ANDREW
Certamente eu não era a melhor companhia naquele dia. Ainda relutei muito em pegar a moto e seguir viagem até a casa de campo, mas algo me impulsionou a fazer isso. Depois da perda que sofri, eu precisava estar perto de Jillian. Não que fosse certo, não que eu planejasse contar para ela o que tinha acontecido, mas só de olhar para seu rosto já me ajudaria a me sentir menos miserável.
Acabei me abrindo e confessando mais do que deveria. Não queria que ninguém soubesse do meu trabalho na clínica, mas senti uma vontade quase desesperadora de desabafar, e sabia que só poderia fazer isso com ela. Quando a oportunidade surgiu, eu não vi alternativa, as palavras começaram a escapulir da minha garganta como se precisasse vomitá-
ANDREW Havia muita coisa pesando dentro do meu peito. Pequenas dores que, unidas, formavam uma corrente pesada, difícil de ser rompida. Então, decidi que tentar dormir depois de tudo o que tinha acontecido não seria uma boa ideia. Sempre gostei da noite. Ela sempre foi minha amiga, cúmplice e confidente. Quando saí da casa, na intenção de caminhar um pouco e de ficar próximo à natureza para tentar clarear minhas ideias, meu desejo era buscar a solidão. Aproximei-me da cachoeira, atraído por seu som, mas não esperava encontrar o objeto de meus pensamentos bem ali , sentada sobre a grama, com as pernas fle
JILLIAN Demorei a entender de onde vinha a dor que me fez acordar reclamando. As memórias foram retornando lentas e turvas, até que me dei conta do que tinha acontecido. Apesar disso, não demorei a reconhecer a mão que apertava a minha de uma forma confortadora. Era grande, firme, forte e gentil. Em meio à dor e ao sofrimento, ela se destacava como um ponto de paz e confiança de que tudo ficaria bem. — Calma, meu amor. Vou te dar mais uma dose de analgésico, ok? Só espera um pouco... — Continuei de olhos fechados, enquanto ouvia Andrew se movimentar ao meu redor. Eu sabia que ainda ia demorar a fazer efeito e qu
JILLIAN Fazia quase um mês que eu tinha saído do hospital, assim como nosso rei. O que, consequentemente, contava também pouco mais de dois meses desde que aceitei a proposta de Richard, que fez minha vida mudar drasticamente. Os trinta dias, no entanto, passaram voando com todos os preparativos para o casamento que aconteceria dali a dois meses. Faltava muito pouco tempo. E a cada dia que passava eu me sentia mais e mais apavorada. Andrew tomou a decisão de se manter distante. Raramente voltava para casa, e eu começava a acreditar que passava muito tempo na clínica onde me confessara que trabalhava como voluntário, porque nas poucas vezes em que o via, ele estava exausto e com aquela expressão pe
ANDREW A vida nunca foi fácil para mim. O destino nunca me entregou nada de bandeja, e eu sempre tive a impressão de que isso acontecia, porque nunca fui merecedor. Qualquer um que pudesse ouvir aquele tipo de pensamento me chamaria de ingrato, porque o universo tinha me concedido um título, uma condição mais do que confortável, uma família que me aceitava e a possibilidade de usar a profissão que eu havia escolhido para ajudar pessoas ‒ que era o que realmente fazia tudo valer a pena. E eu realmente considerava esses detalhes como um sinal de sorte. Porém, com todas essas facilidades vieram outros problemas. Sem contar as dificul
ANDREW Se era um sonho, eu preferia ficar dormindo para o resto da vida. Ter Jillian adormecida nos meus braços, exausta, depois de termos feito amor repetidas vezes, era um presente. Mais uma daquelas bênçãos que eu nem sabia se merecia. Passei boa parte da noite acordado olhando para ela, acariciando-a e velando seu sono, sentindo-a perto de mim, enquanto meu coração parecia prestes a explodir. Eu sabia que era algo que não iria acontecer novamente, mas uma porra de um resto de esperança ainda ardia em mim. Não queria me agarrar a isso, mas eu ainda tinha fé que o destino se encarregaria da reviravolta que iria permitir que ficássemos juntos. Ela despertou de vez pouco antes
ANDREW Novamente a sorte estava do meu lado. Se eu tivesse chegado uma meia hora depois à casa de Juliet, Jillian teria sido levada por aqueles caras. Não era possível que Frederik não tivesse desistido de incomodá-la. Isso me deixava furioso, além de muito preocupado. Ao meu lado, ela permanecia calada, embora eu não conseguisse me esquecer de suas palavras pouco antes de entrarmos no quarto. Seria possível que realmente acreditasse que eu seria mais feliz se a esquecesse e tentasse me apaixonar por outra pessoa? Mais do que isso, ela parecia muito empenhada em que isso acontecesse, porque mal me olhava, só mantinha o rosto voltado na direção da janela, observando a paisagem, sem nem puxar assunto. Qualquer um juraria que estava magoada, mas n&ati
ANDREW Acordei um pouco desorientado. A dor em meu maxilar entorpeceu meus pensamentos por alguns instantes, e eu demorei a me situar. Contudo, quando me dei conta do que havia acontecido, levantei-me de um sobressalto. A sala do meu chalé girou por alguns instantes, e eu precisei me apoiar na mesa para não despencar no chão outra vez. Eu não podia me entregar naquele momento. Jillian tinha sido sequestrada. Fora tirada literalmente dos meus braços, e eu simplesmente não fiz nada. Apenas deixei que a arrancassem de mim. Corri na direção do meu telefone, sabendo que precisava alertar a alguém. Por mais que chamar a po
JILLIAN Um mantra começava a se repetir na minha cabeça: “Eu não posso desistir!” “Eu não posso desistir!” “Eu não posso desistir!” Aquele homem nojento mantinha as mãos em mim, e eu estava assustada. Ainda assim, não podia desistir. O fato de ele ter o dobro do meu tamanho também não poderia ser um fator para que eu desanimasse. Eu estava armada.