JILLIAN
A música alta perturbava meus ouvidos, mas eu simplesmente não conseguia parar de dançar. Era sempre assim quando estava levemente alta, depois de beber alguns drinques.
Eu juro que minha intenção nunca era terminar bêbada ‒ o que pouco acontecia, já que eu ficava apenas um pouco embriagada ‒, só que as bebidas servidas eram sempre tão docinhas, tão gostosas, que eu acabava perdendo um pouquinho o controle. Só um pouquinho.
Para qualquer garota da minha idade, isso seria super comum. Ainda mais levando em consideração que eu nunca tinha causado nenhum escândalo, nunca fora pega no flagra em uma situação embaraçosa por um papparazzi e me mantinha a filhinha perfeita do papai. A filha do primeiro ministro de Manselo.
Manselo era um pequeno país a Oeste da Irlanda. Um lugar lindo e que eu verdadeiramente amava, mas com alguns costumes muito ultrapassados. Um deles, por exemplo, era o fato de ainda possuir regime monárquico.
Ao mesmo tempo em que isso era uma boa porcaria, dava um certo charme ao país, uma aura de ambientação de conto de fadas, além de suas belezas naturais. Prados com uma longa extensão de verde sem nenhuma interferência de construções fora de lugar; clareiras, pequenos bosques e florestas, montanhas, cachoeiras... Todo o local parecia uma cópia de um cenário de A Noviça Rebelde misturado com toda a magia de seu país vizinho.
Eu gostava de Manselo. Era minha terra natal, onde eu havia nascido. Fiz algumas viagens ao longo da minha breve vida, mas a necessidade de voltar sempre foi mais forte. Nunca fui uma aventureira, daquelas que simplesmente pega uma mochila, coloca nas costas e sai por aí, conhecendo o mundo. Sempre tive meus pés no chão e, mais do que isso, sempre fui uma boa filha, pois sabia que minha imagem era um exemplo para muitas moças da minha idade. Meu I*******m, inclusive, estava cheio delas que me seguiam, admiravam e me imitavam, tanto nos looks quanto no estilo de vida. Por causa disso, eu jamais excedia, jamais perdia a cabeça.
Como filha do primeiro ministro — sim, eu já mencionei isso aqui, mas vale repetir para que entendam o peso da minha responsabilidade —, eu precisava manter um comportamento no mínimo admirável. E sempre fiz isso. Ao menos até aquela noite.
Era a primeira vez que eu viajava sem os meus pais ou sem a constante vigilância de alguém da minha família. Era meu primeiro grito de liberdade, como se finalmente estivesse me tornando uma adulta. Não tínhamos ido muito longe, na verdade, já que encontrávamo-nos em uma festa em Kenti, a capital de nosso pais, sediada em uma das boates mais lindas que já frequentei, chamada Glass Moon, localizada na rua mais badalada da cidade. Com uma iluminação em âmbar, um candelabro digno de uma cena de O Fantasma da Ópera pendendo sobre nossas cabeças, além de uma arquitetura elegante e moderna ao mesmo tempo, tratava-se de um local badalado e, naquela noite, estava fechado para nós, para uma festa dos formandos do curso de direito da Universidade de Manselo, nossa única e conceituada faculdade, que eu também frequentava; porém, apesar de conhecer boa parte das pessoas presentes, eu não estava ali por causa da minha turma. Estava ali para acompanhar meu melhor amigo, Richard.
Ah, eu não posso me esquecer de mencionar que este melhor amigo era, por acaso, o príncipe de Manselo, filho de nosso rei; o futuro ocupante do trono, o dono da porra toda.
Só que o mais irônico disso tudo era que o dito cujo não estava em muito melhor estado do que eu.
Assim como eu, Richard não costumava criar problemas para sua imagem. Éramos jovens ajuizados, estudiosos e, na maioria das vezes, divertíamo-nos juntos de forma saudável. Por conta dessa proximidade que tínhamos desde muito pequenos, que era uma consequência da amizade de muitos anos entre nossos pais, todos pensaram que acabaríamos nos envolvendo romanticamente, mas nunca aconteceu. A verdade era que eu o via praticamente como um irmão, e o mesmo acontecia com ele. Éramos amigos no real sentido da palavra, e nunca nem chegamos a trocar um beijo. Nem selinho, como muitos fazem. Apesar de nos abraçarmos e até dormirmos de conchinha de vez em quando, nossa amizade era completamente platônica.
Ele era um homem bonito. Moreno, cabelos cacheados, olhos muito azuis, muito alto, com um corpo cultivado em muitas horas de academia, além de ter um sorriso de fazer qualquer uma perder a cabeça. Só que, para mim, ele ainda era o menino magrelo que escondia minhas bonecas e que puxava meu cabelo só para chamar a minha atenção. Todas as minhas melhores lembranças continham Richard, e eu nem conseguiria me imaginar sendo criança sem tê-lo por perto. Ou melhor, eu não poderia imaginar minha vida sem ele para me perturbar, para me aconselhar ou para me dar colo quando as coisas não saíam como o planejado. Como quando perdi minha mãe, por exemplo. Eu não teria suportado a dor se meu melhor amigo não tivesse me amparado.
Até mesmo naquele momento eu não conseguia parar de sorrir ao olhá-lo. Fazia tempo que eu não o via tão feliz. Não saberia dizer se aquela alegria toda tinha a ver com o álcool — que ele tinha ingerido bastante —, se era pela loira gatíssima com quem ele estava dançando e em quem se esfregava com vontade, ou se era porque tinha finalmente se formado. Richard odiava o curso que fora obrigado a cursar. Nosso amado rei George insistira que para ser um bom monarca, o filho deveria conhecer as leis e saber aplicá-las, não apenas como um curioso, mas como um especialista. Seria muito mais prudente fazê-lo estudar Administação — que, por acaso também não era um curso de seu agrado —, mas o que Vossa Majestade ordenava, era o que acabava sendo feito. Todos se curvavam às suas vontades de um jeito ou de outro.
Eu conhecia muito bem a garota com quem Richard estava ficando. Ela cursava Relações Internacionais, assim como eu, mas estava um período acima, e nós apenas fazíamos uma matéria juntas, na qual ela havia ficado em dependência. Fazia muito tempo que ela me pedia para apresentá-lo, e aquela foi a primeira oportunidade que encontrei. Richard não era exatamente um galinha, mas as mulheres literalmente caíam em sua cama com uma facilidade surpreendente, e ele não perdia certas oportunidades, ainda mais quando se tratava de uma gata de um metro e setenta e cinco de altura, com um corpo de dar inveja a qualquer modelo da Victoria’s Secret e um rosto que parecia pertencer a uma Barbie. Agora eles estavam se acabando na pista de dança, sem conseguir tirar as mãos um do outro, assim como também não pareciam capazes de desgrudarem as bocas.
Talvez eu também devesse estar me acabando ao som do DJ badalado, mas minhas pernas já estavam meio moles, assim como minha visão, turva, começava a me abandonar. Mal conseguia me levantar da cadeira, e não estava muito disposta a pagar algum mico na frente de boa parte dos alunos da minha faculdade. Richard não teria mais que voltar para lá, mas eu ainda teria dois anos pela frente, e não pretendia ser o assunto mais comentado; não daquela forma.
Já estava começando a acreditar que teria que tentar conseguir uma carona com um dos conhecidos ou pegar um táxi, porque aqueles dois não iriam se desgrudar mais até a manhã seguinte, quando alguém parou ao meu lado.
Com uma bebida na mão, meu novo acompanhante encostou-se no balcão do bar, sem dizer nada. Eu sabia quem era — um colega de classe de Richard, que já tinha tentado sair comigo mais de uma vez. O cara era gato, bastante até, e eu poderia ter aceitado seu convite se não fosse um simples detalhe: ele era um babaca.
Eu sabia que muito do interesse dele se dava pelo fato de eu ser filha de quem era. Ele tinha intenção de ser um diplomata, e namorar a filha do primeiro ministro do país, sem dúvidas, lhe traria bons contatos e possibilidades. Não que ele já não fosse suficientemente rico e influente. O pai dele lhe dera aquela boate onde a festa acontecia quando ele completou dezenove anos. Imaginava que o lugar deveria ser bem lucrativo, aliás.
Tá, tudo bem, eu não iria me diminuir a este nível. Eu era uma garota bonita. Acima da média. Apesar de não ser alta como a Barbie com quem Richard estava saindo, estava satisfeita com meu um metro e sessenta e três de altura, com meu corpo magrinho, mas com curvas, meus cabelos castanhos e levemente ondulados, meus olhos amendoados e minha pele bem branquinha. Além disso, eu sabia que não era das pessoas mais desagradáveis e que ele seria um puta sortudo se conseguisse uma chance comigo. Só que eu não estava a fim de ser o prêmio de ninguém.
— Acho um desperdício uma garota que nem você aqui sozinha — ele chegou com aquele papinho que deveria fazer com que várias caíssem em sua lábia. Mas eu não era qualquer uma.
— Eu gosto muito da minha companhia, Stuart. Mas obrigada por se preocupar.
Ele abriu um sorriso, que eu não saberia dizer se era de desdém ou de qualquer outra coisa, porque meus olhos já não estavam funcionando como o esperado. Também não poderia ignorar o quanto minha voz soou embolada por conta do álcool.
— Você é uma gatinha arisca, não é, Jillian? O que eu preciso fazer para te provar que estou doido em você?
Aquele era o maior problema de Stuart: além de ele ser um mala insistente, ainda tinha a mania muito chata de ficar me pegando. Naquele momento, por exemplo, ele passou um braço ao redor da minha cintura com firmeza, quase me tirando do banco alto onde eu estava sentada.
Pousei minha bebida sobre o balcão e abri os braços, não querendo tocá-lo de forma alguma. Não queria que interpretasse qualquer coisa da forma errada.
— Stu, por favor, eu não estou interessada. Não insista.
— Ah, linda, me dá uma chance. Se me deixar, posso te mostrar o quanto sou bom nisso. Posso deixar você bem a fim.
Aproximando-se, ele levou os lábios ao meu pescoço, começando a me beijar. Tentei empurrá-lo, mas não tinha forças. Meus braços pareciam tão inúteis quanto as minhas pernas, mas mesmo assim eu tentei me levantar. Cambaleei ao ficar de pé e ainda derramei todo o conteúdo que havia no meu corpo em minha blusa. Merda!
Mesmo assim, Stuart me segurou.
— Opa! Cuidado, princesa. — Ele me segurava com mais força do que seria necessário. Queria me desvencilhar, tentei empurrá-lo novamente, e até consegui me afastar um pouco, mas ele me puxou para si outra vez, fazendo-me bater de encontro ao peito maciço dele. Stuart era bem maior do que eu, um cara grande e musculoso; lutar contra ele seria bem inútil.
— Stuart, me deixa em paz. Eu não quero ficar com você! — falei novamente com a língua enrolada, sentindo minha cabeça girar. Os movimentos bruscos que fiz para afastar aquele babaca de mim estavam cobrando seu preço.
Eu já começava a ver as coisas todas um pouco nubladas e girarem, então, senti meu corpo falhar. Teria caído no chão se o cara que me segurava não tivesse me amparado e me erguido no colo com uma facilidade impressionante.
Comecei a ficar um pouco apavorada.
— Me põe no chão, Stuart! — disse, socando o peito dele, mas imaginei que não estava sequer lhe fazendo cosquinhas, uma vez que minha força naquele momento era zero.
— Calma, princesinha. Vou te levar para descansar em um lugar bem confortável.
— Não. Me solta! Para com isso… — Minha voz já era apenas um sussurro, mas mesmo assim, eu continuava me debatendo e implorando, embora odiasse aquela situação patética. Porém, ele teve tempo apenas de se virar para alguém se colocar na sua frente.
Em um primeiro momento, minha visão embaçada dificultou o reconhecimento. Só conseguia ver que se tratava de um homem imenso — maior do que Stuart, que tinha mais de um e oitenta e cinco de altura. Seus braços bem musculosos estavam cruzados contra o peito, demonstrando insatisfação com alguma coisa, enquanto formava uma barreira impedindo que avançássemos.
— A garota pediu que você a solte. — A voz soou alta por sobre a música que tocava, mas o tom era cortante, letal. Ela me era familiar, mas minha mente confusa não conseguia processar muita coisa naquele momento.
— Ninguém te chamou aqui, Andy.
Andy… Ah, não!
Eu não podia acreditar que já estava naquela situação constrangedora, e meu herói ainda tinha que ser o cara menos heroico que eu conhecia?
Andy — ou Andrew — era o irmão bastardo de Richard. Fruto de uma traição do tão admirado rei, ele era considerado uma mácula na imagem do soberano, portanto, poucas eram as pessoas que se lembravam dele ao mencionarem a família real. Ele era o renegado, sempre deixado de lado. Coubera-lhe um título de visconde apenas, quase por caridade, mas quando se referiam a ele, o chamavam de príncipe. Eu teria alguma simpatia por sua história, se ele não fosse bastante antipático. Tínhamos alguma convivência, mais por causa de Richard que, por algum motivo, adorava o irmão, mas eu não me sentia confortável na sua presença. Andrew era… sombrio. Havia uma espécie de mistério em seu olhar, alguma história não contada, que me fazia temê-lo. Por mais que eu estivesse sempre presente no palácio, que aquela família fosse praticamente a minha, eu não o considerava um amigo. Odiava ser mais uma a renegá-lo, mas ele dificultava e muito as coisas.
— Aparentemente ninguém chamou você também, Stuart. A moça falou que não está interessada. Deixe-a em paz.
Stuart me ajeitou em seus braços, e com o movimento eu me senti um pouco nauseada. Isso me fez abrir os olhos, que logo se encontraram com os muito azuis de Andrew. Eles pareciam preocupados, fixos em mim, como se estivesse tentando descobrir se eu estava bem. Aquilo era raro. Sempre tive a impressão de que aquele cara não se importava com ninguém.
— E se eu não deixar? O que você vai fazer? — Stuart insistiu.
Continuei observando Andrew, ao menos enquanto meus olhos não ficavam pesados demais, obrigando-me a fechá-los.
— Com ela no seu colo? Nada, é claro. Mas não vou permitir que a tire daqui, não sem passar por cima de mim primeiro.
Mas que história era aquela? Desde quando ele era meu guarda-costas? Fosse como fosse, eu iria agradecê-lo para o resto da vida. Queria protestar com Stuart, falar alguma coisa coerente, porém, eu já estava no estágio de sorrir e acenar.
— Ah, você quer a princesinha para você, não quer? Então vamos ver qual de nós dois vai levá-la para casa. — Ao dizer isso, Stuart me carregou até um sofá próximo à cena e me jogou lá sem nenhuma delicadeza. Senti novamente os olhos de Andrew fixos em mim, como se quisesse ter a certeza de que eu estava mesmo bem.
Eu deveria ter saído dali. Deveria ter fugido e deixado que aqueles dois se entendessem, mas não conseguia mesmo me mexer. Sabia que se tentasse levantar ali, cairia de cara no chão.
Minha consciência se foi por alguns segundos, e eu não consegui ver como a tal luta começou. Só sei que várias pessoas começaram a nos rodear, e tudo o que eu vi em seguida foi Andrew levando a melhor.
Não. Eu estava sendo econômica. O cara parecia um profissional brigando, distribuindo socos e chutes como um lutador de MMA. Um… demônio.
A música subitamente parou, e eu ouvi outra voz familiar gritar por cima de todas as outras vozes.
— Mas que palhaçada é essa? — Não importava o que estava acontecendo, Richard sempre sabia exercer a autoridade que o título lhe concedia. Ele estava no topo da cadeia alimentar, e muitas vezes eu achava que sua capacidade de liderança lhe tornaria um excelente rei. Até mesmo para controlar uma briga, estando embriagado, seu tom de voz não dava margens para que o contrariassem. Assim que ele se manifestou, os lutadores se afastaram e todos se calaram.
— Acho que o Stuart ali estava se engraçando para a sua amiga… — um rapaz explicou, e mesmo embriagada, eu tentava acompanhar tudo o que estava acontecendo. Precisava guardar algumas memórias para os dias seguintes, porque eu sabia que aquele fato seria comentado na faculdade por dias. Muitas pessoas tiravam fotos e filmavam, o que deixaria a história ainda mais emocionante.
— O quê? — Revoltado, Richard voltou-se para Andrew: — Foi isso mesmo, Andy? Esse babaca aqui estava assediando a Jill?
Voltei meus olhos pesados na direção de Andrew, que deu de ombros, parecendo tão indiferente quanto envergonhado. Mantinha as mãos nos bolsos da calça jeans, mantendo uma postura como se não tivesse acabado de lutar.
— Eu não podia permitir… — foi tudo o que ele respondeu, enquanto passava a mão pelos lábios, limpando um filete de sangue, que demonstrava que ele também tinha levado alguns socos. Bem menos do que Stuart, mas o suficiente para eu me compadecer, já que ele estivera me defendendo.
Richard nem esperou mais nenhuma resposta, pois partiu para cima do babaca em questão e também lhe deu um soco exemplar, que o fez cambalear. Mesmo bêbado, meu melhor amigo também não era assim tão ruim de briga.
Em seguida, ele veio na minha direção, agarrando-me pelos braços e me desencostando do sofá. Sentia-me mole como uma boneca de pano. Havia algo de estranho nas minhas reações, como se eu tivesse sido drogada ou algo assim.
— Jill? Você está bem? — ele perguntou, mas eu não consegui responder. — Andy, tem algo estranho com ela.
— Está bêbada — Andrew disse enquanto se aproximava, embora sua voz soasse um pouco longe demais na minha opinião.
— Não, ela bebeu, mas não tanto assim. Acho melhor a levarmos para casa. — Ao dizer isso, Richard me ajudou a levantar e tentou me erguer no colo, mas também cambaleou, porque não estava em seu estado normal.
Apesar disso, senti um casaco de couro enorme sendo colocado ao redor dos meus ombros, e concluí que pertencia a Andy, porque ele estava usando um. Depois, fui erguida novamente com facilidade, e quando me dei conta, percebi que estava nos braços de Andrew, que me levava para algum lugar, que eu não sabia onde. Também não faria muita diferença, porque eu não conseguiria impedi-lo. Não quando tudo o que eu queria era dormir e nem me importava de quem era o peito no qual minha cabeça estava se encostando, aconchegada e sentindo-me segura.
***
ANDREW
Uma gritaria foi o que me acordou. Não que estivesse dormindo, já que a poltrona onde me joguei no meio da madrugada, quando não aguentei mais ficar de olhos abertos, não era exatamente confortável, principalmente para um homem de um metro e noventa e dois. Precisei esticar as pernas e estalar as costas antes de realmente me levantar.
Assim que me dei conta do que estava acontecendo, percebi que havia uma briga tomando corpo não muito longe dali, provavelmente no quarto de Richard, que era muito próximo do meu. Odiava me intrometer naquelas coisas, principalmente porque não me sentia no direito de dar opiniões nos assuntos da família, já que eu não fazia exatamente parte dela. Não que as pessoas me excluíssem, pelo contrário, eu era até bem-vindo, principalmente a julgar pela minha condição, mas eu mesmo me afastava ao máximo. O problema era que daquela vez, eu sabia mais ou menos do que se tratava o assunto; e sabia que Richard gostaria que eu intervisse. Além disso, meu pai não podia se emocionar daquela forma. Há pouco tempo ele tinha passado muito mal por conta de uma preocupação mais forte, e eu não queria outro susto como aquele.
Coloquei-me de pé finalmente e não pude deixar de lançar um olhar para a minha cama, que não estava vazia, aliás. Jillian estava ali, ainda pesadamente adormecida. Ela era o motivo pelo qual eu tinha dormido de mau jeito em uma poltrona.
Claro que havia espaço para nós dois naquela cama gigantesca, ainda mais em se tratando de uma garota tão pequena, mas eu jamais ousaria tentar aquela proximidade. Não com ela.
Precisei de alguns segundos para observá-la e quase abri um sorriso ao ver sua situação. O edredom com o qual a cobri depois que a coloquei na cama era uma massa embolada em suas pernas. Pernas essas que estavam descobertas, e eu conseguia ver sua calcinha rosa discreta, que minha camisa não conseguia esconder. Provavelmente Jillian não se lembrava de nada disso, mas ela tinha derramado vodka em sua própria roupa, ainda na festa, e eu não vi alternativa a não ser trocá-la, colocando algo que eu tinha a mão. Assim como fiz naquele momento, também evitei olhar qualquer parte de seu corpo e fiz um grande esforço para tocá-la o mínimo possível. Aquela garota não era minha. Nunca poderia ser, aliás. Por mais que…
Deus… por mais que eu fosse capaz de dar tudo o que tinha por uma chance…
Mal seria capaz de descrever a sensação que me dominou quando vi aquele babaca com as mãos nela. Se eu soubesse que ela o queria, por mais que me doesse, eu não teria intervido. Não teria sequer chegado perto, mas quando a ouvi gritar, pedindo que aquele filho da puta a soltasse; quando a vi quase desmaiada no colo dele, quase sendo levada não sei para onde, perdi a cabeça. Costumava evitar entrar em brigas, embora elas parecessem me perseguir por toda parte, principalmente porque sabia que o meu tamanho me dava uma boa vantagem. Mais do que isso, eu não tinha nascido em berço de ouro, por mais que agora fizesse parte da nobreza, mesmo daquela forma torta e distorcida, então, precisei aprender a me defender da melhor forma possível. E, na maioria das vezes, era com os punhos.
Por mais que nosso país tivesse uma administração competente e que nossos índices de pobreza fossem os menores possíveis, ela existia. Havia um submundo até mesmo em Manselo, e eu nasci nele. Até descobrir que era filho bastardo do rei, minha vida não foi fácil. Mas eu era um sobrevivente.
E por mais que não gostasse muito de violência, não estava nem um pouco arrependido de usar novamente os punhos para defender Jillian. Se fosse preciso, faria isso várias vezes.
Bem, fosse como fosse, não era hora de pensar nesse tipo de coisa; a briga ainda acontecia, e eu precisava fazer a minha parte. Antes de sair do quarto, porém, ajeitei o edredom sobre o corpo de Jillian, subindo a coberta até seus ombros e até ousando afastar uma mecha de cabelo de seus olhos, deslizando os nós dos dedos por seu rosto delicado, sentindo uma dor quase sufocante atingir o meu peito.
Mas eu a engoli como se fosse um nó no meio da minha garganta e saí do quarto, esperando deixá-la descansar um pouco mais.
Exatamente como eu havia imaginado, a confusão vinha do quarto de Richard. Bati à porta, então, mas nem dei tempo para ninguém me conceder permissão para entrar e fui logo abrindo a porta e enfiando a cabeça pela fresta. Logo vi meu pai, ainda vestindo um robe de seda, acompanhado do meu meio-irmão, descabelado, com uma aparência péssima, que demonstrava que a noite anterior estava exigindo seu preço.
— Ah, Andrew, que bom que chegou. Venha me ajudar a colocar um pouco de juízo na cabeça do seu irmão.
Ele gesticulou para mim com a mão, indicando que eu deveria aproximar-me. Aquele homem era meu pai, e eu convivia com ele desde os meus quinze anos, mas nunca me senti à vontade em sua presença. Por mais que ele houvesse me acolhido e me recebido em sua casa de braços abertos, nossa relação nunca foi tão calorosa como era o relacionamento dele com Richard, e eu nem seria capaz de exigir isso. Por uma ironia do destino, eu era seu primogênito, mas por ser fruto de uma traição, jamais poderia ser o herdeiro ao trono, e eu dava graças a Deus por isso.
Richard seria um bom rei. Era um homem justo, que eu admirava e que também me aceitara como irmão no exato momento em que me conheceu. Jamais me tratou com indiferença e sempre me incluía em tudo que era possível. Eu não achava que ele precisava de tanto juízo quanto meu pai afirmava que precisava, especialmente porque era um rapaz muito jovem ainda e dificilmente era dado àquele tipo de diversão imprudente como acontecera na noite anterior.
Entrei, fechei a porta e me coloquei diante dos dois, com as mãos para trás das costas, quase em uma postura militar.
— Como está Jillian? — foi a primeira coisa que Richard me perguntou, com visível preocupação nos olhos. Às vezes eu achava que havia algum sentimento mais forte em meu irmão por aquela garota, mas isso desaparecia sempre que ele me afirmava que tratava-se apenas de amizade. Temia que ele não conhecesse suas próprias emoções e ainda estivesse confuso.
— Eu a deixei dormindo — respondi de forma econômica, principalmente porque percebi pela expressão do meu pai que ele não iria aprovar em nada quando soubesse onde Jillian estava naquele momento.
— O quê? Jillian está no palácio? — ele cuspiu a pergunta. — Está dormindo na cama de um de vocês?
— Na minha — tratei de responder com pressa, antes que Richard levasse a culpa em meu lugar. Se é que havia algum tipo de culpado naquela história.
— Vocês estão loucos? Andrew, se eu souber que você tocou nesta moça de alguma forma…
— Não! O que está pensando? — alterei o tom de voz. Era a primeira vez que fazia aquilo, mas a situação pedia. Como ele podia pensar que eu seria capaz de tocar Jillian estando ela inconsciente e sem qualquer autorização? — Eu só a deixei dormir. Da forma como ela chegou aqui, ainda está. Intacta.
Meu pai bufou, e eu não sabia se de alívio ou de mais irritação ainda. Aquela explicação não lhe agradou em nada, mas ele parecia ter mais a falar.
— Ainda bem que o nome dela entrou na conversa, porque esta moça faz parte do assunto que eu quero comentar. É bom que os dois estejam presentes, porque preciso que Andrew me ajude nesta questão. — Eu e Richard nos entreolhamos, confusos. A briga entre meu pai e meu irmão era pela inconsequência da noite anterior; pela alegação de que como futuro rei, Richard não deveria se comportar como comportou, chegando bêbado em casa. Porém, quando ele pegou dois dos principais jornais do país, dei-me conta de que o problema era um pouco maior.
Ele entregou um exemplar a cada um de nós, mas ambos traziam a mesma notícia de capa. A farra do futuro herdeiro ao trono que terminara em briga por causa de uma garota. A notícia fazia parecer que a confusão tinha se dado por causa de ciúme e não porque eu e Richard fomos defender Jillian de um possível estupro. Eu, aliás, nem era mencionado. Ficou parecendo que meu irmão tinha deixado a cara de Stuart no estado em que ficara. Também havia outra foto dele segurando Jillian, pouco antes de eu segurá-la nos braços para trazê-la para casa. A interpretação da cena fora completamente deturpada, e o jornalista insinuava que havia algum romance entre o príncipe e a filha do primeiro ministro, mencionando inclusive que já era de se esperar que eles acabassem tendo um relacionamento, já que eram inseparáveis desde crianças.
— Isso é ridículo. Eu e Jillian somos só amigos! — Richard reclamou.
— Além do mais, nós a estávamos defendendo. Um cara a estava assediando — completei.
— Vocês deveriam protegê-la antes de chegar a este ponto. A menina está claramente bêbada aqui. — Meu pai fez uma pausa, passando a mão pelos vastos cabelos grisalhos, que tinham os mesmos cachos de Richard. Eles eram muito parecidos, na verdade, enquanto eu era a cara da minha mãe. Mais um motivo para ser considerado uma fraude, embora um exame de DNA existisse para provar o meu parentesco. — Seja como for, preciso que esta palhaçada acabe. Tenho uma coisa a contar…
Não precisava ser um vidente para entender que se tratava de um assunto muito sério. Meu pai se sentou em uma cadeira, quase como se não conseguisse mais se manter de pé. Comecei a me preocupar, mas não estava nem um pouco preparado para o que realmente veio a seguir.
— Estou doente — ele simplesmente jogou a informação. — Muito doente e temo que não irei durar tanto quanto pensei que duraria.
Voltei meus olhos para Richard para estudar sua reação e, assim como eu, ele não parecia saber de nada.
— Como assim, pai? Doente? Mas…
— Sim, Richard. É um câncer terminal. Fiz alguns exames na semana passada e os resultados chegaram há alguns dias. Não é reversível.
Aquela revelação foi como um soco no meu peito, chegando a me deixar sem ar. Só que eu era muito ruim em demonstrar meus sentimentos. Richard era bem mais competente neste quesito, tanto que se adiantou na direção de nosso pai e o abraçou apertado, com lágrimas nos olhos. Quando eles se separaram, tudo o que consegui fazer foi colocar a mão no ombro do homem que eu tanto amava, apertando-o carinhosamente. Com um meneio de cabeça, ele me demonstrou que aquele gesto era mais do que suficiente. Apesar de tudo, éramos mais parecidos do que poderíamos admitir.
— Você já pediu uma segunda opinião, pai? Não é possível... além daquele mal estar naquele dia, o senhor sempre pareceu tão bem, com uma saúde invejável — Richard insistiu.
— Está confirmado. Aquela viagem que fiz na semana passada foi para isso. Já era a segunda opinião. Não há o que fazer. Nem tratamento, nem operação. Nada. — Ele se permitiu alguns momentos de fraqueza, mas logo empertigou-se e voltou a parecer com o monarca que era. — Mas vocês sabem o que isso significa, não sabem? A coroação de Richard acontecerá mais rápido do que prevíamos.
Novamente eu e meu irmão nos entreolhamos. Já sabíamos o que isso acarretaria. Se Richard não estivesse casado no momento da morte de nosso pai, a coroa iria para um primo insuportável, o próximo na linha de sucessão, filho de um tio que mal conhecíamos e que antes de morrer só aparecera em nosso palácio quando lhe conviera. Claro que todos nós concordávamos que aquele rapaz seria um péssimo rei.
— Você sabe qual é o seu papel para com este país, meu filho. Sabe o que precisa fazer, e eu acho que isto aqui — meu pai ergueu o jornal que Richard tinha colocado em cima da mesa para mostrá-lo ao filho — é um sinal.
— O quê? Jillian?
— É claro. É uma boa moça, vocês se dão bem... ela seria uma boa rainha. Eu teria muito gosto em ter a filha do meu melhor amigo, do meu primeiro ministro, como nora.
Richard arregalou os olhos e passou a mão pelo cabelo.
— Pai, eu e Jillian somos só amigos! Esta matéria de jornal está equivocada. Nós nunca poderíamos nos casar... eu a vejo como uma irmã.
— Não a acha uma mulher bonita? — meu pai perguntou, e eu quase me manifestei. Seria impossível não achar Jillian linda, mas por sorte consegui ficar calado.
— Claro que acho. Mas isso não...
— Você gosta dela, gosta de sua companhia, vocês se dão bem, e ela é atraente aos seus olhos... Já é muito mais do que outros como nós conseguem.
— Pai, mas eu não estou apaixonado por ela! — Richard mostrou-se indignado.
— Não há tempo para paixão! Não há tempo para nada disso! — o rei vociferou. — Ou você toma uma decisão por si próprio, e eu acho que minha sugestão é mais do que válida, ou vou encontrar uma esposa para você, como se estivéssemos no século XVIII.
Dizendo isso, ele simplesmente saiu do quarto, batendo a porta, e deixando-nos sozinhos.
— Você acredita nisso? Eu e Jillian? Chega a ser repulsivo pensar em tocá-la de alguma forma que não seja como uma irmã... E eu vou ter que transar com ela, ter filhos...
Fiquei em silêncio, observando-o, pois não sabia o que dizer. Minha vontade era sacudi-lo e fazê-lo enxergar a sorte que estava lhe sendo ofertada. Isso, é claro, se Jillian aceitasse aquela proposta. Ainda assim, não cabia a mim julgar os sentimentos dos outros.
— Andy, posso te pedir que me deixe sozinho? Estou abalado com a notícia do nosso pai e um pouco atordoado com tudo isso.
— Claro. Se precisar de alguma coisa...
Seus lábios se curvaram em um sorriso triste, e eu apenas saí do quarto, retornando ao meu, sentindo meu coração acelerar dentro do peito, porque sabia exatamente o que me esperava quando chegasse lá. Meu mundo inteiro estava dentro daquele quarto, mas Jillian era mais uma das coisas que o destino decidia colocar no meu caminho pela metade, sem que eu jamais pudesse ter de verdade.
JILLIAN Nem preciso dizer o tamanho da ressaca no dia seguinte, não é? Eu não fazia ideia de que horas eram, mas quando abri os olhos pela primeira vez, jurei que estava no inferno. A dor de cabeça era insuportável, o gosto ruim na boca fazia com que eu acreditasse que tinha mastigado algo estragado e meu estômago se revirava, como se eu estivesse pronta para jogar tudo o que tinha comido na semana fora. Meu corpo simplesmente não me obedecia. Meus olhos pesados mal conseguiam se abrir, por mais que eu quisesse ter alguma noção de onde estava. Minhas memórias estavam embaralhadas, mas eu começava a me lembrar mais ou menos do que tinha acontecido, principalmente com o idiota do Stuart O’N
JILLIAN Já fazia dois dias desde minha conversa com Richard, mas minha mente não parecia nem um pouco mais esclarecida. Passei aquelas quarenta e oito horas pensando, refletindo, ponderando, analisando, mas por mais que eu já imaginasse qual acabaria sendo a minha resposta, ainda não queria aceitá-la. Porque era assustador demais. Porque era precipitado. E porque… Ah, droga, porque eu não queria. Não era só o fato de me prender a alguém para o resto da minha vida, porque eu não me importaria em estar sempre perto de Richard, já que nos dávamos tão bem. O problema era que ser rainha implicava em certos comportamentos que muito me incomodavam. Eu teria que abandonar vários dos meus sonhos. Eu poderia terminar a faculdade,
ANDREW A solidão era sempre a minha melhor companhia. Havia vozes demais falando dentro da minha cabeça e do meu coração, tantas que se tornava quase insuportável, às vezes, estar com outras pessoas. Eu sentia como se não pertencesse a lugar algum; como se a imagem do bastardo, impuro e indigno me seguisse por onde quer que eu fosse. E eu poderia jurar que isso nunca me incomodou. Se eu tivesse descoberto de onde vinha quando era criança, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez, suportar aquele tipo de comentário na escola, especialmente os que ofendiam a minha mãe, pudesse ter me causado problemas, mas quando se tem quinze anos e já passou por todas as coisas que eu passei, esse tipo de ofensa não nos atinge mais.&nbs
JILLIAN Depois do fatídico dia do jantar, as coisas voltaram ao normal. Ou melhor, quase. Dali em diante nada mais seria normal na minha vida, nem antes nem depois do casamento. Nos dias seguintes, eu saía da faculdade e ia direto para o palácio, onde passava mais tempo do que na minha própria casa. Meu futuro sogro havia contratado uma professora para me ensinar etiqueta, e ele e meu pai passavam horas me passando informações sobre a família real, sobre minhas futuras responsabilidades e sobre tudo que eu precisaria saber para me tornar rainha. A professora ‒ Sra. Pomerly ‒ era uma mulher de uns setenta anos, mas de uma elegância &ia
JILLIAN Chegava a ser doloroso pensar que era um sábado, que mal passava das oito da manhã, mas eu já estava saltando de um carro preto elegante, cumprimentando um dos motoristas da família real e entrando no palácio, sendo recebida pela governanta e sua equipe. Eu tinha horários marcados na agenda até o momento da festa. Provas finais do vestido, ensaio de dança, ensaio do discurso ‒ que não fui eu que preparei, é claro ‒, além da melhor parte: eu iria passar algumas horas sendo paparicada com direito a massagem nos cabelos, nas costas, nos pés e um banho de beleza. E isso era apenas a festa de noivado, quando fosse o casamento, no mínimo eu receberia uma semana de mimos. Até que a ideia não me desagradava. 
JILLIAN Precisei me arrumar em tempo recorde para a festa, mas se já não havia um único resquício de animação em minha alma, agora ela parecia mais vazia do que nunca. Eu não iria apenas me casar sem amor, mas também iria entrar em uma trama perigosa, angariando um inimigo contra o qual eu não sabia se poderia lutar. Quando me olhei no espelho, embora todos ao redor tecessem elogios a respeito da minha aparência, não consegui sequer sorrir. Ainda sentia cada resquício do medo de antes, por mais que já estivesse em segurança. Por mais que qualquer um pudesse dizer que eu talvez estivesse exagerando, que estava agindo como alguém sensível demai
ANDREW Ouvi um grito vindo de algum lugar do palácio e imediatamente parei o que estava fazendo para dar atenção, principalmente porque algo me dizia que era Jillian quem estava gritando. E por mais que sua voz soasse um pouco abafada, eu poderia jurar que ouvi um SOCORRO e um ME SOLTA. Minha cabeça começou a girar na mesma velocidade em que meu sangue se pôs a correr dentro das minhas veias. A primeira coisa na qual pensei foi que Fred estava ali e que tinha feito algo para Jillian. Mais uma vez. Saí correndo desesperado, seguindo os gritos e largando o livro que estava lendo sobre a cama. Contudo, antes que eu pudesse alcançá-los, os gritos cessaram, e eu não consegui mais segui-los. Desci, en
JILLIAN Apesar da presença de Fred ‒ que me causou arrepios só de vê-lo ‒, o café-da-manhã seguiu sem nenhum percalço. Demos uma entrevista para a TV local, para o programa de maior audiência, com uma apresentadora que era quase a nossa Oprah Winfrey. Foi até divertido, porque ela fez algumas perguntas que eram fáceis de responder, já que eu e Richard nos conhecíamos pela vida inteira. Trocamos alguns sorrisos cúmplices, e isso certamente contribuiu para que eu o perdoasse mais fácil. Só que eu sabia que isso era errado, portanto, assim que fomos liberados do compromisso, pedi um momento a sós com ele.