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Capítulo 2: A Escolha Difícil

O silêncio dentro da SUV era ensurdecedor, pontuado apenas pelo som da chuva batendo contra as janelas. Kiara Dubois estava sentada no banco traseiro, o corpo tenso, os dedos entrelaçados no colo em uma tentativa fútil de esconder o tremor. Ela se sentia como um animal encurralado. Ao lado dela, Sergey Novikov parecia a personificação da calma, embora a intensidade de seus olhos âmbar deixasse claro que nada escapava à sua atenção.

— Para onde estamos indo? — A voz dela soou baixa, quase um sussurro.

Sergey virou a cabeça na direção dela, apoiando um braço no encosto do banco. Ele a estudou por um momento, o canto de sua boca se curvando em algo que não era bem um sorriso.

— Para onde será seguro para você, devotchka.

A palavra russa, que ele pronunciava com tanta facilidade, a intrigava. Ele a usara antes, e embora ela não soubesse o significado, sentia algo quase carinhoso em sua pronúncia. Mas agora não era hora para decifrar palavras.

— Eu não preciso de segurança. Eu só quero ir para casa, — ela disse, com mais firmeza do que sentia.

Ele inclinou a cabeça, como se estivesse considerando as palavras dela, mas o olhar intenso deixou claro que não mudaria de ideia.

— Não é uma opção.

Kiara soltou um suspiro frustrado, suas mãos apertando o tecido úmido do casaco que ele colocara em volta dela. Ela sentiu o calor da presença dele, mesmo sem contato direto. Sergey não era apenas grande fisicamente; ele preenchia o espaço ao redor dele com uma energia que parecia impossível ignorar.

— Isso é um sequestro? — ela perguntou finalmente, sua voz carregada de uma mistura de medo e indignação.

Os olhos dele brilharam por um instante, como se a pergunta a divertisse.

— Se fosse um sequestro, você já estaria amarrada e amordaçada, — ele respondeu com um tom casual, quase entediado. — Não. Eu estou protegendo você.

— Protegendo de quê? — Kiara retrucou, sua frustração começando a superar o medo.

Ele se inclinou para mais perto, sua presença dominando o espaço entre eles. O cheiro dele, uma mistura de almíscar, madeira e algo mais escuro, encheu seus sentidos.

— De homens como eu, — ele respondeu simplesmente.

A resposta dela ficou presa em sua garganta. Ela sabia que havia mais naquela frase do que ele dizia, mas a tensão no ar impedia que ela pressionasse por mais.

A SUV atravessava as ruas vazias da cidade, e Kiara notou que estavam deixando o centro. As luzes dos prédios ficaram para trás, dando lugar a uma área mais residencial, mas não menos luxuosa.

— Qual é o seu plano, Sergey? — ela perguntou, quebrando o silêncio novamente. — Vai me manter presa para sempre?

— Para sempre é muito tempo, — ele respondeu, com um tom que parecia carregar um duplo sentido. — Mas por enquanto, você estará sob minha supervisão.

— Eu não sou sua responsabilidade, — ela protestou, o tom firme.

— Agora é, — ele disse, sua voz implacável.

Ela o encarou, tentando entender o homem que parecia tão inabalável. Ele era jovem, mas carregava uma aura de poder e experiência que parecia impossível para alguém da idade dele. Como um homem de 26 anos havia se tornado alguém tão... perigoso?

A SUV parou em frente a uma mansão de aparência moderna, cercada por portões altos e câmeras de segurança. Kiara sentiu o estômago revirar ao perceber que estava ainda mais longe de casa. Sergey saiu do carro primeiro, andando até o lado dela para abrir a porta.

— Vamos, — ele disse, estendendo a mão.

— E se eu não quiser? — ela respondeu, sua voz desafiadora, mas hesitante.

Ele riu baixo, e o som parecia fazer o ar ao redor dela vibrar.

— Você é corajosa, devotchka. Eu gosto disso. Mas não teste minha paciência.

Havia algo no tom dele que fazia seu coração disparar, uma mistura de medo e algo que ela não queria admitir. Relutante, ela pegou a mão dele e saiu do carro.

A casa era tão impressionante quanto intimidante. O interior era minimalista e moderno, com paredes de vidro que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade abaixo. No entanto, Kiara não teve tempo para admirar o local. Sergey a guiou para uma sala espaçosa com sofás de couro preto e uma lareira que parecia nunca ter sido usada.

Ele gesticulou para que ela se sentasse, mas ela ficou de pé, os braços cruzados defensivamente.

— Qual é o próximo passo? — ela perguntou, tentando esconder o nervosismo em sua voz.

Ele tirou o casaco pesado e o jogou sobre o encosto de um dos sofás antes de se sentar, cruzando os braços sobre o peito. Mesmo em uma posição mais relaxada, ele parecia irradiar autoridade.

— O próximo passo, — ele começou, olhando para ela como se pesasse suas opções, — é garantir que você entenda que agora está sob minha proteção.

— Proteção de quê? Eu já perguntei isso, e você não respondeu.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos curtos, como se estivesse decidindo o quanto compartilhar.

— Proteção do mundo que viu esta noite, — ele disse finalmente. — O corpo que você viu... e os homens que estavam comigo... não são algo que se esquece facilmente.

— E por que eu? Por que simplesmente não me deixar ir?

Os olhos dele se estreitaram ligeiramente.

— Porque eu não confio na sorte, devotchka. E não confio em ninguém fora do meu círculo.

Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele realmente acreditava que estava fazendo o melhor para protegê-la, ou isso era apenas uma desculpa para mantê-la sob controle?

A noite avançava, e o cansaço começou a pesar sobre ela. Sergey notou.

— Há um quarto preparado para você, — ele disse, levantando-se. — Você precisa descansar. Amanhã, discutiremos os próximos passos.

Ela hesitou, mas a exaustão venceu. Sergey a guiou por um corredor até um quarto decorado de forma simples, mas elegante.

— Boa noite, Kiara, — ele disse, sua voz mais suave agora.

— Boa noite, — ela respondeu automaticamente, sem saber se realmente poderia dormir.

Quando ele fechou a porta, ela se sentou na beirada da cama, tentando processar tudo. Quem era Sergey Novikov realmente? E por que ela sentia que, apesar de todo o perigo, havia algo mais nele que ela ainda não entendia?

Na sala, Sergey ficou olhando para o fogo na lareira, que agora brilhava fracamente. Ele sabia que havia tomado uma decisão arriscada ao trazer Kiara para sua casa. Mas algo naqueles olhos grandes e cheios de medo — e coragem — o desarmava.

Ele era um homem acostumado a controlar tudo, mas pela primeira vez em anos, sentia-se desafiado.

E isso, para Sergey Novikov, era tão perigoso quanto qualquer inimigo.

A chuva parecia ter diminuído, mas o peso do que estava por vir não o deixava em paz. Ele sentiu uma inquietação crescer dentro de si, algo que não sabia explicar. O destino de Kiara estava entrelaçado ao seu agora, e o homem acostumado a planejar cada movimento, a controlar todos os aspectos de sua vida, se viu com uma incerteza perturbadora.

Ele sabia que a presença dela ali não era uma coincidência. Algo a unia a ele, algo que ele ainda não entendia completamente. Isso o intrigava mais do que qualquer outra coisa. E, como sempre, Sergey Novikov não era de deixar nada para trás, especialmente quando se tratava de algo tão fascinante e tão... perigoso.

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