ANDREW
Acordei um pouco desorientado. A dor em meu maxilar entorpeceu meus pensamentos por alguns instantes, e eu demorei a me situar. Contudo, quando me dei conta do que havia acontecido, levantei-me de um sobressalto.
A sala do meu chalé girou por alguns instantes, e eu precisei me apoiar na mesa para não despencar no chão outra vez.
Eu não podia me entregar naquele momento. Jillian tinha sido sequestrada. Fora tirada literalmente dos meus braços, e eu simplesmente não fiz nada. Apenas deixei que a arrancassem de mim.
Corri na direção do meu telefone, sabendo que precisava alertar a alguém. Por mais que chamar a po
JILLIAN Um mantra começava a se repetir na minha cabeça: “Eu não posso desistir!” “Eu não posso desistir!” “Eu não posso desistir!” Aquele homem nojento mantinha as mãos em mim, e eu estava assustada. Ainda assim, não podia desistir. O fato de ele ter o dobro do meu tamanho também não poderia ser um fator para que eu desanimasse. Eu estava armada. 
JILLIAN Demorou pouco mais de um ano para que nosso rei falecesse. Ele teve uma morte tranquila, cercado pelas pessoas que amava. Os dois filhos ao seu lado, guardando-o e transmitindo amor e tranquilidade. Sua hora final foi honrada como toda a sua vida. Pouco tempo depois de sua morte e depois de passado o luto, o casamento de Richard e Kelly foi realizado. Eu não fazia ideia se eles estavam preparados, ou se era uma manobra desesperada, mas a verdade era que os dois se amavam. Os sorrisos em seus rostos falavam muito mais do que quaisquer votos que eles pudessem trocar diante de um altar. Com o tempo também, as pessoas foram aceitando meu namoro com Andrew. Demo
JILLIAN A música alta perturbava meus ouvidos, mas eu simplesmente não conseguia parar de dançar. Era sempre assim quando estava levemente alta, depois de beber alguns drinques. Eu juro que minha intenção nunca era terminar bêbada ‒ o que pouco acontecia, já que eu ficava apenas um pouco embriagada ‒, só que as bebidas servidas eram sempre tão docinhas, tão gostosas, que eu acabava perdendo um pouquinho o controle. Só um pouquinho. Para qualquer garota da minha idade, isso seria super comum. Ainda mais levando em consideração que eu nunca tinha causado nenhum escândalo, nunca fora pega no flagra em uma situação embaraçosa por um pappar
JILLIAN Nem preciso dizer o tamanho da ressaca no dia seguinte, não é? Eu não fazia ideia de que horas eram, mas quando abri os olhos pela primeira vez, jurei que estava no inferno. A dor de cabeça era insuportável, o gosto ruim na boca fazia com que eu acreditasse que tinha mastigado algo estragado e meu estômago se revirava, como se eu estivesse pronta para jogar tudo o que tinha comido na semana fora. Meu corpo simplesmente não me obedecia. Meus olhos pesados mal conseguiam se abrir, por mais que eu quisesse ter alguma noção de onde estava. Minhas memórias estavam embaralhadas, mas eu começava a me lembrar mais ou menos do que tinha acontecido, principalmente com o idiota do Stuart O’N
JILLIAN Já fazia dois dias desde minha conversa com Richard, mas minha mente não parecia nem um pouco mais esclarecida. Passei aquelas quarenta e oito horas pensando, refletindo, ponderando, analisando, mas por mais que eu já imaginasse qual acabaria sendo a minha resposta, ainda não queria aceitá-la. Porque era assustador demais. Porque era precipitado. E porque… Ah, droga, porque eu não queria. Não era só o fato de me prender a alguém para o resto da minha vida, porque eu não me importaria em estar sempre perto de Richard, já que nos dávamos tão bem. O problema era que ser rainha implicava em certos comportamentos que muito me incomodavam. Eu teria que abandonar vários dos meus sonhos. Eu poderia terminar a faculdade,
ANDREW A solidão era sempre a minha melhor companhia. Havia vozes demais falando dentro da minha cabeça e do meu coração, tantas que se tornava quase insuportável, às vezes, estar com outras pessoas. Eu sentia como se não pertencesse a lugar algum; como se a imagem do bastardo, impuro e indigno me seguisse por onde quer que eu fosse. E eu poderia jurar que isso nunca me incomodou. Se eu tivesse descoberto de onde vinha quando era criança, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez, suportar aquele tipo de comentário na escola, especialmente os que ofendiam a minha mãe, pudesse ter me causado problemas, mas quando se tem quinze anos e já passou por todas as coisas que eu passei, esse tipo de ofensa não nos atinge mais.&nbs
JILLIAN Depois do fatídico dia do jantar, as coisas voltaram ao normal. Ou melhor, quase. Dali em diante nada mais seria normal na minha vida, nem antes nem depois do casamento. Nos dias seguintes, eu saía da faculdade e ia direto para o palácio, onde passava mais tempo do que na minha própria casa. Meu futuro sogro havia contratado uma professora para me ensinar etiqueta, e ele e meu pai passavam horas me passando informações sobre a família real, sobre minhas futuras responsabilidades e sobre tudo que eu precisaria saber para me tornar rainha. A professora ‒ Sra. Pomerly ‒ era uma mulher de uns setenta anos, mas de uma elegância &ia
JILLIAN Chegava a ser doloroso pensar que era um sábado, que mal passava das oito da manhã, mas eu já estava saltando de um carro preto elegante, cumprimentando um dos motoristas da família real e entrando no palácio, sendo recebida pela governanta e sua equipe. Eu tinha horários marcados na agenda até o momento da festa. Provas finais do vestido, ensaio de dança, ensaio do discurso ‒ que não fui eu que preparei, é claro ‒, além da melhor parte: eu iria passar algumas horas sendo paparicada com direito a massagem nos cabelos, nas costas, nos pés e um banho de beleza. E isso era apenas a festa de noivado, quando fosse o casamento, no mínimo eu receberia uma semana de mimos. Até que a ideia não me desagradava.