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Capítulo 4: Entre Sombras e Decisões

Kiara passou o resto do dia em silêncio, observando a casa que Sergey havia chamado de “refúgio”. Cada corredor, cada cômodo parecia ter sido projetado para ser moderno e impessoal, mas ao mesmo tempo, havia algo de inquietante naquela perfeição. As paredes, de um branco gelado, refletiam a luz das lâmpadas discretas que iluminavam os espaços. O silêncio era opressor, com exceção do som ocasional dos passos de Sergey, que a vigiavam como uma sombra.

Ela se sentava na sala, onde o sol estava começando a se esconder atrás dos edifícios da cidade. Estava impaciente, seu corpo nervoso pela tensão no ar, mas não sabia o que mais fazer além de esperar.

Sergey não havia lhe dado explicações sobre o que aconteceria a seguir. Nenhuma garantia de segurança, de liberdade, de qualquer coisa que ela realmente quisesse. Ela se sentia como uma prisioneira, mas uma prisioneira com um raro e desconcertante contato com seu captor. Não era apenas o poder dele que a intimidava; havia algo mais, algo que ela não conseguia colocar em palavras. Ele a tratava como se fosse parte de algo muito maior, algo que ela não entendia.

Às vezes, quando olhava para ele, seus olhos não eram os de um homem frio e calculista, mas os de alguém que carregava um peso tão profundo que a assustava. O que ele esconderia por trás daquele sorriso enigmático? Ele sabia que ela tinha medo. E isso, de alguma forma, parecia alimentá-lo.

O som da porta sendo aberta trouxe-a de volta à realidade. Sergey entrou, seus passos ecoando pelo corredor silencioso.

— Temos algo a resolver — disse ele, a voz baixa, mas com uma firmeza que fez Kiara se arrepiar.

Ela o observou, a postura rígida e os olhos desconcertantemente calmos. Ele parecia saber exatamente o que estava fazendo, o que estava pensando. Mas ela? Ela não sabia de nada. Não mais.

— Resolver o quê? — perguntou, a voz carregada de frustração.

Sergey deu um passo à frente, seus olhos fixando os dela com uma intensidade implacável. Ele parecia medir suas palavras, como se estivesse escolhendo o que seria revelado.

— Você viu algo ontem. Algo que não deveria ter visto. E agora, faz parte disso. — Ele fez uma pausa, como se esperasse que ela digerisse aquelas palavras. — Mas você ainda não sabe o que isso significa.

Kiara franziu a testa, tentando compreender a magnitude do que ele dizia.

— O que exatamente significa? Eu já vi algo… mas isso não é motivo para você me manter aqui. Eu não sou parte de nada.

Sergey a observou por um momento, os olhos âmbar reluzindo com uma mistura de paciência e algo mais, algo que ela não podia identificar.

— Você é mais parte disso do que imagina, Kiara. E eu não sou o único que sabe disso.

Aquelas palavras atingiram Kiara como uma bomba, mas não havia tempo para processá-las completamente. Sergey estava a ponto de revelar algo, ela podia sentir.

— O que quer dizer com “não sou o único”? — ela perguntou, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.

Ele se aproximou lentamente, como se quisesse criar uma tensão no ar. O cheiro de seu perfume — algo forte e enigmático, misturado com a presença de madeira e tabaco — envolvia-a. Ela queria recuar, mas sua curiosidade estava mais forte do que o medo.

— Existem pessoas que têm interesse no que você viu. Pessoas que não vão simplesmente deixar você ir embora sem querer algo em troca.

Kiara sentiu a angústia se alastrando por seu peito. O peso daquelas palavras parecia esmagador, e ela não sabia o que temer mais: a ameaça velada ou o que ela mesma começava a entender.

— Então, o que você vai fazer comigo? — Sua voz saiu mais fraca do que ela gostaria.

Sergey a encarou, o semblante sério, mas de alguma forma tranquilo. Ele parecia saber que ela estava em um dilema, que suas opções eram limitadas.

— Eu estou mantendo você segura, Kiara. Há muitos olhos no que aconteceu ontem, e eles não são tão... gentis quanto eu.

A palavra “gentis” soou com um tom sarcástico que não escapou dela. Sergey estava lhe dizendo que, apesar de suas ações, ele não era a maior ameaça. Mas a verdadeira questão era: o que ele queria dela? Por que mantê-la tão perto? Ele parecia se divertir com a incerteza dela, com o poder que tinha sobre a situação.

— Eu não sou uma prisioneira — disse Kiara, tentando firmar sua voz.

Ele sorriu levemente, mas sem humor, como se reconhecesse o esforço dela para se afirmar.

— Claro que não. Mas você está em um lugar onde as opções são... limitadas.

O silêncio entre eles cresceu, e Kiara sentiu o peso da situação se intensificar. Ela não sabia em quem confiar, se poderia confiar em alguém ali. Sergey parecia ser o tipo de homem que sempre estava um passo à frente, e ela não conseguia encontrar um caminho claro para escapar de sua influência.

Mas ela não ia se deixar ser submissa. Não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que não iria esperar passivamente. Algo dentro dela estava gritando por uma chance, por uma maneira de recuperar o controle sobre sua vida.

— E o que você espera de mim? — perguntou, de novo. — O que quer realmente, Sergey?

Ele a encarou por alguns segundos antes de responder, como se estivesse pesando suas palavras. Algo na expressão dele, mais uma vez, a fez sentir uma estranha mistura de apreensão e algo... mais.

— Eu espero que você entenda que, agora, você tem um papel a desempenhar nesse jogo. E esse papel não pode ser ignorado.

Kiara sentiu seu estômago apertar. As palavras dele estavam carregadas de uma promessa que ela ainda não conseguia entender. Ele estava sendo claro e, ao mesmo tempo, incrivelmente vago. Mas uma coisa era certa: ela estava envolvida em algo muito maior do que imaginava.

— E o que acontece com as pessoas que não jogam o jogo? — perguntou ela, sua voz desafiadora.

O sorriso de Sergey foi quase imperceptível, mas a frieza nos olhos dele não deixou dúvidas.

— Elas não têm mais a oportunidade de fazer perguntas.

Com um movimento sutil, Sergey se afastou, deixando Kiara para absorver o peso de suas palavras. Ela não sabia o que ele realmente queria, mas sentia que a resposta estava mais perto do que ela imaginava. E o mais aterrador era saber que, talvez, não fosse mais possível sair de sua teia.

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