esperasse, uma multidão o lugar estava tão lotado que para não ter dificuldade na hora de estacionar o veículo, preferiram descer da motocicleta e terminar o restante do trajeto a pé.Hoyt não parava de repetir, a cada centena de metros que percorriam:― Por favor, siga-me de perto. Não se perca no meio do povo! ―O rapaz falava com tanta insistência que a jovem começou a ficar incomodada e se defendeu:― Mas, que exagero! Eu sou uma mulher adulta, você sabia? Não me trate como criança. ―Hoyt se virou e encontrou um belíssimo sorriso gentil. Suas bochechas queimaram de vergonha e ele teve que se esforçar para responder sem gaguejar.― Eu... eu não quis dizer... eu quis dizer, você não está familiarizada com o centrinho e seus olhos não são muito bons, então, se você se perder, não saberá onde me encontrar! ―― Vai ficar tudo bem. Se eu me perder