JILLIAN
Precisei me arrumar em tempo recorde para a festa, mas se já não havia um único resquício de animação em minha alma, agora ela parecia mais vazia do que nunca. Eu não iria apenas me casar sem amor, mas também iria entrar em uma trama perigosa, angariando um inimigo contra o qual eu não sabia se poderia lutar.
Quando me olhei no espelho, embora todos ao redor tecessem elogios a respeito da minha aparência, não consegui sequer sorrir. Ainda sentia cada resquício do medo de antes, por mais que já estivesse em segurança.
Por mais que qualquer um pudesse dizer que eu talvez estivesse exagerando, que estava agindo como alguém sensível demai
ANDREW Ouvi um grito vindo de algum lugar do palácio e imediatamente parei o que estava fazendo para dar atenção, principalmente porque algo me dizia que era Jillian quem estava gritando. E por mais que sua voz soasse um pouco abafada, eu poderia jurar que ouvi um SOCORRO e um ME SOLTA. Minha cabeça começou a girar na mesma velocidade em que meu sangue se pôs a correr dentro das minhas veias. A primeira coisa na qual pensei foi que Fred estava ali e que tinha feito algo para Jillian. Mais uma vez. Saí correndo desesperado, seguindo os gritos e largando o livro que estava lendo sobre a cama. Contudo, antes que eu pudesse alcançá-los, os gritos cessaram, e eu não consegui mais segui-los. Desci, en
JILLIAN Apesar da presença de Fred ‒ que me causou arrepios só de vê-lo ‒, o café-da-manhã seguiu sem nenhum percalço. Demos uma entrevista para a TV local, para o programa de maior audiência, com uma apresentadora que era quase a nossa Oprah Winfrey. Foi até divertido, porque ela fez algumas perguntas que eram fáceis de responder, já que eu e Richard nos conhecíamos pela vida inteira. Trocamos alguns sorrisos cúmplices, e isso certamente contribuiu para que eu o perdoasse mais fácil. Só que eu sabia que isso era errado, portanto, assim que fomos liberados do compromisso, pedi um momento a sós com ele. 
ANDREW Certamente eu não era a melhor companhia naquele dia. Ainda relutei muito em pegar a moto e seguir viagem até a casa de campo, mas algo me impulsionou a fazer isso. Depois da perda que sofri, eu precisava estar perto de Jillian. Não que fosse certo, não que eu planejasse contar para ela o que tinha acontecido, mas só de olhar para seu rosto já me ajudaria a me sentir menos miserável. Acabei me abrindo e confessando mais do que deveria. Não queria que ninguém soubesse do meu trabalho na clínica, mas senti uma vontade quase desesperadora de desabafar, e sabia que só poderia fazer isso com ela. Quando a oportunidade surgiu, eu não vi alternativa, as palavras começaram a escapulir da minha garganta como se precisasse vomitá-
ANDREW Havia muita coisa pesando dentro do meu peito. Pequenas dores que, unidas, formavam uma corrente pesada, difícil de ser rompida. Então, decidi que tentar dormir depois de tudo o que tinha acontecido não seria uma boa ideia. Sempre gostei da noite. Ela sempre foi minha amiga, cúmplice e confidente. Quando saí da casa, na intenção de caminhar um pouco e de ficar próximo à natureza para tentar clarear minhas ideias, meu desejo era buscar a solidão. Aproximei-me da cachoeira, atraído por seu som, mas não esperava encontrar o objeto de meus pensamentos bem ali , sentada sobre a grama, com as pernas fle
JILLIAN Demorei a entender de onde vinha a dor que me fez acordar reclamando. As memórias foram retornando lentas e turvas, até que me dei conta do que tinha acontecido. Apesar disso, não demorei a reconhecer a mão que apertava a minha de uma forma confortadora. Era grande, firme, forte e gentil. Em meio à dor e ao sofrimento, ela se destacava como um ponto de paz e confiança de que tudo ficaria bem. — Calma, meu amor. Vou te dar mais uma dose de analgésico, ok? Só espera um pouco... — Continuei de olhos fechados, enquanto ouvia Andrew se movimentar ao meu redor. Eu sabia que ainda ia demorar a fazer efeito e qu
JILLIAN Fazia quase um mês que eu tinha saído do hospital, assim como nosso rei. O que, consequentemente, contava também pouco mais de dois meses desde que aceitei a proposta de Richard, que fez minha vida mudar drasticamente. Os trinta dias, no entanto, passaram voando com todos os preparativos para o casamento que aconteceria dali a dois meses. Faltava muito pouco tempo. E a cada dia que passava eu me sentia mais e mais apavorada. Andrew tomou a decisão de se manter distante. Raramente voltava para casa, e eu começava a acreditar que passava muito tempo na clínica onde me confessara que trabalhava como voluntário, porque nas poucas vezes em que o via, ele estava exausto e com aquela expressão pe
ANDREW A vida nunca foi fácil para mim. O destino nunca me entregou nada de bandeja, e eu sempre tive a impressão de que isso acontecia, porque nunca fui merecedor. Qualquer um que pudesse ouvir aquele tipo de pensamento me chamaria de ingrato, porque o universo tinha me concedido um título, uma condição mais do que confortável, uma família que me aceitava e a possibilidade de usar a profissão que eu havia escolhido para ajudar pessoas ‒ que era o que realmente fazia tudo valer a pena. E eu realmente considerava esses detalhes como um sinal de sorte. Porém, com todas essas facilidades vieram outros problemas. Sem contar as dificul
ANDREW Se era um sonho, eu preferia ficar dormindo para o resto da vida. Ter Jillian adormecida nos meus braços, exausta, depois de termos feito amor repetidas vezes, era um presente. Mais uma daquelas bênçãos que eu nem sabia se merecia. Passei boa parte da noite acordado olhando para ela, acariciando-a e velando seu sono, sentindo-a perto de mim, enquanto meu coração parecia prestes a explodir. Eu sabia que era algo que não iria acontecer novamente, mas uma porra de um resto de esperança ainda ardia em mim. Não queria me agarrar a isso, mas eu ainda tinha fé que o destino se encarregaria da reviravolta que iria permitir que ficássemos juntos. Ela despertou de vez pouco antes