KellAlguns anos depois...É verão em Paris e a magia desse lugar parece ficar ainda mais intensa nessa época. Os pássaros cantando por todos os lados, as árvores coloridas, os tapetes de pétalas espalhados pelo chão dos parques, as carruagens levando os casais para um passeio romântico. Esse lugar simplesmente mudou a minha vida. É o meu último ano aqui na faculdade, na verdade os meus últimos dias e confesso que estou ansiosa por isso. Mas a minha ansiedade maior, está na festa mais importante da minha vida, o meu casamento com o meu querido professor. Ah sim, nós vamos nos casar e o casamento será exatamente do jeito que eu sempre sonhei. Com um suspiro, eu olho as ruas através da janela do carro e o meu telefone toca no mesmo instante, dentro da minha bolsa. Eu o pego e sorrio ao ver que é Marina e mostro a tela para Adrien, que está dirigindo ao meu lado. Depois do nosso noivado, não tinha mais sentido irmos em carros separados, na verdade passamos a fazer tudo juntos desde que a
Kell Alguns dias...Prova de bolos, prova de doces, pratos de entrada, etc, etc, etc. Ainda bem que tenho uma comitiva para me ajudar com isso, ou eu ficaria uma bola antes mesmo de entrar no meu vestido. E falando em vestidos, adivinhem onde eu estou agora? Claro, dentro de um táxi, juntos com minhas amigas, indo provar os nossos vestidos. Elas os de madrinha e eu, o tão sonhado vestido de noiva. Nos encontraremos na loja Marrièe Belle com a minha irmã, tia Flávia, tia Simone e minha mãe, Agnes. Essa prova promete. A loja é uma das representações Agnes Ferraço aqui em Paris. Uma loja conceituada e muito requisitada por membros da alta sociedade parisienses ou artistas de Hollywood. O vestido escolhido por mim foi redesenhado por uma das mais consagradas estilistas francesas — pedido exclusivo da minha mãe — que eu não pude negar. Os sapatos foram presentes da tia Flávia, um belíssimo Louis Volton, desenhado especialmente para este vestido.— Que tal esse aqui? — Tia Simone perguntou
Kell— Anda, Carol ou vamos nos atrasar!— Não me apressa, Naty! Eu só preciso terminar a minha maquiagem.— Amor, pode ajeitar a minha gravata, eu estou nervoso demais para fazer isso sozinho!— O que seria de você sem mim, Pertus?— Mamãe, como eu estou?— Está linda, Ives! Loucura, loucura, loucura! Sorri ao ver todos correndo de um lado para o outro, tão ansiosos e nervosos quanto o Adrien. E eu? Nossa, nunca estive tão tranquila em minha vida como neste dia. Falta pouco menos de três horas para o meu casamento e para que isso não mude, eu resolvi deixá-los à vontade com os seus preparativos e fui para o meu quarto, no hotel que a família Lamartine disponibilizou para todos os nossos convidados. Segui para o banheiro e para minha felicidade, já encontrei a banheira cheia, com um perfumado banho de leite de rosas e sorri satisfeita. Ah, eu dispensei o dia no SPA ou qualquer coisa desse tipo para hoje, preferi passar a minha última noite de solteira com o meu noivo, em nosso pe
Kell— O que está acontecendo, Maah? — Resolvi forçá-la a falar, já que Marina Bellini não era uma garota de rodeios.— Eu só... queria aproveitar esse momento e me despedir de você. — Franzi o cenho em confusão.— Se despedir? Como assim, Maah? — Marina me olhou com uma seriedade que eu não conheço, não em sua pessoa.— Eu estou indo embora, Kell. — Respirei fundo.— Embora pra onde, Marina? — Dessa vez eu me aproximei e nós nos acomodamos no colchão. Ela deu de ombros e sorriu de boca fechada.— Ainda não sei. Eu só preciso esquecer quem eu sou por algum tempo, sabe? Esquecer a minha família e tudo mais._ E o Afonso? Eu pensei que vocês estivessem voltando, e que tudo ficaria bem. — Ela fez não com a cabeça.— Acabou, definitivamente.— Meu Deus, Maah, o que está acontecendo?— Eu não quero que fique preocupada comigo, Kell. Sabe que eu não faria nenhuma loucura, né? Pelo menos nada que me prejudicasse. Você me conhece e eu só... quero esquecer quem eu sou de verdade, respirar outr
Kelly e AdrienUm ano depois... Não há lugar melhor do que o nosso lar. Como todos os recém-casados, eu e o meu marido adquirimos um hábito; todas as manhãs nós saímos de casa de mãos dadas pelas calçadas parisienses e caminhamos por pelo menos quinze minutos até o nosso trabalho. É exatamente isso que você entendeu, eu e o Adrien trabalhamos juntos desde que... Ah tá, vocês ainda não sabem dessa parte. Então eu vou fazer uma retrospectiva rápida aqui...— Há, qual é, está muito longe?— Não Kell, essa já é a quinta vez que você pergunta isso! — Meu pai resmungou soltando um tipo de risada divertida e eu revirei os olhos internamente.— E olha que não faz nem dez minutos que entramos no carro! — Adrien comentou fazendo graça.— Está, então vem ficar aqui no banco de trás do carro, com os olhos vendados e cheia de curiosidade, pra você ver — retruquei levemente irritada para o meu noivo e todos riram.— Pronto, senhora curiosa, nós chegamos. — Carolina avisou assim que o carro parou.
Kell e Adrien — Voilà! — disse, expressando a sua satisfação. Não é muito diferente com o Adrien. Por incrível que pareça, ele tem essa mesma magia, o mesmo encanto, a mesma satisfação. É maravilhosa a sincronia de nós três indo de um lado para o outro, dando ordens aos auxiliares, provando e aspirando os cheiros que vem de cada prato. O forno fez um sinal atraindo a minha atenção. Ansiosa, eu abri a porta, recebendo o calor que veio lá de dentro e com o auxílio das luvas acolchoadas, retirei a torta pêche. Sorri para o nome de batismo que Adrien deu a minha mais nova criação. Uma deliciosa torta de peras, com calda de avelã e uma cobertura cremosa de chocolate amargo. Ainda me lembro do dia que ele, sentado em um banquinho da nossa cozinha, experimentou pela primeira vez essa maravilha. Adrien gemia de prazer a cada garfada. O calor do seu corpo abraçando o meu por trás me despertou, fazendo-me sorrir mais uma vez. É isso o que ele faz comigo o tempo todo. Adrien me faz bem, me faz f
KellyÉ triste acordar de um lindo sonho e vê que tudo se tornou um terrível e irrevogável pesadelo. Ao abrir os meus olhos me encontrei dentro de um hospital e o Lipe não estava lá comigo. Vi o meu pai debruçado em uma janela, com o olhar perdido, encarando as ruas do lado de fora e a minha mãe, estava sentada em um pequeno sofá, com a cabeça apoiada em uma de suas mãos e um jornal na outra. Talvez nem estivesse lendo as notícias de fato. Eu conhecia bem aquele rosto cansado e sofrido. Ela estava sofrendo por algo... por mim talvez? Mas, o que realmente aconteceu? Então o meu pai se mexeu, voltando ao nosso mundo real e os seus olhos cansados e cheios de olheiras me encontram. Adonis sorriu para mim.— Filha? — Ele disse caminhando com pressa na minha direção e me abraçou ainda deitada no leito de hospital e só então me dei conta dos fios em meu corpo e dos sons das máquinas ao meu lado.— Meu amor você acordou! — Minha mãe falou com um tom emocionado na voz. Respirei fundo e isso ca
Adrien Lamartine Ser um nerd tem o seu lado bom. Você termina os estudos mais cedo do que se possa imaginar, a ciência e o conhecimento estão sempre em suas mãos e as pessoas te veem com uma idealização de um bom negócio. Eu cresci no meio de uma família onde todos os seus integrantes se tornaram empresários da contabilidade ou administradores de um bom negócio. Confesso que estava indo pelo mesmo caminho, até completar os meus dezoito anos. Eu era o orgulho do meu avô paterno e do meu pai também, claro. A coisa desandou quando conheci a Margaritta, uma espanhola porreta, que me mostrou que a degustação dos alimentos pode ser uma arte. Eu agora tinha dois motivos para sair daquele caminho sério demais e que me trancaria em uma sala cheia de papéis e sem graça pelo resto da minha vida. A Margaritta era uma delas e a outra? Eu sou um cara desajeitado demais. Sério, sou atrapalhado, tropeço em tudo e por mais que eu acredite que estou seguro, acabo por derrubar tudo a minha volta. Acred