Quando a mulher terminou de falar, foi direto para o banheiro. O funcionário soltou uma tosse ao perceber que Deirdre ainda estava sentada no mesmo lugar distraidamente e, percebendo que, nem assim, a jovem reagia, o rapaz disse:― Senhorita, como você trabalha para o senhor Brighthall, isso significa que você não é tola. Você deve entender a situação e sair. Há um sofá no saguão, do lado de fora, e quando terminar, o senhor Brighthall o deixará voltar para a sala. ― 'Entender o quê? Que Brendan se interessou por uma mulher e que eles vão transar enquanto eu aguardo esquecida na entrada do hotel?' Deirdre sentiu náuseas e todo seu corpo se retraiu. Ela se apoiou no sofá e se levantou. Mas, se aquela era a escolha de Brendan, ela não tinha o direito de ficar ressentida. Afinal, ela não era nada para ele. Ela saiu pela porta sentindo a parede e suas ações surpreenderam o funcionário.― Você é cega? ― Deirdre não respondeu ao funcionário, mas continuou a acompanhar a pare
O tombo tinha machucado bastante. Doeu tanto que somado à chuva e ao frio, fazia todo o corpo de Deirdre tremer. Mas, a jovem não queria ceder e desanimar, por isso, conteve a vontade de chorar. Quando estava na prisão havia aprendido que suas lágrimas eram inúteis. A chuva parou de cair sobre Deirdre e uma voz gentil de mulher disse:― Você está bem? Você está sozinha na chuva. O que está acontecendo? ― Deirdre se virou na direção da voz e a mulher ficou atordoada, perguntando, surpresa:― Você não pode ver? ― Os olhos de Deirdre eram desfocados e vazios, o que era um sinal óbvio de uma pessoa cega. A mulher não pôde deixar de suspirar. O que uma pessoa cega fazia sozinha na chuva e à noite? ― É quase inverno e o tempo hoje não está muito bom. Está muito frio. O que a trouxe aqui nas montanhas? ― Antes que Deirdre pudesse responder, alguém chamou a mulher e ela atendeu. Então, enfiou um guarda-chuva nas mãos de Deirdre. ― Sinto muito, eu preciso ir. Acredito que vo
A mulher olhou para Brendan com olhos sedutores, como uma rosa prestes a florescer e a expressão de Brendan ficou gelada instantaneamente. Ele emanava uma presença maligna e agourenta.― Quem é você? Quem deixou você entrar no meu quarto? ― A mulher ficou tão assustada que se levantou apressadamente da cama.― Senhor. Brighthall... Por favor, não fique com raiva. Foi o senhor Gull... Ele quer fazer parte desse projeto de turismo, então me mandou aqui para agradá-lo. ― ― Saia do meu quarto, agora mesmo! ― Brendan falou, com os dentes cerrados. Ele achou o cheiro do óleo de fragrância na sala tão pungente que ficou enjoado. Então puxou o lençol para longe da cama. Ele se recusou a dar uma segunda olhada em qualquer coisa que a mulher tinha tocado. ― Vou garantir que você deseje estar morta, se não for embora imediatamente! ― O belo rosto da mulher tornou-se medonho. Ela não estava vestida adequadamente, mas não teve coragem de enrolar, pedindo para colocar as roupas. Entã
'Eu não teria ido à festa se soubesse que uma merda dessas iria acontecer.' Percebendo que Brendan não poderia ser parado, o gerente do hotel ordenou que um guarda-costas o seguisse. O empresário abriu a porta e correu para a chuva. Seu corpo ficou encharcado em apenas alguns instantes sob a chuva torrencial. A força do vento e o frio da montanha tornavam cata gota em um pequeno canivete, que dava à sensação de cortar a pele, impiedosamente.Perceber isso deixou Brendan completamente apavorado. ― Deirdre! Deirdre! Apareça! ― O homem a procurou em todos os lugares. Inicialmente, presumiu que não seria capaz de localizá-la em menos de uma hora, mas, isso foi completamente diferente do que aconteceu, pois, no horizonte, uma pequena estrutura chamou sua atenção e ele correu algumas dezenas de metros, encontrando Deirdre parada na rodoviária. Ela segurava um guarda-chuva para se proteger da chuva. Mas, apesar da proteção, seu corpo inteiro estava encharcado devido ao vento f
Quase sem visibilidade, em uma pista sinuosa, em uma encosta de montanha, Brendan só podia dirigir lentamente, mas Deirdre já havia perdido a consciência. Seu rosto tinha deixado o tom pálido azulado e agora tinha um perigoso brilho febril. Ela chamava pela mãe, em seu estado de semiconsciência. Mesmo quando estava quase morta, a primeira coisa na mente de Deirdre ainda era Ophelia. Mas, Brendan não sentia ciúmes, porque Ophelia era tudo para Deirdre. Ele só podia cerrar os dentes e confortá-la dizendo:― Espere, Deirdre. Você só poderá ver sua mãe se estiver consciente. Já se passou mais de um ano desde a última vez que você a encontrou. Você não quer viver uma vida boa? Você tem que superar isso, mesmo que esteja fazendo isso apenas por ela! ― No entanto, a situação sempre podia ficar pior e o motor do carro morreu. O carro não voltou a funcionar e o casal ficou preso, na metade da serra, debaixo da pesada chuva de granizo e, como o carro não queria mais ligar, o aquecedo
'Ela tem que viver.' Mesmo depois de ter sido convencido pelo homem grande e afável, de que fosse tomar banho, Brendan ainda se apegava nesse pensamento. Ele se arrependeria muito se Deirdre morresse. Ele experimentaria um colapso emocional e ficaria com o coração partido. No entanto, imaginava que ele e Deirdre teriam morrido juntos naquela noite chuvosa se o Land Rover não tivesse vindo em seu socorro em tempo hábil. 'Por que fui tão imprudente?' Depois de desligar a água quente, Brendan enxugou o rosto, saiu do chuveiro e vestiu roupas secas, também oferecidas pelo mesmo homem. Então, voltou para o quarto da unidade de tratamento intensivo e encontrou Deirdre sozinha e com a respiração regular. No entanto, ainda chamava pela mãe, mesmo em seus sonhos. Brendan planejava ir embora, quando ouviu Deirdre dizer, com voz fraca:― Viva, Brendan. Você tem que viver... ― Sua mente começou a queimar com uma imagem nítida de seu passado distante. Nessa lembrança, Brendan lutava pa
Brendan perdeu a noção do tempo, mas percebeu que todo o corredor estava escuro quando saiu do escritório, após terminar seu trabalho. A única fonte de luz era o vão entre a porta e o quarto de Deirdre. Ele abriu a porta e encontrou Deirdre sentada na cama, sem mexer um músculo. Ele franziu as sobrancelhas ao ver Deirdre completamente vestida e perguntou:― É meia-noite. Por que você ainda está acordada e sentada na cama? ― Deirdre foi sacudida de volta à realidade. Apertou as roupas e disse ansiosamente:― Eu estava tentando lembrar que tipo de roupa minha mãe gosta de me ver usando. Planejava vestir algo que ela goste quando a encontrar pela manhã, mas realmente não consigo lembrar das preferências dela. ― Ela se sentiu rejeitada enquanto falava e forçou um sorriso, abaixando a cabeça.― Não sou uma boa filha. ― Brendan sentiu um nó na boca do estômago, como se a cena diante de seus olhos tivesse desencadeado algo nele. Ele ficou surpreso de perceber que Deirdre estava
― É uma pena que você vá encontrá-la amanhã, porque temo que você não tenha tempo suficiente para fazer isso hoje. ― Brendan sentiu que parava de respirar por um momento ao olhar para o rosto preocupado dela. Uma ideia lhe ocorreu e ele agarrou o pulso de Deirdre abruptamente.― Por que não... ― Deirdre ergueu o olhar confusa, enquanto Brendan concluiu a frase, com os dentes cerrados:― Por que você não atrasa um pouco o reencontro? ― O empresário desejava que Deirdre aceitasse a proposta, esperando ganhar mais tempo para continuar a reconquistar a jovem, afinal, ele notava que havia pequenos avanços. Se sua mentira fosse exposta, ele esperava que isso acontecesse mais tarde, mesmo que fosse apenas um dia depois. ― Adiar o reencontro? ― O olhar de Deirdre estava distraído. Ela reagiu à situação mordendo o lábio inferior e rejeitando a sugestão de Brendan. ― Não. ― Então, respirou fundo e completou:― Eu estive esperando por esse dia por muito tempo. Meu coração vai sa