Capítulo 5

— Paulo, algum recado para mim? — Pergunto parando em frente a sua mesa.

— Alguns, Sr. Castillo. — Ele diz pegando um caderno em cima de sua mesa, procurou por alguns segundos os recados no caderno, em seguida voltou a falar. — O arquiteto ligou, disse que sua casa está pronta, só falta uns detalhes a ser resolvido, mas precisa que o senhor esteja presente. — Balanço a cabeça afirmando. — Sua ex-mulher ligou, mas, não quis deixar recado.

Com toda certeza ela deve está querendo mais dinheiro. Pensei com raiva.

— Algo mais?

— Sim... — Ele diz, fazendo uma pausa. — Aqui! — Uma senhorita chamada Cecile ligou...

— E o que ela queria? — Pergunto impaciente.

— Ela não quis deixar recado, apenas disse que ligaria mais tarde.

— Grazie, Paulo. — Digo tentando conter minha ansiedade.

— Ainda faltam mais alguns recados Sr. Casti...

— Se não for urgente, não precisa falar nada, Paulo. Separe os urgente e os importantes e me mande por e-mail e os desnecessários você ignora. — Digo isso e caminho em direção a minha sala. — Outra coisa, Paulo. — Paro de andar e volto a falar com ele. — Quando minha ex-mulher ligar, Dille all'inferno con la vita di Satana, non mia (diga que mandei ela infernizar a vida do Satanás, não à minha). — Paulo afirma com um sorriso discreto. — A inclua na lista de recado desnecessários. — Dizendo isso, eu voltei a caminhar.

Sempre aprendi desde menino a ser civilizado, mas quando se refere à Daniela, minha ex-mulher, eu só consigo sentir raiva.

Lembro como se fosse hoje, quando descobrir a traição de Daniela, algo que antigamente eu poderia dizer ser raro acontecer com um homem, onde acontecia o contrário, quando os homens eram os infiéis.

Meu pai foi criado com base católica, mesmo não seguindo esse caminho depois de adulto, ele sempre guardou com carinho todos os ensinamentos de seus pais e esses mesmos ensinamentos, ele passou para mim. Ele me ensinou a respeitar, a ser fiel, a ser um homem de caráter, a ter princípios. Até hoje lembro quando ele me levava para o trabalho e me dava aula com seus sábios ensinamentos.

Andrew filho, o homem precisa viver por princípios, ter caráter, respeitar para ser respeitado.

Eu só balançava minha cabeça, admirado, meu pai era um homem orgulhoso, mas, era um homem de caráter, que influenciou a muitos.

Filho, nunca tome uma decisão baseado em sentimentos ou emoções, nossas escolhas trazem consequências que muitas das vezes podem não ser prazerosas, as   decisões decidem o cenário.

Essa ultima parte, acho que  eu não levei muito a sério, porque foi os sentimentos que eu achei que tinha, que me levou a perdi Daniela em casamento.

Eu era jovem e meus negócios estavam em ascensão, meu pai tinha falecido e eu me sentia só, meu coração estava devastado, por meu pai ter morrido sem me perdoar. Foi aí que Daniela entrou em minha vida, ela me usou e eu me deixei ser usado.

Em uma decisão impulsiva, resolvi me casar com ela, que dizia me amar, eu achava que a amava também, mas, hoje eu sei que aquilo não era amor, era minha válvula de escape, minha carência falando mais alto.

Sei que nesse assunto não há inocentes, a opção de me trair com o motorista foi de Daniela. Ele trabalhava para mim há anos, ainda assim, ele me traiu.

Mas, a pior traição que aquela vagabunda fez, foi matar o nosso  bambino. Ela nem tinha me dito que estava grávida, quando eu soube, já era tarde demais.

Fiquei casado com ela quatro anos e nunca a conheci, divorciei-me dela faz apenas três meses e foi a melhor decisão que tomei. Hoje com meus vinte e oito anos, ainda tem muita coisa para ser sarada nesse meu coração machucado e decepcionado.

Sou frustrado comigo mesmo, frustrado com a pessoa com a qual eu me casei, é isso que sinto. Com o tempo fui melhorando, mas, toda vez que Daniela tenta algum contato comigo, eu volto a me sentir pior.

Eu sei que Daniela nunca me mereceu e por um instante, eu já cheguei a imaginar que mereço ser feliz com outra pessoa, mas, não penso mais assim, desistir do casamento, o máximo que eu faço é o sexo casual. Nunca precisei dar em cima de ninguém e quando faço sexo com alguém, à atração é mútua, sempre deixo claro que é somente sexo, elas aceitam, então seguimos em frente com nossas vidas. No entanto, com a senhorita Cecile, parece ser algo mais, só não sei ainda, mas irei descobrir.

Meu ramal toca, me despertando de meus devaneios.

— É algo importante Paulo? Porque no momento não desejo falar com ninguém, passei amanhã toda em reuniões, tudo que desejo agora é fazer meu trabalho sem interrupções.

Digo isso como se realmente estivesse trabalhando. Penso irritado comigo mesmo.

— Entendo Sr. Castillo, mas, é a senhorita Cecile na linha dois...

— E porque não disse isso antes?

— O Senhor Não me deu uma chance de falar. — Paulo diz em voz baixa.

— O que disse?

— Nada Sr. Castillo, não disse nada. — Eu tinha escutado, mas preferir deixar para lá, tudo que eu quero é saber a resposta de Cecile.

— Passe a ligação, Paulo.

— Acabei de passar, senhor.

— Grazie, Paulo. (Obrigado).

— Organizzare Sr. Castillo. (Disponha).

— Boa tarde Senhorita Viana? — Um grande silêncio do outro lado da linha. — Cecile? A chamo pelo primeiro nome, como se fossemos intimos.

Algo que eu quero muito que aconteça e que seja logo. Penso satisfeito.

— Boa tarde, Sr. Castillo.

Eu não notei o quanto sentia falta de escutar a voz dela. Preocupei-me em pensar dessa forma, só a conheço há dois dias e me excito só de escutar a sua voz. Longe de mim apaixonar-me, ainda mais por uma brasileira. Não, eu não odeio as mulheres brasileiras, odeio o que elas me fazem lembrar.

— A Senhorita está bem? — A voz dela me pareceu exausta e mais uma vez me peguei preocupado com ela.

— Estou bem, só cansada, não dormir bem a noite.

Eu não dormir nada, desde que minha casa foi incendiada, eu  vivo preocupado. No fundo eu sabia que Jonas tinha alguma coisa a ver com o incêndio, mas, ainda não tenho provas. — Sr. Castillo, ainda aí? — Ela pergunta cortando a linha de meus pensamentos.

— Sim, perdono, a senhorita pode repetir novamente.

— O começo, o meio, ou o final? — Ela pergunta com um leve tom de brincadeira, algo que me surpreendeu.

— O final. — Respondo a ela de igual modo.

— Perguntei se posso passar aí para a entrevista...

— Qual entrevista?

— A minha entrevista de emprego.

— Então a senhorita aceita o emprego? — Pergunto surpreso.

Ela deve ter tirado o dia para me surpreender. Penso com um sorriso nos lábios.

— Sim, mas...

— Ótimo, fique despreocupada que não precisa de entrevista...

— Escute, Sr. Castillo. — Ela diz com um tom de nervosismo.

— Estou escutando. — Respondo, me recostando na cadeira.

— Eu aceito o emprego, mas se fizermos tudo certo, começando pela entrevista.

Fico em silêncio, assimilando a condição dela. Não achei nada demais, já vi o currículo dela, não tem experiência nessa área, mas já trabalhou em várias funções, posso ver que ela não tem medo do  trabalho duro.

— Para mim tudo bem em fazer a entrevista. Algo mais?

— Sim...

— Prossiga.

— A entrevista pode ser hoje?

Por mais que seja um motivo a mais para vê-la novamente, preciso pensar nela primeiro, ela acabou de dizer que está cansada.

— acredito que podemos deixar para amanhã, afinal a senhorita está cansada e já passa das 16h00min.

— Não se preocupe comigo, Sr. Castillo, estou bem. — Ela diz com um tom indiferente.

— Como não me preocupar senhorita? Eu cuido de meus funcionários.

— Ainda não sou sua funcionária, no momento o senhor está liberado de se preocupar comigo. — Ela diz a última frase com um tom brincalhão.

— Mas será! — Respondo não achando graça. — Que tipo de chefe eu seria se não me preocupasse com o bem estar de meus funcionários? — Eu não esperava essa minha reação.

Não gostei da forma que ela falou. Não sei se foi pelo pouco caso a minha preocupação a ela, ou pela sua indiferença a mim.

Cecile fica em silêncio por alguns segundos e volta a falar.

— Entendo, Sr. Castillo, não quis fazer pouco caso, só quis deixá-lo ciente que estou bem o suficiente para a entrevista. Além do mais, já estou a caminho.

— Va bene senhorita. — Digo fingindo derrota. — Estou a sua espera.

Despedimo-nos com um até logo, ela desligou o telefone e em seguida eu fiz o mesmo.

Levanto-me e vou até a mesa de Paulo. Encontro-o com a fisionomia muito séria, olhando a tela de seu computador.

— Paulo? — chamo. Ele levanta os olhos e noto um Paulo mais cansado que o normal. — O que está fazendo, Paulo?

— Estou avaliando as finanças do hotel de Portugal, Sr. Castillo, deseja algo?

— Não, apenas peço a você que quando a senhorita Cecile chegar, a leve até minha sala, logo após você pode ir para casa.

— Para casa? — Pergunta ele, espantado. — Ainda não são nem 18h00min, Sr. Castillo.

— Você está exausto, Paulo, esses últimos dias tem sido corrido, com a compra do terreno do México e com a inauguração do hotel de Salvador, no Brasil, sei que estou exigindo o máximo de você. — Paulo suspira e recosta em sua cadeira. Não me parecia convencido a ir embora. —  Sr. Lorenzo, não é um pedido. — Dizendo isso, volto ao conforto de minha sala, preciso terminar os últimos ajustes de minha viagem para o México.

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