A mulher seguia o filho sem que este percebesse. Ele caminhava distraído e alegre, carregando dinheiro no bolso, até quase o final do vilarejo, no canto mais íngreme da encosta, quando parou na porta da senhora Cox.Hoyt notou imediatamente Deirdre, que secava ervas do lado de fora da porta. Ele caminhou em direção a ela e a cumprimentou:― Ei, bom dia! ―A jovem ergueu a cabeça ao ouvir a voz do rapaz:― Bom dia, Hoyt! ―O rapaz coçou a cabeça e tirou todo o dinheiro do bolso, enfiando as notas nas mãos da jovem.― Aqui estão os 300 dólares que consegui com a venda do seu casaco. ―Deirdre pegou 100 dólares e deu o resto para Hoyt.― Aqui. O restante é seu, você mereceu isso. ―― Mereci o quê? ― Hoyt gaguejou e suspirou. ― Eu não fiz nada para merecer isso! ―― Como, não fez nada? Você me ajudou muito. Você merece isso. ― Deirdre enfiou o dinheiro nas mãos dele e seu tom era sincero. ― Foi você quem me ajudou com meus ferimentos e foi você quem teve que fazer longas viagens,
A persistência obstinada se estabeleceu no rosto de Hoyt.― Você quer dizer que vamos obter nossa glória e fortuna em troca da miséria e do sofrimento de outra pessoa, mãe? Eu não vou conseguir sobreviver a isso! Não importa o quão bom pareça, não quero usar ninguém como degrau! ―― Moleque estúpido! ― Madame Leigh se segurava de vontade de bater no próprio filho quando um pensamento passou por sua mente. Cambaleando em realização, ela voltou para Hoyt, com descrença em seus olhos. ― Seja franco comigo. Hoyt Leigh, você se apaixonou por aquela jovem? ―As pontas das orelhas de Hoyt ficaram escarlates e ele ficou confuso. Do jeito que as pessoas ficam quando seu segredo mais íntimo é revelado. Qualquer um teria percebido os sentimentos do rapaz, mas para uma mãe, a situação ficou ainda mais óbvia:―Você perdeu a cabeça, filho!? Quem você pensa que é e quem você pensa que ela é? Você não pode se apaixonar por ela! ―Hoyt estava quieto.― Mas aconteceu... eu estou. Não que você prec
A senhora Cox ficou igualmente surpresa ao vê-la fora do quarto àquela hora.― Você não acordou muito cedo, querida? Tendo problemas para dormir? ―― Acabei de me levantar. Estou com um pouco de sede. ―― Bem, deixe-me pegar um copo de água para você ― disse a gentil mulher, servindo um copo para ela, antes de olhar para a chuva lá fora. ― Droga, está chovendo de novo. ― Ela suspirou. ― As estradas vão ficar molhadas e escorregadias. Sempre acontece algum acidente. ―Deirdre tomou um gole, enquanto comentava:― Você deveria ficar em casa hoje, senhora Cox. Você pode se machucar se sair, apesar de já estar acostumada. Eu tenho 100 dólares que você poderia usar. ―― Oh não. Caramba, não. Você não pode ver bem, não é fácil para você conseguir um emprego e você não pode se dar ao luxo de não ter dinheiro com você. Você não pode comprar nada, se não tiver dinheiro! ― A caridosa mulher protestou. ― Tudo o que você tem usado esses dias são minhas roupas velhas. Não importa se você é a p
― Claro que não foi, mas... É diferente para ele. Ele direciona tudo para si mesmo, pensando que se pudesse ter agido melhor, de alguma forma, a garota de seu amor não teria acabado com o homem mais velho. Quanto mais ele pensava remoía aquilo mais abaixava a cabeça e simplesmente... não conseguia endireitar a coluna e não mais olhar para frente. ―A pena coloriu os olhos de Deirdre.― O dinheiro é o diabo, não é? Você pode fazer o que quiser quando for rico, mas se não for, tem que passar a vida inteira se esfalfando. ―A senhora Cox continuou.― É por isso que fico feliz em ver Hoyt alegre quando ajuda você. Talvez vocês não namorem, mas isso não importa. O que importa é que você o tirou das sombras. Esse é o objetivo desses relacionamentos, não é? Esquecer a dor do último é uma benção. Encontrar uma nova pessoa para tentar novamente é outra. ―Como se o clima variasse com o tom da conversa, a chuva parou.Como ainda era madrugada, a senhora Cox voltou a dormir, enquanto Deirdr
Depois de um tempo, pegando estradas ora melhores ora piores, Deirdre e Hoyt finalmente chegaram ao seu destino e, embora nenhum deles esperasse, uma multidão o lugar estava tão lotado que para não ter dificuldade na hora de estacionar o veículo, preferiram descer da motocicleta e terminar o restante do trajeto a pé.Hoyt não parava de repetir, a cada centena de metros que percorriam:― Por favor, siga-me de perto. Não se perca no meio do povo! ―O rapaz falava com tanta insistência que a jovem começou a ficar incomodada e se defendeu:― Mas, que exagero! Eu sou uma mulher adulta, você sabia? Não me trate como criança. ―Hoyt se virou e encontrou um belíssimo sorriso gentil. Suas bochechas queimaram de vergonha e ele teve que se esforçar para responder sem gaguejar.― Eu... eu não quis dizer... eu quis dizer, você não está familiarizada com o centrinho e seus olhos não são muito bons, então, se você se perder, não saberá onde me encontrar! ―― Vai ficar tudo bem. Se eu me perder
A moça fazia um péssimo trabalho em esconder como tinha sido pega de surpresa com a intromissão de Deirdre e não sabia como responder:― Nós não estamos, tipo... nos falando mais! ―― Mas, você não disse que se separaram, disse? Por que você não responde à pergunta de maneira direta? ―A indignação da moça se transformou em raiva.― E por que eu devo dar satisfações a você? Não se meta onde não foi chamada! ―― Mas, ela tem um bom ponto, Selma. ― Hoyt falou, de repente. Uma frieza calma tinha substituído sua insegurança. ― Você e o Sach estão separados? ―A moça não soube responder. À medida que seu silêncio crescia, a fria suspeita de Hoyt se transformou em um silencioso desapontamento.― Então o que você quer com isso? Você quer se aproveitar dos meus mimos, enquanto vende seu corpo para o ricaço? Você quer me usar, como usa ele? Faça-me o favor... ―― Eu não estava tentando fazer nada! ―― Não? Então me explica por que você me pediu que recomeçássemos quando ainda está env
O rosto de Hoyt ainda estava tenso quando ele saiu da loja e, preocupada, Deirdre perguntou:― Você está bem? ―Ele enxugou um pouco de suor do rosto e disse, com timidez:― Sinto muito, Deirdre. O objetivo era comprar algumas roupas para você, mas acabei te arrastando para meu drama e fiz você assistir a toda aquela cena embaraçosa. ―― Bobagem ― Deirdre respondeu, tranquilizadora e retribuiu com um pequeno sorriso. ― Não teve nada de constrangedor nisso. É assim que os relacionamentos são, dramáticos e complicados. ―Assim como o dela. Ninguém saberia o quanto tinha passado por um homem. Tinha se submetido, voluntariamente, a ser uma impostora, por dois anos, depois aceitou ser encarcerada, quando foi desfigurada, cega e perdeu a criança que tanto queria trazer ao mundo. A história de seu relacionamento era a pior de todas.― Quer um conselho? ― ela disse. ― Às vezes, culpar-se por tudo o que aconteceu apenas o impede de seguir em frente quando deveria. ―Hoyt corou e assentiu
― Deirdre... ―Hoyt reuniu coragem e interveio:― Você não ouviu o que ela disse? Ela quer que você vá embora! ―Os olhos de Kyran se tornaram duros e ele digitou:― Isso é entre Deirdre e eu. Por favor, não se intrometa em nossos assuntos. ―Ele conseguiu mostrar o exterior da cortesia, mas a energia que emanava traía uma aura inflexível e dominadora, determinada a garantir que ninguém pudesse olhá-lo nos olhos.Era muito para Hoyt, um caipira do interior, sem contato com os ricos e poderosos, suportar. Qualquer pequena confiança que ele tinha estava implodindo rapidamente, mas estava teimosamente pregado no chão entre Deirdre e Kyran.― Tudo o que sei é que Deirdre não quer falar com você e isso me basta. ―― Dez minutos é tudo que eu preciso, então, por favor, afaste-se ― digitou Kyran. Ele estava furioso. ― Mova-se ou vou ter que te tirar da minha frente. ―Deirdre sentiu que a situação fugiria do controle se ela se mantivesse em silêncio e se resignou:― O que você quer,