As atitudes do sequestrador eram despreocupadas quando a polícia perguntou sobre o local do incidente, mas ele ficou com uma raiva sem precedentes quando Deirdre foi trazida à tona:― Aquela vadia! Ela me ferrou! Quase morri naquele galpão! ―― Cuidado com as palavras! ― O detetive bateu na mesa e perguntou: ― O que você quer dizer com ‘você quase morreu no galpão’? ―O homem apontou para sua cabeça:― Você pode ver isso? Esta ferida grave é toda culpa dela! Ela me atingiu com um tijolo e quase perdi a consciência. Eu não teria sobrevivido se não fosse pelo meu bom físico. ―― Onde está Deirdre? ―― Ela fugiu! ― O homem ficou furioso e zombou. ― No entanto, vi com meus próprios olhos quando ela correu e caiu da encosta. Eu nem consegui estender a mão e agarrá-la. Suponho que possamos dizer que ela mereceu. Afinal, o que uma pessoa cega pretendia, descendo a montanha correndo? Se ao menos ela tivesse ficado quietinha... ― O homem de repente parou de falar e sorriu.O detetive fra
― Deirdre, vou procurar comida na montanha. Vá colher alguns legumes no quintal para comermos quando eu voltar. ―― Está bem. ― A jovem assentiu. Então, segurou o batente da porta e fechou os olhos confortavelmente sob a luz do sol. Já fazia três dias que ela vivia seguindo rigorosamente uma rotina.As feridas em suas mãos ainda não tinham começado a cicatrizar, mas os arranhões em seu corpo estavam começando a desaparecer.Ela acreditava que a dor penetrante que irradiava de suas palmas ocasionalmente diminuiria, em mais alguns dias e parecia que a vida havia voltado ao normal, como antes de conhecer Kyran.Ela carregou a cesta e caminhou com segurança até o quintal. A visão diante de seus olhos escurecia com frequência, então ela não conseguia ver o caminho com a nitidez que gostaria, por isso, tentava sempre fazer os caminhos de memória, como quando era cega.Ela colhia verduras no quintal, mas, antes que pudesse enxer a cesta, um par de mãos enormes se estendeu para ela.― De
― Tudo bem, muito obrigada. ―Hoyt queria dizer algo mais, mas se conteve. Ele pretendia somente ser educado, dizendo ‘não tem de quê’ mas se sentiu tímido e não conseguiu encontrar as palavras, por isso, apenas foi para casa. Mas, murmurou assim que chegou em sua morada:― Mãe, onde está a moto? ―― Por quê, filho? Aconteceu alguma coisa? ― Madame Leigh saiu da cozinha, enxugando as mãos no avental. ― Aonde você vai a uma hora dessas? ―Hoyt disse:― Não é nada demais, só lembrei que preciso passar ali no centrinho para pegar umas coisas. Cadê a moto? ―― Está ali no fundo, no coberto. Parece que vai chover forte esta noite, então quando voltar, guarda de novo para evitar que enferruje.Hoyt assentiu e foi pegar o veículo.Madame Leigh disse antes de ele sair:― Volte para casa logo! Chame seu pai na entrada da vila também, enquanto você estiver lá, para que ele possa voltar para casa para jantar mais cedo! ―― Certo! ―Acelerando forte e pulando os buracos, o rapaz foi em
― Ah, certo. Eu vi um tubo de pomada na mesa. Quem te deu? ―Deirdre colocou lenha no fogão e disse:― Um rapaz, negro e alto. ―― Hoyt? ―― Isso! ―A expressão da senhora Cox se transformou em um olhar desconfiado, enquanto dizia:― Eu sei que ele não teria um remédio desse em casa. Diga-me que ele não foi até a farmácia no centrinho, só porque te conheceu ontem, quando você torceu o pé? ―Deirdre assentiu, hesitou por um momento e perguntou:― Acho que foi isso. Por quê? ―― Não temos carros na aldeia, então ele deve ter ido com a moto para chegar ao centrinho, que não é nada perto e o caminho está todo esburacado... gasta um bom tempo. De qualquer forma, não há nada importante acontecendo por lá. O que você acha? ―Deirdre não sabia o que pensar e, vendo o constrangimento da jovem, a mulher deu um sorriso malicioso e concluiu:― Hoyt se apaixonou por você. ―Era um tanto absurdo para Deirdre, e ela disse:― Como isso pode ser possível? Ele é apenas um bom rapaz. ―― Nã
Deirdre enfiou o casaco nas mãos de Hoyt e disse, com calma:― Este foi um presente de alguém, para mim. No entanto, não pretendo mais usá-lo, porque, como diz o ditado ‘longe dos olhos, longe da mente. Seria ótimo se você pudesse cuidar disso para mim também. Se você realmente acha que é demais, pode pegar 70% do lucro da venda e dar os 30% restantes para a senhora Cox. ―Hoyt ainda queria recusar, mas Deirdre insistiu:― Pense nisso como um favor para mim. Tudo bem? ―Hoyt não conseguiu recusar novamente. Ele dobrou o casaco e disse, em um tom de voz suave:― No entanto, eu não quero nada. Vou te ajudar a vender a roupa e ponto final. Você é uma garota e precisa de algum dinheiro. Você pode usá-lo para comprar coisas para si mesma. ―Deirdre sorriu, mas não fez mais comentários. Ela descobriria uma maneira de dar o dinheiro para Hoyt, quando chegasse o momento.Hoyt sentiu o coração disparar, assim que viu o sorriso da jovem. Ele abaixou a cabeça ainda mais instantaneamente po
― Desculpe, mas assim que encontrar qualquer coisa, não hesite em nos informar. ― Declan entregou fotos de Deirdre para o homem e saiu com Kyran.O olhar de Kyran voltou-se para a direção da motocicleta e isso levou Declan a perguntar:― O que há de errado? ―Ele desviou o olhar.― Nada. ―Ele se sentia vazio. Não descansar o suficiente apenas exacerbou sua inquietação e, frequentemente, parecia uma casca sem alma, com um rosto pálido e sem vida.Declan não podia mais observar seu amigo se deteriorar daquela maneira.― Você tem que parar de me acompanhar, eu acho. Você acabou de se recuperar e... agora é o momento crítico e fundamental para sua recuperação. ―― Eu não consigo ― Kyran respondeu, com franqueza. Apenas o pensamento de que Deirdre poderia ter caído do penhasco e morrido partia seu coração. ― Não sei se ela está viva ou morta! Mesmo se ela estivesse morta... Mesmo se ela estivesse morta, eu iria embora apenas depois de ver seu corpo sem vida, bem na minha frente! ―
A mulher seguia o filho sem que este percebesse. Ele caminhava distraído e alegre, carregando dinheiro no bolso, até quase o final do vilarejo, no canto mais íngreme da encosta, quando parou na porta da senhora Cox.Hoyt notou imediatamente Deirdre, que secava ervas do lado de fora da porta. Ele caminhou em direção a ela e a cumprimentou:― Ei, bom dia! ―A jovem ergueu a cabeça ao ouvir a voz do rapaz:― Bom dia, Hoyt! ―O rapaz coçou a cabeça e tirou todo o dinheiro do bolso, enfiando as notas nas mãos da jovem.― Aqui estão os 300 dólares que consegui com a venda do seu casaco. ―Deirdre pegou 100 dólares e deu o resto para Hoyt.― Aqui. O restante é seu, você mereceu isso. ―― Mereci o quê? ― Hoyt gaguejou e suspirou. ― Eu não fiz nada para merecer isso! ―― Como, não fez nada? Você me ajudou muito. Você merece isso. ― Deirdre enfiou o dinheiro nas mãos dele e seu tom era sincero. ― Foi você quem me ajudou com meus ferimentos e foi você quem teve que fazer longas viagens,
A persistência obstinada se estabeleceu no rosto de Hoyt.― Você quer dizer que vamos obter nossa glória e fortuna em troca da miséria e do sofrimento de outra pessoa, mãe? Eu não vou conseguir sobreviver a isso! Não importa o quão bom pareça, não quero usar ninguém como degrau! ―― Moleque estúpido! ― Madame Leigh se segurava de vontade de bater no próprio filho quando um pensamento passou por sua mente. Cambaleando em realização, ela voltou para Hoyt, com descrença em seus olhos. ― Seja franco comigo. Hoyt Leigh, você se apaixonou por aquela jovem? ―As pontas das orelhas de Hoyt ficaram escarlates e ele ficou confuso. Do jeito que as pessoas ficam quando seu segredo mais íntimo é revelado. Qualquer um teria percebido os sentimentos do rapaz, mas para uma mãe, a situação ficou ainda mais óbvia:―Você perdeu a cabeça, filho!? Quem você pensa que é e quem você pensa que ela é? Você não pode se apaixonar por ela! ―Hoyt estava quieto.― Mas aconteceu... eu estou. Não que você prec