Kelly e AdrienUm ano depois... Não há lugar melhor do que o nosso lar. Como todos os recém-casados, eu e o meu marido adquirimos um hábito; todas as manhãs nós saímos de casa de mãos dadas pelas calçadas parisienses e caminhamos por pelo menos quinze minutos até o nosso trabalho. É exatamente isso que você entendeu, eu e o Adrien trabalhamos juntos desde que... Ah tá, vocês ainda não sabem dessa parte. Então eu vou fazer uma retrospectiva rápida aqui...— Há, qual é, está muito longe?— Não Kell, essa já é a quinta vez que você pergunta isso! — Meu pai resmungou soltando um tipo de risada divertida e eu revirei os olhos internamente.— E olha que não faz nem dez minutos que entramos no carro! — Adrien comentou fazendo graça.— Está, então vem ficar aqui no banco de trás do carro, com os olhos vendados e cheia de curiosidade, pra você ver — retruquei levemente irritada para o meu noivo e todos riram.— Pronto, senhora curiosa, nós chegamos. — Carolina avisou assim que o carro parou.
Kell e Adrien — Voilà! — disse, expressando a sua satisfação. Não é muito diferente com o Adrien. Por incrível que pareça, ele tem essa mesma magia, o mesmo encanto, a mesma satisfação. É maravilhosa a sincronia de nós três indo de um lado para o outro, dando ordens aos auxiliares, provando e aspirando os cheiros que vem de cada prato. O forno fez um sinal atraindo a minha atenção. Ansiosa, eu abri a porta, recebendo o calor que veio lá de dentro e com o auxílio das luvas acolchoadas, retirei a torta pêche. Sorri para o nome de batismo que Adrien deu a minha mais nova criação. Uma deliciosa torta de peras, com calda de avelã e uma cobertura cremosa de chocolate amargo. Ainda me lembro do dia que ele, sentado em um banquinho da nossa cozinha, experimentou pela primeira vez essa maravilha. Adrien gemia de prazer a cada garfada. O calor do seu corpo abraçando o meu por trás me despertou, fazendo-me sorrir mais uma vez. É isso o que ele faz comigo o tempo todo. Adrien me faz bem, me faz f
KellyÉ triste acordar de um lindo sonho e vê que tudo se tornou um terrível e irrevogável pesadelo. Ao abrir os meus olhos me encontrei dentro de um hospital e o Lipe não estava lá comigo. Vi o meu pai debruçado em uma janela, com o olhar perdido, encarando as ruas do lado de fora e a minha mãe, estava sentada em um pequeno sofá, com a cabeça apoiada em uma de suas mãos e um jornal na outra. Talvez nem estivesse lendo as notícias de fato. Eu conhecia bem aquele rosto cansado e sofrido. Ela estava sofrendo por algo... por mim talvez? Mas, o que realmente aconteceu? Então o meu pai se mexeu, voltando ao nosso mundo real e os seus olhos cansados e cheios de olheiras me encontram. Adonis sorriu para mim.— Filha? — Ele disse caminhando com pressa na minha direção e me abraçou ainda deitada no leito de hospital e só então me dei conta dos fios em meu corpo e dos sons das máquinas ao meu lado.— Meu amor você acordou! — Minha mãe falou com um tom emocionado na voz. Respirei fundo e isso ca
Adrien Lamartine Ser um nerd tem o seu lado bom. Você termina os estudos mais cedo do que se possa imaginar, a ciência e o conhecimento estão sempre em suas mãos e as pessoas te veem com uma idealização de um bom negócio. Eu cresci no meio de uma família onde todos os seus integrantes se tornaram empresários da contabilidade ou administradores de um bom negócio. Confesso que estava indo pelo mesmo caminho, até completar os meus dezoito anos. Eu era o orgulho do meu avô paterno e do meu pai também, claro. A coisa desandou quando conheci a Margaritta, uma espanhola porreta, que me mostrou que a degustação dos alimentos pode ser uma arte. Eu agora tinha dois motivos para sair daquele caminho sério demais e que me trancaria em uma sala cheia de papéis e sem graça pelo resto da minha vida. A Margaritta era uma delas e a outra? Eu sou um cara desajeitado demais. Sério, sou atrapalhado, tropeço em tudo e por mais que eu acredite que estou seguro, acabo por derrubar tudo a minha volta. Acred
Kelly Um dia perfeito, sem atrasos, sem correria, sem estresses... A não ser pelo itinerário que está me deixando meio que perdida aqui. Seguindo o mapa da faculdade, que mais parece um labirinto, entro no terceiro corredor movimentado de alunos e agora eu só preciso descobrir qual a sala que devo entrar. Abro o mapa mais uma vez e enquanto ando em linha reta, procuro pela sala azul, no bloco B, e quando ergo a cabeça a encontro bem no meio do corredor. Satisfeita, dou dois passos na direção da sala e tento sem sucesso guardar o mapa no meu bolso traseiro, e para a minha infelicidade, alguns cadernos caem no chão.— Merda! — xingo impaciente e me agacho para arrumá-los junto aos outros materiais. Logo encaro um belo par de sapatos lustrosos parados bem na minha frente. Penso em olhar quem quer que seja, mas antes que eu consiga fazer tal coisa, um líquido escuro e quente molha os meus cadernos, que ainda estão espalhados pelo chão. Meu sangue ferve imediatamente. — Mas, que merda voc
Kelly— O que você quer de mim, professor Adrien? — Tento não ser ríspida com ele. Ele dá de ombros.— Um pedido de desculpas. Nós começamos esse relacionamento errado. — Hein?!— Relacionamento, que relacionamento? — O corto outra vez. Ele cora literalmente e balbucia qualquer coisa sem fazer som. Parece nervoso.— Es... esse — gagueja apontando dele para mim. Eu me encosto na cadeira e cruzo os meus braços, ainda perdida na palavra "relacionamento". — Professor/ aluna. — explica e só então ele consegue respirar. — Sem falar que é muita falta de educação sua, senhorita Ferraço! — Continua me encarando com repreensão e mais firme dessa vez. — Nós franceses gostamos de agradar as pessoas, somos pessoas adoráveis e você, deveria saber disso. — Arqueio as sobrancelhas. — Além do mais, como havia dito antes, gostaria me desculpar pelo acidente que causei em seus cadernos, não custa nada aceitar o meu pedido de desculpas! — bufo de modo audível.— Se eu aceitar o seu pedido de desculpas, o
Kelly Na manhã seguinte eu estava quebrada. Elevei os braços e estiquei a coluna, sentindo os meus ossos estralar no mesmo instante. Entrei no banheiro e tomei um banho demorado para despertar e quando saí do banho, pus uma roupa confortável, pois ainda era cedo para ir à faculdade. Na cozinha, preparei uma porção de waffes, com uma fina camada de geleia de cereja e um bom café. Me sentei à mesa e encarei o meu prato, montado com muito esmero por mim, mas havia perdido a fome. Decidi que só o café me bastava e olhei pela janela, admirando a mais bela escultura que só a grande Paris podia me oferecer, a Torre Eiffel. Tomei um delicioso gole do café e só parei quando escutei os sons das vozes animadas no corredor do prédio. Pensei em bisbilhotá-los, ver a cara do jovem casal que se mudou para o apartamento em frente ao meu a poucos dias, mas desisti. Não é da minha conta. Me levantei da cadeira e peguei a refeição recém feita e ainda quentinha e pus em um recipiente de isopor, o envo
Kelly— Alguém aqui já esteve no Hawaii e viram aquelas belas havaianas lindas, dançando e fazendo aqueles movimentos graciosos, enquanto bebia uma água de coco gelada? — perguntou, disfarçando o seu incômodo com o oferecimento da aluna. Alguns alunos fizeram um não com a cabeça. Eu revirei os olhos. — Você, Ferraço? — Ele apontou para mim, me fazendo ajeitar o meu corpo na cadeira e engolir em seco. — Já comeu uma bela salada havaiana, servida dentro de um abacaxi, ou em uma enorme palha de palmeiras? — Olhei para os alunos, que aguardam a minha resposta e respirei fundo.— Não, eu… nunca estive no Hawaii — respondi com a voz falha. Adrien parecia satisfeito com a minha resposta. Ele sorriu e logo se pôs a interagir com os outros alunos. Minutos depois a sala de aula virou uma zona; uma vitrola antiga começou a tocar um tipo de hula e o professor pediu que os alunos dançassem a música. A pergunta é, o que toda essa merda tem a ver com a gastronomia?— Entrem no clima havaiano crianç