Brendan perguntou, mas não houve resposta de Deirdre. Mesmo que a jovem fingisse, o homem percebia que ela ainda estava acordada, então se inclinou, ficando bem próximo do ouvido dela e sussurrou:― Foi minha culpa desapontá-la. Eu arruinei sua vida e tudo nela. Se eu pudesse fazer tudo de novo, gostaria de ficar com a criança e pedir para você ficar. No entanto, não posso voltar no tempo, então, por favor, me dê uma chance de expiar meus erros. Se você ainda quiser ir embora depois de se reencontrar com Ophelia, lhe darei a liberdade de fazê-lo. ― Ao dizer isso, colocou uma coberta sobre Deirdre, passou a mão nos cabelos sedosos da jovem e saiu do quarto. Deirdre abriu os olhos, sentindo seus batimentos cardíacos tão violentos, que ela era capaz de ouvir. Na manhã seguinte, Brendan recebeu algumas informações da empresa. Um dos projetos de desenvolvimento do turismo enfrentava alguns problemas e Brendan era necessário que se encontrasse com os sócios e parceiros, com urgên
Brendan não tentou segurar a mão de Deirdre de novo, mas, apesar de sua expressão estar confusa, dessa vez não havia raiva, quando perguntou:― O que aconteceu? ― Deirdre respirou fundo.― Você não percebe? Eu não gosto mais de estar em público. Tente se colocar em meu lugar. Se você tivesse a mesma aparência que eu, ainda gostaria de sair para ser ridicularizado pelos outros? Mesmo que eu esteja acostumada com isso, ainda não vou me expor em situações assim de boa vontade. ― Deirdre não apenas se surpreendeu ao fazer o comentário, mas também se perguntou se teria enlouquecido. ‘Como ouso contar a Brendan meus pensamentos mais íntimos e resistir a ele? Ele sempre quis que eu fosse obediente e submissa.' Afinal, era a única maneira de Brendan não prejudicar a pessoa com quem ela mais se importava, sua mãe, Ophelia. Como esperado, a atmosfera no quarto se tornou opressiva e sombria, abruptamente. O rosto de Deirdre ficou ligeiramente pálido e ela estava prestes a se explic
Quando a mulher terminou de falar, foi direto para o banheiro. O funcionário soltou uma tosse ao perceber que Deirdre ainda estava sentada no mesmo lugar distraidamente e, percebendo que, nem assim, a jovem reagia, o rapaz disse:― Senhorita, como você trabalha para o senhor Brighthall, isso significa que você não é tola. Você deve entender a situação e sair. Há um sofá no saguão, do lado de fora, e quando terminar, o senhor Brighthall o deixará voltar para a sala. ― 'Entender o quê? Que Brendan se interessou por uma mulher e que eles vão transar enquanto eu aguardo esquecida na entrada do hotel?' Deirdre sentiu náuseas e todo seu corpo se retraiu. Ela se apoiou no sofá e se levantou. Mas, se aquela era a escolha de Brendan, ela não tinha o direito de ficar ressentida. Afinal, ela não era nada para ele. Ela saiu pela porta sentindo a parede e suas ações surpreenderam o funcionário.― Você é cega? ― Deirdre não respondeu ao funcionário, mas continuou a acompanhar a pare
O tombo tinha machucado bastante. Doeu tanto que somado à chuva e ao frio, fazia todo o corpo de Deirdre tremer. Mas, a jovem não queria ceder e desanimar, por isso, conteve a vontade de chorar. Quando estava na prisão havia aprendido que suas lágrimas eram inúteis. A chuva parou de cair sobre Deirdre e uma voz gentil de mulher disse:― Você está bem? Você está sozinha na chuva. O que está acontecendo? ― Deirdre se virou na direção da voz e a mulher ficou atordoada, perguntando, surpresa:― Você não pode ver? ― Os olhos de Deirdre eram desfocados e vazios, o que era um sinal óbvio de uma pessoa cega. A mulher não pôde deixar de suspirar. O que uma pessoa cega fazia sozinha na chuva e à noite? ― É quase inverno e o tempo hoje não está muito bom. Está muito frio. O que a trouxe aqui nas montanhas? ― Antes que Deirdre pudesse responder, alguém chamou a mulher e ela atendeu. Então, enfiou um guarda-chuva nas mãos de Deirdre. ― Sinto muito, eu preciso ir. Acredito que vo
A mulher olhou para Brendan com olhos sedutores, como uma rosa prestes a florescer e a expressão de Brendan ficou gelada instantaneamente. Ele emanava uma presença maligna e agourenta.― Quem é você? Quem deixou você entrar no meu quarto? ― A mulher ficou tão assustada que se levantou apressadamente da cama.― Senhor. Brighthall... Por favor, não fique com raiva. Foi o senhor Gull... Ele quer fazer parte desse projeto de turismo, então me mandou aqui para agradá-lo. ― ― Saia do meu quarto, agora mesmo! ― Brendan falou, com os dentes cerrados. Ele achou o cheiro do óleo de fragrância na sala tão pungente que ficou enjoado. Então puxou o lençol para longe da cama. Ele se recusou a dar uma segunda olhada em qualquer coisa que a mulher tinha tocado. ― Vou garantir que você deseje estar morta, se não for embora imediatamente! ― O belo rosto da mulher tornou-se medonho. Ela não estava vestida adequadamente, mas não teve coragem de enrolar, pedindo para colocar as roupas. Entã
'Eu não teria ido à festa se soubesse que uma merda dessas iria acontecer.' Percebendo que Brendan não poderia ser parado, o gerente do hotel ordenou que um guarda-costas o seguisse. O empresário abriu a porta e correu para a chuva. Seu corpo ficou encharcado em apenas alguns instantes sob a chuva torrencial. A força do vento e o frio da montanha tornavam cata gota em um pequeno canivete, que dava à sensação de cortar a pele, impiedosamente.Perceber isso deixou Brendan completamente apavorado. ― Deirdre! Deirdre! Apareça! ― O homem a procurou em todos os lugares. Inicialmente, presumiu que não seria capaz de localizá-la em menos de uma hora, mas, isso foi completamente diferente do que aconteceu, pois, no horizonte, uma pequena estrutura chamou sua atenção e ele correu algumas dezenas de metros, encontrando Deirdre parada na rodoviária. Ela segurava um guarda-chuva para se proteger da chuva. Mas, apesar da proteção, seu corpo inteiro estava encharcado devido ao vento f
Quase sem visibilidade, em uma pista sinuosa, em uma encosta de montanha, Brendan só podia dirigir lentamente, mas Deirdre já havia perdido a consciência. Seu rosto tinha deixado o tom pálido azulado e agora tinha um perigoso brilho febril. Ela chamava pela mãe, em seu estado de semiconsciência. Mesmo quando estava quase morta, a primeira coisa na mente de Deirdre ainda era Ophelia. Mas, Brendan não sentia ciúmes, porque Ophelia era tudo para Deirdre. Ele só podia cerrar os dentes e confortá-la dizendo:― Espere, Deirdre. Você só poderá ver sua mãe se estiver consciente. Já se passou mais de um ano desde a última vez que você a encontrou. Você não quer viver uma vida boa? Você tem que superar isso, mesmo que esteja fazendo isso apenas por ela! ― No entanto, a situação sempre podia ficar pior e o motor do carro morreu. O carro não voltou a funcionar e o casal ficou preso, na metade da serra, debaixo da pesada chuva de granizo e, como o carro não queria mais ligar, o aquecedo
'Ela tem que viver.' Mesmo depois de ter sido convencido pelo homem grande e afável, de que fosse tomar banho, Brendan ainda se apegava nesse pensamento. Ele se arrependeria muito se Deirdre morresse. Ele experimentaria um colapso emocional e ficaria com o coração partido. No entanto, imaginava que ele e Deirdre teriam morrido juntos naquela noite chuvosa se o Land Rover não tivesse vindo em seu socorro em tempo hábil. 'Por que fui tão imprudente?' Depois de desligar a água quente, Brendan enxugou o rosto, saiu do chuveiro e vestiu roupas secas, também oferecidas pelo mesmo homem. Então, voltou para o quarto da unidade de tratamento intensivo e encontrou Deirdre sozinha e com a respiração regular. No entanto, ainda chamava pela mãe, mesmo em seus sonhos. Brendan planejava ir embora, quando ouviu Deirdre dizer, com voz fraca:― Viva, Brendan. Você tem que viver... ― Sua mente começou a queimar com uma imagem nítida de seu passado distante. Nessa lembrança, Brendan lutava pa