O silêncio dentro da SUV era ensurdecedor, pontuado apenas pelo som da chuva batendo contra as janelas. Kiara Dubois estava sentada no banco traseiro, o corpo tenso, os dedos entrelaçados no colo em uma tentativa fútil de esconder o tremor. Ela se sentia como um animal encurralado. Ao lado dela, Sergey Novikov parecia a personificação da calma, embora a intensidade de seus olhos âmbar deixasse claro que nada escapava à sua atenção.
— Para onde estamos indo? — A voz dela soou baixa, quase um sussurro.
Sergey virou a cabeça na direção dela, apoiando um braço no encosto do banco. Ele a estudou por um momento, o canto de sua boca se curvando em algo que não era bem um sorriso.
— Para onde será seguro para você, devotchka.
A palavra russa, que ele pronunciava com tanta facilidade, a intrigava. Ele a usara antes, e embora ela não soubesse o significado, sentia algo quase carinhoso em sua pronúncia. Mas agora não era hora para decifrar palavras.
— Eu não preciso de segurança. Eu só quero ir para casa, — ela disse, com mais firmeza do que sentia.
Ele inclinou a cabeça, como se estivesse considerando as palavras dela, mas o olhar intenso deixou claro que não mudaria de ideia.
— Não é uma opção.
Kiara soltou um suspiro frustrado, suas mãos apertando o tecido úmido do casaco que ele colocara em volta dela. Ela sentiu o calor da presença dele, mesmo sem contato direto. Sergey não era apenas grande fisicamente; ele preenchia o espaço ao redor dele com uma energia que parecia impossível ignorar.
— Isso é um sequestro? — ela perguntou finalmente, sua voz carregada de uma mistura de medo e indignação.
Os olhos dele brilharam por um instante, como se a pergunta a divertisse.
— Se fosse um sequestro, você já estaria amarrada e amordaçada, — ele respondeu com um tom casual, quase entediado. — Não. Eu estou protegendo você.
— Protegendo de quê? — Kiara retrucou, sua frustração começando a superar o medo.
Ele se inclinou para mais perto, sua presença dominando o espaço entre eles. O cheiro dele, uma mistura de almíscar, madeira e algo mais escuro, encheu seus sentidos.
— De homens como eu, — ele respondeu simplesmente.
A resposta dela ficou presa em sua garganta. Ela sabia que havia mais naquela frase do que ele dizia, mas a tensão no ar impedia que ela pressionasse por mais.
A SUV atravessava as ruas vazias da cidade, e Kiara notou que estavam deixando o centro. As luzes dos prédios ficaram para trás, dando lugar a uma área mais residencial, mas não menos luxuosa.
— Qual é o seu plano, Sergey? — ela perguntou, quebrando o silêncio novamente. — Vai me manter presa para sempre?
— Para sempre é muito tempo, — ele respondeu, com um tom que parecia carregar um duplo sentido. — Mas por enquanto, você estará sob minha supervisão.
— Eu não sou sua responsabilidade, — ela protestou, o tom firme.
— Agora é, — ele disse, sua voz implacável.
Ela o encarou, tentando entender o homem que parecia tão inabalável. Ele era jovem, mas carregava uma aura de poder e experiência que parecia impossível para alguém da idade dele. Como um homem de 26 anos havia se tornado alguém tão... perigoso?
A SUV parou em frente a uma mansão de aparência moderna, cercada por portões altos e câmeras de segurança. Kiara sentiu o estômago revirar ao perceber que estava ainda mais longe de casa. Sergey saiu do carro primeiro, andando até o lado dela para abrir a porta.
— Vamos, — ele disse, estendendo a mão.
— E se eu não quiser? — ela respondeu, sua voz desafiadora, mas hesitante.
Ele riu baixo, e o som parecia fazer o ar ao redor dela vibrar.
— Você é corajosa, devotchka. Eu gosto disso. Mas não teste minha paciência.
Havia algo no tom dele que fazia seu coração disparar, uma mistura de medo e algo que ela não queria admitir. Relutante, ela pegou a mão dele e saiu do carro.
A casa era tão impressionante quanto intimidante. O interior era minimalista e moderno, com paredes de vidro que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade abaixo. No entanto, Kiara não teve tempo para admirar o local. Sergey a guiou para uma sala espaçosa com sofás de couro preto e uma lareira que parecia nunca ter sido usada.
Ele gesticulou para que ela se sentasse, mas ela ficou de pé, os braços cruzados defensivamente.
— Qual é o próximo passo? — ela perguntou, tentando esconder o nervosismo em sua voz.
Ele tirou o casaco pesado e o jogou sobre o encosto de um dos sofás antes de se sentar, cruzando os braços sobre o peito. Mesmo em uma posição mais relaxada, ele parecia irradiar autoridade.
— O próximo passo, — ele começou, olhando para ela como se pesasse suas opções, — é garantir que você entenda que agora está sob minha proteção.
— Proteção de quê? Eu já perguntei isso, e você não respondeu.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos curtos, como se estivesse decidindo o quanto compartilhar.
— Proteção do mundo que viu esta noite, — ele disse finalmente. — O corpo que você viu... e os homens que estavam comigo... não são algo que se esquece facilmente.
— E por que eu? Por que simplesmente não me deixar ir?
Os olhos dele se estreitaram ligeiramente.
— Porque eu não confio na sorte, devotchka. E não confio em ninguém fora do meu círculo.
Ela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele realmente acreditava que estava fazendo o melhor para protegê-la, ou isso era apenas uma desculpa para mantê-la sob controle?
A noite avançava, e o cansaço começou a pesar sobre ela. Sergey notou.
— Há um quarto preparado para você, — ele disse, levantando-se. — Você precisa descansar. Amanhã, discutiremos os próximos passos.
Ela hesitou, mas a exaustão venceu. Sergey a guiou por um corredor até um quarto decorado de forma simples, mas elegante.
— Boa noite, Kiara, — ele disse, sua voz mais suave agora.
— Boa noite, — ela respondeu automaticamente, sem saber se realmente poderia dormir.
Quando ele fechou a porta, ela se sentou na beirada da cama, tentando processar tudo. Quem era Sergey Novikov realmente? E por que ela sentia que, apesar de todo o perigo, havia algo mais nele que ela ainda não entendia?
Na sala, Sergey ficou olhando para o fogo na lareira, que agora brilhava fracamente. Ele sabia que havia tomado uma decisão arriscada ao trazer Kiara para sua casa. Mas algo naqueles olhos grandes e cheios de medo — e coragem — o desarmava.
Ele era um homem acostumado a controlar tudo, mas pela primeira vez em anos, sentia-se desafiado.
E isso, para Sergey Novikov, era tão perigoso quanto qualquer inimigo.
A chuva parecia ter diminuído, mas o peso do que estava por vir não o deixava em paz. Ele sentiu uma inquietação crescer dentro de si, algo que não sabia explicar. O destino de Kiara estava entrelaçado ao seu agora, e o homem acostumado a planejar cada movimento, a controlar todos os aspectos de sua vida, se viu com uma incerteza perturbadora.
Ele sabia que a presença dela ali não era uma coincidência. Algo a unia a ele, algo que ele ainda não entendia completamente. Isso o intrigava mais do que qualquer outra coisa. E, como sempre, Sergey Novikov não era de deixar nada para trás, especialmente quando se tratava de algo tão fascinante e tão... perigoso.
Kiara acordou cedo no dia seguinte, apesar do cansaço que ainda a envolvia. O quarto estava banhado pela luz suave da manhã, filtrada pelas persianas fechadas. A cama onde ela dormia era incrivelmente confortável, mas nada que fosse capaz de mascarar o desconforto de sua mente, que girava em torno dos eventos da noite anterior. Sergey Novikov. Ele ainda estava em sua cabeça, uma presença constante, sua voz profunda e os olhos âmbar que pareciam enxergar além de sua pele. Cada momento que ela passava naquele lugar, cada segundo em sua presença, parecia intensificar o turbilhão dentro dela. Ela sabia que sua vida, assim como a conhecia, havia mudado para sempre.Ela olhou para o relógio, percebendo que ainda tinha tempo antes que qualquer coisa acontecesse. Levantou-se devagar, os pés descalços tocando o chão gelado. O quarto era elegante, com uma decoração minimalista que, ao mesmo tempo, parecia impessoal. As paredes brancas, os móveis escuros e modernos, o cheiro sutil de madeira e u
Kiara passou o resto do dia em silêncio, observando a casa que Sergey havia chamado de “refúgio”. Cada corredor, cada cômodo parecia ter sido projetado para ser moderno e impessoal, mas ao mesmo tempo, havia algo de inquietante naquela perfeição. As paredes, de um branco gelado, refletiam a luz das lâmpadas discretas que iluminavam os espaços. O silêncio era opressor, com exceção do som ocasional dos passos de Sergey, que a vigiavam como uma sombra.Ela se sentava na sala, onde o sol estava começando a se esconder atrás dos edifícios da cidade. Estava impaciente, seu corpo nervoso pela tensão no ar, mas não sabia o que mais fazer além de esperar.Sergey não havia lhe dado explicações sobre o que aconteceria a seguir. Nenhuma garantia de segurança, de liberdade, de qualquer coisa que ela realmente quisesse. Ela se sentia como uma prisioneira, mas uma prisioneira com um raro e desconcertante contato com seu captor. Não era apenas o poder dele que a intimidava; havia algo mais, algo que
O sol já havia se posto há horas, mas Kiara ainda não conseguia deixar de olhar pela janela, tentando encontrar alguma forma de entender sua nova realidade. Ela estava presa em uma casa de luxo, cercada por paredes imponentes e câmeras de segurança em todos os cantos. Sergey parecia sempre um passo à frente, como se soubesse exatamente como cada movimento dela seria. E isso a incomodava mais do que qualquer coisa.Desde a conversa com ele naquela tarde, Kiara não tivera mais a chance de falar sobre o que estava acontecendo. Sergey a manteve à distância, dando-lhe tempo para refletir, ou talvez para intensificar o medo que crescia em seu peito. Ela sabia que ele estava esperando algo, mas não sabia o quê. Ele dissera que ela tinha um papel, mas qual? Como uma mulher comum, sem nada de especial, ela não conseguia entender como poderia ser parte de algo tão complexo, tão perigoso.A noite já havia avançado quando a porta do seu quarto se abriu, quebrando o silêncio. Sergey entrou sem faz
A casa estava silenciosa, mas Kiara não conseguia dormir. A cama macia, os lençóis de seda, o luxo em que estava envolvida... tudo isso parecia irreal, como um sonho do qual ela queria acordar. Mas, à medida que a noite avançava, algo nela começava a mudar. O desconforto de estar ali, a sensação de aprisionamento, se misturava com algo mais profundo. Algo mais perigoso.Ela sabia o que era, mas não queria admitir. Havia algo em Sergey Novikov que a atraía, algo sombrio e impenetrável que despertava nela uma curiosidade mórbida. Ele era como uma tempestade que não podia ser evitada — e, apesar do medo que ele causava, ela sentia uma necessidade inexplicável de se aproximar.Não era apenas a autoridade com que ele a tratava, ou a frieza calculista que exalava de cada um de seus gestos. Havia uma intensidade em seu olhar, uma força incontrolável que se misturava com uma calma quase desesperadora. Sergey não se deixava dominar por nada, e isso, por alguma razão, a atraía. Ele não parecia
Kiara ainda sentia o gosto de Sergey em seus lábios, o calor de seu corpo que permanecia em cada centímetro de sua pele. O beijo havia sido como um fogo, rápido e impetuoso, deixando um rastro de ardor em seu peito. Mas, mais do que a intensidade do momento, era a forma como ele a fazia se sentir: totalmente consumida, perdida em algo que não conseguia mais controlar.Ela o observava agora, seus olhos fixos nele, esperando por algo, sem saber exatamente o quê. Sergey se afastou um pouco, mas não o suficiente para perder o contato visual. Ele ainda estava perto, o cheiro de sua pele misturado ao álcool que ele exalava. Ele se inclinou novamente, mas dessa vez, seu toque foi mais suave, mais calculado. As mãos grandes, sempre firmes e imponentes, deslizaram pelo pescoço de Kiara, descendo até seus ombros.O calor de suas mãos fez seu corpo tremer involuntariamente. Ela não conseguia desviar os olhos, como se fosse atraída por um ímã irresistível. Ele não falava, apenas a tocava, tocava
A noite estava imersa em uma quietude carregada de tensão, e Kiara sentia a pressão do ambiente apertando o peito. As ruas estavam vazias, o único som que preenchia o espaço era o suave eco da chuva batendo contra as janelas. Ela estava no limite, entre o que sentia e o que sabia ser perigoso. Sergey, ali, diante dela, era como uma tempestade prestes a explodir, uma presença física e emocional que a envolvia de forma avassaladora.O calor que emanava dele parecia não só físico, mas uma energia que penetrava profundamente nela. A cada passo que ele dava em sua direção, ela sentia uma mistura de apreensão e desejo, uma necessidade inexplicável de se entregar àquela proximidade. O corpo dela respondia a ele com uma força que ela não sabia que possuía, um ímpeto que desafiava todas as suas tentativas de controlar o que estava acontecendo. Ela não podia negar. Algo em Sergey a atraía, algo além da atração física. Era como se ele estivesse desvendando os cantos mais escondidos de seu ser, c
Kiara acordou no dia seguinte com o peso de uma noite carregada de emoções conflitantes. A luz suave da manhã filtrava-se pelas cortinas da janela, tingindo o quarto com um tom dourado e quente. Ela estava sozinha, envolta nos lençóis que ainda exalavam o cheiro dele, a mistura de almíscar e madeira que ficara impregnada em sua pele. Ela não conseguia afastar a sensação de que algo havia mudado entre ela e Sergey, mas o que exatamente? Seus pensamentos estavam confusos, mas o corpo ainda lembrava cada toque, cada momento daquela noite.Levou alguns segundos para que seus olhos se ajustassem completamente à realidade, e ela percebeu que estava no quarto dele, naquela mansão imponente, ainda vestindo a mesma roupa que usara antes de ser puxada para o mundo de Sergey Novikov. Mas o que acontecera entre eles naquela noite? Uma noite onde os limites entre o prazer e o medo se desfizeram, onde cada toque parecia mais uma promessa não dita.Ela tentou se levantar, mas uma dor suave percorreu
A manhã seguinte chegou com uma calma quase desconcertante. Kiara despertou, o corpo pesado e ainda marcado pelos toques de Sergey da noite anterior. O quarto estava imerso em um silêncio profundo, mas dentro dela, as memórias da noite vibravam como uma onda constante. O desejo, misturado com um medo incontrolável, permanecia em seu peito. Ela sentia-se dividida entre o desejo de afastar-se de Sergey e a irresistível necessidade de voltar para ele, de se perder mais uma vez na tempestade que ele representava.Ela levantou-se devagar, o corpo exausto, mas a mente acelerada. As lembranças estavam frescas em sua mente: os sussurros, as carícias intensas e a sensação de que algo mais estava se formando entre eles. Algo que ela não sabia como controlar, algo que a assustava, mas também a atraía de maneira inegável. O medo de se perder era real, mas o prazer que ele proporcionava parecia ser a única coisa que fazia sentido naquele caos.Ao olhar pela janela, Kiara viu a cidade ainda tomada