JILLIAN
Já fazia dois dias desde minha conversa com Richard, mas minha mente não parecia nem um pouco mais esclarecida. Passei aquelas quarenta e oito horas pensando, refletindo, ponderando, analisando, mas por mais que eu já imaginasse qual acabaria sendo a minha resposta, ainda não queria aceitá-la. Porque era assustador demais. Porque era precipitado. E porque… Ah, droga, porque eu não queria.
Não era só o fato de me prender a alguém para o resto da minha vida, porque eu não me importaria em estar sempre perto de Richard, já que nos dávamos tão bem. O problema era que ser rainha implicava em certos comportamentos que muito me incomodavam. Eu teria que abandonar vários dos meus sonhos. Eu poderia terminar a faculdade, mas não poderia arrumar um emprego; minhas obrigações se resumiriam a causas humanitárias e a acompanhar meu marido em eventos sociais. Tudo bem que a parte social da coisa me agradava, ainda mais porque eu imaginava que Richard iria me dar voz ativa em muitas decisões, e eu poderia ajudar pessoas com meu título, mas ainda não era tudo.
Eu queria conhecer o mundo, tornar-me famosa pelo meu trabalho, crescer na carreira, principalmente sem usar o nome do meu pai ou seus contatos, mas aceitando a louca proposta de Richard, meu feito mais importante seria o de esposa do rei.
Mas, ao mesmo tempo, não conseguia me imaginar tomando uma decisão que poderia prejudicar o melhor amigo que já tive na vida.
E por falar em melhor amigo, a outra amiga mais íntima que eu tinha chamava meu nome, provavelmente pela terceira vez, porque de tão distraída eu não conseguia prestar atenção em nada à minha volta.
— Jill? O que houve? Você está estranha desde ontem? Tem a ver com o que a confusão com Stuart?
Ah, além do meu probleminha pessoal em relação ao casamento, ainda havia aquele outro impasse. Todo mundo na faculdade ficou sabendo da história com Stuart e a forma como os dois príncipes tinham me defendido, e agora esse era o assunto de todos os corredores. Estava louca para que outra coisa empolgante surgisse para que a cena protagonizada por mim, Stuart, Andrew e Richard fosse esquecida.
— Não. Isso já é passado. Tudo se resolveu bem. Meu problema é outro…
Não sabia se deveria contar a Kelly sobre minha conversa com Richard, pois não imaginava até que ponto aquilo precisaria ser segredo, mas eu confiava na minha amiga e sabia que ela não iria espalhar uma confissão de tal magnitude. Além disso, ela também conhecia Richard, eles se davam bem, e ela nunca faria nada para prejudicá-lo. Ou melhor, não faria nada para prejudicar ninguém, já que era uma das criaturas mais doces que eu conhecia, além de uma das mais bonitas, com aquela aparência totalmente irlandesa, com os olhos azuis e o cabelo loiro.
— Nosso rei está à beira da morte — joguei a informação de uma forma levemente desajeitada. Talvez, se estivesse mesmo com alguma pretensão de ser rainha, eu devesse começar a trabalhar no meu traquejo social.
— Rei George? Mas… O que…
— Pelo que Richard me falou é câncer.
Ela balançou a cabeça, com uma expressão triste no rosto, que expressava mais ou menos o que eu também sentia. Era muito doloroso imaginar uma pessoa tão querida partindo.
— Então Richard irá se tornar rei mais cedo do que imaginávamos — ela falou com outro tipo de expressão, mas uma que eu não soube como interpretar.
— Sim, e é aí que entra o problema — comecei a confissão, sentindo-me constrangida mesmo antes de começar a dizer as palavras. — Richard precisa se casar e como ele não tem nenhuma pretendente a vista, ele… Bem, ele fez a proposta a mim.
— A você? — ela exclamou com entusiasmo demais, fazendo algumas pessoas na nossa sala de aula olharem para nós. Percebendo o que tinha feito, ela me pediu desculpas em um sussurro e abaixou o tom de voz. — Mas como assim, Jill? Eu pensei que vocês fossem só amigos.
— E somos! Ou melhor… sempre fomos. Mas ele me disse que não consegue pensar em uma saída melhor. Que ao menos nós nos amamos, mesmo que não seja como homem e mulher.
— Sim, faz algum sentido. Mas… Meu Deus… isso é…
— Perturbador? Surpreendente? Irreal?
— Qualquer uma dessas palavras serviria perfeitamente. Você resumiu bem — ela disse parecendo ainda muito atordoada. — E o que você respondeu?
— Nada ainda. Pedi um tempo. Não é a mesma coisa que decidir o que quero comer no jantar — ironizei.
— Claro que não. — Ele fez uma pausa, levando a mão à cabeça. — Nossa, Jill! É muito para assimilar. Imagino para você…
— Sabe o que é pior? — Kelly balançou a cabeça, me incentivando a continuar a falar. — Ele me beijou no domingo. Beijou para valer.
— E foi bom, pelo menos?
— Bem, você já o beijou… sabe bem que ele é bom nisso.
Kelly corou.
— Mas não é a mesma coisa. Eu estou perguntando para saber o que você sentiu. Por mais que um cara beije bem, se não tiver química…
— É, não tem. Gostei do beijo, imagino que ele seja bom em muitas outras coisas também… — Deixei o resto da frase no ar, para que Kelly me desse a resposta para a pergunta que eu não tinha feito, por livre e espontânea vontade, mas ela corou mais ainda, se é que era possível. Sim, Kelly e Richard também tinham feito muito mais do que trocarem alguns beijos. Pensando nisso, aliás, uma dúvida surgiu na minha mente: — Me diz uma coisa: se por acaso eu aceitar o pedido, vou te magoar? Você tem sentimentos por Richard?
Kelly balançou a cabeça em negativa novamente.
— Não, fica tranquila. Foi só um lance de pele mesmo. Foi muito bom, não posso negar, mas já faz dois anos, né, Jill? Eu não estaria vivendo um amor platônico até hoje.
— Tudo bem. Menos mal.
— Mas você está cogitando essa hipótese?
Respirei fundo, rabiscando aleatoriamente uma folha do meu caderno, fazendo um desenho aleatório, só para distrair minhas mãos e minha cabeça.
— Não tem como não cogitar. Imagina a minha situação… Se eu disser que não, estarei colocando em risco todo o país. Se eu disser que sim…
— Estará colocando em risco o seu coração. — Olhei para ela, parando o que estava fazendo no papel, com uma expressão quase assustada. Seria possível que fosse tão óbvio? — Não é mesmo?
— Eu não vou me apaixonar por Richard. Se tivesse que acontecer, já teria acontecido, você não acha?
— Eu não sei de nada, Jill. Tudo pode acontecer. — Kelly deu de ombros, e eu sabia que ela estava certa. Não podia me agarrar a certezas tão frágeis. Eu ainda não tinha sentido nada pelo beijo de Richard, mas se ele decidisse se empenhar em me seduzir, quanto tempo demoraria para conseguir? — Mas me diz uma coisa… e Andrew?
— O que tem ele? — Arregalei meus olhos.
— O cara te salvou na boate. Brigou por você. Saiu te carregando como um verdadeiro Super-homem. Vai dizer que nada disso mexeu com você?
Teria mexido? Não, não era possível. Andrew era um homem que sempre me deixara desconfortável, com quem eu não tinha a menor ligação, embora o conhecesse desde a adolescência.
— Ele foi gentil, e eu estou grata. Mas é só isso.
— Fala sério, Jill! O cara é um gato e te olha daquele jeito…
— De que jeito?
— Como se fosse te devorar. Ele é louco por você. Ouça a voz da experiência. Lá na boate foi só uma prova disso.
— Ele olha para todo mundo do mesmo jeito. — Será que olhava mesmo? Ou era nisso que eu queria acreditar?
— Ah, claro que não. Se ele olhasse para mim daquele jeito, eu já teria pulado naquele colo há muito tempo.
— Kelly, você sabe da história do acidente. Sabe que ele não é confiável…
— Boatos sempre serão boatos. Me admira você acreditar neles, ainda mais em se tratando de algo que envolve a família real. E o filho bastardo ainda por cima, que sempre foi o pária. Então quer dizer que se eu devo acreditar em tudo o que dizem, você e Richard estão vivendo um romance às escondidas…
— Dependendo da minha resposta,vai se tornar verdadeiro.
— Mas não era quando saiu a matéria. Esses jornais são sensacionalistas. De repente a coisa não foi bem como eles nos fizeram acreditar. Nunca vi Andy fazendo mal a ninguém.
— Sim, mas antes de ontem ele nunca tinha feito bem também.
— Prefiro acreditar no bem e não no mal. — Assim que ela terminou de dizer isso, nosso professor entrou na sala, interrompendo a conversa. Porém, eu já estava com a pulga atrás da orelha. Tanto em relação a Richard quanto a Andrew.
As coisas só ficavam mais e mais complicadas.
***
JILLIAN
Cada vez que olhava no relógio e percebia que mais uma hora havia se passado, sentia como se estivesse vivendo mediante uma contagem regressiva. Cada instante vivido era um a menos que tinha para continuar pensando na proposta de Richard.
Porém, ao chegar da faculdade naquele dia, percebi que não teria muito mais tempo para ficar enrolando meu melhor amigo, afinal, ele estava bem ali, sentado no sofá da minha casa, conversando com meu pai.
Assim que me aproximei dos dois, com a mão firme na alça da minha mochila, simplesmente porque não sabia o que fazer com ela, os dois se levantaram de forma respeitosa para me receber, e Richard me olhou com olhos arregalados, balbuciando algo como “Eu não falei nada. Juro!”.
Mas de que diabos ele poderia estar falando?
— Ah, filha, que bom que chegou! — Meu pai foi logo vindo na minha direção e colocando a mão no meu ombro. Achei bastante estranho, porque ele normalmente não era dado àquele tipo de demonstração pública de afeto, mesmo as mais simples. — George me contou tudo, e eu estou muito satisfeito. Estava aqui mesmo reclamando com Richard por ele não ter vindo pedir a sua mão a mim.
Imediatamente voltei-me na direção de Richard, olhando-o com reprovação, mas ele deu de ombros, demonstrando que estava tão perdido quanto eu.
— Mas, pai… eu ainda não respondi nada. Ainda estou… pensando… — falei com cautela, porque sabia que aquela minha resposta poderia causar a terceira guerra mundial, ao menos dentro da minha própria casa.
Toda a expressão alegre que o rosto do meu pai apresentara quando se aproximou de mim transfigurou-se em um semblante contrariado, enquanto suas faces coravam de uma forma bastante assustadora.
— Podemos conversar em particular, Jillian? — ele fez a pergunta, mas seu tom de voz não dava nenhuma margem para que eu discordasse ou entrasse em algum conflito ali. Sobrou-me, então, a opção de balançar a cabeça em concordância. — Nos dê licença por um minuto, Richard. Já devolvo sua noiva.
Noiva… Eu ainda não era noiva de ninguém! Mas claro que meu pai nem deu atenção ao que eu falei sobre não ter aceitado ainda o pedido. Minha opinião não valia de nada naquele caso. O casamento, aparentemente, tornara-se uma imposição das famílias.
Quando já estávamos afastados, ele agarrou meu braço com força e me virou na direção dele.
— Que história é essa de pensar? Você entende bem o que aconteceu? Você foi pedida em casamento pelo Príncipe herdeiro de Manselo. O futuro rei. Você será rainha! — apesar de estar visivelmente alterado, ele não levantou o tom de voz, provavelmente para Richard não ouvir a conversa.
— Nada disso me interessa. Se me conhecesse bem, saberia que nunca tive a intenção de me casar por dinheiro ou por um título. — Em uma rara demonstração de audácia, levei as mãos à cintura, tentando me impor.
— Você e Richard sempre viveram grudados, desde crianças.
— Porque somos amigos, só isso. Não nos amamos.
— Bem, pelo que entendi, só falta você aceitar o pedido, que, aliás, já foi feito. Aparentemente, ele já topou.
Respirei fundo, impaciente.
— O senhor não acha que esta é uma decisão que só cabe a mim e a Richard?
O queixo do meu pai caiu, deixando-o boquiaberto. Seus olhos verdes, os quais eu não herdei, ficaram levemente arregalados, e eu compreendi que tinha passado um pouco do limite na rebeldia. Não que tivesse dito algo muito grave, mas para Owen (...) ser contrariado era sempre problemático.
— Não é apenas um problema seu, mocinha. Tem a ver com o futuro do seu país. Às vezes precisamos fazer pequenos sacrifícios. E vamos combinar que o seu nem é tão grande assim. Richard será um bom marido, é um rapaz jovem, bonito, e vocês se gostam. Não vejo como isso poderia dar errado.
Dizendo isso, ele saiu de perto de mim, me deixando com aquela frase. Eu também não via como poderia dar errado, e era isso o que tanto me assustava, porque havia um detalhe muito importante que poderia colocar tudo a perder, e seria minha culpa. Não estava apaixonada por Richard, e sabia que nada mudaria isso.
Tentando afastar este pensamento, voltei para perto de meu amigo e gesticulei para que ele me acompanhasse até o meu quarto. Subimos as escadas em silêncio, cada um de nós com sua coleção de pensamentos perturbadores, e isso já começou a me incomodar. Em vinte anos de amizade, nunca ficamos desconfortáveis na presença um do outro, mas quando fechei a porta e me vi sozinha naquele cômodo tão íntimo com ele, senti uma inquietação que era completamente nova na presença do cara que era o melhor amigo que já tive na vida.
— Não me olha assim, Jill, por favor… — ele quebrou o silêncio.
— Assim como?
— Primeiro me condenando. Eu juro que não falei nada para o seu pai. O meu é que saiu precipitando as coisas. E em segundo lugar, você parece estranha. Como se não me conhecesse durante a vida inteira.
Então ele também tinha percebido.
— Me desculpa, Richie, mas é inevitável. As coisas mudaram… — disse, jogando minha mochila sobre a minha poltroninha de leitura e me sentando na cama.
— Não, Jill, por favor, não fale isso. — Ele se ajoelhou na minha frente, pegando ambas as minhas mãos quase com desespero. — Vou acabar me arrependendo de ter te pedido em…
Ele mal conseguia concluir o pensamento. Como conseguiríamos fazer aquilo? Como iríamos dizer sim um para o outro no altar e consumarmos a união? Meu Deus, eu mal podia imaginar esta parte. Por mais prazeroso que pudesse ser, já que Richard era um homem muito experiente, seria quase como fazer amor com um irmão.
— Eu já entendi que você não quer. Aliás, não quer de jeito nenhum. Está apavorada só com a hipótese… — Ele disse isso levantando-se e começando a andar de um lado para o outro no quarto novamente. Aquele assunto visivelmente também o deixava um pouco transtornado.
— Não é isso. Não é o fato de ser com você que me assusta. É só que é tudo tão repentino… Eu sou tão jovem para me casar…
— E você não me acha jovem para ser rei?
Claro que o que ele dizia fazia algum sentido, mas eu poderia muito bem dizer que cada um tinha que se preocupar com seus próprios problemas. Ele nascera sabendo que teria que assumir o trono a qualquer momento, afinal, o rei George não seria eterno. Tudo bem que esperávamos que ele fosse viver mais, mas deveríamos estar prontos para qualquer fatalidade. Só que ninguém nunca me falou, naqueles meus vinte e cinco anos, que chegaria o dia em que eu teria que decidir se me casaria ou não com meu melhor amigo, por quem nunca senti nenhum tipo de atração física.
— Richie, vem cá. — Dei alguns tapinhas no colchão, ao meu lado, pedindo que ele se sentasse. Assim que o fez, aconcheguei-me a ele e o empurrei para que se deitasse, colocando-me sobre seu peito. Ele me abraçou, como já tinha feito várias vezes.
Não pude deixar de sentir algum incômodo com aquele ato tão comum entre nós. Durante nossos muitos anos de amizade, eu já tinha dormido nos braços musculosos de Richard muitas vezes, aninhado-me em seu colo e buscado sua força quando mal conseguia me manter de pé de tão destruída, principalmente depois da morte da minha mãe. Por isso era tão estranho sentir-me reticente em relação a ele. Esforcei-me ao máximo para que ele não percebesse, mas não deu certo.
— Você está dura como pedra, Jill. Não vou te beijar de novo. Não sem o seu consentimento.
Aquilo me fez respirar fundo. Se fôssemos mesmo nos casar; se eu fosse embarcar naquela loucura com ele, precisaria começar a me acostumar a permitir que tomasse suas liberdades comigo. Teria que me acostumar com suas mãos me tocando, com seus lábios me beijando e com muitas coisas mais. Senti-me estremecer, e percebi que Richard notou, pois me estreitou um pouco mais nos braços.
Tímida, ergui meu corpo e apoiei-me em um cotovelo, inclinando-me sobre ele. Respirei fundo e encostei meus lábios nos dele bem de leve, apenas como uma carícia inocente. Um pouco menos hesitante do que eu, Richard passou um braço possessivo ao redor da minha cintura, como se não quisesse que eu escapasse. Rapidamente aprofundou o beijo, usando a língua para abrir a minha boca e invadindo-me de forma sensual.
Tentei fechar meus pensamentos, para que não ficasse me lembrando que aquele era Richard, meu amigo de infância. Precisava pensá-lo como o homem atraente e sedutor que era, que sabia o que estava fazendo, porque ele realmente sabia. Na verdade, ele parecia estar gostando bastante do beijo, pois logo me deitou de costas na cama, colocando-se sobre mim, grudando nossos corpos. Não demorou muito para que eu sentisse sua ereção crescer e avolumar-se dentro de sua calça jeans, pressionando minha barriga.
Talvez o problema fosse comigo. Eu não poderia ficar presa a uma história de passado, a um beijo de um garoto sem rosto, que eu não fazia ideia de quem era. Já fazia sete anos, e eu nunca tinha descoberto sua identidade. Estava mais do que na hora de superar aquela paixonite quase doentia e me entregar a novos sentimentos. Eu já amava Richard, o que era uma grande coisa. Agora, precisava enxergá-lo como o homem que era.
A mão grande de Richard foi parar em minha coxa, erguendo minha saia e acariciando minha pele. Sua mão experiente agarrou minha carne com força, mas sem me machucar. Era um contato gostoso, e eu comecei a apreciar o beijo como deveria ser.
Soltei um suspiro quase involuntário, e isso pareceu incentivá-lo ainda mais, que tornou o beijo mais urgente, mais voraz.
Eu poderia me acostumar com aquilo; poderia me contentar em beijar apenas aqueles lábios pelo resto da minha vida. Com o tempo, poderia aprender a amá-lo como um marido e não apenas como um amigo. Talvez pudesse dar certo.
Quando Richard se afastou, fixando seus olhos nos meus, quase sombrios, tomados por luxúria, senti-me quase intimidada. Hesitei um pouco, mas aquele era um momento tão bom quanto qualquer outro para anunciar minha decisão. Era provavelmente impulsiva, mas não havia muita escolha. Se lhe dissesse não, eu estaria falhando com muitas pessoas.
— Tudo bem, Richie. Vamos fazer isso. Vamos nos casar.
Os olhos de Richard brilharam, e ele praticamente me amassou em um abraço de urso, que me fez sentir em casa. Os braços de Richie eram como um lar para mim, e só o fato de saber que os teria para sempre, dava-me uma sensação reconfortante.
Eu realmente poderia me acostumar com isso.
Mas por enquanto, ainda me sentia muito insegura.
— Eu prometo que vou te fazer feliz. Vou cuidar de você. Vamos aprender a nos amar como homem e mulher. Esse beijo provou isso.
Respirei fundo. Esperava que ele estivesse certo.
— Acredito nisso, Richie. Você nunca falhou em suas promessas. — Tentei sorrir, e ele me imitou, embora seu sorriso fosse muito mais amplo do que o meu.
Selamos o compromisso que tínhamos acabado de estabelecer com mais um beijo; um bem mais rápido, com menos intensidade, mas, ainda assim, mais uma tentativa de afastarmos a imagem fraterna que alimentávamos um pelo outro.
Richard finalmente saiu de cima de mim, deitando-se ao meu lado e me puxando para me acomodar em seu peito.
— Precisamos fazer um anúncio formal aos nossos pais e, depois, a Manselo.
Novamente estremeci, e ele me estreitou um pouco mais dentro de seu abraço.
— Sei que é uma situação complicada, Jill, mas pode dar certo. Podemos fazer dar certo. Somos bons juntos. Sempre fomos.
— Como amigos, sim.
— Podemos ser bons de outras formas também. Ao menos os beijos estão funcionando… Acho que podemos, até, tentar mais uma vez.
Ele veio para cima de mim novamente, tomando meus lábios com paixão, e eu fiz todo o esforço para me deixar levar. E acabei conseguindo, aproveitei o beijo como deveria ser, sem pensar em futuro, em quem estava beijando e muito menos naquela história de casamento.
Sem contar o fato de que eu estava prestes a me tornar rainha.
Ah, meu Deus!
***
JILLIAN
Se eu pensava que a decisão em si seria a pior parte, eu não tinha a menor noção do que estava ainda por vir.
Meu pai jamais me tratara tão bem. Fazia muitos anos que sequer tocava em mim, mas em pouco tempo, logo depois que lhe dei a notícia do casamento, fui beijada, abraçada, e ele nunca demonstrou tanto orgulho. Era triste pensar que sempre fui uma boa filha e uma aluna exemplar, mas a primeira vez que sentia que tinha feito algo que o deixara feliz não dependera exatamente de mim; não exigira um esforço grande além de um sim.
Chegamos ao palácio naquela noite, vestidos como se estivéssemos prontos para um jantar de gala. Minha madrasta me fez usar um longo; não muito pomposo, mas elegante o suficiente, em uma cor de berinjela, que ela dizia que realçava o tom pálido da minha pele. Acatei sua ideia, porque Brittany tinha um senso de moda incrível, e nós nos dávamos muito bem. Jamais poderia considerá-la uma substituta para minha mãe, mas era uma boa pessoa, dez anos mais jovem do que o meu pai, mas era extremamente devotada a ele, embora ele não soubesse valorizá-la como merecia.
Fomos recebidos pela governanta; uma mulher austera, mas muito competente, que nos guiou até o imenso salão de visitas, onde George e Richard já nos esperavam. Eu seguia de braços dados com Kelly, a quem levei, a convite do próprio Richard, já que ele sabia a importância daquela amiga para mim, que seria, obviamente, minha dama de honra.
O rei George me recebeu com um abraço e dois beijos no meu rosto, um de cada lado. Nunca tivemos este tipo de intimidade, mas imaginei que agora, que eu estava prestes a fazer parte da família, ele teria gestos de mais ternura do que antes, embora também não fosse dado a este tipo de demonstração de sentimentos.
Richard veio ao meu encontro, arriscando um beijo inocente em meus lábios, o que me deixou um pouco constrangida, mas tinha certeza que acabaria me acostumando.
— Vocês não têm noção do quanto estou feliz com esta união — Vossa Majestade anunciou, com um sorriso de orelha a orelha. Ele era um homem bonito, muito parecido com o filho, ainda forte, de uma forma que ficava difícil acreditar que estava à beira da morte.
— Eu também estou muito satisfeito, meu amigo. Acho que nossos filhos serão excelentes governantes de nosso amado país.
— Já está querendo me ver a sete palmos da terra, Larry? — brincou George, dando um tapinha no ombro do amigo. Abraçados, os dois saíram de perto de mim, com a promessa de que nosso rei apresentaria o melhor uísque que meu pai já tinha provado.
Kelly e Brigitte também se afastaram juntas, estrategicamente me deixando sozinha com Richard, mas antes que pudéssemos falar qualquer coisa, novamente a porta do salão se abriu, trazendo mais duas visitas: Frederik e a esposa, Shelly.
Assim que ambos entraram, sorridentes e elegantes, todo o salão pareceu murchar. Eles claramente não eram queridos pelos convidados daquele jantar. E, percebendo isso, cochichei no ouvido de Richard:
— O que eles estão fazendo aqui?
— Protocolo. Como segundo na linha de sucessão, Frederik precisa estar presente em certos anúncios de família.
— Mas ele veio do ducado de Tessex só para isso? — falei, arregalando meus olhos.
— Não esperávamos que ele fosse aparecer. Só que acho que ele tem muito interesse em verificar com os próprios olhos o nosso relacionamento. Fique de olho nele, Jill. E se ele te importunar, fale comigo. Não vou deixar que te provoque.
Assenti, e Richard tomou meu braço no dele, em um gesto protetor, enquanto o casal recém chegado se aproximava de nós.
— Ah, os pombinhos… Não posso dizer que não foi uma surpresa — Frederik claramente provocou.
— Não? Pois eu acho algo bem lógico, levando em consideração que eu e Jillian somos amigos há muito tempo. Não era difícil que uma amizade tão forte acabasse se tornando algo mais.
— Eu acho que vocês formam um casal muito bonito — Shelly disse, com aquele sorriso falso em seu rosto de Barbie plastificada.
— Obrigada — respondi, tentando soar simpática, embora não estivesse com a menor vontade de sorrir. Não apenas por não ir com a cara deles, mas por toda a situação.
— E o seu irmão, Richard? Não o estou vendo por aqui… — Shelly perguntou, tentando disfarçar o interesse, mas eu consegui perceber um brilho diferente em seus olhos. Um tipo de malícia. Seria possível que seu marido não percebesse? Para mim, parecia muito óbvio.
— Deve estar chegando — foi a resposta de Richard, que pareceu provocar um sorriso muito malicioso em Frederik.
— Sempre achei que se esta mocinha aqui acabaria fisgando um dos nossos príncipes. Mas meu palpite era por Andrew.
O quê? De onde ele tinha tirado aquela história?
Acho que Frederik percebeu a minha cara de espanto, porque soltou uma gargalhada que me provocou arrepios.
— Não me olhe com essa cara, querida. Era apenas uma suposição. Até porque, imaginamos que nosso Richard aqui fosse se interessar por alguma moça da nobreza. Você combina mais com Andrew, que… bem…
— É um bastardo? — indaguei por entre dentes.
— Sem ofensas… — ele deixou no ar, e sua esposa, tão insuportável quanto, deu uma risadinha.
— Não admito esse tipo de tratamento à minha noiva, Frederik! — Richard exclamou com veemência, mas eu coloquei a mão no braço dele, tentando acalmá-lo.
A verdade era que eu não tinha muita credibilidade naquele momento para pedir calma a alguém, pois estava fervendo de raiva por dentro. Milhares de respostas mal educadas surgiram na minha mente, mas eu sabia que não poderia falar nada ali. A partir daquele momento, que me tornava oficialmente noiva de um membro da nobreza, eu teria que segurar minha língua ferina ou qualquer coisa poderia virar motivo para um escândalo.
Sendo assim, eu apenas decidi me afastar.
— Está tudo bem, Richie. Preciso ir ao banheiro, não vou demorar.
E sem nem esperar a resposta dele, fiz o que disse que iria fazer, deixando-o ali com os primos.
Havia uma dúzia de banheiros naquele palácio, e eu busquei um que ficava um pouco mais afastado do salão, na intenção de ter um pouco de privacidade.
Entrei, fechei a porta à chave e abri a torneira, na intenção de lavar o rosto, mas assim que me olhei no espelho, desisti. Eu não poderia estragar a maquiagem feita pela assistente de Brigitte. Ela havia caprichado e feito exatamente o que pedi, esfumando meus olhos em preto e deixando os lábios com um batom nude muito bonito. Contentei-me, então, em levar a mão molhada à nuca, tentando acalmar-me. Fazia apenas algumas horas que tinha aceitado o pedido de casamento de Richard, e já estava me deparando com o primeiro problema.
Aqueles dois tinham mesmo me irritado. Como ousavam me diminuir só porque eu não fazia parte da nobreza? Meu pai era um diplomata, o braço direito do rei; e mesmo que eu fosse filha de um carpinteiro, eu seria mais digna do que aquela cobra que Frederik chamava de esposa, que era parente distante ‒ bem distante mesmo ‒ da família real da Inglaterra.
Mas havia outra coisa que ele dissera que me deixara com a pulga atrás da orelha. Seria possível que mais uma pessoa estivesse ligando meu nome ao de Andrew? Nós nem sequer éramos amigos, de onde tinham tirado aquela ideia de que poderíamos nos tornar um casal? Nada em relação ao nosso comportamento indicava isso, e eu não tinha o menor interesse nele. Tudo bem que não podia negar que ele era ridiculamente bonito, mas eu mal o conhecia.
Passei algum tempo ali dentro, na segurança que aquele pequeno espaço me oferecia, mas meu celular vibrou dentro da minha clutch prateada, e eu o chequei. Era uma mensagem de Richard, perguntando onde eu estava, que o jantar iria começar. Respondi que estava a caminho.
Então, passei as mãos pelos cabelos, arrumando-os um pouco mais e ensaiei um sorriso diante do espelho, sabendo que seria difícil manter-me verdadeiramente animada na companhia daquelas pessoas.
E isso foi provado no exato momento em que saí do banheiro e dei de cara com Frederik, que certamente estava me esperando do lado de fora, encostado em uma parede, com os braços cruzados.
Ele era bonito também; muito alto, elegante, sempre bem vestido, com os cabelos escuros bem cortados, e seus olhos castanhos eram tão bem marcados que sempre tinha a impressão de que ele usava um delineador na linha d’água, mas nunca parei para reparar de verdade. Havia um leve toque de estrabismo em seus olhos, mas isso lhe dava ainda mais charme. Contudo, sua aparência em nada refletia seu interior, que era arrogante, mesquinho e egocêntrico.
— Frederik? O que faz aqui? — Eu sabia muito bem o que ele estava fazendo ali, mas a pergunta saiu em um impulso.
— Você deve imaginar… Vim ter uma conversinha particular com você.
— É uma pena, mas acho que não temos nada para falar um ao outro. — Minha reação foi sair logo dali, pois aquele cara estava começando a me intimidar. No entanto, ele agarrou meu braço, impedindo-me de me afastar.
— Você não vai a lugar algum antes de me ouvir. Se vocês dois acham que me enganam com esse teatrinho, estão muito enganados. Vou desmascará-los e descobrir algum podre seu, menina. Esse casamento não vai sair se depender de mim.
Não pude deixar de rir.
— Mas você é mesmo um péssimo perdedor, hein? Sabe que se Richard se casar e começar a ter filhos, sua chance já era.
Ele apertou meu braço com ainda mais força.
— Garota insolente! Você não serve para ser rainha, assim como Richard não serve para ser rei. Eu vou…
— Vai o quê? — Uma voz masculina interrompeu Frederik. Nós dois olhamos para a direção de onde ela vinha e nos deparamos com Andrew chegando.
Seus cabelos loiros estavam bagunçados, e o casaco de couro era o toque final para completar o look de bad boy, de quem tinha acabado de andar de moto.
— Ah, aí vem o cavaleiro andante da princesa. Ou melhor… da plebeia. Se depender de mim, você nunca chegará ao altar.
Soltando-me, Frederik se afastou, deixando-me sozinha com Andrew. Este veio em minha direção, com uma expressão aflita, olhando para o meu braço, cuja marca dos dedos daquele babaca começava a se destacar contra minha pele branquinha.
— Você está bem? Ele te machucou? — perguntou afobado, tocando meu braço com delicadeza.
Surpreendida pelo contato tão íntimo, voltei meus olhos na direção da mão dele, um pouco abismada. Isso deve ter tirado Andrew da espécie de transe no qual ele parecia estar, pois logo me soltou.
Apesar do toque de Andrew ter me distraído, eu não podia negar que Frederik tinha me deixado um pouco amedrontada, principalmente com aquela última promessa, de que eu não chegaria ao altar. O que ele queria dizer com aquilo? Até onde iria para manter suas possibilidades de se tornar rei?
— Você está pálida... — Ele novamente se aproximou, levando a mão ao meu rosto. — Vem, vou te acompanhar até o meu irmão.
Apenas consegui assentir e aceitar o braço que ele me oferecia, enquanto me conduzia ao salão, para onde eu mal queria retornar.
ANDREW A solidão era sempre a minha melhor companhia. Havia vozes demais falando dentro da minha cabeça e do meu coração, tantas que se tornava quase insuportável, às vezes, estar com outras pessoas. Eu sentia como se não pertencesse a lugar algum; como se a imagem do bastardo, impuro e indigno me seguisse por onde quer que eu fosse. E eu poderia jurar que isso nunca me incomodou. Se eu tivesse descoberto de onde vinha quando era criança, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez, suportar aquele tipo de comentário na escola, especialmente os que ofendiam a minha mãe, pudesse ter me causado problemas, mas quando se tem quinze anos e já passou por todas as coisas que eu passei, esse tipo de ofensa não nos atinge mais.&nbs
JILLIAN Depois do fatídico dia do jantar, as coisas voltaram ao normal. Ou melhor, quase. Dali em diante nada mais seria normal na minha vida, nem antes nem depois do casamento. Nos dias seguintes, eu saía da faculdade e ia direto para o palácio, onde passava mais tempo do que na minha própria casa. Meu futuro sogro havia contratado uma professora para me ensinar etiqueta, e ele e meu pai passavam horas me passando informações sobre a família real, sobre minhas futuras responsabilidades e sobre tudo que eu precisaria saber para me tornar rainha. A professora ‒ Sra. Pomerly ‒ era uma mulher de uns setenta anos, mas de uma elegância &ia
JILLIAN Chegava a ser doloroso pensar que era um sábado, que mal passava das oito da manhã, mas eu já estava saltando de um carro preto elegante, cumprimentando um dos motoristas da família real e entrando no palácio, sendo recebida pela governanta e sua equipe. Eu tinha horários marcados na agenda até o momento da festa. Provas finais do vestido, ensaio de dança, ensaio do discurso ‒ que não fui eu que preparei, é claro ‒, além da melhor parte: eu iria passar algumas horas sendo paparicada com direito a massagem nos cabelos, nas costas, nos pés e um banho de beleza. E isso era apenas a festa de noivado, quando fosse o casamento, no mínimo eu receberia uma semana de mimos. Até que a ideia não me desagradava. 
JILLIAN Precisei me arrumar em tempo recorde para a festa, mas se já não havia um único resquício de animação em minha alma, agora ela parecia mais vazia do que nunca. Eu não iria apenas me casar sem amor, mas também iria entrar em uma trama perigosa, angariando um inimigo contra o qual eu não sabia se poderia lutar. Quando me olhei no espelho, embora todos ao redor tecessem elogios a respeito da minha aparência, não consegui sequer sorrir. Ainda sentia cada resquício do medo de antes, por mais que já estivesse em segurança. Por mais que qualquer um pudesse dizer que eu talvez estivesse exagerando, que estava agindo como alguém sensível demai
ANDREW Ouvi um grito vindo de algum lugar do palácio e imediatamente parei o que estava fazendo para dar atenção, principalmente porque algo me dizia que era Jillian quem estava gritando. E por mais que sua voz soasse um pouco abafada, eu poderia jurar que ouvi um SOCORRO e um ME SOLTA. Minha cabeça começou a girar na mesma velocidade em que meu sangue se pôs a correr dentro das minhas veias. A primeira coisa na qual pensei foi que Fred estava ali e que tinha feito algo para Jillian. Mais uma vez. Saí correndo desesperado, seguindo os gritos e largando o livro que estava lendo sobre a cama. Contudo, antes que eu pudesse alcançá-los, os gritos cessaram, e eu não consegui mais segui-los. Desci, en
JILLIAN Apesar da presença de Fred ‒ que me causou arrepios só de vê-lo ‒, o café-da-manhã seguiu sem nenhum percalço. Demos uma entrevista para a TV local, para o programa de maior audiência, com uma apresentadora que era quase a nossa Oprah Winfrey. Foi até divertido, porque ela fez algumas perguntas que eram fáceis de responder, já que eu e Richard nos conhecíamos pela vida inteira. Trocamos alguns sorrisos cúmplices, e isso certamente contribuiu para que eu o perdoasse mais fácil. Só que eu sabia que isso era errado, portanto, assim que fomos liberados do compromisso, pedi um momento a sós com ele. 
ANDREW Certamente eu não era a melhor companhia naquele dia. Ainda relutei muito em pegar a moto e seguir viagem até a casa de campo, mas algo me impulsionou a fazer isso. Depois da perda que sofri, eu precisava estar perto de Jillian. Não que fosse certo, não que eu planejasse contar para ela o que tinha acontecido, mas só de olhar para seu rosto já me ajudaria a me sentir menos miserável. Acabei me abrindo e confessando mais do que deveria. Não queria que ninguém soubesse do meu trabalho na clínica, mas senti uma vontade quase desesperadora de desabafar, e sabia que só poderia fazer isso com ela. Quando a oportunidade surgiu, eu não vi alternativa, as palavras começaram a escapulir da minha garganta como se precisasse vomitá-
ANDREW Havia muita coisa pesando dentro do meu peito. Pequenas dores que, unidas, formavam uma corrente pesada, difícil de ser rompida. Então, decidi que tentar dormir depois de tudo o que tinha acontecido não seria uma boa ideia. Sempre gostei da noite. Ela sempre foi minha amiga, cúmplice e confidente. Quando saí da casa, na intenção de caminhar um pouco e de ficar próximo à natureza para tentar clarear minhas ideias, meu desejo era buscar a solidão. Aproximei-me da cachoeira, atraído por seu som, mas não esperava encontrar o objeto de meus pensamentos bem ali , sentada sobre a grama, com as pernas fle