Capítulo 6

— Eu não tenho nada para vestir, Livi. — Quando olhei para o notebook, Lívia revirava os olhos. — Assim você não ajuda. — Digo fingindo estar aborrecida.

— Pare de reclamar Cecil, seu guarda roupa está lotado de roupas, garanto que você não usou nem metade.

Não sei o que mais me frustra, não achar uma roupa do meu agrado ou ter mentido para Andrew que já estava a caminho — Penso demonstrando cansaço.

— Espere que vou te ajudar Cecil, saia da frente, deixe eu ver seu guarda roupas.

Saio da frente e deixo-a dar uma olhada, ela faz isso por um tempo, depois volta a falar.

— Cecil, você precisa vestir algo que impressione, mas ao mesmo tempo não te deixe parecer desesperada pelo emprego.

Balanço a cabeça concordando com ela. Lívia coloca a mão no queixo pensativa.

— Humm... Que tal aquela calça jeans azul escura, ela te deixa gostosa, mas, ao mesmo tempo elegante, usa aquela blusa cinza, ela fica bonita com a calça e com aquele blazer preto o seu look fica completo. — Balanço a cabeça com um sorriso de orelha a orelha.

— Sabe que você deveria ter cursado a faculdade de design de moda, Livi? Você é ótima nisso.

— Você sabe que já pensei em fazer faculdade de moda Cecil, mas amo meu trabalho como modelo, isso toma muito meu tempo. — Ela diz retribuindo meu sorriso. — A propósito, Cecil...

— Sim? — Digo calçando meu salto scapin.

— Meu agente disse que tudo indica que meu próximo trabalho será na Itália, estou torcendo para que isso aconteça.

— Maravilha amiga, tomara que seja aqui e que seja logo, vai ser muito bom ter um ombro amigo por perto, mesmo que seja por pouco tempo.

— Eu também, amiga, estou com tanta saudade, meu coração chega doer, você é a irmã que nunca tive. — Ela completa com lágrimas nos olhos.

— Assim eu vou chorar Livi. — Digo tocando na tela do computador. —Te amo pop.

— Te amo, pirulito.

Quando éramos crianças, nossas cabeças eram grandes demais em proporção ao tamanho de nosso corpo, os meninos de nosso bairro nos zoavam o tempo todo, nos chamando de cabeção, não ligávamos para os insultos deles, sabíamos que tínhamos cabeça grande. Uma noite, enquanto conversávamos algumas bobagens de adolescentes, acabei chamando Lívia de cabeça de Pop, ela achou engraçado e gostou do apelido, até que me deu um apelido também, me chamando de cabeça de pirulito. Rimos como nunca naquele dia, uma das minhas lembranças preferidas de nossa infância juntas. Penso com um sorriso no rosto.

— O que achou Livi? — Pergunto fazendo uma pose enfrente ao Notebook.

— Você está gostosa. — Ela responde batendo palmas.

— Só você mesma para dizer uma coisa dessas.

— Estou falando sério, tome cuidado para o seu chefe não se apaixonar. — Ela diz ainda sorrindo.

— Acho difícil Livi...

— Como sabe disso? Homens não podem ver  mulher Cecil. Se eu fosse homem, tentaria te pegar. — Ela completa rindo, parecendo uma hiena.

— Se você fosse um homem, eu que te pegaria. — Respondo rindo alto também. — Pop preciso ir, depois conversamos melhor e te conto como foi a entrevista. — Ela balança a cabeça confirmando. Manda um beijo para mim, mando outro beijo para ela e desligo o Skype, chamo um Uber, pego minha bolsa em cima da cama, minhas chaves na cômoda e saio para esperar o carro em frente ao prédio que moro.

Cheguei à empresa Società Andrew, era quase 17h30min. Eu estava mais atrasada do que gostaria e no carro decidi dizer a verdade sobre o meu atraso para ele.

— Comecei bem. — Digo irônica.

Na recepção, me apresento, revelo que o Sr. Castillo está a minha espera. A recepcionista lança sobre mim um sorriso tranquilizador, talvez ela notasse meu nervosismo. Ela apertou um número no ramal, alguns segundos depois ela responde a pessoa do outro lado da linha.

— Sr. Lorenzo, tem uma senhorita chamada Cecile, ela diz que o Sr. Castillo está à sua espera. — A recepcionista parecia se derreter ao falar com a pessoa do outro lado, esse tal de Lorenzo. Lorenzo deve ser um sobrenome, imagino. Os olhos dela brilhavam. Espero que seja recíproco o sentimento dele por ela. Ela aguarda alguns segundos e encerra a ligação.

— Paulo está a sua espera.

Então esse é o nome dele. Penso, contendo o riso pela cara de surpresa que ela fez. — Quero dizer: Sr. Lorenzo.

— Grazie, senhorita?

— Julieta De Luca.

— Grazie, senhorita De Luca.

— Nessun problema (Por nada), senhorita Viana.

— Chame-me de Cecile.

— Somente se a senhorita me chamar de Julieta. — Ela responde com um sorriso encantador.

Julieta aparentava ter 1,55 de altura, ou menos, ela era tipo mignon, magra, sem peitão e sem bundão, cabelos pretos, com lindos e chamativos olhos verdes. Não conseguia ver sua roupa toda, só a  blusa verde com detalhes. Acho que ela não sabe o quanto é linda.

— Julieta, você pode me dizer em qual andar fica a sala do Sr. Castillo? — Pergunto retribui o sorriso.

— Fica no último andar, décimo quinto.

— Grazie. Torça por mim Julieta. — Digo me afastando do balcão da recepção.

— Por quê? — Ela pergunta curiosa.

— Tenho uma entrevista de emprego com o Sr. Castillo.

— Uma hora dessas. — Ela exclama espantada. — Meio incomum.

— Ele precisa de uma secretária com urgência. — Minto não querendo expor o real motivo de minha entrevista ser naquele horário. Eu que pedi, só porque queria vê-lo novamente.

— Buona fortuna Cecile. (Boa sorte).

Balanço a cabeça sorrindo e caminho para o elevador. O edifício de Andrew é lindo.

Tão lindo quanto o dono. Penso.

Eu pesquisei sobre a empresa dele. Descobri que seu prédio faz o maior sucesso. Sua fachada diferenciada com vidros em diversas cores hipnotizava qualquer um. Os vidros possui tecnologia exclusiva, controle solar e eficiência energética.

Localizado no privilegiado centro de Roma, a empresa Società Andrew, foi construída com recursos de última geração, o edifício comercial conta com 20 pavimentos de escritórios, totalizando uma área construída de 23 mil m². Tudo pensado nos mínimos detalhes pelo arquiteto e CEO, o magnata Andrew Castillo. Eu parecia uma enciclopédia, só por lembrar tudo isso.

Por mais que só tenha sido dois dias atrás que ele foi grosso, arrogante, incessível e muitas outras coisas, que eu poderia pensar facilmente, ainda assim não consigo sentir mais raiva dele, só consigo lembrar do nosso beijo, minha calcinha chega a ficar molhada só de lembrar.

O elevador faz um barulho ao abrir quando chega ao andar solicitado. Quando saio do elevador, noto um rapaz com a fisionomia muito séria, olhando a tela do computador, parecia confuso. Ele estava tão focado que não notou minha presença.

— Tudo bem? — Pergunto.

— Hã? — Ele levanta os olhos confusos. — Ah, sim, você deve ser a senhorita Cecile Viana. — Ele dá um sorriso fraco.

— Sim. — Digo sorrindo. — Por que o Senhor me parece tão preocupado?

— Não precisa me chamar de senhor, basta me chamar de Paulo.

— Va bene, Paulo. Então, o que te preocupa?

— Ultimamente estou tendo que fazer várias outras funções, estou tentando organizar uma forma de deixar tudo em ordem.

— Você já pensou em fazer um follow up?

— O que é isso? — Ele pergunta encostando-se à cadeira.

— É uma técnica de acompanhamento de tarefas pendentes, assim dizendo: É avaliar tarefas que já foram feitas.

— Como posso fazer isso?

— Depois posso te ajudar a fazer um, mas, agora tenho uma entrevista de emprego...

— Para ser secretária do Sr. Castillo? — Balanço a cabeça afirmando. — Maravilha, um trabalho a menos.

— Calma, nem fiz a entrevista ainda. — Respondo sorrindo.

Tenho algumas condições, não sei se ele vai concordar.

— Creio que o emprego já é seu. — Ele sorriu de uma forma que soubesse algo que eu não sei. Retribuo o sorriso constrangida.

— O Sr. Castillo pode me atender agora? — Pergunto mudando de assunto.

— Claro. — Ele diz se levantando. — Vou te anunciar.

Ele abre uma linda porta de madeira de correr embutida, sua cor é branca e dava um lindo contraste com o vidro da parede. É um tipo de vidro que impossibilita ver a parte de dentro.

Passado um minuto, ou dois, ele retorna.

— Senhorita Cecile, o Sr. Castillo vai te receber agora. Foi ele falar isso que minha barriga se contraiu de apreensão e o frio em meu estômago foi inevitável.

Meus instintos me mandavam ir embora, não seria fácil conviver profissionalmente com alguém que sua calcinha fica molhada só de escutar o nome da pessoa. Mas preciso do estágio e trabalhar para as empresas Società Andrew, será muito bom para o meu currículo.

— Seja o que Deus quiser. — Digo em um sussurro. — Grazie, Paulo.

Não espero resposta e caminho até a porta, abro e entro.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo