O final da tarde em Nova York trazia uma brisa fria, mas a mansão Novikov estava aquecida com a movimentação de familiares que chegavam para o casamento de Sergey e Kiara. As folhas alaranjadas do outono flutuavam pelo extenso jardim, onde uma equipe ajustava os últimos detalhes da cerimônia. Os corredores da mansão ecoavam vozes em russo, risadas e os passos apressados dos funcionários que se certificavam de que tudo estivesse perfeito. A atmosfera, embora elegante, tinha um tom de tensão quase palpável, reflexo da importância daquele momento.Sergey, sempre atento, fazia questão de supervisionar cada detalhe, desde a disposição das flores até a posição das mesas. Seus olhos verdes refletiam a determinação de alguém que estava acostumado a liderar, mas havia um brilho diferente naquele dia, um que só surgia ao pensar em Kiara. Ela, por outro lado, lidava com um misto de ansiedade e nervosismo. Era um grande momento, mas a presença da família dele, com suas tradições e expectativas, a
O grande dia finalmente chegou. O sol brilhava intensamente sobre Nova York, como se até mesmo o céu quisesse celebrar a união de Sergey e Kiara. A igreja, uma catedral gótica no coração da cidade, estava deslumbrante. Os vitrais lançavam reflexos coloridos pelo chão, e cada banco estava decorado com arranjos de flores brancas e verdes. Era uma mistura perfeita de sofisticação e simplicidade, refletindo a essência do casal.Convidados vindos de todas as partes do mundo ocupavam os bancos da igreja. Homens de ternos bem cortados, mulheres com vestidos elegantes e crianças que olhavam tudo com curiosidade compunham o cenário. A presença da família Novikov, com sua aura de poder e mistério, chamava atenção, mas o clima era de celebração, não de intimidação.Nos bastidores, Kiara estava cercada por suas damas de honra e a mãe, que ajustava o véu em seus cabelos perfeitamente arrumados. O vestido de Kiara era um sonho: uma criação de seda e renda com um corte elegante, que caía em ondas su
Os meses que se seguiram ao casamento de Sergey e Kiara foram marcados por momentos de paz, expectativa e uma felicidade genuína que parecia tão surreal quanto merecida. Em meio à rotina atribulada, com a sombra do passado ainda rondando discretamente, o casal encontrava conforto e força um no outro, preparando-se para o que viria a ser o capítulo mais desafiador e recompensador de suas vidas: a chegada de seu filho.Logo após o casamento, a gravidez de Kiara se tornou o foco principal em suas vidas. Sergey, que sempre fora meticuloso e protetor, levou essa faceta ao extremo. Ele contratou os melhores médicos, fez questão de equipar o apartamento com tudo o que Kiara pudesse precisar e até delegou mais responsabilidades no trabalho para ter mais tempo ao lado dela.— Sergey, você não acha que está exagerando? — Kiara perguntou uma manhã, enquanto ele insistia em medir sua pressão arterial pela terceira vez naquela semana.Ele olhou para ela com seriedade, mas com um leve sorriso.— Eu
Dez anos se passaram desde o dia em que Sergey e Kiara seguraram seu primeiro filho nos braços. O tempo, que tantas vezes parecia um inimigo, agora era um aliado, trazendo maturidade, realizações e, acima de tudo, uma felicidade que ambos pensaram ser inalcançável no passado.Moscou era agora o lar definitivo da família Novikov. Após a aposentadoria de Nikolai, Sergey assumiu o comando da máfia russa, consolidando sua posição como um dos homens mais poderosos e temidos do submundo. Apesar da natureza sombria de seu trabalho, Sergey transformou seu papel, buscando estratégias para modernizar os negócios da organização, tornando-a menos violenta e mais baseada em inteligência estratégica. Isso permitiu que ele passasse mais tempo com sua família, uma prioridade inegociável.A mansão onde viviam era um símbolo de poder e sofisticação, mas, acima de tudo, era um lar. Localizada em uma propriedade isolada nos arredores de Moscou, cercada por florestas cobertas de neve no inverno e exuberan
A chuva caía em uma melodia constante, ecoando pela cidade quase vazia. Kiara Dubois apertava o casaco contra o corpo magro enquanto caminhava para casa. O frio da noite não era novidade para ela; tampouco a sensação de exaustão após mais um turno no bar onde trabalhava. Seus pés doíam, e ela desejava apenas uma cama quente e um pouco de paz.O céu estava enegrecido, e os trovões ocasionalmente iluminavam as ruas molhadas. Ela havia aprendido cedo a ser cuidadosa à noite, mas o bairro geralmente era tranquilo. Hoje seria apenas mais uma noite comum, pensou. Mas ao dobrar uma esquina estreita, algo quebrou sua rotina com a força de uma rajada de vento.À sua frente, cinco homens formavam um círculo em torno de algo que parecia inerte. Não é da minha conta, ela tentou dizer a si mesma. Seus passos hesitaram. Era tarde demais. Uma rajada de vento levantou a aba do casaco de um deles, revelando um brilho metálico de algo que ela não queria identificar. Um dos homens se afastou por um mome
O silêncio dentro da SUV era ensurdecedor, pontuado apenas pelo som da chuva batendo contra as janelas. Kiara Dubois estava sentada no banco traseiro, o corpo tenso, os dedos entrelaçados no colo em uma tentativa fútil de esconder o tremor. Ela se sentia como um animal encurralado. Ao lado dela, Sergey Novikov parecia a personificação da calma, embora a intensidade de seus olhos âmbar deixasse claro que nada escapava à sua atenção.— Para onde estamos indo? — A voz dela soou baixa, quase um sussurro.Sergey virou a cabeça na direção dela, apoiando um braço no encosto do banco. Ele a estudou por um momento, o canto de sua boca se curvando em algo que não era bem um sorriso.— Para onde será seguro para você, devotchka.A palavra russa, que ele pronunciava com tanta facilidade, a intrigava. Ele a usara antes, e embora ela não soubesse o significado, sentia algo quase carinhoso em sua pronúncia. Mas agora não era hora para decifrar palavras.— Eu não preciso de segurança. Eu só quero ir
Kiara acordou cedo no dia seguinte, apesar do cansaço que ainda a envolvia. O quarto estava banhado pela luz suave da manhã, filtrada pelas persianas fechadas. A cama onde ela dormia era incrivelmente confortável, mas nada que fosse capaz de mascarar o desconforto de sua mente, que girava em torno dos eventos da noite anterior. Sergey Novikov. Ele ainda estava em sua cabeça, uma presença constante, sua voz profunda e os olhos âmbar que pareciam enxergar além de sua pele. Cada momento que ela passava naquele lugar, cada segundo em sua presença, parecia intensificar o turbilhão dentro dela. Ela sabia que sua vida, assim como a conhecia, havia mudado para sempre.Ela olhou para o relógio, percebendo que ainda tinha tempo antes que qualquer coisa acontecesse. Levantou-se devagar, os pés descalços tocando o chão gelado. O quarto era elegante, com uma decoração minimalista que, ao mesmo tempo, parecia impessoal. As paredes brancas, os móveis escuros e modernos, o cheiro sutil de madeira e u
Kiara passou o resto do dia em silêncio, observando a casa que Sergey havia chamado de “refúgio”. Cada corredor, cada cômodo parecia ter sido projetado para ser moderno e impessoal, mas ao mesmo tempo, havia algo de inquietante naquela perfeição. As paredes, de um branco gelado, refletiam a luz das lâmpadas discretas que iluminavam os espaços. O silêncio era opressor, com exceção do som ocasional dos passos de Sergey, que a vigiavam como uma sombra.Ela se sentava na sala, onde o sol estava começando a se esconder atrás dos edifícios da cidade. Estava impaciente, seu corpo nervoso pela tensão no ar, mas não sabia o que mais fazer além de esperar.Sergey não havia lhe dado explicações sobre o que aconteceria a seguir. Nenhuma garantia de segurança, de liberdade, de qualquer coisa que ela realmente quisesse. Ela se sentia como uma prisioneira, mas uma prisioneira com um raro e desconcertante contato com seu captor. Não era apenas o poder dele que a intimidava; havia algo mais, algo que